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Saudades de João Pessoa

A Revista do Linux esteve presente no I Seminário Nacional de Software Livre, realizado no final de março na Paraíba, e já queremos montar uma sucursal naquele pedaço do paraíso...

Não tenho o costume de escrever na primeira pessoa, mas como estive presente no I Seminário de Software Livre, realizado em João Pessoa no grandioso Espaço Cultural José Lins do Rêgo, entre os dias 19 e 21 de março, na minha querida Paraíba, atrevo-me a deixar minhas impressões sobre o evento. Em primeiro lugar, parabéns à organização do evento, que escolheu a cidade de João Pessoa, para sediá-lo. Creio que a região Nordeste tenha talento de sobra para desenvolver ações na área de software livre. Não é à toa que o Serpro mantém em Recife uma unidade específica para desenvolvimento de ferramentas livres para o governo.

O nível das palestras foi altíssimo, começando com a apresentação de Fernando Roxo da Motta, da Conectiva, que levou suas impressões sobre o Linux para o público presente. O consultor Ednilson Carlos Sousa da Silva falou sobre a gerência de projetos de software livre no governo e expôs a dificuldades e particularidades na implantação de ferramentas livres na área governamental.

Tivemos o relato de experiências de sucesso com software livre em empresas locais, como Armazéns Paraíba, TV Cabo Branco e Indústrias Coroa, e, como não poderia deixar de ser, o Metrô de São Paulo esteve representado pelo gerente de Informática e Tecnologia da Informação, Gustavo Mazzariol, a quem tive o privilégio de conhecer pessoalmente. A experiência do Metrô-SP chama a atenção de todos, tanto que foi notícia na RdL e em outras revistas especializadas, e sempre que se fala em experiência bem sucedida de implantação de softwares livres em empresas públicas, o Metrô-SP é lembrado.

A composição de custos em software livre foi o tema da palestra apresentada pelo consultor da Codata (empresa de informática da Paraíba), da prefeitura de João Pessoa e um dos responsáveis pela implantação de software livre no Estado, Laércio Alexandrino. O tema chama a atenção dos empresários que querem saber as vantagens financeiras que o Linux oferece às empresas, principalmente em licenciamentos. Outra palestra que agradou em cheio foi a do fundador do projeto LESP (Linux Easy Server Project), Anahuac de Paula Gil. Figura simpaticíssima esse Anahuac. Além de carismático, Anahuac tem méritos de sobra, uma vez que na pequenina Paraíba conseguiu desenvolver ações interessantes na área de software livre. Espero revê-lo nas páginas da RdL novamente, uma vez que foi colaborador nosso.

O diretor de Tecnologia da Informação da Editora Abril, Luiz Asmir, falou da experiência bem sucedida da empresa com a utilização de ferramentas livres no processo de produção editorial. Calma, o Linux ainda não chegou às redações dos jornais e revistas, mas está presente nos servidores web, de arquivos e de impressão da Abril. Faltam sim, ferramentas para diagramação em Linux, mas no dia em que elas existirem, a Abril irá estudar com muito carinho a sua adoção, uma vez que a empresa paga uma quantia significativa em licenças para produtoras de softwares proprietários. As educadoras Mara Fernandes (UERGS) e Luisinha Kasper (Procergs) falaram da experiência que o Rio Grande do Sul teve na área de educação com o Linux, com a Rede Escolar Livre, um exemplo para os outros estados.

Os amigos Paulino Michelazzo e Ricardo Andere de Mello, falaram de um tema que me fascina particularmente, que é a ética e a filosofia do software livre. Uma pena que não pude assistir à palestra deles, uma vez que estava elaborando, a partir de uma reunião previamente realizada com todos os palestrantes, a Carta da Paraíba (vide box), o documento que sintetizou tudo o que foi discutido e debatido pelos participantes do Seminário. Não pude assistir à palestra do Claudio Ferreira, do projeto OpenOffice Brasil, mas em compensação, o entrevistamos nesta edição da RdL.

