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Coluna do Augusto

Software não-livre

Em uma coluna recente mencionei que havia substituído o leitor de e-mail Pine pelo Mutt, e o que me motivou a tentar a troca foi o fato de o primeiro não ser completamente livre, não podendo ser alterado e redistribuído livremente.

Essa minha afirmação levantou alguns comentários, por e-mail e até em conversas com usuários. Como as dúvidas são procedentes, e a polêmica é interessante, achei que valeria a pena ampliar a questão neste mês, apresentando as conclusões do debate.

Em primeiro lugar, pessoas que me conhecem perguntavam por que faz alguma diferença para mim o fato de o código fonte do Pine não poder ser livremente alterado e redistribuído, se eu não tenho mais o hábito de programar e dificilmente iria contribuir com código para o projeto. A resposta é difusa, passa pela questão ideológica, mas também pelos argumentos práticos em prol do software livre: eu posso não estar contribuindo com código para o Mutt, mas muitas outras pessoas estão, e o software avança a passos largos, com contribuições de qualidade revisadas por toda a comunidade usuária. Em resumo: “Podendo optar entre dois projetos de finalidades semelhantes, considerando que ambos atendam às minhas necessidades e expectativas, a minha tendência é escolher aquele cuja filosofia está mais próxima da minha”.

A afirmação entre aspas tem um contraponto interessante, que serve até mesmo para dividir os defensores do software livre em subgrupos. A questão crítica é: e quando não há alternativa livre, ou a alternativa de código fechado ou restrito tem qualidade superior?

A resposta pode variar. Há os que defendem o uso apenas do software livre, os que toleram a mistura do software fechado ao software livre, os que acham completamente indiferente o tipo da licença e até os que preferem o software fechado (sim, eles existem!).

Cada grupo tem seus méritos e seus argumentos, alguns bastante polêmicos e discutíveis. Longe de querer definir o que é o certo e o que é errado, quero me declarar pertencente ao segundo grupo: convivo muito bem com a mistura entre licenças abertas e fechadas - desde que respeitadas algumas condições.

Antes de enfrentar uma chuva de vaias, quero esclarecer minha posição, não sem antes apresentar um precedente ilustre: o próprio Linus Torvalds já declarou apreciar e utilizar o MS PowerPoint no passado (e já havia alternativas livres na época! Veja a entrevista em www.linux-mag.com/1999-05/linus_01.html).

Não chego ao extremo de utilizar o MS Office no meu dia-a-dia, mas existem várias outras ferramentas não-livres que fazem parte do meu quotidiano. Cito algumas: o browser Opera, o visualizador de documentos Acrobat Reader, o visualizador de imagens Compupic, o emulador VMWare, o gerenciador de bancos de dados Oracle, entre outros.

Todas elas, sem exceção, possuem alguma forma de alternativa livre. Cito uma de cada: Mozilla, qiv, xpdf, wine e PostgreSQL. Algumas das alternativas apresentam excelente qualidade (o PostgreSQL é um ótimo exemplo), outras estão em um estágio do desenvolvimento em que precisam muito do feedback da comunidade usuária (e é o caso do Mozilla), e mesmo assim eu os troco por ferramentas não-livres. Por que?

Porque de alguma forma as alternativas que eu utilizo satisfazem a alguma necessidade que eu tenho, ainda não solucionadas pelo equivalente livre. Estou “traindo” o software livre? Acredito que não, porque eu continuo fazendo os downloads das novas versões do Mozilla, por exemplo, e verificando se me atendem às necessidades. Quando encontro um bug, verifico se já foi reportado, senão, eu mesmo o reporto. Confiro os sites, leio as listas de mudanças, busco atentamente os lançamentos de novas versões, divulgo as vantagens de cada um desses produtos.

Estou errado nessa postura pragmática? Provavelmente Richard Stallman (fundador do projeto GNU, papa do software livre) diria que sim, e ainda me pediria para passar a chamar o Linux de GNU/Linux por uma série de razões. Já Linus Torvalds provavelmente diria que não, como seu próprio exemplo pessoal demonstra.

Certamente preferiria usar 100% software livre em tudo que eu faço (devo usar mais de 90%), e sou o primeiro a experimentar e divulgar todas as alternativas livres. Mas não sou extremista, e acredito estar fazendo a minha parte - até melhor do que alguém que use 100% de software livre, mas não tenha o hábito de contribuir com o desenvolvimento ou reportar bugs.

Qual a sua opinião? Certamente vou receber respostas iradas a esta coluna, e outras concordando com a minha visão. Aprecio os comentários, e quem sabe eles até sejam o motivo de uma coluna futura? Escreva e diga o que pensa.

O lado bom: mesmo utilizando softwares não-livres, isso não necessariamente implica em não fazer sua parte em prol do Linux.

O lado ruim: nem todos os softwares do mundo são livres ainda, mas se São Stallman permitir, chegaremos lá!


Augusto Campos - brain@matrix.com.br


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