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Entrevista

The Shaman

Greg Stein é o presidente da Apache Foundation e diretor da CollabNet, Inc. (http://www.collab.net), onde gerencia as iniciativas na área de softwares de controle de versão. Em particular, a CollabNet está desenvolvendo um novo, e Open Source, sistema de controle de versão chamado Subversion. Ele também gasta parte de seu tempo lidando com projetos como WebDAV, Apache e Python. Anteriormente, Greg trabalhou na Microsoft como gerente de desenvolvimento do produto Site Server, e foi um dos fundadores e tecnólogo corporativo da eShop, uma das primeiras empresas de comércio eletrônico. É com ele que conversamos sobre o Apache e a aceitação da versão 2 no mercado, entre outros assuntos

Revista Do Linux - O Apache é reconhecido internacionalmente como uma das melhores soluções para servidores Web. Quais as revisões de código mais importantes que acompanham a versão 2 do Apache?

Greg Stein - O Apache 2.0 tem uma série de melhorias em relação à série 1.3. Tem suporte embutido à SSL e WebDAV, sem a necessidade de módulos de terceiros para o uso destes recursos. Seu desempenho foi melhorado em todas as plataformas devido ao uso de threading e à melhor integração com os vários sistemas operacionais. Fizemos muitas melhorias nos módulos-padrão, introduzimos novos módulos para novos tipos de autenticação, cache e compressão de respostas, e muito mais.

RdL - Análises indicam que a aceitação do Apache 2 ainda é baixa devido à falta de módulos escritos por terceiros. Como a Fundação Apache está trabalhando para resolver isso?

GS - O mod_php e o mod_perl são dois dos mais populares módulos Apache em uso atualmente (www.securityspace.com/s_survey/data/man.200209/apachemods.html), mas os seus autores ainda precisam lançar versões que funcionem corretamente com o Apache 2.0. Estamos trabalhando em conjunto com ambas as equipes, mas a maior parte do problema vem do fato de que o Apache 2.0 agora pode processar pedidos em um ambiente multi-threaded. Tanto o Perl quanto o PHP são vinculados a bibliotecas que não podem operar em tal ambiente, portanto, não funcionam. Se o Apache for executado no modo clássico process-based, o mod_perl e o mod_php funcionarão muito bem. Mas para alcançar a maior performance do ambiente multi-threaded, estamos trabalhando com as equipes para identificar as bibliotecas específicas que não operam corretamente nesse ambiente. Esperamos corrigir essas bibliotecas ou desabilitar o seu uso quando o Apache estiver rodando no modo multi-threaded.

RdL - Quais as maiores necessidades de pessoal no desenvolvimento do Apache atualmente? Há pessoal suficiente trabalhando com o Apache?

GS - Temos muitas pessoas interessadas em trabalhar no código. A parte mais difícil e é tentar manter a estabilidade na base de código do Apache para encorajar terceiros a portarem seus módulos para o Apache 2.0. Como os colaboradores são todos voluntários, e têm seus próprios interesses, é, de certa forma, um desafio manter todos interessados e, ainda assim, restringir um pouco da sua intensa criatividade. Se eles mergulhassem de cabeça e começassem a fazer as grandes mudanças que lhes interessam, nunca alcançaríamos os pontos estáveis a partir dos quais podemos lançar novas versões.

RdL - Empresas como a IBM incluem o Apache em sua linha de produtos. Qual o segredo do sucesso do Apache? Será porque é open source?

GS - Ser Open Source certamente é um benefício, mas acredito que companhias como a IBM, Oracle e Apple escolheram o Apache por diversos motivos: funciona bem e é estável, há um amplo número de módulos de terceiros que podem prover a funcionalidade que eles necessitam em seus produtos e a licença lhes permite fazer mudanças internas para melhor suportar seus ambientes, e criar módulos proprietários que agregam valor ao produto.
Durante muito tempo, essas empresas estiveram implementando suas próprias tecnologias de Web Server. Em certo ponto, acredito que eles reconheceram que o esforço empregado para manter seu próprio código, adicionar funcionalidade e melhorá-lo era muito maior do que se trabalhassem com o código do Apache.

RdL - Como é o seu trabalho na Fundação Apache? Em que projetos está envolvido atualmente?

