Vários Titanics
Para uma empresa do porte da IBM os números das pesquisas
de mercado são determinantes em sua política de investimentos.
Assim foi em 1996, quando eles portaram e desenvolveram 52 softwares para
Windows NT, porque as estatísticas apontavam uma expansão
dessa base. Já em 1997, os números mostraram não
só um crescimento significativo de um pequeno, porém bastante
estratégico nicho, o do Linux em servidores de Internet, como
também a possibilidade de explosão dessa base para outros
setores, o que levou a IBM a acompanhar mais de perto a evolução
desse quadro.
No ano seguinte, em 1998, essa maré de Linux superou todas as
projeções que se mostraram bastante tímidas
confirmando que seria necessário investir bem mais nessa onda e que
ela poderia crescer mais que o esperado. A partir daí a Big Blue
adotou uma postura bastante audaciosa e passou a endossar integralmente o
Linux. Sua estratégia de investir nesse mercado tomou então
um passo bem acelerado.
Tudo isso culminou com o anúncio de que em 2001 a empresa investiria
a extraordinária quantia de 1 bilhão de dólares em Linux.
Logo em seguida, fez mais um anúncio, agora de mais 300 milhões
de dólares. Diante dessas cifras fica bem mais difícil os
analistas manterem um prognóstico de ceticismo. Se pararmos para
fazer umas contas ou traçar alguns paralelos, isso equivale a produzir
7 filmes como o Titanic, cujo custo já era considerado uma
extravagância até para o universo hollywoodiano.
É claro que um investimento desse vulto não vem ao mercado
para apoiar uma tendência qualquer. Sabemos que está sedimentado
na observação dos relatórios de todos os principais
institutos de pesquisas de reconhecida excelência, como o IDC e o
Gartner Group, e que apontam para uma hegemonia Linux no mercado no prazo
máximo de 4 anos. Não somos nós da RdL, nem a IBM, nem
a Borland, nem a RedHat, que estamos falando isso e sim o próprio
mercado. Nos últimos relatórios do Gartner Group está
bem explícito que este é o ano do Linux nas corporações.
Com base nisso fomos conversar com dois executivos da IBM brasileira sobre o
porte de seus softwares, sobre sua política com seus parceiros na nova
plataforma e de como eles se prepararam para essa virada.
Para grandes e pequenos
Revista do Linux A IBM está investindo uma quantia absurda em Linux...
Cláudia Zuccas Maciçamente...
RdL ... e consideramos que o impacto
de uma política tão arrojada trará muitos frutos para a
IBM. Como será investido esse US$ 1.3 bilhão?
CZ Deus te ouça! Na verdade estamos
falando na volta do "grande servidor", seja ele um Pentium ou um mainframe.
À medida que as empresas vão crescendo a estabilidade e a performance
do servidor vão se impondo como requisitos fundamentais. Outro fato importante
é que é preciso um elevado grau de responsabilidade quando você
está escalando seu ambiente. No salto de escala a maior requisição
é por hardware. Mas não se pode abandonar abruptamente todo o investimento
anterior. Todas as nossas plataformas de hardware são hoje completamente
aderentes ao padrão Linux, pois é o sistema que atende melhor essa
portabilidade. Ele oferece isso independente da escala, além do que todos os
números do mercado mostram que em 4 anos ele será o sistema-padrão.
Nossos investimentos estão concentrados principalmente em garantir a total
portabilidade de todas as nossas arquiteturas de hardware e de nossa família
de softwares para o Linux, o que é uma operação extremamente
complexa.
RdL Muitos falam que o Linux pode não
ser o melhor sistema ou o mais rápido, mas que ele é o standard que o
mercado pede hoje. O que acha disso?
CZ Exatamente. Não importa qual a sua
aplicação, mas se ela rodar em Linux ela estará disponível
para qualquer escala. A médio prazo eu considero que o Linux será a
plataforma que mais vai proteger o investimento da propriedade intelectual. Se
você usa hoje a plataforma NT, quando quiser crescer um pouco e ele não
mais o atender, você terá de abandonar todo um patrimônio de
aplicações que, além de ter sido muito caro, pode comprometer
toda a operacionalidade da sua empresa. E esse erro poderá ser fatal em muitos
casos.
RdL Houve um choque de cultura entre os
funcionários da IBM com essa mudança radical para o Linux como o
sistema-padrão da empresa?
