Máquina de fliperama: como eu fiz a minha em 2 manhãs

por Augusto Campos, 12.09.2014

Montar uma máquina de fliperama (ou arcade, ou mame cabinet) simples, para jogar em casa, pode ser mais fácil do que você imagina.

Conteúdo

  1. Introdução
  2. Os componentes
  3. O projeto de marcenaria
  4. O seletor de jogos
  5. Agora é com você
  6. Comentários dos leitores

Introdução

A versão inicial da minha máquina de fliperama já está bem jogável, e ainda ficará bem mais bonita do que está hoje:

Para chegar ao estágio acima, gastei 2 manhãs, mais o tempo necessário para ir na loja comprar madeira, parafusos e algumas ferragens.

Atualização em 9/11/2014:

A máquina avançou bastante, como você pode ver na imagem ao lado. Este documento será atualizado futuramente com os detalhes sobre:

Enquanto não sai a atualização, veja também meu artigo Taito no Brasil, de 1968 a 1985.

Ter uma máquina de fliperama perto da churrasqueira era um sonho antigo. Agora que comecei a aprender técnicas de marcenaria, me vi em condições de implementá-lo de uma forma bem simples:

Por fazer meu próprio projeto, pude adequar suas dimensões à altura de adultos, bem como definir fases, sendo que as duas primeiras já estão completas (estrutura montada, jogos funcionando), e as próximas incluem a pintura (cor vermelho-extintor) das partes em madeira, o embutimento do monitor e do joystick, e um tampo deslizante para o compartimento do notebook.

Nas décadas de 1980 e 1990, quando eu era usuário frequente delas, uma máquina de fliperama era um gabinete para um equipamento relativamente complexo, até que o conceito começou a ser desvirtuado (ou evoluído?) e empresas como a Sega e a Nintendo lançaram máquinas como a Mega Play (1991) e a PlayChoice-10, que eram essencialmente uma "casca" ao redor de uma versão modificada de seus videogames domésticos Mega Drive e NES, na qual instalavam cartuchos similares ou iguais aos que tínhamos em casa, de jogos como Sonic e Super Mario Bros.

As máquinas domésticas de hoje são algo similar a isso: essencialmente, um grande suporte para um joystick, um monitor e um computador rodando o MAME (Multiple Arcade Machine Emulator) ou outro software especializado em emular jogos clássicos.

Os componentes

A máquina é feita em madeira barata (eucalipto e pinho), em peças de tamanhos padronizados compradas na seção de marcenaria da Leroy Merlin, embaladas individualmente, segundo o projeto (abaixo). Você pode comprar mais barato em uma serraria :)

Só 2 peças precisaram ser serradas, todas as demais foram aproveitadas em seu tamanho original, e apenas furadas e parafusadas.

Ela tem 2 tampos: um horizontal, que serve como apoio para o joystick, e um inclinado (78°, quase vertical) para o monitor. Ambos foram feitos com peças de MDF preto, compradas na seção de organização/prateleiras da Leroy Merlin.

Eu usei um monitor Samsung de 22 polegadas que estava sobrando aqui em casa desde nossa mudança, mas qualquer monitor serve, desde que tenha atrás os orifícios pra fixação em suportes de parede.

Eu comprei um suporte de TV bem simples, por R$ 60. Depois de montada a máquina, ele foi fixado (virado em 90°, porque eu queria o monitor "em pé") no tampo inclinado. Um suporte mais fino, que mantenha as costas do monitor mais próximas ao tampo, é melhor.

Também comprei um joystick estilo arcade, no Mercado Livre, por cerca de R$ 150,00. Joysticks USB, de modo geral, funcionam em PCs e Macs sem precisarem de drivers, é só plugar e usar nos jogos. Existe uma variedade de modelos, escolha a configuração, número de botões, etc. que fizerem sentido para você. Eu comprei de 6+2 botões, com alavanca de ferro.

Um detalhe interessante: talvez um joystick que você tem em casa também possa ser usado. Joysticks Bluetooth (como os do PS3, por exemplo) são compatíveis com vários sistemas operacionais, e podem quebrar o galho. E quem manda bem com as soldas e os capacitores pode montar o seu controle a partir das peças, mas aí é um projeto a mais.

Minha lista de compras incluiu ainda um teclado numérico USB, desses de R$ 20. Ele fica discretamente ao lado do monitor, e as teclas dele foram configuradas, no software que gerencia os jogos (detalhes adiante) para as diversas tarefas necessárias: inserir ficha, iniciar jogo, pausa, encerrar jogo, etc.