No último dia do evento, o professor da UFPB, Álvaro Medeiros, falou sobre produtividade e qualidade em software livre. Nossa visita à UFPB não foi possível, mas queremos em breve falar da experiência da universidade com o Linux, nas páginas da RdL. O kernel hacker e diretor de Tecnologia da Conectiva, Arnaldo Carvalho de Melo, falou obviamente do... kernel! A palestra do Acme despertou interesse da platéia, interessada em ouvir também temas técnicos. O escriba que vos desenha estas palavras falou sobre a relação da imprensa com o software livre, cheia de falhas por falta de conhecimento técnico do tema. Muito há que se aprender, tanto na imprensa, que precisa se especializar, quanto na área técnica, que precisa compreender que é necessário passar uma mensagem clara para o público, uma vez que ninguém nasce sabendo o que é software livre. Para encerrar o evento com chave de ouro, o coordenador do Centro de Tratamento e Resposta a Incidentes Computacionais do Departamento de Polícia Federal, Nelson Murilo de Oliveira Rufino apresentou a palestra "Software livre e segurança dos sistemas", e a Cyclades e a Microsiga estiveram presentes compartilhando a experiência das empresas com softwares livres.

Na entrega do prêmio "Software Livre Brasil", muita descontração. Destaque para Marcelo Tosatti, que deixou o kernel de lado por uns instantes, e esteve pessoalmente na Paraíba para receber o prêmio, um reconhecimento público de que é possível, em países em desenvolvimento como o Brasil, termos talentos que se sobressaiam mundialmente.

Bem, fui embora da Paraíba, mas volto satisfeito, pois fiz amigos, o evento foi perfeito e ainda há muito por fazer para ver o software livre mais presente na vida das pessoas. Geração de emprego, combate à exclusão digital e a democratização do acesso às tecnologias são temas que passaram a fazer parte do movimento de software livre, especialmente no Brasil.

Carta da Paraíba para o Software Livre no Brasil

O I Seminário Nacional de Software Livre, realizado em João Pessoa-PB entre os dias 19 e 21 de março de 2003, teve como objetivo discutir e divulgar o Software Livre como mecanismo de combate à exclusão digital e de democratização do acesso às Novas Tecnologias da Informação. Seus participantes, através do presente documento, apresentam aos poderes Executivo (governo Federal, estados e municípios), Judiciário e Legislativo (câmaras municipais, assembléias legislativas e Congresso Nacional) e à sociedade, proposições no sentido de promover:

1. O combate à exclusão digital;
2. A geração de emprego e renda;
3. A democratização do conhecimento tecnológico.

Para que esses objetivos sejam viabilizados, recomenda-se as seguintes ações:

I - O Estado deve apresentar à sociedade as propostas para solucionar o problema da exclusão digital e, conseqüentemente, promover a democratização do acesso às inovações tecnológicas;

II - Dentro dessas propostas, o Estado deve incluir preferencialmente, mecanismos para a geração de empregos e renda, através da pesquisa, desenvolvimento e implantação de soluções baseadas em softwares livres;

III - Para o setor produtivo, considera-se que o Estado deve apresentar uma política de estímulo à substituição de importações na área de Tecnologia da Informação;

IV - Na área educacional, recomenda-se que as instituições de ensino, públicas ou privadas, dêem liberdade ao aluno de escolher - desde que seja viável tecnologicamente - que o conhecimento seja adquirido por meio de softwares livres ou proprietários;

Os participantes do I Seminário Nacional de Software Livre constituem, a partir deste documento, uma comissão permanente para o acompanhamento das recomendações e seus respectivos desdobramentos junto ao Estado e a sociedade. A comissão será formada pelos senhores e senhoras:

  • Álvaro Francisco de Castro Medeiros (UFPB)
  • Ana Carina Gomes de Andrade (Consultora)
  • Anahuac de Paula Gil (Projeto LESP)
  • Arnaldo Carvalho de Melo (Conectiva)
  • Ary Medeiros (Microsiga)
  • Cláudio Ferreira (Projeto OpenOffice Brasil)
  • Ednilson Carlos Sousa da Silva (consultor)
  • Fernando Roxo da Motta (Conectiva)
  • Gustavo Celso de Queiroz Mazzariol (Metrô-SP)
  • Laércio Alexandrino Leitão de Lima (consultor)
  • Luiz Asmir (Editora Abril)
  • Luizinha Kasper (Procergs)
  • Mara Lúcia Fernandes (UERGS)
  • Nelson Murilo de Oliveira Rufino (Departamento de Polícia Federal)
  • Paulino Michelazzo (FIAP/SUSE BRASIL)
  • Percival Henriques (CIT)
  • Ricardo Andere de Mello (Projeto Quilombo Digital)
  • Rodrigo Asturian (Revista do Linux)
  • Ronaldo Cardoso Lages (FISL)

    Por fim, este documento será disponibilizado para toda a sociedade e às autoridades constituídas deste país, assim como todos os seus desdobramentos serão disponibilizados por meio do site do I Seminário Nacional de Software Livre (www.cit.coop.br/carta).

