Revista Do Linux
 
EDIÇÃO DO MÊS
 CD do Mês

 Capa
 Entrevista
 Corporativo
 Programação
 Segurança
 Ferramenta
 Produto
 Hardware
 

A vez do desktop

Neste ano o Linux começa a conquista do mercado corporativo com a substituição de servidores e também dos desktops nos escritórios

Com seu inigualável poder de síntese, o saudoso Vinícius de Morais já tinha matado a charada quando disse que o destino dos homens é a liberdade. E é justamente esse o eixo da discussão do GNU/Linux, do código aberto, do software livre e, principalmente, do novo modelo de negócios para o mercado de tecnologia.

Nos últimos cinco anos o crescimento do Linux foi espantoso, saltando de algumas dezenas de milhares de usuários dispersos em alguns lugares para mais de trinta milhões no mundo inteiro, e especula-se que esse número possa ser bem maior, pois é muito difícil aferir o uso de um sistema que é livremente copiado. Hoje ele é bem mais que uma tendência, é uma realidade que cresce a taxas bem superiores a de outras plataformas. O IDC aponta hoje uma taxa de crescimento em torno de 25% ao ano, mas admite que a curva é exponencial. O Linux ruma para se tornar o ambiente hegemônico e o Gartner Group aponta 2005 como a data desse cenário.

Quando uma corporação migra seus servidores para o ambiente GNU/Linux está dando um passo fundamental para a autonomia tecnológica, pois não estará mais atrelada a um único fornecedor, nem terá de se submeter mais ao sistema medieval de licenças, economizando milhões em investimento e conquistando a liberdade para escalar sua rede como bem entender. Nesse processo fica explícito quão distorcido é o conceito de rede ponto a ponto, na verdade um artifício pernicioso para encobrir uma economia baseada em licenças por estação.

Costuma-se dizer que, em valores de mercado, o serviço de um especialista para instalar uma distribuição Linux com centenas de aplicativos em uma estação gira em torno de 10% do valor de um PC padrão, enquanto nas plataformas comerciais o serviço de instalação de um sistema, com uma dezena de aplicativos fundamentais e mais o preço de suas licenças não sai por menos que o custo da máquina. É claro que aqui se fala de uma instalação bem diferente, mais espartana, usando-se apenas o sistema operacional, mais um office, um editor vetorial, um servidor de banco de dados, uma ferramenta de desenvolvimento, um compactador, um conversor gráfico, um game e mais alguns complementos, pois cogitar os equivalentes comerciais em igual número ao de uma distro Linux não sairia por menos de US$ 100.000,00 por estação! É importante analisar esse fenômeno para entender melhor o porquê de o Linux ter se tornado a única opção plausível para empresas e usuários domésticos.

Alguns detratores ainda insistem em dizer que liberdade é uma coisa de estudantes, puro idealismo de amadores, que não gera um modelo consistente para o mercado, mas, na prática, na hora de fazer a atualização dos sistemas de uma empresa qualquer, a situação descamba para o espetáculo de horror. Os upgrades são impostos com uma tabela abusiva de preços, de qualidade duvidosa e, o que é pior, sempre exigem a troca do conjunto do hardware. A frustração torna-se cumulativa, pois os clientes não conseguem ver o benefício adquirido, e os contratos são leoninos.

Após algumas repetições desse ciclo isso termina por extenuar o cliente, que passa a pensar apenas em encontrar uma saída desse labirinto kafkiano. Para os fornecedores sobra a bronca da elevação constante dos custos e que serve apenas para minguar cada vez mais seu faturamento. Se entre os clientes e os fornecedores o entrave é um fabricante que apenas os dilapida, a solução é obvia. Trata-se apenas de uma questão de tempo até ambos encontrarem uma alternativa que os satisfaça. Resumo da ópera: não custa testar o Linux.

