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Linux World 2000

"Qual o real compromisso de sua empresa com a comunidade Free Software, uma vez que parece a todos nós que sua empresa está sendo oportunista em um nicho de mercado onde empresas como VA Linux, Linuxcare, RedHat, Caldera e tantas outras já estão investindo há tantos anos. De que maneira a Dell está investindo na comunidade Free Software?". A platéia do Civic Auditorium em San Jose, Califórnia, veio abaixo em palmas. Michael Dell, o palestrante da cerimônia de abertura da 4ª edição da LinuxWorld Conference and Expo não se intimidou com a pergunta: "Vocês devem considerar que o volume de vendas da Dell é muito superior, centenas de vezes superior a qualquer uma destas empresas citadas; vamos investir naquilo que nossos clientes estão querendo, e hoje 10% dos servidores que vendemos são configurados com Linux. Vendemos mais servidores com Linux do que qualquer outra empresa.".

Esta é a segunda vez que participo da LinuxWorld. Uma conferência que iniciou-se em janeiro de 1999 na Califórnia e hoje, menos de dois anos depois de sua estréia, já é o maior evento Linux tanto em termos de público quanto em importância. Há um ano atrás, dávamos boas-vindas à Intel, que fez o discurso de abertura, e a todas as outras grandes empresas que começavam a dar algum suporte ao Linux e a iniciativas "Free Software" e "Open Source". Outra pergunta que foi feita a Michael Dell ainda perturba: "Todo este dinheiro que está sendo investido no Linux e em "Free Software" não vai acabar destruindo este momento mágico de liberdade que conseguimos criar?"

Com o auditório lotado, não consegui descobrir quais as pessoas que fizeram as perguntas a Dell, mas estas perguntas voltaram a ser feitas em círculos menores durante toda a LinuxWorld 2000, e de certa forma, foram sintetizadas por Patricia Sabga, âncora do NEW Show da CNN: "Com os investimentos que estão sendo feitos hoje em empresas de software livre e aberto, quantas delas sobreviverão? Quantas serão simplesmente compradas pela IBM, por exemplo?". Patricia lançou esta pergunta justamente na sessão Executive Round Table, que reunia os presidentes de empresas como VA

Linux, Linuxcare, SuSE, RedHat e Caldera. Todos foram enfáticos falando sobre seu brilhante passado, compromisso com o software livre e investimentos futuros. A fila estava grande e não consegui fazer minha pergunta: "Para suas empresas, não seria mesmo um bom negócio a absorção pela IBM?".

Esta LinuxWorld consagrou-se como o céu e inferno da comunidade de software livre. Todos queríamos a penetração em grandes empresas e seu apoio. Agora vemos estas mesmas empresas tornando a LinuxWorld um evento muito mais comercial do que "filosófico". As grandes empresas estão na LinuxWorld pelo dinheiro, mas afinal, a comunidade que desenvolve programas livres não precisa ser mantida com algum dinheiro? Temos o direito de clamar por "pureza" quando sabemos que não conseguimos desenvolver nada tratados só a pão e água? Nossos sonhos tornaram-se realidade, e por isto estamos temerosos: não esperávamos que isto acontecesse, ao menos não tão rapidamente.

Produtos?

Com mais de duzentos expositores já se pode imaginar a quantidade de produtos exibidos na feira. Muitos dos expositores, porém, ainda não entenderam muito bem a verdadeira filosofia do software livre. Enquanto o pessoal da Great Bridge , a empresa por trás do PostgreSQL (na foto, Cesar Brod com Tom Lane e ***, criadores do PostgreSQL), fundada em maio deste ano, estava sorteando um VW Bug (com o respectivo manual dos engenheiros) e mostrando a todos que estava ganhando dinheiro vendendo serviços com um produto totalmente livre, a iPlanet (uma joint venture da Sun e da Netscape) acha justo cobrar US$ 5.000,00 por seu Web Server fechado e proprietário que, ao contrário do Apache, suporta "multiple threads"; justiça seja feita: existe uma versão "gratuita" que suporta no máximo cinco threads, com a mesma funcionalidade da versão completa. Mas a questão não é esta! Qualquer grande empresa que quiser um bom suporte para este produto pagaria os US$ 5.000,00, sendo ele livre ou não. O código livre e aberto, porém, é o que permite que grupos de pessoas interessadas em usar e melhorar um produto acabem colaborando com ele.

Como é impossível falar de todos os produtos exibidos na LinuxWorld, vou falar dos meus preferidos, já que sou eu que estou escrevendo este artigo:

PostgreSQL e PHP: meus preferidos de sempre e a base do nosso SAGU. Que bom que a Great Bridge e a Linuxcare, respectivamente, estão fazendo um bom dinheiro com seus produtos livres. Elas merecem! O Rasmus Lerdorf, criador do PHP, já morou em Porto Alegre e deve estar aqui no Sul para o 2º Fórum Internacional de Software Livre (é bom que todos fiquem atentos para garantir sua participação neste evento que ocorrerá em meados de maio de 2001). O PostgreSQL está em sua versão 7 e o PHP na 4. Quem está pensando em montar uma aplicação de base de dados (ou converter uma existente) para uma interface Web só precisa instalar estes produtos e o Apache e dedicar aproximadamente uma semana para aprender a utilizá-los - palavra do Rasmus (claro que um conhecimento prévio de programação e base de dados é necessário).

Zend: uma série de produtos para otimizar programas escritos em PHP. Confesso que não ficou claro para mim se estes produtos serão ou não livres, mas os que existem hoje são gratuitos e seu download já está disponível. De qualquer forma, o Zend Optimizer ajuda desenvolvedores a otimizar o código escrito em PHP3 (a versão 4 é 90% compatível).

Storm Firewall: uma excelente ferramenta de configuração de um firewall com software livre, mas com um detalhe: a própria ferramenta não é software livre. O que mais me estranha é que o Storm Linux,  minha distribuição favorita (trouxe vários CDs e mandei um para a Revista do Linux para que ele possa ser incluído em algum dos próximos números) baseia-se na Debian, a mais GPL, a mais GNU de todas as distribuições do Linux, e ainda assim eles criaram uma ferramenta de configuração de firewall que não segue os devidos princípios Debian.

A LinuxWorld é uma boa fotografia do que é hoje o mercado de software livre: o capitalismo tomou conta do GNU-Linux e o modelo Open Source de desenvolvimento cooperativo está fazendo cada vez mais sentido para as empresas, apesar de que, como mencionei antes, algumas ainda não entenderam isto muito bem. A grande discussão da LinuxWorld do ano passado, a do Free Software versus Open Source ficou bem apagada este ano, talvez até por Richard Stallman não ter participado do evento desta vez. Pessoalmente, acho que a transmissão do conhecimento, da tecnologia, através da abertura do código-fonte dos produtos, já é um grande benefício, independente do tipo de licença através da qual o produto é distribuído. A licença GPL, porém, acabou sendo devidamente reconhecida com a entrega do IDG/Linus Torvals Award para a Debian - no ano passado foi para a Free Software Foundation.

Algumas URLs de empresas e produtos mencionados neste artigo:


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