CZ Não houve um choque, mas eu diria
que muitos ainda não entenderam a extensão dessa estratégia da
IBM. Temos um programa interno de educação para o nosso time e que
busca esclarecer melhor o porquê de esse sistema ser tão estratégico
para nós e porque a IBM está gastando tanto dinheiro com ele. Estamos
falando de um novo padrão corporativo que irá substituir tudo o que
existe hoje e que todas as nossas soluções estão sendo portadas
para o novo ambiente. Hoje a IBM desenvolve prioritariamente para o Linux e não
liberamos mais nenhum release de software que não tenha uma versão para
ele. Também certificamos hoje no Brasil muitas aplicações Linux
de parceiros nossos para o nosso hardware, pois essa decisão é mundial
e irreversível.
RdL E falando de Brasil, vocês
têm alguma solução de Linux para este ano?
CZ Vamos lançar logo mais no mercado
brasileiro uma suíte de aplicações para um nicho pequeno, de
até 100 usuários, bastante atraente no custo, com financiamento
facilitado e que garante que o pequeno empresário possa crescer indefinidamente
usando sempre a mesma solução. Esse pacote nasceu da observação
de que quando uma pequena empresa de cinco ou dez micros começa a crescer um
pouco ela vai precisar de um ambiente mais confiável. Logo nas primeiras
experiências com mais de um servidor, essa necessidade por estabilidade não
pode mais ser negociada. Não cabe mais aquela situação de que os
servidores estão paralisados, de que os softwares são todos piratas,
nem dá para se contentar com aquela soluçãozinha "meia-boca",
pois na primeira demanda séria a empresa terá de ter um nível
de resposta ao menos satisfatório. Muitas são as empresas desse porte
que já usam o Linux, mas que precisam, além da estabilidade de um
ambiente de desenvolvimento seguro e confiável, de um fornecedor que esteja
trabalhando seriamente nessa plataforma. Essa suíte usará a mesma
solução de banco de dados da empresa de grande porte, com a mesma
integridade e performance e por um custo bastante acessível.
Estamos investindo muito nos desenvolvedores nacionais, porque esse nicho de
mercado é o que compra solução e não títulos
famosos. A suíte é composta pelo WebSphere, o Notes, o DB2 e, para
o lado client, pelo SmartSuite, e dará ao pequeno a mesma solução
usada pelas grandes empresas. Ele poderá crescer usando sempre a mesma
solução. Em Linux, é claro.
Tijolo e ferro
Revista do Linux Quando a IBM começou
a observar o Linux?
Nelson Shishito É difícil precisar uma data. Na empresa
temos a divisão de Software Group; em 1996 ela detectou a necessidade de
investimento em Linux, que na ocasião nos parecia mais um sabor de Unix,
mas que começava a despontar com um diferencial bem atraente, o de ser
um sistema aberto. Isso mudava muitas regras e ficamos de olhos bem atentos no
seu desenvolvimento. Na IBM somos um tanto quanto pragmáticos e as
tendências do mercado ditam em boa parte nossos investimentos. Em poucas
palavras: o que o mercado quer é o que fazemos. Nesse mesmo período
portamos uma boa quantidade de nossos softwares para NT, porque os indicadores
mostravam isso, mas não somos monolíticos e investíamos
também no crescente mercado de Linux. Confirmamos nosso diagnóstico,
hoje todos os indicadores mostram um futuro de hegemonia para o Linux.
RdL Nessa época qual era o indicador
para a IBM que distinguia o Linux?
NS O grande diferencial era a adoção
desse sistema pelos provedores de Internet e víamos isso como um
alinhamento com a grande tendência do mercado dos últimos anos.
Havia um intenso movimento que mostrava uma grande concentração
de aplicações na Web, e um sistema independente, robusto, baseado
em padrões totalmente aceitos pela indústria era a proposta mais
abrangente. Nenhum outro sistema, principalmente por não serem abertos,
havia conseguido essa aceitação e já se delineava uma
situação de consenso. Hoje é bem nítido que o
objetivo maior é mostrar completamente a informação e
não aprisioná-la, pois isso vai contra o fluxo do mercado.
RdL E como vocês estão
encarando um futuro baseado em software livre?
NS Bom você ter falado isso. Muitos
dizem que somos a favor do software proprietário e ficam naquele discurso
xiita, mas somos a empresa que mais investe em Linux hoje. Já em 1996
discutíamos nos diversos grupos internos a importância dos
padrões abertos para o futuro do e-commerce. TCP/IP, browser, HTML,
Linux e vários outros são padrões que se impõem
por si sós, pois distribuem informação de forma transparente,
padronizam a plataforma de desenvolvimento e garantem escalabilidade, uma
palavra-chave nesse processo.
RdL Você vê nisso um
retorno à filosofia dos mainframes?