Por um lado, o Linux não é um produto revolucionário, na medida em que é apenas um descendente direto da linhagem do Unix, mas, por outro, ele é revolucionário quando oferece a libertação do sistema de licenças a empresas, usuários domésticos, administradores de redes e fornecedores de serviços. As empresas pagam apenas pelos serviços prestados e sentem-se satisfeitas com o custo total da solução.

Outro aspecto importante nesse processo é saber que gigantes como IBM, HP, Compaq, NEC, Sun, Borland, Hitachi e outras estão investindo maciçamente em programas de suporte, treinamento e porte de aplicações. Tomando o exemplo da IBM, que está investindo a espetacular quantia de 1 bilhão de dólares somente neste ano em programas Linux, pode-se avaliar o vulto industrial que o Linux representa atualmente no mercado.

A lista de empresas que conferem credibilidade nessa migração para a plataforma Linux é enorme e não pára de crescer. NASA, Ferrari, Mercedes- Benz, General Motors, Yellow Cab, Parlamento da Inglaterra, Correio norte-americano, Guarda Nacional Americana, Pixar, apenas para citar alguns nomes muito conhecidos no mundo inteiro. Na França, na Alemanha, em Israel, no Japão, na Coréia e até no Brasil tramitam projetos de lei que instituirão a adoção de sistemas abertos no aparelho de estado. Aqui no Brasil, casos bastante conhecidos como o da Prefeitura de Recife, do Estado do Rio Grande do Sul, do Exército Brasileiro, Lojas Renner, Lojas Colombo, Banrisul, Serasa, Polícia Militar de Belo Horizonte, são significativos para mostrar que se trata de um fenômeno explosivo.

Não se defende aqui a extinção do sistema de licenças, mas usuários domésticos e corporativos precisam de liberdade tanto quanto as empresas que vendem softwares comerciais. A oferta de serviços é um modelo de negócios muito mais eficaz para as necessidades do mercado do que o falido sistema de licenças e, nesse sentido, a única crítica pertinente é a de que o software livre vai causar uma implosão no modelo de desenvolvimento de software tradicional.

Um interessante caso é o do StarOffice, uma suíte que pode ser baixada diretamente na Internet, livremente copiada ou adquirida com as distribuições Linux. Quem, em pleno exercício das faculdades mentais, irá desembolsar uma quantia exagerada por cada máquina da rede para ter outra suíte com, no máximo, igual poder de fogo? Só desavisados, administradores de rede que temem causar um grande choque de cultura nos seus usuários, usuários que adoram aquele "protetor" de tela azul ou outra razão exótica qualquer.

Na esfera comercial, no entanto, não há como barrar sua adesão em massa nas empresas e no ambiente doméstico. A Sun, que além de distribuí-lo como um produto gratuito, abriu seu código e fez nascer um novo projeto livre, não teme entrar no mercado com a proposta de oferecê-lo apenas como um serviço. O mercado está mudando seu perfil e a Sun foi a primeira grande empresa a mostrar que é possível sobreviver, e bem, num modelo comercial baseado em serviços.

Embora o Linux viva o seu ano de conquista do mercado corporativo, substituindo servidores de rede e se transformando na base desses ambientes, ainda há muito trabalho em desenvolvimento. E um desktop popular Linux só será um fenômeno palpável quando até a lojinha da esquina ou o supermercado oferecerem máquinas com Linux pré-instalado de fábrica. E é justamente esse processo que está em curso atualmente e, por isso, espera-se uma avalanche de máquinas mais baratas movidas a Linux para o próximo ano, fato que vai alterar definitivamente o panorama atual.

Nessa nova realidade faz-se necessário mostrar aos novos usuários de Linux as opções mais atraentes para uma migração, sem choque de culturas, para o novo desktop. Embora isso não faça muito sentido nessa nova plataforma — pois existem dezenas de desktops nesse ambiente multitarefa real, muito mais sofisticado, principalmente para os especialistas —, aqui está um perfil básico de aplicações para os novos usuários de Linux e que lhes será muito útil.

