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Ligando sua rede local à Internet

Com Freesco, basta um disquete e um velho 486 para ligar toda a sua rede à Internet

O desenvolvimento da tecnologia e a redução dos custos associados permitiram que muitas organizações de pequeno e médio porte (incluindo aí até mesmo residências) tivessem mais do que um computador. A conseqüência imediata desta realidade foi a interconexão destes computadores em redes locais de pequeno porte, ainda mais quando se considera que muitas vezes esta rede pode ser criada comprando um hub por menos de 100 reais, e uma placa de rede para cada micro a um custo unitário inferior a 30 reais. Muitas destas redes locais têm algum tipo de conexão à Internet - seja através de um modem instalado em um dos computadores, de um cable modem, ADSL, rádio ou diversas tecnologias. Entretanto, muitas destas redes são administradas por usuários sem grande conhecimento da tecnologia envolvida, e acaba-se encontrando alguma dificuldade (ou custo excessivo) para compartilhar esta conexão à Internet entre todos os computadores da rede local.

Neste artigo veremos com detalhes todos os passos necessários para configurar a forma mais simples de conexão: compartilhar um modem de um dos micros da rede local, que discará automaticamente sempre que detectar que outro micro está tentando acessar a Internet, e desconectará quando a linha ficar sem uso durante um certo período.

Utilizaremos o software Freesco em nossos exemplos, mas ao final do artigo analisaremos brevemente algumas outras alternativas disponíveis. Lembre-se também que a mesma solução pode ser utilizada (com algumas adaptações) se o seu acesso for de banda larga - consulte a farta documentação disponível!

O Freesco

O nome Freesco vem de Free Cisco, ou seja, um roteador livre. Embora ele não faça tudo o que um roteador Cisco faz, ele de fato serve como um excelente roteador de acesso, é facílimo de configurar e muito bem documentado. Além disso, como você pode rodá-lo tranqüilamente até mesmo naquele 486 que está pegando poeira no depósito, ele faz jus ao nome “Free”.

O Freesco roda a partir de um disquete comum. Portanto, a máquina que fará papel de roteador nem precisa ter disco rígido ou, se ela tiver, o uso do Freesco não irá alterar nada do que estiver gravado nele. Para criar o disquete, faça o download no site oficial (em nosso caso, o arquivo se chamava freesco-027.zip) e descompacte-o. Em seguida, insira um disquete virgem no seu drive e digite o comando que irá transferir o sistema:


dd if=freesco.027 of=/dev/fd0

Você pode realizar a mesma operação a partir do Windows (ou mesmo do DOS) se não tiver acesso a uma máquina com Linux. As instruções (e as ferramentas necessárias) estão incluídas no próprio arquivo que você baixou da Internet, mas, em resumo, você terá que simplesmente rodar o arquivo make_fd.bat, e inserir o disquete quando solicitado.

O passo-a-passo da configuração

Transferido o sistema para o disquete, você precisará configurá-lo. Este passo é longo, tedioso e crítico, mas só precisa ser feito uma vez - as configurações serão gravadas no próprio disquete. Insira o disquete no micro que será o roteador, e dê boot. Verifique atentamente as mensagens, e assim que aparecer um prompt boot:, digite a palavra setup - atenção, você terá apenas 5 segundos para fazer isto. Agora aguarde o final do boot e, quando o sistema solicitar o login, informe root. A senha inicial também é root, mas você logo será obrigado a trocá-la. O sistema apresentará uma série de opções, inclusive a possibilidade de configurar um roteador para linha dialup (discada), linha privativa, ethernet (dica: serve também para vários provedores de cable modem, como o Virtua), servidor de impressão ou servidor de acesso remoto. No nosso caso, selecionaremos a opção d - dialup router. Agora o sistema irá fazer uma longa série de perguntas sobre a configuração desejada. A maior parte delas depende da sua configuração local (IP, máscara, nome da máquina, domínio...) e você precisará estar preparado para respondê-las - quando em dúvida, consulte a pessoa que configurou a sua rede local, já que este tipo de informação é padrão, até mesmo se a sua rede for 100% composta de máquinas Windows. Vamos apresentar aqui as perguntas mais importantes; - as que não forem mencionadas em geral podem ser deixadas em branco ou optar pela opção que já vier preenchida. Vamos manter os nomes em inglês para facilitar a identificação das perguntas do sistema.

