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O rei dos hackers
Eric S. Raymond é um antropologista da cultura hacker da Internet. Sua pesquisa ajudou a explicar o modelo descentralizado open source para o desenvolvimento de software - e que provou ser efetivo na evolução da Internet. Nesta entrevista exclusiva a Rodrigo Stulzer Lopes, ele fala, entre vários outros assuntos, sobre seus projetos de software, que incluem um dos programas mais utilizados para transporte de e-mail na Internet. Autor do livro Catedral e Bazar, verdadeira bíblia dos hackers e passaporte indispensável para todos os interessados em se iniciar nos segredos do código aberto, Raymond é um dos expoentes da cultura Linux. Fã de ficção científica, músico, ativista da Primeira e Segunda Emenda, Raymond é também praticante de artes marciais com faixa preta em Tae Kwon Do.

Revista do Linux - Quando você teve sua primeira experiência com computadores? Foi amor à primeira vista?

Eric S. Raymond - A primeira experiência? Provavelmente aos 11 anos de idade, em 1968, brincando com um mainframe da Univac. Talvez não tenha sido "amor" à primeira vista, mas definitivamente fascinação.

RdL - Você pode nos explicar como se tornou um hacker?*

ESR - Estando exposto à cultura da ARPANET, embrião da Internet atual, nos anos 70.

RdL - Você acha que hoje é mais fácil tornar-se hacker? É impressionante como pessoas muito jovens estão conhecendo e programando como hackers veteranos em um curto espaço de tempo.

ESR - Sim, eu acho mais fácil. Nos últimos vinte anos nós desenvolvemos uma série de recursos que ajudaram as pessoas a se aculturar - eu ajudei muitos com o Jargon File.

RdL - Você parece ser um defensor da linguagem Python. Por que você acha que ela é uma boa linguagem para iniciantes?

ESR - É simples, clara e expressiva. Permite que você se concentre no algoritmo e não no código.

RdL - E o Perl?

ESR - Similar ao Python em poder e expressividade, mas com uma série de arestas a serem aparadas (características que não se comportam como um iniciante espera).

RdL - No seu "How to Become a Hacker" você fala sobre aprender diversas linguagens. Fala especialmente sobre LISP e de como obter uma "iluminação" através dela. Por que você pensa assim?

ESR - Uma perspectiva em programação que é radicalmente diferente daquelas vistas nas linguagens convencionais. A linguagem LISP ensina que você deve pensar em programação de uma maneira que não seja limitada e condicionada por detalhes como gerenciamento de memória, tipos de dados, ou outra insignificância mecânica das linguagens convencionais.

RdL - Você acredita que as pessoas podem ter a mesma "iluminação" com uma linguagem mais moderna (nova)?

ESR - Até um certo ponto eu penso que isso possa acontecer com linguagens como Java e Python. Eu acho que LISP é uma experiência mais poderosa pelo fato de ser muito diferente das linguagens convencionais.

RdL - O que você achou do StarOffice ser licenciado através da GPL?

ESR - Eu estou muito feliz com isto. Ele fornece uma suíte para escritório que possui bastante credibilidade, algo de que o mundo do open source sente falta.

RdL - Você acha que isso acontecerá mais freqüentemente (softwares comerciais sendo licenciados sob a GPL)? Por que?

ESR - Eu não estou certo de que no futuro veremos uma série de programas comerciais sob a GPL, mas penso que veremos um uso muito maior das licenças open source. Penso que isto se tornará mais comum com o aumento do nível médio de complexidade do software.

RdL - O usuário normal não tem idéia da importância de se ter um programa como esse sob a GPL. Você acredita que isso mudará no futuro? Será que o usuário terá consciência do que é exatamente o open source, ou ele irá continuar preocupado apenas em clicar nos botões corretos para ter o seu trabalho concluído?

ESR - Eu não acho que a maioria dos usuários se importará com o acesso aos fontes, mas acho que irão começar a associá-los com uma qualidade e estabilidades maiores.

RdL - E a briga "Open Source" versus "Free Software"? Você acredita que dois movimentos com pouquíssimas diferenciações seja uma boa solução?

ESR - Eu não penso que sejam dois movimentos. Penso que eles são dois estilos de propaganda usados por um mesmo movimento. As pessoas que dizem "open source" e as pessoas que dizem "free software" estão trabalhando para a mesma idéia de software compartilhado, usando as mesmas ferramentas, da mesma maneira.

RdL - Algumas pessoas dizem que a "Open Source Definition" é muito aberta e pode gerar programas abertos pobres. Você não acha que isso pode ser perigoso para o Open Source em geral?

ESR - A OSD representa o consenso da comunidade e quando ela muda, esta também muda. Até agora, parece que funciona.

RdL - O termo "Open Source" tornou-se mundialmente usado. Por que você acha que isso aconteceu num espaço de tempo tão curto?