KDE

O KDE é sem dúvida um dos desktops mais indicados para quem vem de outros sistemas operacionais. Seu objetivo é simplesmente ser a "cara" mais popular no mundo Linux, fornecendo ao usuário todos os recursos necessários para que ele se sinta "em casa". Atualmente na versão 2, o foco do KDE é a praticidade. Tudo o que o usuário espera de um ambiente gráfico está disponível, incluindo operações de arrastar e soltar (drag & drop), um painel de controle centralizando toda a configuração do sistema, gerenciador de arquivos e utilitários como compactadores, editores de texto, players para áudio/vídeo, utilitários para desenvolvimento e para administração do sistema, como gerenciamento de usuários, editor de scripts de inicialização, gerenciador de pacotes e agendamento de tarefas. Até os usuários mais experientes têm bons motivos para usar o KDE.

O gerenciador de arquivos, chamado Konqueror, é um dos destaques do sistema. Além de possuir todos os recursos comuns a um bom gerenciador de arquivos, com alguns "extras" como a capacidade de navegar dentro de arquivos compactados, você pode usá-lo para acessar diretórios compartilhados em rede, como um cliente gráfico de FTP, ou mesmo como navegador para Internet. Possui suporte a HTML 4.0, CSS, JavaScript e Java, permitindo usar os plug-ins do Netscape (como o Flash). Se você possui fontes TrueType instaladas, pode usá-las no Konqueror, e dispor do recurso de "anti-aliasing", que melhora a aparência do texto na tela. Tais recursos garantem sua compatibilidade com a maioria dos sites da Internet.

Os usuários se sentirão à vontade ao ver a barra de tarefas na parte de baixo da tela e o menu do "K" na extremidade esquerda da barra, onde os atalhos para os aplicativos estão organizados por categorias. Assim como no Windows ou no Mac, é possível colocar atalhos diretamente na barra de tarefas, possibilitando o acesso rápido aos aplicativos mais utilizados. O desktop se comporta praticamente como o do Windows: com um clique no botão esquerdo do mouse sobre um ícone você abre o aplicativo, e com um clique do botão direito surge um "menu contextual", onde é possível acessar as propriedades dos ícones, criar novos ícones e atalhos para sites na Internet, configurar o desktop, montar e desmontar dispositivos, travar a tela e sair do sistema, entre outras tarefas.

O KDE 2 faz parte da maioria das distribuições Linux atuais e está disponível gratuitamente na Internet na sua página oficial, em www.kde.org.

Netscape Navigator/Communicator

O navegador mais popular no Linux é sem dúvida o Netscape Navigator. A atual versão estável é a 4.77, que tem todos os recursos encontrados na versão Windows, incluindo suporte a plug-ins como RealPlayer e Flash, além do suporte à Java e Javascript. De distribuição gratuita, mas não Open Source, ele pode ser baixado diretamente do site do fabricante. Existe também o pacote Netscape Communicator, que incluir o navegador (Netscape Navigator), editor de HTML (Netscape Composer) e um programa de e-mail (Netscape Mail).

LICQ

O LICQ é um dos clientes de ICQ mais usados no mundo Linux. Atualmente na versão 1.03, ele não deixa nada a dever em relação à versão Windows. Você pode enviar e receber mensagens, arquivos e URL’s e criar "salas de chat" particulares com outros membros de sua lista de contato. É possível organizar os contatos em grupos, colocar aquele cara chato em uma "ignore list" e enviar mensagens seguras entre dois usuários do LICQ utilizando SSL (Secure Socket Layer, método para envio seguro de dados através de uma conexão de rede).

