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Crônicas de uma revolução

Evento para 400 participantes. Quarenta deles almoçam com a alta cúpula do monopólio. Dez são escolhidos para terem a honra de falar com Bill Gates

Espraiando Software Livre

Prezado(a) leitora(a) da Revista do Linux, nesta crônica vou relatar diretamente da fonte notícias gaúchas, do Brasil e do mundo, que passam ou relacionam-se com o movimento de software livre. Neste número você saberá a origem do nome desta crônica e conhecerá o debate travado entre Bill Gates e o representante do governo gaúcho. Boa leitura!

O nome da crônica

Seguindo a tradição de nossa comunidade, estou reutilizando idéias alheias para formar o nome desta crônica. Da Linux Magazine tomei o "Chronicle of the Revolution". Do governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra, emprestei o "espraiando", termo usado para situações de expansão, disseminação, entre outros sentidos.

Quando Bill Gates olhou para o Brasil

Junho de 2000, Miami, Estados Unidos. Encontro da Microsoft oferecido a executivos e governos da América Latina. Evento para 400 participantes. Quarenta deles almoçam com a alta cúpula do monopólio. Dez são escolhidos para terem a honra de falar com Bill Gates. Pelo Brasil entram os representantes do Bradesco, da Embraer e do governo gaúcho, Marcos Vinícius Mazoni (presidente da Procergs — Processamento de Dados do Rio Grande do Sul). Ele foi apresentado pela vice-presidente para a América Latina da Microsoft, a brasileira Lúcia: senhor presidente, este é o executivo que dirige uma empresa estatal no sul do continente e que está apostando em software livre e no Linux. O que o senhor acha disso?

Bill Gates — Reconheço que o Linux é mais estável do que o Windows-NT...

Essa foi a resposta de Bill Gates. Comparou os dois sistemas e disse que o Linux provocava menos horas paradas ou manutenção em relação ao NT. Mas emendou:

— Acredito que o Windows 2000 conseguirá suplantar o Linux.

Em seguida, passou ao velho argumento que tanto já ouvimos no Brasil, de que o Linux não tem custo de licença, mas seu custo total, considerados suporte e treinamento, acaba se igualando ao do NT.

Mazoni — Se os custos forem os mesmos, ainda assim não vale mais a pena usar somente software livre?

Esse foi o contraponto de Marcos Mazoni. E continuou dizendo que, se tudo o que gastamos com softwares proprietários, principalmente com licenças e royalties, ficasse no Brasil, quem lucraria seria a população, pois aquele que vive de software livre receberia, consumiria e investiria no próprio país. Se for verdade que o custo total de propriedade de ambos os sistemas é igual, ainda assim o software livre seria mais benéfico para o Brasil.

Bill Gates se virou para outro participante e mudou de assunto.

Para onde caminha a Microsoft

Podemos acusar Bill Gates de muitas coisas, menos de ser suicida. Ao reconhecer a fragilidade de seu produto, algo muito forte virá como contra-ataque. Pudemos perceber isso na palestra que o vice-presidente de relações com o mercado, Bob McDowell, fez no ano passado na Comdex, em São Paulo. Nela, Bob, ex-oficial do Pentágono, citou quanto a Microsoft faturou no mundo e como cresceu mais rápido no Brasil a partir das contas do governo. Informou que estarão trazendo reforço de pessoal para o país a fim de garantir e ampliar essa participação no mercado brasileiro. Mas a grande declaração, que passou quase desapercebida e nunca repercutiu na mídia nacional, foi a seguinte:

Bob McDowell — Agora vamos cobrar por serviços, por suporte, e não por licenças.

Ora, dois meses depois do encontro, um de seus mais influentes executivos afirma o que sempre contestaram. E mais, que a era do computador pessoal acabou. Tudo será na Internet, tudo Web. De celulares a outros aparelhos inteligentes. Os softwares que uma pessoa precisar, ela buscará no seu provedor e pagará por uso, conexão ou tarifa.

A Microsoft está preparada para o fenômeno software livre. Por isso contratou muitos especialistas em Linux e comprou um terço das ações da Corel/Linux. Alguns chegam a dizer que já existe a versão MS Linux. A Microsoft está resolvida a não repetir o erro da IBM quando perdeu a sua hegemonia no mundo da tecnologia. E hoje, das grandes empresas mundiais, é a IBM uma das que mais tem investido em portar seus produtos e máquinas para o GNU/Linux. Sinais dos tempos.

A prova de que a reunião aconteceu

Bem, mas você poderá pensar que esta coluna toda é uma viagem, que nada aconteceu. Confira a foto do encontro. E não é montagem. Seu autor é da Microsoft, e não temos o crédito. O depoimento foi dado por Marcos Vinícius Mazoni, proprietário da foto histórica.

Mario Teza
mario-teza@procergs.rs.gov.br

 

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