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Coluna do Augusto

AUGUSTO CAMPOS
brain@matrix.com.br

Uma das minhas citações favoritas é do grande líder pacifista Gandhi, e diz (em tradução livre): "Primeiro eles o ignoram. Depois riem de você. Então eles o combatem. Aí você vence".

Houve muitos momentos na história do Linux em que essa citação pôde ser utilizada, e só os excessivamente otimistas conseguem afirmar que já alcançamos o quarto estágio — a vitória. Mas certamente "eles" já estão nos combatendo, após muito nos ignorar e tentar ridicularizar. E quando me refiro a "eles", quero dizer a Microsoft, produtora do sistema operacional detentor das maiores fatias do mercado.

A comunidade do software livre (não apenas o Linux) já viu muitas estratégias diferentes partir da gigante de Redmond em sua direção. Silêncio, propaganda negativa, declarações desencontradas... E mesmo assim a força do software livre continuou crescendo constantemente. O servidor Apache permanece ocupando cerca de 60% do seu mercado, enquanto o IIS tem menos de 20% (dados de janeiro). Perl, PHP e Postgresql tornam-se cada vez mais opções a produtos como o ASP e o MS SQL Server, e os sistemas operacionais livres tomam uma fatia cada dia maior, principalmente do mercado corporativo e de servidores.

As estratégias se sucedem. No início deste ano fomos agredidos por uma declaração de que o software livre é antiamericano e anticapitalista. De quando em quando surge uma nova pesquisa ou comparativo com resultados "surpreendentes", e os membros da própria comunidade do software livre dão cada vez menos atenção a isso — talvez por suspeitarem de que no final das contas o que vai realmente importar é a qualidade do código e a opinião de quem usa os produtos — e não a de quem quer vender.

A investida mais recente da líder de mercado é a mais paradoxal: divulgar para grupos restritos de clientes o código-fonte de alguns de seus produtos. Mas segundo a cobertura da imprensa nacional, "a Microsoft Corporation vai abrir o código-fonte do seu sistema Windows", e "a empresa compreendeu que errou ao se especializar no mercado corporativo, deixando a comunidade acadêmica vulnerável ao Linux e a outros sistemas abertos". Esses comentários, atribuídos ao diretor-geral da Microsoft Brasil, levam a algumas considerações importantes.

Em primeiro lugar, não está havendo uma abertura do código, mas apenas uma divulgação restrita — uma visita à FSF.org pode ajudar aqui. Mas a Microsoft parece estar achando aceitável (e desejável) que o público em geral possa de alguma forma associar seus produtos à idéia de software livre, e isso certamente é uma batalha ganha por todos nós.

Em segundo lugar, a comunidade acadêmica não está "vulnerável" aos sistemas abertos. Ela não é o único setor em que os sistemas abertos começam a se tornar mais presentes, e é difícil de afirmar que sistemas fechados sejam mais adequados para o desenvolvimento acadêmico...

Outra frase da mesma origem é ainda mais importante: "Nós reconhecemos o erro e vamos atrás dos desenvolvedores e da comunidade acadêmica". Lembram-se de Gandhi? "Então eles o combatem. Aí você vence".

Caro diretor-geral: em 1991, um estudante finlandês chamado Linus Torvalds foi "atrás dos desenvolvedores e da comunidade acadêmica", e foi muito bem acolhido. Ele não criou restrições, nem fez jogadas de marketing, nem declarações à imprensa — ele forneceu código de boa qualidade, e liberdade para quem quisesse alterá-lo e melhorá-lo. Procure-nos com uma proposta assim, e aqui estaremos — mas dizer que vai abrir o código e apenas divulgá-lo de maneira restrita nos faz lembrar cada vez mais do que aconteceu com o poderoso império ao qual Gandhi se opôs...


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