IServerd/ICQNIX

Algumas empresas utilizam o ICQ de um modo um pouco diferente: em vez de usar os servidores públicos da Mirabilis (empresa criadora do ICQ), elas criam pequenos servidores próprios, acessíveis somente através de sua rede interna, e seus funcionários utilizam clientes especiais para conexão a esse servidor. É o chamado ICQ GroupWare. Solução similar num servidor Linux, desenvolvido por um programador russo, é o IServerd, que permite que clientes ICQ GroupWare do Windows se conectem a ele. Dessa forma, você pode migrar seus servidores para Linux e manter o ICQ Groupware em atividade nas máquinas Windows. Caso você esteja planejando migrar as estações para Linux, também há uma solução. O ICQCorp é um cliente ICQ GroupWare para Linux que se pode conectar ao IServerd ou a servidores ICQ GroupWare para Windows, implementando quase toda a funcionalidade do cliente oficial da Mirabilis.

Evolution

Recentemente um software desenvolvido pela Ximian (autora do Ximian/Helix Gnome) despontou como uma grande promessa: o Evolution. Combinando e-mail, calendário/agenda e livro de endereços em uma ferramenta simples de usar, mas extremamente poderosa, e uma interface similar ao Microsoft Outlook (componente de e-mail do MS Office), o Evolution oferece recursos similares aos do concorrente, com a vantagem de ser virtualmente imune aos famosos vírus de e-mail e falhas de segurança aos quais os usuários do Outlook já estão acostumados.

O componente de e-mail do Evolution suporta os protocolos SMTP, POP e IMAP, padrões para envio e recebimento de mensagens. Um sistema de filtros de fácil configuração permite que as mensagens importantes sejam rapidamente separadas das outras, e é possível enviar e visualizar mensagens escritas em HTML. Há suporte a criptografia usando o PGP ou GPG, o que garante a privacidade de suas mensagens, que podem ser guardadas em vFolders, sistema que armazena seus e-mails em um banco de dados e os organiza em pastas que na verdade são pesquisas (queries) nesse banco.

Tal sistema garante agilidade ao Evolution, mesmo com milhares de mensagens arquivadas.

O calendário/agenda permite que você agende compromissos e configure lembretes para que você não se esqueça de datas importantes, e você pode visualizar sua agenda organizada por dia, semana, semana de trabalho ou mês. É possível exportar sua agenda em HTML, para publicação na Internet. O sistema de lembretes o avisa de seus compromissos mesmo que o Evolution não esteja aberto, graças a um "daemon" que roda em background, sem que você perceba.

O Evolution ainda é um "preview", atualmente na versão 0.10, mas já pode ser usado com algumas ressalvas. A versão final trará, entre outros recursos, a integração dos sistemas de calendário e livro de endereços com organizadores pessoais (PDAs) baseados no PalmOS.

StarOffice

Sinônimo de suíte office para Linux, o StarOffice, originalmente desenvolvido pela empresa alemã StarDivision e atualmente mantido pela Sun Microsystems, é compatível com os aplicativos da Microsoft, tanto em formatos de arquivos como na similaridade da interface com o usuário, de modo que é necessário muito pouco treinamento para a migração para o StarOffice.

O editor de textos StarOffice Write conta com recursos como a AutoCorreção ortográfica (disponível em vários idiomas, incluindo o português) e o AutoComplete, que completa o texto que você está digitando com base nas palavras mais comuns já usadas. É possível dividir o texto em colunas, e controlar o fluxo de texto entre elas, e há ferramentas para inserção de imagens e de objetos criados em outros aplicativos do StarOffice. Você pode criar uma mala-direta a partir de dados do StarOffice Base, ou inserir uma planilha do StarOffice Calc em seu texto. Na hora de salvar seu trabalho, você pode escolher vários formatos, incluindo o formato próprio do StarOffice, HTML, ou as várias versões do .DOC do Microsoft Word (desde 5.0 até o 2000).

