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Alô? O Tux está?

Já pensou em instalar o Linux em seu telefone? Um antigo projeto da Philips, ressuscitado pela comunidade Open Source, torna isto possível

Em 1998, a Philips desenvolveu um produto revolucionário: Philips IS2630 Screen Phone. Uma combinação de Internet Appliance com telefone, o IS2630, também conhecido pelo codinome shannon, vinha equipado com o sistema operacional Inferno, produzido por uma divisão da Lucent Technologies, um navegador web, cliente de e-mail e aplicativos como livro de endereços e agenda de compromissos. Infelizmente, o produto era avançado (e caro, cerca de US$ 650,00) demais para sua época, e o projeto acabou sendo cancelado, sem nunca ter sido lançado ao público.

Voltando ao século 21, um grupo de pessoas voltou a se interessar pelo produto da Philips, assim que se descobriu que seu hardware, similar ao de sistemas atuais, como os PDAs iPaq e o projeto LART, é capaz de rodar o Linux! Combinando essa característica com os recursos de telefonia embutidos no aparelho, várias idéias de novos usos foram surgindo, e uma entusiasmada comunidade de desenvolvedores rapidamente se formou. Rebatizado como TuxScreen e disponível para compra via Internet a um bom preço, o fracasso da Philips rapidamente se tornou uma plataforma interessante para desenvolvimento de soluções embedded ligadas à área de telefonia.

Hardware

O hardware é baseado no processador StrongARM SA-1100, da Intel, rodando a 133 ou 206 MHZ. 8 MB de RAM soldados na placa, e um pente de expansão com mais 8 MB totalizam 16 MB de memória, o máximo reconhecido pelo Linux, embora o aparelho suporte entre 40 a 60 MB, dependendo do modelo. 4 MB de Flash armazenam o sistema operacional original, Inferno, que pode ser facilmente removido e substituído pelo Linux.

Uma tela de cristal líquido sensível ao toque, de 7.7 polegadas e com resolução de 640x480x256 cores, serve como monitor. Há também um teclado, conectado à máquina via infravermelho, que serve para a entrada de dados. Com a tela sensível ao toque, não há necessidade de mouse, o que, de certa forma, simplifica a operação do produto.

Há dois slots PCMCIA, que aceitam somente cartões que operem a 3.3 volts (embora muitos, atualmente, utilizem 5 volts), possibilitando a conexão de placas de rede, por exemplo. Um DSP da Lucent, localizado abaixo da blindagem de RF na placa mãe, aparenta ser um modem de 28.800 bps.

Usos

As possibilidades de uso do TuxScreen são imensas. O hardware suporta distribuições Linux como o Familiar, variante do Debian criada para o PDA iPaq, e você pode usá-lo, por exemplo, como um terminalzinho para envio e recebimento de e-mails, monitoração de logs de rede, consulta rápida a agendas e livros de endereços, etc. A parte “telefone” do hardware funciona, atualmente, separada da parte “computador”, de forma que é possível checar seus e-mails enquanto faz uma ligação telefônica. Outros sugerem seu uso como um “livro de receitas eletrônico” para a cozinha da casa, armazenando dados em um servidor remoto.

Contudo, seu verdadeiro potencial vem da integração dos recursos de telefonia com o resto do sistema. Não seria complexo desenvolver um sistema de “identificação visual de chamada”: ao invés do número de quem está chamando, poderia ser mostrada na tela uma foto da pessoa. Seria possível “filtrar” chamadas (por exemplo, ignorar chamadas de números desconhecidos após as 21 horas), ou criar uma secretária eletrônica que responda com mensagens individuais a cada pessoa em seu livro de endereços.

Uma interface paralela possibilita a conexão de uma WebCam, que poderia ser utilizada para videoconferência entre dois TuxScreen. A imagem seria enviada via rede, e o som através do sistema telefônico normal. Implementação de voz sobre IP, automação doméstica e integração de aplicativos (como livros de endereços) com o sistema de telefonia também seriam possíveis. Tudo isso depende do DSP (Digital Signal Processor, processador digital de sinais) embutido no hardware, que, atualmente, não é suportado pelo Linux. Contudo, suporte ao DSP é uma das prioridades de desenvolvimento.

Legal!
Onde posso comprar um?

No começo deste artigo, mencionamos que, originalmente, o TuxScreen custava cerca de seiscentos e cinquenta dólares. Contudo, Tim Riker tim@Rikers.org possui um estoque de mais de 900 unidades, que são vendidas a cerca de 99 dólares cada (mais custos de envio), o que inclui o aparelho (com o visor de cristal líquido), teclado, fonte, cabos, etc. Por cerca de 25 dólares a mais, ele realiza a operação de “destravamento” da Flash (que você mesmo pode fazer, se quiser) para que o Linux possa ser instalado, e espera, no futuro, oferecer aparelhos com o Linux pré-instalado. Acessórios extras, como “dongles” JTAG, para reprogramação da Flash em casos de emergência, também estão disponíveis. Lembre-se que suporte ao Linux no TuxScreen ainda é algo experimental, e voltado a desenvolvedores que queiram se aventurar nas áreas de desenvolvimento de aplicativos embedded e telefonia. É mais um exemplo do Linux “ressuscitando” um projeto que, de outra forma, estaria condenado ao fundo de um armazém até o fim da vida útil desses aparelhos.

Um pouco de História

O IS2630 era desenvolvido por uma joint-venture entre a Philips e a Lucent Technologies. Quatro mil unidades foram produzidas, quatrocentas delas usadas em projetos de pesquisa e desenvolvimento. Com o fim do acordo entre as duas empresas, o projeto foi cancelado, e as unidades existentes vendidas a companhias ou indivíduos interessados em novos usos para o aparelho. Uma dessas companhias, a Habitat Communications, procurou a Caldera, interessada em uma versão do Linux para esses telefones. Tim Riker se envolveu no projeto e conseguiu um acordo com a Habitat Communications: promover o desenvolvimento do Linux nesses aparelhos, em troca de sua venda por um preço mais baixo (US$ 99,00) do que os US$ 450 originalmente pedidos pela Habitat.


Para saber mais

TuxScreen tuxscreen.sourceforge.net

Familiar familiar.handhelds.org

Shaggy's Shannon Support Center www.eclipse.net/~shaggy/shannon.html

LART lart.tudelft.nl/


Rafael Rigues
rigues@RevistaDoLinux.com.br


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