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Estudo de Caso

O maior da América Latina Projeto de educação da prefeitura de São Paulo disponibilizará 15 mil micros ligados à Internet a 500 mil alunos e 37 mil professores da rede pública municipal

Quando falamos da cidade de São Paulo, tudo é superlativo. Os dados que serão apresentados a seguir fazem parte do Projeto Informática nas Escolas, o maior da América Latina e, certamente, um dos maiores de todo o mundo, envolvendo o software livre e a educação. Os números são representativos. Os alunos da rede pública municipal de ensino do município de São Paulo, o maior do país com 10.434.252 habitantes (dado do Censo 2000 do IBGE), receberão equipamentos de informática de última geração, que serão instalados em todas as 1.198 escolas do município, num investimento de R$ 1,375 milhão na parte de software livre, que será executada pela Conectiva. São 290 Centros de Educação Infantil (CEI's), 435 escolas de Educação Infantil (EMEI's), 463 escolas de Educação Fundamental (EMEFs) e 10 escolas de Educação Especial (EMEE's). Para a secretária de Educação, Eny Maia, os equipamentos que estavam instalados nas escolas estavam obsoletos e sem acesso à Internet. “Esses problemas reduziam a possibilidade de ações pedagógicas mais inovadoras”, explica.

De acordo com Eny Maia, é fundamental que os alunos tenham contato com tecnologias de ponta. “Com a informática, ampliamos a possibilidade de expressão, informação e comunicação, de construção de conhecimento e troca de saberes e de interação relacional”, diz. Para a secretária, é através da escola que se começa uma ação efetiva para combater a exclusão digital, em que, segundo ela, o aluno poderá constituir-se enquanto sujeito na construção de uma sociedade mais justa e igualitária (leia entrevista sobre software livre na educação com a secretária Eny Maia na página 23). Os professores terão equipamentos de última geração, acesso à Internet e uma maior gama de aplicativos que possibilitarão, principalmente aos alunos, o desenvolvimento de seus próprios projetos.

Em todos os microcomputadores serão instalados softwares para atividades administrativas (planilhas, editores de texto, entre outros) e estarão configurados com os sistemas operacionais Windows e Linux. Os servidores de Internet das EMEFs são máquinas semelhantes às estações de trabalho, nos quais serão instalados aplicativos Linux, como Proxy e Firewall, com regras de acesso para as redes administrativas e pedagógicas dessas unidades.

Todo o processo de implantação foi exaustivamente estudado por especialistas na área de informática e educação. O trabalho junto à Secretaria Municipal da Educação (SME) foi coordenado por Raphael Pacheco, da Companhia de Processamento de Dados do Município de São Paulo (Prodam). As decisões referentes ao projeto foram debatidas e acompanhadas pelo Conselho Municipal de Informática (CMI), com apoio de sua presidente e secretária da Gestão Pública, Helena Kerr, do secretário de Governo, Rui Falcão (veja entrevista com ele na página 22) e do presidente da Prodam, Denilvo Morais.

Para Jânio Oliveira Bragança, diretor de desenvolvimento e tecnologia da Prodam, empresa que desenvolveu o projeto para a SME, o trabalho busca a modernização do conjunto de sistemas e da tecnologia em uso na Prefeitura de São Paulo. “Estamos inovando em ampla escala ao usarmos o Linux como gerenciador de comunicação destas redes, além do uso intensivo de programas de automação de escritório (StarOffice e KOffice), do modo que os alunos possam, depois de sair das escolas, ter acesso aos softwares gratuitos. Para Bragança, o Linux e todos os softwares livres não devem ser encarados como uma experiência “underground” e sim como um padrão não proprietário. As estações utilizarão o Conectiva 8, com a interface padrão (KDE), junto com o navegador Netscape. “Só esta inovação nos permitirá significativa economia, que pode ser ampliada, se o uso se estender para todo o conjunto da prefeitura”. De acordo com Bragança, esse projeto com a SME concretizará a maior rede de dual-boot da América Latina. “Não sei da existência de rede de porte similar no mundo”, acrescenta.

A expectativa da Prodam com o Linux é que o sistema abra novas perspectivas e diretrizes tecnológicas na Prefeitura de São Paulo. “Iniciaremos a implantação de forma bem ampla do uso de plataformas abertas, pela confiabilidade técnica, performance e custo que o uso do software livre proporciona”, explica Raphael Pacheco, da Prodam, empresa que está iniciando com a Conectiva um amplo programa de capacitação que envolverá diretamente professores e profissionais de informática da Prodam e da Rede Educacional Municipal.