Na planilha StarOffice Calc você encontra todos os recursos do Microsoft Excel, podendo criar desde uma simples planilha de despesas de viagem até um documento complexo, recolhendo dados de várias outras planilhas separadas. Se você trabalha com dados financeiros, vai adorar o recurso de recuperar a cotação de várias moedas da Internet e atualizar esses dados automaticamente em todas as planilhas que os utilizem. Um "gerenciador de cenários" lhe permite fazer previsões do tipo "Que aconteceria se eu cortasse os custos em 5%?" facilmente. E possível ler e gravar planilhas gravadas em outros softwares como Microsoft Excel, desde a versão 4.0 até a 2000, e até mesmo planilhas do Lotus 1-2-3.

O StarOffice Impress é o utilitário que você irá usar para gerar apresentações e slides. Através da integração com as ferramentas de desenho do StarOffice Draw, você pode converter suas imagens para gráficos vetoriais e mudar e criar fundos de tela rapidamente. Usando a opção de "empacotamento", todos os arquivos necessários são salvos junto com sua apresentação, mesmo que eles estejam espalhados por vários diretórios e discos. Para máxima flexibilidade, você pode "transmitir" uma apresentação pela Web, usando scripts Perl, ou mesmo exibir a apresentação em uma máquina que não possui o StarOffice instalado. Podem-se abrir arquivos do Microsoft PowerPoint, versão 97 ou 2000.

O pacote do StarOffice ainda inclui o StarOffice Base, uma base de dados através da qual você pode acessar qualquer sistema SQL compatível, o StarOffice Draw, software de desenho que lembra um pouco o Corel Draw 5.0, o StarOffice Mail and Discussions, cliente de e-mail e news com recursos para importação de mensagens do Outlook Express e Netscape Messenger, um navegador, suficiente para a maioria das necessidades do dia-a-dia, e o StarOffice Schedule, agenda com vários recursos para trabalho em grupo.

Todos esses aplicativos se integram no StarOffice Desktop, seu ponto de partida para qualquer tarefa a ser realizada no StarOffice. Ele utiliza um conceito similar ao do desktop do Windows, com uma barra de tarefas que o ajuda a se organizar entre os documentos abertos, e um "menu iniciar" onde estão agrupadas as tarefas mais comuns do StarOffice, ajuda, ferramentas de busca e configuração. A área de trabalho já vem pré-configurada com ícones para algumas das tarefas mais comuns, e você pode personalizá-la a seu gosto.

Além do Linux, ele tem versões para Windows e Solaris, e através do projeto OpenOffice está sendo criada uma versão para o MacOS X. E tudo isso a um preço irresistível: gratuito. Como requisitos de sistema são recomendados 64 Mb ou mais de RAM, e um processador de 233 MHz ou superior. Espaço em disco pode ser economizado com uma "instalação em rede". Instala-se o programa em um diretório acessível por todos os usuários que irão utilizar o StarOffice, ocupando cerca de 180 Mb, e cada estação de trabalho só precisará instalar cerca de 3Mb. Como comparação, a última versão do Microsoft Office, o Office XP, requer cerca de 245 Mb de espaço em disco e 64 Mb ou mais de RAM (no Windows 2000). Embora os requisitos de processador mostrem um Pentium 133 MHz, é difícil acreditar que se consiga um desempenho satisfatório com algo abaixo de 300 MHz. Analisando dessa forma, nota-se que os requisitos de sistema do StarOffice não estão "fora da realidade", como pensam alguns.

Conclusão

Quando se fala em usuário final, daqueles que usam Windows ou Mac, no escritório ou em casa, as dúvidas mais freqüentes dizem respeito aos aplicativos correlatos no ambiente Linux. Entre as muitas opções de interfaces gráficas, bem como suas aplicações fundamentais, aqui está um roteiro que mostra como será fácil para as empresas migrarem para a plataforma Linux e terem suas necessidades básicas supridas, continuando com o mesmo repertório de uso, formatos de arquivos e mantendo, ou até mesmo aumentando, sua comunicação com o mundo.

É claro que o conjunto de soluções básicas é muito mais extenso que esse mostrado aqui, mas se sua dúvida é se existe um aplicativo Linux para determinada tarefa, por "default" assuma um sim.

