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Vovó cobol

Vários conceitos importantes e utilizados em linguagens de programação e software livre nos foram legados pelo trabalho de brilhantes mentes femininas. As mulheres foram, são e continuarão a ser essenciais para a evolução da informática. Hoje vamos conhecer a vida de Grace Hopper — Contra-Almirante da Marinha norte-americana — e também conhecida em sua terra natal como "Grand Lady of Software", "Amazing Grace" e "Grandma Cobol".

Grace Brewster Murray Hopper nasceu no dia 9 de dezembro de 1906 em Nova Iorque, e aos 7 anos desmontou todos os relógios e despertadores da casa, para ver como funcionavam. Ela não conseguiu montá-los novamente, mas soube enfrentar a bronca dos pais com diplomacia. Porém foi somente em 1959, já com 52 anos, que o gênio Hopper apareceu para o mundo: a idealização do projeto que culminou na linguagem COBOL.

Sem dúvida, ela é mais conhecida entre programadores, principalmente pelos "coboleiros", pois ela foi a mentora intelectual na criação dessa linguagem. Ela usava um par de óculos fundo de garrafa, mas tinha uma visão de águia — enxergava muitos anos à frente de seu tempo. A vovó, de quem todos nós sentiríamos orgulho, é considerada a mãe de conceitos como bibliotecas de rotinas e compilador, e também criou os termos bug e debug para a tarefa de identificar e eliminar os erros de softwares (até mesmo do processamento de dados comerciais moderno).

Compilador

Quando a tenente Hopper criou o primeiro compilador, só existiam montadores e interpretadores. Como faz a maioria dos grandes técnicos e cientistas, os nomes dados para as linguagens eram coisas nada comerciais, como A-0, A-1 e A-2. Quando chegou a A-3, o departamento de vendas rebatizou o compilador de MATH-MATIC.

Suas primeiras criações eram despretensiosas, simples material de uso interno, para facilitar seu trabalho e de seus colegas da Marinha.

Hopper era disputada a tapas por empresas privadas, mas volta e meia acabava sendo convocada e voltava para a Marinha. Lá, todos sentiam muito a sua falta.

Tratava-se de uma mulher, e nós mulheres somos mais caprichosas! Ela colou uma mariposa com fita adesiva em seu meticuloso relatório, carinhosamente chamado de "diário de bordo". Nele constava o primeiro caso real de inseto (bug) a ser encontrado. Seu relatório virou literalmente relíquia de museu.

As habilidades e a forte personalidade dessa mulher foram fundamentais para a criação da linguagem COBOL. Somente uma pessoa com tais qualidades teria conseguido tanto, não só por sua genialidade, mas também por sua grande capacidade de argumentação.

O conhecimento técnico, sozinho, não consegue sensibilizar a indústria a adotar um padrão. Hopper foi muito hábil ao promover sua idéia, percebendo que ela havia criado os compiladores, e sua importância. Muitos outros seguiriam seu caminho, criando linguagens cada qual à sua maneira, formando uma imensa Torre de Babel.

Ignorando a idade e a aposentadoria, ela usou sua experiência na Marinha e começou a chamar a atenção do Pentágono para essa babel e para os imensos prejuízos que tal situação poderia causar. Alertou sobre os riscos potenciais para a governabilidade futura e para a possibilidade do surgimento de um grande monópolio, caso uma empresa conseguisse uma solução proprietária.

Naquela época, não havia legibilidade, confiabilidade e nem continuidade nas linguagens. Todas tinham origens semelhantes à A-0, criada por ela mesma.

As linguagens específicas para um determinado equipamento, com comandos muito tecnomatemáticos, obscuros, e dominadas por poucas pessoas desaparecem quando seus criadores a abandonam. Não se podia investir muito em nenhuma delas para ser adotada como padrão. A situação tendia a se perpetuar com linguagens cada vez mais efêmeras.

A concepção de Hopper de que havia a necessidade de se criar uma linguagem orientada para negócios comuns deu origem ao acrônimo COBOL (Common Business Oriented Language).

Uma reunião foi convocada para a criação de um denominador comum entre todos os fabricantes de computadores existentes na época. Grace Hopper participou contribuindo com a abertura dos comandos FLOW-MATIC. Os melindres foram minimizados, mas não totalmente evitados. Em maio de 1959, com os trabalhos do comitê CODASYL (Conference On Data Systems Language), criado pelo Pentágono, em pleno andamento, chegou, para Charles Philips, um pesado caixote contendo uma lápide de mármore com o símbolo do Cobol, um carneiro.

Grace Hopper morreu em janeiro de 1992, aos 85 anos. Recebeu grandes honras militares, e ainda é referência para muitas pessoas, como na Marinha, onde trabalhou a vida inteira. Todos os anos, desde 1994, ocorre o evento "Grace Hopper Celebration of Women in Computing". Em 2000, o evento foi entre os dias 14 e 16 de setembro, na cidade de Massachusetts. Veja a página oficial: www.sdsc.edu/hopper.

Meus sinceros agradecimentos a Peggy Alfrey, que por muitos anos foi assessora de Hopper, e, mesmo depois de sua morte, é responsável pelos artigos, biografia e organização de eventos sobre a grande mulher idealizadora do COBOL.

Andrea Fabiana Flores
fabiana@conectiva.com.br

 

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