NS Nós dizemos que vendemos
tijolo e ferro, ou seja, infra-estrutura. Essa questão é
muito mais complexa, pois identificamos uma grande concentração
de aplicações nos servidores. Essas necessitam de uma grande
capilaridade de rede, com total abrangência para disponibilizar
informação em qualquer ponto e para qualquer cliente, mas
essa escalabilidade só é possível se apoiada em protocolos
e padrões abertos. Recentemente a revista Veja mostrou aos seus
leitores uma frase de um antigo presidente da IBM como uma previsão
desastrada para o final do século: Thomas Watson dizia que em 2000
haveria apenas cinco ou seis computadores. Acho que ele errou apenas em algumas
décadas, pois qualquer um pode observar esse processo de concentração
de aplicações em grandes servidores nos dias de hoje.
A face mais visível desse processo para os leigos é que
apenas os grandes provedores de Internet se mantêm no mercado,
engolindo no dia-a-dia os pequenos e crescendo ininterruptamente. Quem
ironiza isso é porque desconhece o mercado, seus segmentos e sua
escala.
Websphere Server
O WebSphere é uma família de softwares da IBM que se
apóiam no WebSphere Application Server, um servidor de aplicações
Java. De olho no crescente mercado do e-commerce, o WebSphere foi projetado
para ser uma suíte de desenvolvimento multi-plataforma e para a
administração de sites de empresas de qualquer porte. Como
estratégia ele distribui aplicações Java, o esperanto
digital em que empresas como a Sun e a IBM estão apoiando todo o
seu desenvolvimento, para máquinas clientes das mais diversas arquiteturas,
desde os pequeninos handhelds até os poderosos mainframes com a promessa
de "entregar a informação em qualquer ponto da rede".
Ele, além da vantagen de ser server-side, permite a conexão com
a grande maioria de servidores de dados do mercado como DB2, Oracle, Sybase,
e muitos outros, entregando via Web os dados requisitados por qualquer cliente,
não importando o sistema operacional ou o hardware.
O WebSphere Server combina a portabilidade de aplicações com
a performance do Java dentro de um ambiente compreensível, com uma IDE
bem clara e organizada. Todas as classes e componentes da aplicação
aparecem estruturados visualmente para fornecer uma clara compreensão
ao desenvolvedor ou ao administrador do site.
Ele possui integração com servidores de aplicativos transacionais
(CICS e Enicna) e também fornece capacidades de servidor para as
especificações do Enterprise JavaBeans da Sun, permitindo inclusive
a interação entre aplicativos Web e não-Web. Outros softwares
da família WebSphere completam o Server no gerenciamento do tráfego,
na replicância e no compartilhamento de arquivos, no balanceamento e
monitoração dos servidores TCP/IP, na administração
segura do proxy, principalmente em sites de grande volume de acesso e de intensa
transação de dados.
No desenvolvimento para o WebSphere Server, há o VisualAge for Java e o
WebSphere Studio, concebidos para o trabalho em equipe, integrando designers,
webmasters, autores e programadores em ambientes únicos, permitindo criar
queries em bancos de dados, Java beans e Java servlets. Não é
preciso ser um programador com conhecimento profundo para fazer as
aplicações em Java, pois os assistentes (wizards) guiam o usuário
na produção de um site completo, com funções poderosas
e nenhuma linha de código escrita. O ambiente desenvolvimento é
controlado automaticamente por um CVS (controle de versões) e o site pode
ser testado parcial ou completamente em qualquer estágio da produção.
Para rodar o WebSphere Application Server o requisito mínimo de hardware na
arquitetura PC é um Pentium III com 256 Mb de RAM, mas recomendam-se 512 Mb
ou mais para um desenvolvimento sem "engasgos", afinal Java é um
devorador de RAM, principalmente num ambiente gráfico de desenvolvimento e
depuração. Uma cópia de avaliação do WebSphere
Server pode ser baixada diretamente do site www-4.ibm.com/software/webservers/appserver/
e existem três versões do produto: Standard Edition, Advanced Edition e
Enterprise Edition.
Softwares IBM portados para Linux
Book Manager
Data Replication Solution
DB2 Connect
DB2 DataPropagator
DB2 Everyplace
DB2 Universal Database
DB2 XML Extender
Domino
Linux at IBM
Linux at IBM Software,
Services, Hardware
Network Dispatcher
Net.Data
Object REXX
Screen Customizer
SecureWay On-Demand Server
SecureWay Wireless Software
Techexplorer Hypermedia
Browser
Tivoli Storage Manager
(formerly ADSM)
VisualAge Developer Domain