GS - Estou envolvido com o servidor HTTP Apache (httpd.apache.org/), o Apache Portable Runtime (apr.apache.org/) e as minhas tarefas como diretor do Conselho e presidente. Estive envolvido no Apache por quatro anos como colaborador, um ano e meio como diretor e os últimos meses como presidente.
Tem sido ótimo participar da Apache Software Foundation, e uma importante parte do meu trabalho com Open Source. A ASF desempenha um grande papel na comunidade, e eu o vejo cada vez maior e mais importante com o tempo.

RdL - Você é um dos diretores da CollabNet, que está desenvolvendo um sistema de controle de versão Open Source, chamado Subversion. Gostaria que você nos explicasse melhor essa iniciativa. O que é e a quem ela é destinada?
GS - O Subversion foi escrito a partir do zero para corrigir as omissões do CVS, adicionar recursos inexistentes, trabalhar melhor com a tecnologia atual e, simplesmente, para ser melhor que o CVS. Nossa intenção é substituir o CVS completamente, sejam os usuários do CVS, desenvolvedores Open Source ou os funcionários de um escritório arquivando documentos.
O projeto Subversion foi iniciado há cerca de dois anos e meio e alcançou um ponto onde está muito estável e quase completo quanto aos recursos. Estamos usando o Subversion para guardar seu próprio código há cerca de um ano e nunca tivemos nenhum problema. Muitas outras pessoas na comunidade o têm usado para seus próprios projetos.
O projeto é importante para a CollabNet porque o nosso objetivo com o SourceCast (http://www.collab.net/products/sourcecast) é prover o melhor ambiente colaborativo para os desenvolvedores. Ele também tem muitos usos para os não desenvolvedores, mas queremos ter certeza de que os desenvolvedores tenham um grande sistema de controle de código fonte à disposição para poderem realizar o seu trabalho. Muitas das melhorias do Subversion foram desenvolvidas especificamente com esse objetivo em mente. Do ponto de vista administrativo, o CVS pode ser absolutamente horrível em projetos grandes. O Subversion ataca esses problemas, o que, em troca, melhora a estabilidade e usabilidade do SourceCast.

RdL - Você já trabalhou como gerente de desenvolvimento na Microsoft no produto Site Server e agora está envolvido com projetos Open Source. Como você se sente tendo trabalhado em iniciativas com conceitos de desenvolvimento tão diferentes?

GS - Trabalhar na Microsoft foi uma ótima experiência. Gostei do tempo que passei lá e saí amigavelmente. Contudo, tal experiência me deu bons exemplos de como não fazer desenvolvimento. Cada grupo tinha seu próprio repositório de código, que era completamente isolado de todos os outros. Como você não podia pegar código do outro grupo, ou sequer vê-lo, isso levava a uma enorme duplicação de esforço. Cada grupo fazia as coisas de um jeito diferente, levando a problemas de consistência entre as várias bases de código. Além disso, as ferramentas não ajudavam em nada com o gerenciamento de mudanças, notificação de mudanças a outros desenvolvedores e gerenciamento de versões. Isto significava que os desenvolvedores nunca estavam em sintonia com o que os seus colegas estavam fazendo, ou como estavam fazendo, e também os sujeitava a políticas (algumas vezes) arcaicas destinadas a “ajudá-los” com as várias versões.
A comunidade Open Source desenvolve código de uma forma muito aberta e compartilhada. Este simples fato proporciona um grande benefício em termos de qualidade e reutilização de código. Em segundo lugar, a comunidade Open Source desenvolveu ferramentas e políticas que funcionam, em vez de atender às sugestões de um Build Manager, que tinham como único objetivo garantir que o grupo mantivesse seu emprego.

RdL - A Fundação Apache é rentável? As contribuições dadas à Fundação são aplicadas em que áreas?

GS - Sim, a fundação recebe mais dinheiro do que gasta. A palavra “rentável” realmente não se aplica a uma organização de caridade, mas é o que somos. Nos últimos três anos, nossas doações foram usadas em gastos legais e corporativos, para um pouco de hardware e algumas outras coisas. E também realizamos o pagamento a alguns palestrantes da ApacheCon por suas apresentações, quando o organizador de nossas conferências foi à falência e se recusou a pagá-los.
A diretoria, em várias ocasiões, pensou na melhor forma de fazer uso das generosas doações que recebemos. Não acho que tenhamos desperdiçado ou gasto mal nenhuma das doações, mas acho que podemos ser mais eficientes. Na verdade, acho que deveríamos gastar mais do que gastamos hoje.


Rodrigo Asturian - asturian@RevistaDoLinux.com.br Tradução:Rafael Rigues - rigues@RevistaDoLinux.com.br


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