Revista Do Linux
 
 

Entrevista

Rio de Janeiro Open Source

O entrevistado deste mês da Revista do Linux é Sérgio Rosa, presidente do Centro de Processamento de Dados do Estado do Rio de Janeiro (Proderj), empresa que completou recentemente 34 anos de existência. Do cartão perfurado ao mini compact disc, passando pelos computadores de grande porte ao equipamento pessoal, a autarquia sempre esteve presente no desenvolvimento do setor de informática do Rio de Janeiro. A empresa vem acompanhando e apresentando soluções tecnológicas inovadoras à administração pública do estado. Os equipamentos de grande porte processam mensalmente a folha de pagamento para mais de 450 mil matrículas, atendendo, inclusive, prefeituras do interior, como a de Niterói. Esses mesmos equipamentos mantêm atualizadas mais de 20 milhões de tramitações de documentos com cerca de 4,5 milhões de processos. Todo esse volume de informação faz da empresa, presidida por Rosa, uma das maiores companhias estaduais da área de informática do país. Em busca de soluções a custos compatíveis, com qualidade e a velocidade que os novos tempos exigem, de forma a atender a demanda dos seus clientes – a máquina administrativa estadual e a sociedade, o Proderj está descobrindo os benefícios da utilização do Software Livre e é sobre esse assunto que conversamos com ele.

Revista Do Linux - Como começou a experiência do Proderj com o Software Livre?

Sérgio Rosa - Nossa plataforma baixa não dispunha de firewall, o governo não liberava recursos para a aquisição e a vulnerabilidade aos ataques permitiu algumas invasões. Foi a hora propícia para procurarmos a incubadora de empresas da PUC-RJ e configurarmos o primeiro firewall no Proderj com uma empresa incubada - Weavers - ao preço de R$ 500,00 com muita qualidade no atendimento e plantando uma semente do Linux.

RdL - Que aplicações livres estão sendo utilizadas no Governo do Estado do Rio de Janeiro ?

SR - Usamos software livre de diferentes maneiras. Nas ferramentas de segurança e certificação digital, nos gerenciadores de bancos de dados, nos ambientes integrados de desenvolvimento e como ferramentas de suporte ao desenvolvimento. Nos sistemas de aplicação, usamos software livre nos servidores de aplicação e web, correio eletrônico, arquivos e impressão e também em aplicações de escritório e pedagógicas (inclusive no ensino a distância - EAD).

RdL - Por que o Proderj resolveu apoiar o movimento de Software Livre?

SR - Em janeiro de 1999, assim que assumimos a direção do Proderj, abrimos a discussão no governo do Estado sobre autonomia tecnológica na informática, proposição esta já debatida na comissão de transição de governo e embasada na história do movimento dos Seminários de Computação na Universidade e das APPD (Associação de Profissionais de Processamento de Dados) a partir de meados da década de 70. Esta busca da autonomia, no nosso entendimento, foi enfraquecida, dentre outras razões, com o enquadramento do software no direito autoral, restringindo a criação e concedendo tempo de proteção quase que infinito. E uma alternativa ao direito autoral é o software livre.

RdL - Como o senhor avalia os benefícios obtidos com Software Livre em seu estado e de que maneira as outras empresas estatais de informática podem ser beneficiadas?

SR - O grande benefício é dotar as instituições de governo do direito de escolha, deixando de ser cativas de uma única solução ou produto. Ainda não houve impacto financeiro, posto que em quatro meses iniciais/finais de governo não é possível proceder a grandes mudanças. Para informatizar um governo de Estado, é indispensável um planejamento fundamentado num projeto, na capacidade de realizá-lo e na governabilidade. Estamos ainda numa fase de criar as bases de uma cultura de valorização do domínio tecnológico e, para tal, constituímos o Conselho do Rio Conhecimento envolvendo o governo, sociedade civil, trabalhadores e comunidade científica para formulação e acompanhamento de uma política de informática para o Estado.

RdL - Em recente visita ao Rio de Janeiro, o diretor da Free Software Foundation, Robert Chassell, disse que o Rio de Janeiro deveria ser a capital do Software Livre. De que maneira a cidade pode contribuir com o movimento de Software Livre no Brasil?

SR - A realização do primeiro Fest Soft - Cultura e Liberdade foi um passo neste sentido. O evento teve a chancela do Rio Conhecimento e foi cultura porque entendemos que a busca do domínio da tecnologia só será vitoriosa ao se tornar parte da cultura do nosso povo, e foi liberdade no sentido da prioridade no uso do software livre. O Rio de Janeiro também tem história e grandes universidades. Aqui na COBRA produzimos o primeiro computador brasileiro em escala industrial. É necessário rearticular os atores e oferecer projetos viáveis de parcerias.

RdL - Quais os resultados mais relevantes que foram obtidos com a realização do Festival de Software, Cultura e Liberdade, organizado no mês de agosto pelo Proderj?

SR - Já temos uma escola pública estadual com um sala de capacitação em informática com um servidor ligado à Internet e conectado a dez estações, com computadores populares fabricados no Brasil (InvestPlan) e funcionando sob Linux. Aproximamos o setor de cultura com a tecnologia da informação e estamos ajudando a recuperar o Rio de Janeiro como um Estado articulador da política tecnológica.

RdL - No último debate sobre o FUST, realizado no FestSoft, houve um certo desagrado com as propostas apresentadas pela Anatel. Como o senhor avalia o processo de elaboração do novo edital e que sugestões pretende levar até a Anatel?

SR - Foi retomada a discussão sobre o FUST para educação com a participação da ANATEL, e da UFMG e com os deputados federais Sergio Miranda (PC do B-MG) e Jorge Bittar (PT-RJ) apontando para uma nova licitação com opções de Linux e Windows e ampliando o número de empresas que poderão participar do edital. Espero que o processo de re-elaboração do edital esteja procurando dar o direito de escolha de uso do sistema operacional por parte de alunos e professores, que estados e municípios tenham mais poder de decisão e que a concorrência seja aberta ao maior número de fornecedores.

RdL - Quando o senhor acredita que os microcomputadores do FUST chegarão às escolas públicas?

SR - Isto ficou para 2003. A intransigência do MEC prejudicou os professores e alunos, e ao apagar das luzes uma medida provisória retirou R$ 1 bilhão do FUST para amortização da dívida pública.


Rodrigo Asturian - asturian@RevistaDoLinux.com.br