Entenda o projeto

Nas estações do ambiente pedagógico e dos laboratórios serão instalados os sistemas Windows e Linux (sistema dual-boot) para permitir que os professores e alunos tenham acesso a essas duas plataformas e seus aplicativos existentes no mercado. Em cada EMEF haverá uma rede com 28 microcomputadores, 26 deles com kit multimídia, um com gravador de CD, além de três impressoras laser, uma jato de tinta, um scanner, um projetor multimídia e dez câmeras multimídia. Nas EMEIs e CEIs serão instalados novos computadores no setor administrativo.

Os Professores Orientadores de Informática Educacional (POIEs) das escolas já foram capacitados e coordenarão o processo de instalação dos equipamentos com o apoio da Prodam e dos fornecedores. Com relação à rede administrativa, ela possibilitará ao professor ter sua própria caixa postal, além do acesso ao EOL - Escola On Line, sistema administrativo usado pela SME, desenvolvido pela Prodam, que permite o gerenciamento dos funcionários da secretaria, matrículas de alunos e apontamentos diversos. O Projeto Informática nas Escolas permitirá o acesso à Internet para pesquisas, a participação de fóruns de discussão e debates, trocas de experiências e informações. A iniciativa possibilitará também a utilização de ferramentas de e-learning na capacitação dos profissionais de Educação.

O acesso à Internet pelas escolas antes da implantação do Projeto Informática nas Escolas é feito por meio de conexão dial-up, através de provedores gratuitos. Esse tipo de conexão mostrou não ser o adequado à demanda das escolas. De acordo com a Prodam, a conexão dos micros do Projeto será feita por banda larga. Serão instalados softwares educativos alinhados ao projeto pedagógico da SME, além dos pacotes de escritório disponíveis nas plataformas utilizadas (Windows e Linux). A SME poderá escolher três softwares educativos em Linux, que serão traduzidos para o português, além de estabelecer convênios com entidades no desenvolvimento de novos softwares. No processo de gestão de recursos humanos para o Projeto, serão capacitados 240 técnicos para suporte e gerenciamento e 2000 POIEs receberão os treinamentos via Web.

Para o presidente da Prodam, Denilvo Morais, o papel da empresa no projeto é apoiar e assessorar a SME em todas as fases de implantação. “A Prodam atua como empresa de informática pública apoiando a Administração Municipal desde sua criação, há 31 anos. Com isso, tornou-se um centro de competência em informática na administração pública, podendo dar assessoria e consultoria a todos os órgãos municipais, sendo a Secretaria Municipal de Educação um de nossos maiores clientes”, diz Morais. De acordo com ele, com o Projeto Informática nas Escolas, a empresa está se capacitando na utilização de software livre. “Consideramos a incorporação dessa tecnologia como fundamental para uma empresa de informática. Além desse, outros projetos, como os Telecentros, que estão sendo implantados pela Coordenadoria do Governo Eletrônico da Secretaria Municipal de Comunicação e Informação Social (SMCIS), já estão em andamento com a plataforma Linux”, complementa. A Prodam hospedará todos os servidores da rede da SME e será responsável pelo suporte técnico da mesma.

Manutenção e atualização dos sistemas

De acordo com Morais, o Contrato da SME com a Conectiva, cuja construção no tocante aos aspectos técnicos teve o apoio da Prodam, prevê que a Conectiva fornecerá as novas versões atualizadas do Linux. “Com isto, os releases de segurança estarão permanentemente atualizados, conforme previsto contratualmente. Esta é uma outra economia significativa que teremos”, destaca. Para Jânio Bragança, o suporte é um dos maiores desafios que a empresa tem ao adotar o Linux. Bragança afirma também que o Linux ainda necessita de um aporte de recursos no apoio educacional para o seu uso. “Nesse contexto, o suporte é um grande obstáculo e como as distribuições Linux oferecem suporte às suas próprias versões, por isso mesmo, procuraremos padronizar em torno de uma única plataforma”, explica. A partir da contratação da Conectiva pela SME, será implementado um amplo programa de capacitação, seja dos professores, seja do pessoal de suporte técnico.

Bragança informa ainda que está em fase de estudo um contrato de cooperação técnica entre Conectiva, Prodam e instituições de pesquisa, com o objetivo de criar um núcleo de expertise de software livre na própria Prodam, em apoio à disseminação do uso tanto na prefeitura de São Paulo como no desenvolvimento de programas de computador voltados para a formação pedagógica na rede pública escolar.

Revista do Linux - Como a administração da prefeita Marta Suplicy (PT) avalia a situação atual dos laboratórios de informática das escolas públicas municipais de São Paulo?
Rui Falcão - Como todos os aspectos da máquina pública municipal, os laboratórios ficaram abandonados nos oito anos de malufismo. Mas, como esse é o governo da reconstrução e educação é prioridade, estamos investindo maciçamente no aparelhamento das escolas, o que inclui a informatização. Neste segundo semestre, além do material, uniforme e transporte escolar gratuitos, boa parte das escolas terão novos laboratórios de informática.