É necessário também um computador para ser o "cérebro" do sistema. Eu usei o notebook que estava mais próximo, e ele fica escondido logo abaixo do tampo do joystick. Basta que ele tenha saída para o monitor, e entradas USB disponíveis. Alternativas interessantes seriam usar um netbook que esteja parado numa gaveta, ou um Raspberry Pi, mas até uma CPU de mesa serve, desde que haja espaço para ela. No meu caso, o notebook também ficou responsável pelo áudio, com suas valentes caixinhas de som embutidas.

Para completar, é necessário software e jogos. Para rodar emulação de máquinas de fliperama, eu instalei o Mame, e para emular computadores MSX, instalei o openMSX – ambos gratuitos e open source.

Quanto aos jogos, é outra questão: muitos deles ainda têm copyright válido em nome de seus produtores originais. O Internet Archive tem uma licença válida para manter coleções de jogos disponíveis para download, então pode ser um bom começo para você analisar a legalidade do que pensa em fazer. A documentação dos aplicativos é o caminho para saber como usar os jogos com eles.

Eu já fui programador e, como exercício, optei por desenvolver meu próprio menu de seleção de jogos, que você vê na imagem acima. Ele está disponível para download (em versão pronta para ser alterada por outros programadores) abaixo, mas provavelmente você será melhor atendido pelas variadas opções prontas para instalar que encontra procurando por "mame front ends" no seu site de buscas preferido.

O projeto de marcenaria

A maior parte do projeto foi montada com tábuas de eucalipto de 60cm de comprimento e 1,2cm de espessura (largura variando entre 15 e 30cm). O tampo para o joystick é uma placa de MDF preto de 30 x 15 x 1,2cm, e o tampo para o monitor são 2 tábuas de 30 x 25 x 1,2cm. Toda a fixação foi feita com parafusos.

Eu usei como base um antigo carrinho para CPU que estava perdido aqui em casa. Ao considerar a base que você vai usar, leve em conta a firmeza e o equilíbrio. Você pode até optar por formatos alternativos que dispensam total ou parcialmente a base, como os modelos tabletop (para colocar em cima da mesa ou balcão) e cocktail (em que a máquina É a mesa) das imagens abaixo:

Na imagem abaixo, as duas superfícies em cor laranja são as únicas que precisei serrar para adequar às dimensões. As demais foram usadas nos tamanhos em que foram adquiridas.

O download do projeto está disponível, em formato SketchUp Make 14.1.1283.

O seletor de jogos

Como comentado acima, eu criei meu próprio sistema de menu de jogos, e ele me atende bem. É provável que você seja melhor atendido por um dos sistemas mais populares, como o Emulation Station.

Mas se você é programador e deseja aproveitar de alguma forma o meu sistema, os fontes (Livecode) estão disponíveis para download, e podem gerar executáveis para Mac, Linux, Windows e Android.

A imagem acima ilustra um trecho do código e mostra, se você é programador, o tipo de situação com que terá que lidar: como eu fiz o software para mim mesmo, ele está cheio de referências "chumbadas" a especificidades do meu ambiente de execução, como o caminho do diretório em que estão os arquivos de dados. Não tenho interesse em desenvolver uma interface de configuração ou documentação de desenvolvimento ou uso, mas fique à vontade.

Os detalhes você pode esclarecer olhando o código, mas aqui vai um mínimo de informações para o programador que eventualmente tiver interesse: (1) As descrições dos jogos ficam em um arquivo chamado roms.txt, com o formato a seguir: nome-rom;flag;titulo-jogo;descrição – onde nome-rom é o nome adotado pelo MAME, sem extensão (exemplo: rallyx), e flag pode ficar em branco ou ser "x" para um jogo que não esteja funcionando. (2) Os arquivos de ilustrações de cada jogo ficam no mesmo diretório das ROMs do MAME. Um deles deve ter o mesmo nome da ROM do jogo que consta no arquivo de descrições, e a extensão .jpg ou .png. O outro deles segue a mesma regra, mas acresce a letra "v" (porque este é o que tem orientação vertical) ao final do nome.

Agora é com você

Meu projeto é modesto, com baixa integração, e componentes individuais bastante visíveis. Mas o fruto dele já está perto da churrasqueira e permite campeonatos animados quando estamos em grupo, ou passar o tempo quando tenho 15 minutos para gastar.

Com o tempo, as próximas fases do projeto, incluindo a pintura da madeira e o embutimento do monitor, serão colocadas em prática.

Com os componentes e projeto acima, um pouco de habilidade (e bastante atenção à segurança durante a montagem e o uso) e uma dose de criatividade, você pode configurar sua máquina de fliperama de acordo com sua própria altura, montar uma máquina para 2 jogadores, usar decoração temática, experimentar outros materiais, outras CPUs, outros emuladores, etc. O importante é começar logo, e aproveitar!

Comentários dos leitores


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