"Podemos fornecer isso e muito mais com software livre"

Em uma declaração que terminou se avolumando numa imensa trapalhada de desentendidos, o presidente da Dell afirmou que o Linux não servia para o desktop e que por isso não conquistaria os usuários comuns. Somando-se a enorme repercussão negativa gerada por essa afirmação com a desastrada campanha de ataque ao Linux na mídia, que visa, antes de mais nada, confundir ou diluir o fenômeno de seu alastramento no meio empresarial, o resultado final produziu o efeito inverso ao pretendido: um tiro no próprio pé, pois quem já era Linux revidou e quem não era agora quer conhecê-lo.

Hoje, personalidades de indiscutível mérito nos meios acadêmico, empresarial e industrial, entre eles Bruce Perens, da HP, rebatem os argumentos dos que pretendem criar a contramão do mercado.

Revista do Linux — Em que projetos você está envolvido atualmente?

Bruce Perenz — Em vários projetos estratégicos na HP. Por exemplo, estou escrevendo o manual corporativo de políticas de código aberto, e tambem representando a HP em um encontro de estúdios de cinema que usam GNU/Linux. Hoje todas as grandes casas de animação gráfica computadorizada usam Linux: Pixar, PDI, DreamWorks etc. Tenho cerca de 19 anos de experiência em computação gráfica e trabalhei na Pixar de 1987 a 1999. No lado do software, estou aprendendo a linguagem Ruby. Ela é melhor que Perl ou Python.

RdL - Qual a política da HP com o Linux? Onde e quanto a empresa pretende investir em Linux nos próximos dois anos?

BP - Queremos ser bons cidadãos da comunidade de software livre, então estamos contribuindo com alguns softwares nossos, e cooperando com vários projetos de software livre.

Ajudamos tambem em alguns projetos, prestando serviços e doando dinheiro.

Recentemente lançamos drivers GNU/Linux para várias de nossas impressoras, desde impressoras que já não fabricamos há 10 anos, até nosso mais recente modelo.

Devido à importância da LSB (Linux Standard Base) para nós, apoiaremos o Free Standards Group. Um de nossos funcionários, David Mosberger, é o arquiteto do porte IA-64 do GNU/Linux e está incluído na pequena lista de pessoas que continuarão o trabalho de Linus caso ele não possa mais prosseguir com o desenvolvimento do kernel. A HP criará uma ampla linha de sistemas velozes GNU/Linux baseados em IA-64, com servidores multiprocessados para montagem em bastidores 1U de 8 e 16 CPUs.

Estamos trabalhando com o GNU/Linux em várias divisões diferentes: sistemas embutidos, desktops, servidores, aplicações internet, dispositivos de armazenamento, telecomunicações, etc. Em uma empresa de 84 mil pessoas, calculamos que 3/4 delas usam GNU/Linux de alguma forma.

RdL - Como você vê a posição da Dell com relação ao Linux, levando-se em consideração o uso do Linux em um desktop SOHO?

BP - A HP está realmente desenvolvendo o GNU/Linux desktop em seus sistemas Unix! O Gnome é o desktop oficial do HP-UX. Com relação aos desktops GNU/Linux, a HP atualmente os vende em países menos desenvolvidos, como a China, e vendemos um notebook com GNU/Linux nos Estados Unidos. Eventualmente trabalharemos mais com desktop em países desenvolvidos, mas ele ainda não está realmente pronto para esse mercado. Deixarei a Dell falar for si — não sou um perito em suas iniciativas.

RdL - Quais as maiores dificuldades que a comunidade de código aberto enfrenta para que o Linux se consolide como uma solução em um desktop SOHO?