    João Pessoa, 21 de março de 2003.

    A Carta da Paraíba e o sentido em ser livre

    Em um país que precisa resolver o problema da fome, da educação, da violência e tantos outros, as vezes esquecemos que, sem uma base tecnológica nacional, dificilmente resolveremos qualquer destas questões de forma eficaz. Não podemos continuar admitindo que este país continue pagando mais de dois bilhões de dólares por ano a empresas estrangeiras detentoras de "soluções" proprietárias em software, enquanto temos uma matriz tecnológica disponível, a partir do uso e disseminação do Software Livre, que nos permitirá gerar milhares de empregos, garantir que a maior parte deste capital fique no Brasil e, ainda, agregar valor a base tecnológica nacional.

    Não há como valorizar o conhecimento tecnológico sem um modelo de gestão democrática. A filosofia do Software Livre traz, por si só, este formato. Evidentemente que não vamos colocar uma aura maniqueista em torno do universo tecnológico que envolve a produção e distribuição de software - Nem tudo que é Software Livre é bom pelo simples fato de ser livre nem, tão pouco, os Software proprietários são maus por serem proprietários- Havemos de ter claros e maduros parâmetros para uma avaliação competente. É fundamental que sejamos eficazes. Estou convencido que melhor modelo para o Brasil passa pela adoção, em larga escala, do Software Livre. Contudo, a sociedade precisa estar preparada e nós da comunidade de Software Livre temos a imensa responsabilidade de identificar os parâmetros de avaliação e de forma responsável apontar o melhor caminho para que a sociedade.

    Quando discutimos Software Livre procuramos, principalmente, um sentido prático para nossas ações de curto prazo. A Carta da Paraíba, documento resultando do processo de discussão estabelecido na ocasião do I Seminário Nacional de Software Livre, nos dias 19, 20 e 21 de março ultimo, traz para o debate esta necessidade imediata de, ao menos no Brasil, utilizarmos o Software Livre como instrumento para geração de emprego e renda, no combate à exclusão digital e pela democratização do conhecimento tecnológico.

    Ao apontar ações gerais e viáveis, a Carta da Paraíba materializa o pensamento da comunidade de Software Livre no Brasil, amadurecido pela experiência de casos peculiares e responde a uma série de questionamentos a cerca do uso da tecnologia da informática como elemento favorável a democratização doconhecimento e, até mesmo, como tecnologia geradora de emprego e renda. Fato que, em informática, parece contrário a todos os prognósticos. Usualmente se vê a informática como usurpadora de postos de trabalho.

    Cada um dos passos a ser dado, será colocado como um novo desafio em que, para ser vencido, é necessária a união de todos, encarando os problemas de frente e se despojando de preconceitos e atitudes extremadas. Vamos avançar com o Software Livre nos setores produtivos, na educação e nos setores de governo.

    Precisamos, enfim, ter claro o papel de cada um, todos os elementos da sociedade devem dar sua contribuição. O governo tem, por missão, conduzir o processo, buscando promover uma base tecnológica nacional, minimizando a dependência externa, a comunidade de Software Livre, precisa por sua vez, cultivar a humildade e tolerância em função de um projeto bem mais importante que o ego de cada um e atuar com balizadora das ações governamentais e demais iniciativas.

    A grande verdade é que, o sentido de ser livre está na possibilidade, e necessidade, de buscar transformações que resultem no avanço da sociedade como um todo, está na capacidade que cada um de nós temos em pensar e realizar um mundo melhor. Não sejamos livres para recitarmos bravatas ou brincarmos de partido do "bem" contra o partido do "mal". Sejamos livres para ampliarmos a liberdade e mesmos que não estejamos, de todo, bons ou maus, que sejamos livres para corrigirmos nossos erros e melhoremos a cada dia.

    Percival Henriques
    percival@openline.com.br
    Coordenador geral do I Seminário de Software Livre
    Presidente da CIT - Cooperativa de Informática e Telecomunicação


    Rodrigo Asturian
    asturian@RevistaDoLinux.com.br

    O jornalista Rodrigo Asturian viajou a João Pessoa a convite da organização do evento e quer voltar mais vezes para lá...


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