RDL - Por que a decisão de renovar o parque de equipamentos de informática?
RF - Não se trata só de renovação, mas de ampliação. Estamos dando um salto de qualidade na educação de São Paulo, buscando colocar a escola pública municipal no mesmo patamar das escolas privadas. A evolução na área de informática é intensa e, nesse sentido, a renovação do parque é essencial para o projeto pedagógico da Prefeitura Municipal de São Paulo.

RDL - Na licitação da Anatel, para o uso de recursos do FUST para a aquisição de equipamentos de informática nas escolas, o Linux enfrentou resistências e os projetos foram engavetados. No caso da prefeitura de São Paulo, qual a opinião da Secretaria Municipal de Governo quanto ao sistema operacional Linux? Que benefícios econômicos ele pode proporcionar aos cofres públicos, já que o uso do sistema em empresas públicas só tem crescido nos últimos meses?
RF - O Governo de São Paulo está aplicando na prática o que temos defendido em nível nacional, que é a diversidade de tecnologias e de produtos e sistemas na rede educacional. O PT defendeu o dual boot no FUST e aqui estamos colocando isso em prática, promovendo uma grande economia e incorporando o que de melhor a Microsoft e o mundo Linux têm a oferecer. A opção por dual boot, ou duas plataformas (Linux e Windows), está gerando, ao contrário do que poderia aparentar, uma economia de 1,5 milhão de dólares pelo uso de software livre nos servidores de nossa rede em relação à opção de plataforma proprietária única.

RDL - Quais as expectativas da administração Marta Suplicy em relação ao projeto Informática nas Escolas? Quais benefícios os alunos poderão esperar do projeto?
RF - O projeto deve colocar as escolas do município em um patamar tecnológico de primeiro mundo, mantendo os professores atualizados e os alunos em contato com o conhecimento, representado hoje pela Internet.

O SL democratiza acesso à Informática

Revista do Linux - De que forma o aprendizado do sistema operacional Linux será benéfico aos professores?
Eny Maia - O aprendizado de uma nova plataforma tecnológica em si já será de grande relevância para qualquer profissional, mas o aprendizado de um ambiente operacional de código aberto, em especial, vai além disso, pois traz a oportunidade não apenas do uso da tecnologia, mas também da transformação e adaptação dessa tecnologia em seu benefício, para que atenda melhor suas necessidades.

RDL - Somente os professores utilizarão a plataforma Linux? Ou os alunos também a utilizarão?
EM - Todos os computadores dos laboratórios de informática nas EMEF´s terão o Linux instalado e será utilizado no desenvolvimento dos projetos dos educadores, dos alunos e da comunidade.

RDL - O curso de capacitação para uso do Linux será conduzido por quem? Que importância esse curso tem para a secretaria da Educação?
EM - O curso está previsto no contrato de prestação de serviços com a Conectiva e irá preparar os profissionais de SME para essa nova plataforma. Será importante para a rede pela possibilidade que oferece para o desenvolvimento das ações educativas.

RDL - Que opinião tem a secretaria quanto ao uso de softwares livres na educação?
EM - A utilização do software livre permite cada vez mais a democratização do acesso à Informática, tanto em relação às especificidades técnicas quanto aos custos envolvidos. A diversidade do ambiente tecnológico e as necessidades dos usuários abrem espaço para o crescimento desse tipo de tecnologia. A adoção do software livre, de código aberto, na educação, incentivará o desenvolvimento de aplicativos para esse ambiente, uma vez que estaremos preparando um grande contingente de usuários capacitados a operá-lo, os quais estabelecerão um novo padrão de demanda e uma nova cultura em relação à tecnologia de informação.

Rede escolar municipal de São Paulo

As escolas do município de São Paulo estão distribuídas em 13 Núcleos de Ação Educativa (NAEs) e estão formatadas de acordo com o tipo de atendimento à população. As Escolas de Educação Infantil (EMEIs), as de Educação Fundamental (EMEFs), os Centros de Educação Infantil (CEIs) – antigas creches municipais – e as de Educação Especial (EMEEs), além das escolas de Ensino Supletivo.

O projeto Informática nas Escolas em números

15.000 microcomputadores ligados em rede com acesso à Internet

500.000 alunos serão beneficiados

37.000 professores poderão usar os computadores para pesquisas

Cada laboratório de informática das EMEFs terá:

  • 28 microcomputadores (26 com kits multimídia, um com gravador de CD)

  • 3 impressoras laser

  • Uma impressora jato de tinta

  • Um scanner

  • Um projetor multimídia

  • 10 câmeras multimídia (webcams)

    É através da escola que se combate a exclusão digital


    Rodrigo Asturian - asturian@RevistaDoLinux.com.br

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