BP - Bem, finalmente estamos terminando o Mozilla. Isso levou muito tempo. Acho que precisamos trabalhar mais no OpenOffice. Ele não decolou com a comunidade, provavelmente porque ela não confia realmente na Sun e na Collab.net. Não tenho certeza de que isso seja justificado, mas é o que está acontecendo. Talvez seja necessário que a comunidade produza seus próprios esforços no OpenOffice para que seu desenvolvimento possa ser alavancado. É extremamente importante ter uma boa suíte de escritório nesse desktop, e ninguém mais fornece todas as características existentes no OpenOffice.

RdL - Quais as empresas que mais estão apoiando o uso do Linux em uma estação de trabalho? Você tem conhecimento de projetos específicos nesse segmento?

BP - Bem, a Sun contribuiu muito com o OpenOffice, e eu acho que isso ainda não foi apreciado pela comunidade. Muitas das distribuições estão trabalhando para facilitar o uso, a instalação e a administração. Isso é essencial.

RdL - O que falta para que o Linux possa se tornar uma opção comercialmente viável nas estações de trabalho? Mais investimentos em marketing? Treinamento?

BP - Algumas pessoas dizem que são as aplicações, mas não estou bem certo disso. O usuário típico não precisa de muitas aplicações. Um navegador Web, um programa de e-mail e uma suíte de escritório fornecem todas as funcionalidades que um típico funcionário de escritório precisa para usar em suas tarefas diárias. Nós podemos fornecer isso e muito mais, e todas usando software livre.

RdL - Como o senhor avalia o posicionamento das distribuições Linux ao redor do mundo? Qual modelo de negócios elas devem seguir?

BP - Bem, gosto da Debian porque eles não precisam de um modelo de negócios, eles apenas produzem bom software. Eu ainda tenho uma piece do Progeny, que não é exatamente uma distribuição separada — eles vendem uma versão do Debian. A Progeny permanece fiel ao software livre, mas está construindo parcerias sólidas com grandes companhias e está conseguindo contratos que lhe trazem dinheiro.

RdL - Por que o senhor é tão otimista em relação ao uso do Linux em uma estação de trabalho?

BP - Considere que o trabalho em desktops GNU/Linux começou em 1997. Isso foi há pouco tempo, e nós já temos dois excelentes desktops após apenas quatro anos. Dada a tremenda taxa de progresso, penso que o software para o usuário iniciante chegará em breve. Não acho que nós precisamos de muito mais aplicações que as que já temos para satisfazer o usuário médio, e não creio que o mercado seja tão fiel à Microsoft a ponto de termos problemas em nossas incursões contra ela.

RdL - Como a comunidade linuxer deve se posicionar com relação à postura mais agressiva demonstrada pela Microsoft nas últimas semanas em relação ao conceito de desenvolvimento de código aberto?

BP - Bem, acho ótimo que a Microsoft esteja nos trazendo tanta publicidade. Ballmer, o CEO da Microsoft, recentemente chamou o Linux de "um câncer". Allchin, outro de seus vice-presidentes, chamou-o de "não-americano" há alguns meses. Quando as pessoas vêem os executivos da Microsoft dizendo coisas absurdas como essas, elas começam a levar o Linux muito mais a sério.

Nosso próximo passo precisa ser a luta contra patentes de software. A MS está tentando fazer com que outros países as aceitem, o que seria um tremendo erro. Ela provavelmente começará a "empurrar" suas patentes contra os desenvolvedores de software livre.

RdL - Finalizando, qual a verdadeira vocação do Linux no mercado? Onde ele pode se sobressair?

BP - A maior diferença que poderíamos fazer seria colocar os clientes novamente no assento do motorista, em vez de termos apenas uma companhia cuidando de todos os pedidos da metade dos usuários de computadores do mundo.

Para saber mais

Netscape Navigator/Communicator: www.netscape.com

Konqueror: www.kde.org

LICQ: www.licq.org

IServerd / ICQNIX: www.icq.khstu.ru/unix/

Evolution: www.ximian.com

StarOffice: www.sun.com/staroffice


A Revista do Linux é editada pela Conectiva S/A
Todos os Direitos Reservados.

Política de Privacidade
Anuncie na Revista do Linux