Revista Do Linux
 
 

Linux na Índia

Veja como uma das nações mais populosas do mundo investe no Linux para garantir crescimento tecnológico

Quando você pensa na Índia, quais são as primeiras coisas que lhe vêm à mente? Meditação, purificação da alma no rio Ganges e vacas sagradas, ou a pobreza de um país que já ultrapassou a cifra de um bilhão de habitantes? Essas são apenas algumas verdades sobre um país capaz de influenciar culturalmente todo o planeta, mas você também deve pensar em tecnologia, principalmente em Linux. País sobre o qual muitos depositam grandes dúvidas em relação ao seu desempenho econômico e social, a Índia é hoje um grande exportador de cérebros em diversas áreas científicas, principalmente de software. Nesta edição, vamos acompanhar um pouco do mundo Linux na Índia.

O casamento entre o software livre e a Índia parece perfeito. Quando comparamos a disponibilidade de recursos ao contingente populacional, a redução de gastos com licenças passa a ter um papel fundamental para o desenvolvimento da informática entre estudantes, inclusive na educação básica. Entre universidades, um bom exemplo acontece em Calcutá. Com a ajuda do grupo de usuários Linux da cidade, pôde ser instalado um laboratório de informática com um gasto de apenas US$ 7000, o que seria impossível com a utilização de softwares proprietários. Esse laboratório é constituído por um parque de 20 máquinas 486 funcionando em sistema de boot remoto. Um outro projeto interessante é o de uma organização chamada Sarai. Em associação com o grupo de usuários de Nova Délhi, foi identificado um grupo de escolas que desejam utilizar sistemas baseados em Linux. O primeiro passo será a criação de uma distribuição baseada no Red Hat Linux, que poderia ser facilmente encontrada em um CD. Uma série de workshops está planejada para os próximos meses com o objetivo de apresentar e familiarizar os estudantes e professores com o Linux. Mais informações sobre essa iniciativa podem ser encontradas em www.sarai.net e detalhes podem ser solicitados pelo e-mail dak@sarai.net.

Uma criação indiana baseada em Linux e que tem grande chance de sucesso é o Simputer. Parecido com um handheld, ele se propõe a ser uma alternativa portátil aos computadores pessoais e de menor custo, justamente para que pessoas com menores recursos financeiros tenham acesso aos benefícios da tecnologia da informação. Com a produção em grande escala, a expectativa é de que ele custe 9000 rúpias indianas, ou cerca de 570 reais. Além disso, ele possui recursos, que, segundo informam seus criadores, permitiriam sua utilização até mesmo por analfabetos. O Simputer começou a ser concebido a partir do Seminário de Tecnologia da Informação para países em desenvolvimento, realizado durante o Bangalore IT.com, em outubro de 98. Nesse evento, foi assinada uma carta de intenções para que fossem realizadas algumas ações para tornar a tecnologia da informação parte da vida também das pessoas mais carentes.

Como se sabe, a criação de software é um dos pontos fortes na área de TI da Índia. Uma dessas criações é a Anjuta, um ambiente de desenvolvimento integrado, que combina características do GLADE (uma ferramenta gráfica para criação de front-ends para programas GTK) para criar interfaces, que têm características próprias para edição de código para prover a seus usuários um pacote de ferramentas para criação de aplicações. A integração com o Glade possibilita à Anjuta editar os códigos e construir os projetos baseados no primeiro programa. Veja o artigo publicado em julho de 2002 por Ishan Chattopadhyaya, estudante da Universidade de St Joseph's College em Allahabad, que esteve envolvido na documentação do projeto. O programa é uma criação de Naba Kumar, um desenvolvedor de software natural da cidade de Délhi. Para quem acha que os programadores não têm seus amores, Kumar dá uma boa resposta, já que deu à sua criação o nome de sua namorada.

Com tantas atividades em torno do Linux, não é de se estranhar que também ocorram grandes encontros para se debater os vários aspectos relacionados à vida do Pingüim. Organizado pelo grupo de usuários da cidade de Bangalore, a capital tecnológica da Índia sediará, em dezembro deste ano, mais uma conferência para pessoas relacionadas ao Linux. O evento reunirá cientistas de TI, desenvolvedores, especialistas em sistemas e evangelizadores Linux da Índia e do exterior em mais de 50 sessões, que ocorrerão em apenas três dias. Em 2001, a conferência contou com mais de três mil espectadores e teve o patrocínio da sucursal indiana da Hewlett-Packard.

Como podemos ver, uma das regiões onde surgiu a matemática é hoje um dos países em que mais se desenvolve a informática, ciência que tem suas bases no conhecimento criado por pessoas que provavelmente não imaginavam o estágio a que a tecnologia poderia chegar. Além disso, podemos encontrar muitos outros exemplos onde o Linux e aplicações com o mesmo modelo de licenciamento mostram todo o seu potencial para contribuir para o desenvolvimento da sociedade.

Nota

Uma das pessoas que mais contribuiu para o desenvolvimento desse artigo é Frederick Noronha. Como se sabe, Noronha é um nome português, língua falada em Goa, um estado indiano que foi colônia de Portugal durante alguns séculos. É lá onde Frederick Noronha vive, embora tenha nascido na cidade de Santos, no litoral de São Paulo, e retornando à Índia com dois anos de idade. Hoje ele escreve sobre o Linux para alguns meios de comunicação e é uma das principais autoridades sobre o tema na Índia.

Para saber mais:
www.simputer.org
linux-bangalore.org/2002
www.linux-india.org/


Guilherme Lemos - guilherme.lemos@aiesec.net


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