ESR - Eu penso que houve uma demanda reprimida na comunidade hacker por uma definição menos ameaçadora, com menos confronto, para explicar o que estamos fazendo. Isso não aconteceu com o termo que os defensores do "free software" desenvolveram.

RdL - No seu "How to Become a Hacker" você explica a diferença entre hackers e crackers. Mas em filmes, jornais e na Internet as pessoas usam o termo hacker para designar um cracker. Você acha que é possível mudar isso na cabeça das pessoas? Como?

ESR - Através de entrevistas públicas como esta!

RdL - Você continua a manter algumas extensões do Emacs? Por que você não está contribuindo tanto como fez no passado? Você perdeu o interesse?

ESR - Eu ainda contribuo ocasionalmente. O Emacs faz quase tudo que eu quero agora, então eu não tenho que remendá-lo tanto quanto eu fazia.

RdL - Como você vê o boom que o Linux teve na imprensa no último ano? Você acha que o Linux é somente a "bola da vez" ou nós veremos a imprensa falar dele cada vez mais?

ESR - Eu não penso que pararemos de ter cobertura da imprensa. Os jornalistas gostam de escrever sobre tendências que estão crescendo, e parece que o Linux continuará a tomar espaço.

RdL - Qual é o grande problema da comunidade Linux? E a grande vantagem?

ESR - O nosso maior problema é que não sabemos como fazer testes de larga escala por parte de usuários finais para usabilidade. Algo que está se tornando cada vez mais importante à medida que avançamos rumo ao desktop. Nossa maior vantagem é o número de cérebros - - nenhum competidor de software com código fechado pode negar o fator de termos centenas de programadores com a atenção focada em um único problema.

RdL - Você tem alguma sugestão sobre o problema da usabilidade? Como os usuários do Linux podem ajudar nisso?

ESR - Eu espero que a Eazel e a Helix possam atacar este problema de forma efetiva. Os usuários do Linux ajudarão, naturalmente, mas ter um plano de negócios que inclua dinheiro para testes de usabilidade formal será realmente de grande valor.

RdL - Existem muitos artigos dizendo que "o desktop é e sempre será dominado pelo Windows". É novamente o problema da usabilidade ou existe alguma coisa por trás disso?

ESR - Eu acho que eles são meio míopes. O zênite do Windows passou em 1996. A partir desse ponto é tudo morro abaixo.

RdL - Se você tivesse uma bola de cristal, o que você gostaria de ver no futuro do Linux?

ESR - Quando o Mozilla lançará um produto.

RdL - Depois de quase dois anos desde que os "Halloween Documents" foram mostrados para o público, você acha que a Microsoft mudou alguma coisa relacionada às suas táticas?

ESR - Eles têm estado meio calados nas suas críticas ao Linux e ao open source, isto porque eles sabem que nós podemos crucificá-los com suas próprias palavras.

RdL - Que tipo de trabalho você está fazendo na VA-Linux?

ESR - Eu sou membro do conselho diretor da firma.

RdL - Que editor você prefere? Por que?

ESR - Emacs. Eu gosto do fato de ele ser extremamente customizável.

RdL - Gerente de Janelas?

ESR - Gnome sobre o Enlightment. Embora eu esteja pensando em trocar para o EFM ou Sawmill.

RdL - Cliente de Email?

ESR - mutt, de todas as formas.

RdL - Você respira Linux 24 horas por dia ou você tem uma vida além dele? O que você gosta de fazer em seus dias de folga?

ESR - Ler ficção científica, artes marciais, atirar com pistolas, tocar flauta, bateria ou guitarra.

RdL - No seu currículo você diz que está escrevendo um livro de ficção científica, (Shadows and Stars). Qual é a trama deste livro e quando poderemos lê-lo?

ESR - O meu herói é um capitão interestelar que entra em conflito com o submundo da galáxia após pegar um vôo que não devia. Há bastante ação, mas o livro tem um lado filosófico também: os problemas éticos no uso da violência. Eu não sei quando conseguirei terminá-lo.

RdL - Você tem um bom livro de ficção científica para sugerir? O que você está lendo hoje em dia?

ESR - Atualmente estou lendo "Forge of the Elders" de L. Neil Smith. É muito bom.

RdL - Ok, muito obrigado pela entrevista! Você tem alguma coisa a dizer para a comunidade Linux do Brasil?

ESR - Eu gostaria de visitar o Brasil algum dia. Eu gosto de música brasileira.

para saber mais

Home Page de Eric Raymond - www.tuxedo.org/~esr
Jargon File - www.tuxedo.org/~esr/jargon
Site oficial Open Source - www.opensource.org
Projeto GNU -
www.gnu.org
Python - www.python.org
Perl - www.perl.com
LISP - http://snaefell.tamu.edu/~colin/lp
Open Office - www.openoffice.org
Eazel - www.eazel.com
Helix Code - www.helixcode.com

 

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