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O Futuro do Linux e do XFree86

Em entrevista exclusiva, Dirk Hohndel fala sobre o futura e a popularização do software livre

Em meio aos estandes movimentados da Linux Week venezuelana, que aconteceu no final de setembro, em Caracas, promovida pelo Grupo de Usuários Linux da Venezuela, a figura de Dirk Hohndel se destacava. Dotado de toda a sisudez e objetividade características dos germânicos, ele vestia paletó e gravata em meio ao calor tropical e a dezenas de jovens de "franera", que é o nome dado à camiseta no mercado local.

Vice-presidente de Desenvolvimento Estratégico da SuSE, distribuição alemã do Linux, e uma das patrocinadoras do evento, Dirk Hohndel é um dos principais nomes do free software na atualidade. Reconhecido mundialmente e conhecido especialmente nos países europeus, Hohndel é responsável, há mais de sete anos, pelo desenvolvimento do XFree86, que é a base da interface gráfica para o Linux.

Padrinho de uma das filhas de Linus Torvalds e apontado como um dos pilares do movimento do software livre, ele é também um dos principais motores da distribuição alemã SuSE, onde responde por toda atividade de desenvolvimento.

A SuSE, que foi criada em 1992 para ser uma empresa de consultoria em software Unix, logo começou a trabalhar também com Linux. Atualmente, além da sede, em Nuremberg, Bavária, tem outros escritórios na própria Alemanha, em diversos países da Europa e nos Estados Unidos. Conta com 180 funcionários e possui um grupo de usuários registrados com os expressivos índices de 50 mil empresas e 250 mil pessoas físicas.

Nesta entrevista exclusiva para a Revista do Linux, Hohndel dá sua opinião sobre o mercado de softwares, sobre a competição entre produtos comerciais e de livre distribuição e sobre o futuro do software livre.

Por que o Linux tem apresentado um crescimento tão vigoroso?

O Linux conseguiu conquistar uma parcela de 20% dos servidores de rede e 30% dos ISP - Internet Service Providers. Nenhum outro sistema tem tantos servidores na Internet quanto ele. Este movimento deu-se principalmente pela qualidade e estabilidade que o Linux apresenta. Na Alemanha, por exemplo, onde os índices de utilização são muito altos, chegando à casa dos 40%, nossa atuação certamente contribuiu para essa aceitação. Mas as pessoas começaram a migrar para o Linux motivadas também pela frustração com a qualidade da solução que tinham e pela fascinação tecnológica que uma ferramenta como esta produz. Ou seja, tinham algo que não atendia 1as suas necessidades e, ao mesmo tempo, tinham ao alcance da mão uma ferramenta de alto nível. Me parece que a escolha não foi muito difícil.

Com o crescimento de mercado e o surgimento de diversas distribuições, e um produto tão barato como o Linux, Como ficam empresas como a SuSE, que comercializa caixas com Linux mundo afora?

O princípio do free software prevê justamente esta abertura e oportunidade, o que é saudável para a melhoria da qualidade. Não podemos ter somente uma distribuição, pois isso seria voltar para o modelo monopolista. Porém não vejo como a maioria das distribuições possa sobreviver neste mercado. Haverá, no decorrer dos próximos um ou dois anos, um processo de seleção natural, no qual os mais bem-estruturados prosseguirão o seu caminho. Não creio que teremos mais do que seis distribuições realmente estabelecidas, excetuando-se, claro, as de cunho totalmente voluntário, como a Debian. Há ainda uma demanda de mercado na prestação de serviços, como suporte e desenvolvimento. Talvez neste ponto resida a melhor oportunidade para empresas emergentes.

Existe todo um fascínio exercido pelo conceito de comunidade e liberdade no mercado do software livre. Processos envolvendo somas bilionárias, como os da Red Hat, não prejudicam este sentimento?

Não. Ao contrário. Mostram a credibilidade do Linux, mesmo entre públicos exigentes como os investidores de Wall Street. Além do que, participar da comunidade de desenvolvimento é um fenômeno social, e não econômico.

Então, os desenvolvedores não pensam no Linux como um meio de obter retorno financeiro?

A comunidade não desenvolve o Linux motivada por aspectos econômicos. Ela o faz para demonstrar o quão competente ela pode ser. Os códigos são analisados e criticados muitas vezes por milhares de outros programadores. Logo há que fazê-lo bem-feito. Também não creio que o façam por "fama". Na verdade, muito poucos desenvolvedores, considerando uma comunidade de 10 mil profissionais, tornaram-se realmente conhecidos: Linus, Cox e alguns outros. Creio que os reais motivadores estejam na demonstração da habilidade pessoal e nos pontos agregados ao currículo, como conhecimento e experiência.

Software de livre distribuição compete em qualidade com os softwares comerciais?

