Os defeitos do Linux
Está na hora de tocar na
ferida, de sermos críticos, de consolidarmos todo o avanço obtido até agora
Célio Márcio Ferreira, para alguns o Ferreira, para outros
o Bruxo, é amante convicto do Linux, e não cansa de desejar
o sistema do pingüim tomando de assalto o mundo corporativo. É um dos mantenedores do site LINUX PLACE (www.linuxplace.com.br) e sócio da PC PLACE, uma empresa "partner" da IBM e também um centro de treinamento
Conectiva. Célio tem muita quilometragem no mundo Unix, e por isso ele vê com entusiasmo o porte do Linux para o S/390. Para ele isso é um indício óbvio da aceitação do Linux no mundo corporativo, mas também observa que é preciso agora profissionalizar muito mais o suporte, aumentar a qualidade da certificação e que deva haver uma padronização para as árvores de diretório das principais distribuições, empecilhos para uma explosão de mercado.
Célio diz: "...está na hora de tocar na ferida, de sermos críticos, de consolidarmos todo o avanço obtido até agora. Não devemos ficar endeusando o Linux e esquecer que agora é preciso corrigir os defeitos para que não se tornem crônicos. O custo disso pode estancar seu crescimento, e isso nenhum de nós deseja".
Ele enumera como alguns "defeitos do Linux" uma certa impaciência com os novatos, a superlotação das listas de discussão, a dificuldade que as empresas têm em encontrar material de cunho corporativo para tomar suas decisões, que os cursos de treinamento são muito genéricos e não aprofundam a formação dos técnicos em pacotes específicos, um descaso com o desktop por parte das distribuições, a falta de padronização de bibliotecas que afeta o trabalho dos desenvolvedores e a instalação dos pacotes pelo usuário comum, a ausência de um bom browser gráfico para suprir a instabilidade do Netscape, e muitos outros, mas destaca como pecado maior o temperamento xiita de muitos linuxers.
"Desprezar outros sistemas e seus usuários e também os novatos e adoradores da interface gráfica, taxar as empresas que ganham dinheiro com Linux como mercenárias, são atitudes infantis e perigosas, pois escondem atrás de si um amadorismo vergonhoso", considera Célio.
Ele diz que quando houver uma demanda corporativa mais massificada todos quererão essas questões devidamente resolvidas, e a certificação dos profissionais exigirá conhecimento aprofundado e embasado em muita teoria e prática, pois cursos genéricos e documentação de Internet não atendem ao perfil que as empresas desejam. Também a política de suporte deverá se especializar e terão que ser apontadas as empresas que responderão por pacotes fundamentais como Squid, Sendmail, Apache. Para ele essa é uma discussão que não pode ser adiada e que os problemas devem se tornar públicos, pois não há vergonha alguma em expô-los, pelo contrário, ele só vê vantagens.
Célio diz que no Brasil e na India estão os melhores programadores do mundo. "No Brasil vivemos em uma sociedade que exige constante flexibilidade e assim desenvolvemos uma criatividade que nos permita sobreviver, o que gera entre outras coisas uma aptidão ímpar para a área de programação. Sempre às voltas com equipamentos ridículos, sem acesso à alta tecnologia, temos constantemente que driblar os obstáculos para conseguir resultados, e eles são surpreendentes".