Em primeiro lugar, você terá que preencher o hostname (nome da máquina) e o domain (domínio).Em nosso caso, preenchemos como “exemplo” e “teste.org”, respectivamente. Em seguida, o sistema nos perguntou se nós desejávamos detectar automaticamente os modems. Respondemos que sim, e tivemos uma agradável surpresa: nosso modem externo foi detectado sem nenhuma dificuldade, e sem que nós precisássemos informar nenhum parâmetro típico destes equipamentos, como IRQ, endereço de E/S, porta e outros. Se o seu modem for interno, talvez você tenha que preencher este tipo de informações - neste caso conte com a ajuda da documentação no site oficial.

A próxima pergunta dizia respeito à init string do modem. A maior parte dos modems pode ficar com a init string default (“ATZ”), mas se o seu modem precisa de alguma inicialização especial, é aqui que você irá informá-la.

Logo após vieram as perguntas sobre as placas de rede do computador. Nosso Pentium 100 possui uma única placa, e é isto que responde a nossa pergunta “How many NICs do you have?”. As perguntas sobre porta de I/O, IRQ e Interface Name foram respondidas simplesmente aceitando o valor já preenchido pelo sistema. O endereço IP e a máscara de sub-rede foram informados com valores compatíveis aos das demais máquinas da rede (no nosso caso, 10.0.0.22 e 255.255.255.0, respectivamente).

Em seguida, o sistema oferece a oportunidade de ativar diversos serviços extras, tais como: servidor DHCP, servidor web, servidor de DNS, time server, servidor de impressão, servidor telnet, redirecionamento de portas e DNS dinâmico. Não aceitamos nenhuma das sugestões, respondendo “n” a todas elas. Em muitos casos, entretanto, a ativação do servidor DNS pode ser uma boa idéia, pois evitará discagens desnecessárias sempre que alguma máquina da rede tentar resolver algum nome ou endereço IP - neste caso, não responda “y” a esta pergunta, mas sim “s” (de secure), para que apenas as máquinas de sua rede interna possam ter acesso a este serviço.

Agora vem a parte mais familiar de todas: a configuração da conta no provedor de acesso. Ao ser solicitado o “ISP/Connection name”, informe o nome do seu provedor. Em “ISP phone number”, informe o número para discagem, precedido por uma letra “T” (por exemplo, se o número é 2171056, digite “T2171056”). Informe também o endereço do seu servidor DNS primário e secundário (o suporte do provedor poderá informar, em caso de dúvida).

Em “Authentication Method”, para a maioria dos provedores brasileiros você poderá selecionar a opção “pap”. Em seguida, informe qual o seu login de usuário e a senha no provedor.

Para finalizar, o sistema exigirá que você troque as senhas dos usuários root e admin.

Ao retornar para o menu, selecione a opção “s” para salvar a configuração atual e reinicializar. Aguarde o reboot (desta vez sem digitar “setup” no prompt) e pronto - seu roteador está pronto para dar acesso às demais máquinas. É isso mesmo, você não precisa nem se logar no sistema, basta deixá-lo ali parado aguardando conexões.

Configurando os outros micros da rede

Para ter acesso à Internet através do nosso novo roteador, todos os micros da rede precisam ter sido configurados adequadamente. O que você precisa é informar o endereço IP do roteador como sendo o “Gateway padrão” das máquinas Windows, ou como a rota padrão nas máquinas Linux.

No caso do Windows, basta ir às propriedades da rede e selecionar a opção apropriada. No caso do Linux, cada distribuição tem a sua maneira documentada, mas o comando abaixo deve servir em qualquer uma delas:


route add default gw 10.0.0.22

(considerando que o endereço IP do seu micro roteador seja 10.0.0.22). Se você já tiver uma rota default configurada, use antes o comando “route del default”.

Colocando para funcionar

Após configurar todas as máquinas da rede local, é hora de testar. Abra um navegador em qualquer uma das máquinas e mande-o navegar por algum endereço da Internet. Se você estiver perto do roteador, deverá ouvi-lo discar instantaneamente, e logo em seguida a conexão se completará.