Aqueles softwares que realmente têm um conjunto de desenvolvedores de nível, certamente. O software fechado é feito de modo que pouquíssima gente tem acesso aos fontes. Logo, não se sabe como ele foi construído e o seu nível de qualidade. Já o free software tem exatamente o conceito inverso. Como todos vão analisar seu programa, o desenvolvedor precisa se esforçar para fazê-lo da melhor forma possível: esta é a mentalidade do desenvolvedor de software livre. Veja o exemplo do Netscape Navigator, um software utilizado mundialmente, que, ao ser aberto e entregue à comunidade de desenvolvedores, teve, para começar, o seu tamanho final reduzido em mais de 300%.

Na condição de um dos principais desenvolvedores do XFree86, a base da interface gráfica do Linux, você não crê que ele necessite ser reformulado, evitando-se assim transferências gigantescas cada vez que uma nova placa de vídeo passa a ser suportada?

Não somente acreditamos, como já estamos trabalhando neste tema. Até o final do ano, com a mais absoluta certeza, o XFree86 em sua versão 4.0, estará disponível sob uma nova estrutura: um único binário será utilizado para toda e qualquer placa de vídeo, e os drivers específicos para cada hardware serão desenvolvidos por terceiros. Novos fabricantes ou produtos poderão ser adicionados a qualquer tempo, sem que isto signifique necessidade de atualização do XFree86.

E o processo de configuração do XFree86 também está sendo revisto?

Sim. O XFree86 foi desenvolvido inicialmente por programadores e para programadores. Não houve uma preocupação maior com a simplicidade, de modo que ele pudesse atender a qualquer tipo de usuário. Com a popularização do Linux, este quadro está se revertendo, e no segundo semestre do ano 2000 esperamos liberar uma nova sistemática capaz de detectar de 95% a 98% das placas de vídeo. Com esse recurso, tudo que o usuário terá que fazer será responder OK no momento em que aparecer na tela a pergunta "você está vendo esta tela perfeitamente?". Para executar tudo isto, o grupo de desenvolvimento conta hoje com cerca de 650 pessoas, e, destas, 30 são programadores extremamente ativos e pelo menos 150 outros nos auxiliam permanentemente.

O XFree86 pode ser encontrado no site http://www.xfree86.org ou nas distribuições de Linux disponíveis no mercado.

A SuSE você pode encontrar no seguinte endereço na Internet: http://www.suse.com. O x da questão

Paulo César Pereira de Andrade

O Projeto XFree86 é uma versão sem fins lucrativos do X Window System, um dos sistemas gráficos mais difundidos no mundo da computação. Concebido para ser um sistema de janelas que roda transparentemente em ambientes de rede, o X Window foi anunciado por Robert W. Scheifler, do MIT - Massachusetts Institute of Technology, em junho de 1984.

Desenvolvido por uma legião de programadores, em todo o mundo, o XFree86 está entre os programas mais utilizados no segmento Open Source, suportando praticamente todos os sabores de Unix, código aberto ou não, Linux, FreeBSD, OpenBSD, NetBSD, Hurd e Solaris, até sistemas não Unix, como OS/2. Apesar do nome derivado da primeira plataforma suportada, a família de computadores Intel iniciada com o 386, o XFree86, anteriormente chamado X386, também roda em computadores com processadores Alpha, Motorola e Sun.

O XFree86 começou, em 1991, como um modesto projeto baseado no trabalho de Thomas Roell. Em maio de 1992, quando apareceram Linux e 386BSD, o XFree86 começou a contar com diversos novos colaboradores, interessados em um ambiente gráfico para os então novos sistemas operacionais. Este foi provavelmente um dos momentos mais marcantes da história dos sistemas de código fonte aberto rodando em processadores Intel. As ferramentas GNU, que na época já eram muito maduras e estáveis, principalmente o compilador GCC, então considerado o melhor compilador C do mercado, foram a base do XFree86, assim como Linux e a família BSD.

O Projeto XFree86, atualmente na versão 3.3.3.1 e liberando a versão 3.3.4, está quase totalmente voltado à versão 4.0, que deverá ser uma grande revolução no conceito de servidores X para as plataformas suportadas, por contar com suporte a módulos binários, usando código doado pela Metrolink. O novo sistema permitirá que se diminua muito o tempo necessário entre o lançamento de uma nova placa de vídeo e a disponibilidade de um servidor funcional no computador dos usuários. E, para fabricantes que não liberem as especificações de seu hardware, deverá estar disponível um programa que permitirá extrair informações do módulo e, assim verificar se este está certificado junto ao XFree86 e/ou demais organizações interessadas no conteúdo dos módulos.

A novidade mais aguardada, porém, talvez seja o suporte a 3D, desenvolvido pela SuSE e pela Precision Insight, que conta com suporte financeiro da Red Hat. Este suporte 3D consiste da implementação da extensão GLX, criada pela Silicon Graphics para dar suporte ao OpenGL, que é o padrão de gráficos 3D mais difundido na indústria.

The XFree86 Project:
http://www.xfree86.org
X Window System:
http://www.x.org
SuSE:
http://www.suse.com
Metro Link Inc:
http://www.metrolink.com
Precision Insight Inc.:
http://www.precisioninsight.com
Mesa:
http://www.mesa3d.org
The Open Group:
http://www.opengroup.org
X Inside Graphics:
http://www.xig.com
 

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