É normal ocorrer um erro no navegador que tentou o primeiro acesso: a discagem para a Internet demora mais do que ele está disposto a esperar. Mas logo depois de completar a conexão, todas as máquinas podem navegar sem problemas. Se o sistema ficar 10 minutos sem nenhum tráfego, a conexão cairá automaticamente.

Foi nosso primeiro contato com um roteador deste tipo, e tudo funcionou na primeira tentativa, sem nenhum esforço extra, e só com uma breve olhada na documentação. Mas se você encontrar problemas, fique sossegado: o manual é extenso e bem claro, e sempre há possibilidade de consultar o arquivo /var/log/log para descobrir o que está errado.

E quando tudo já estiver funcionando, não deixe de investigar as opções avançadas - você pode até mesmo configurar uma firewall ou aceitar que outras máquinas disquem para um segundo modem do seu PC roteador!

Outras alternativas

Usamos a versão mais recente do Freesco, e ela ainda é baseada no kernel 2.0.38. Não há nada de errado com isso, mas certamente existem outras distribuições de Linux especializadas na tarefa de roteamento que mantenham versões mais atuais.

O LRP (Linux Router Project - www.linuxrouter.org) merece a primeira citação. Também baseado em um único disquete, ele não tem a mesma facilidade de configuração do Freesco (você em geral precisará editar arquivos de configuração manualmente), mas em compensação tem maior flexibilidade.

Se a flexibilidade do LRP não for suficiente para você, visite o site do LEAF (Linux Embedded Appliance Firewall - leaf.sourceforge.net). Este projeto reúne vários desenvolvedores que criam versões modificadas do LRP para atender aos mais variados propósitos. Assim, por exemplo, se o seu provedor de ADSL exige que você configure PPPoE, e o LRP não tiver suporte a este recurso, é provável que no LEAF você encontre este suporte (dica! dica!).

O Coyote Linux (www.coyotelinux.com) tem recursos similares aos das outras soluções (inclusive o suporte ao PPPoE), mais um recurso extra: a possibilidade de criar e configurar o disquete através de uma interface do tipo Assistente - sim, no Windows! Com certeza a maior parte dos usuários de Linux não veja grande vantagem nisso, mas achamos que valia a pena mencionar...

E para fechar com chave de ouro, não podemos deixar de mencionar o GNU Zebra (www.zebra.org), que não é um simples roteador de acesso (rotas estáticas), e sim um roteador robusto, com suporte a BGP-4, RIP, OSPF e outros recursos em geral só encontrados nos roteadores de provedores de acesso ou em redes de maior porte.

Conectar a sua rede local à Internet, seja através de um simples modem ou de serviços como o Speedy e o Virtua, é uma tarefa bastante simples, e raramente exige algum tipo de equipamento especial. Se você optar por um dos vários modelos de roteadores Linux pré-configurados (como os analisados neste artigo), a tarefa não exigirá nem mesmo muito conhecimento, estando ao alcance de qualquer pessoa com noções básicas de configuração de rede.

Além de dar um bom uso aos computadores mais antigos que estão pegando poeira na sua garagem e economizar a compra de um (caro) roteador tradicional, utilizar este tipo de software roteador permite experiências interessantes para os amantes da tecnologia: configurar uma firewall, uma DMZ, uma VPN... Experimente!

O ambiente de teste

Utilizamos uma rede local com 8 micros (alguns rodando Linux, outros Windows) conectados entre si através de um hub comum. Um dos micros (um Pentium 100) tem um modem externo comum de 56K e será utilizado como roteador, permitindo o acesso das outras máquinas à Internet.

Antes de qualquer coisa, é necessário garantir que toda a infra-estrutura esteja funcionando. Você não precisa ser um expert em rede, mas deve garantir que todas as máquinas estejam conseguindo acessar umas às outras.

Para saber mais

www.freesco.org - Freesco

linux.matrix.com.br/dicas_lrp.htm - Passo a passo do LRP

linux.matrix.com.br/dicas_freesco.htm - Freesco e Speedy

www.linuxnewbie.org/nhf/othernix/freesco_router.html - Usando o Freesco para conexões DSL e Cable Modem

leaf.sourceforge.net/devel/khadley/packages.html - PPPoE e LRP

lrp.ramhb.co.nz/docs/ethernet2.htm - LRP e Cable/DSL

Augusto Campos - brain@matrix.com.br


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