Revista Do Linux
 
  
  
 

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Desktop pronto para administração pública

O dito popular de que mineiro trabalha em silêncio parece ter mesmo fundamento. Afinal, desde julho de 2002, a Prefeitura de Belo Horizonte, através da Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte-PRODABEL, tem pronta uma distribuição GNU/LINUX especialmente desenvolvida para atender aos requisitos de desktops típicos da administração pública, e poucos dos que vivem além das montanhas mineiras sabem disto.

O produto tem sua identidade fortemente associada ao espírito mineiro: chama-se LIBERTAS, expressão em latim para liberdade, presente na bandeirado estado, e tem como símbolo um pingüim caipira

Pois bem, agora que os mineiros decidiram falar para toda a comunidade de software livre, pode-se dizer que o desenvolvimento do LIBERTAS, hoje na versão 2.0, teve como motivação uma convergência de fatores, a saber:

  • A acelerada expansão da Rede Municipal de Informática-RMI, decorrente da decisão da atual gestão da Prefeitura de Belo Horizonte de levar a informática até cada unidade de suas redes escolares e de saúde (previsão de aumento de 296 unidades e de 177% da capilaridade da rede)
  • A percepção da equipe técnica da PRODABEL de que os custos com licenças de uso de soluções proprietárias inviabilizariam tal expansão, aliada à sedimentação da cultura de profissionais da Empresa em software livre, construída pelo acúmulo de iniciativas de uso de produtos livres para várias funções de servidores da RMI, que remontam a 1995 e foram implementados a partir do processo total de downsizing realizado pela Empresa;
  • O diagnóstico de que as distribuições GNU/LINUX existentes apresentavam funcionalidades não esssenciais às demandas típicas dos usuários da RMI, o que as tornavam pesadas, e, portanto, inadequadas para instalação direta nos desktops da administração municipal;
  • A disposição e conhecimento do Departamento de Ciência da Computação - DCC/UFMG de trabalhar em parceria com a PRODABEL no desenvolvimento de uma distribuição sob medida para as necessidades do ambiente, condição facilitada pelo sucesso da experiência conjunta das duas instituições no desenvolvimento de um modelo para uso de software livre em laboratórios de escolas públicas municipais, a partir do ano de 2001 - o projeto LabFUST.

    Diante deste quadro, e tendo em vista que as funcionalidades essenciais do desktop típico da Rede Municipal de Informática estavam restritas ao gerenciamento de tarefas de escritório, ao acesso à serviços Internet e ao uso de sistemas corporativos, iniciou-se o processo de pesquisa por aplicativos livres, que cumprissem de forma confiável estes requisitos, tendo como referência a distribuição Red Hat 7.3 - selecionada basicamente porque a equipe já detinha um conhecimento significativo desta distribuição, e também por ser uma solução já consolidada.

    A equipe do projeto logo percebeu que, tendo em vista a cultura dos usuários no uso de soluções proprietárias, seria estratégico definir uma solução para o gerenciamento de janelas o mais semelhante possível àquelas já utilizadas. Os técnicos sentiram nas primeiras versões beta, implementadas em áreas administrativas da PRODABEL, o quanto a interface era fator relevante para resistência ou adesão ao produto. Perceberam também a necessidade de se agregar ao produto soluções gráficas para o gerenciamento de arquivos, de dispositivos de disquete e CD ROM, além de leitura de documentos pdf, transferência e tratamento para (des)compactação de arquivos. Outro aspecto considerado essencial pelos usuários foi a implementação de funções que permitissem a personalização do seu ambiente de trabalho, em que cada usuário pudesse implementar em seu perfil telas e ícones, cada um a seu modo.

    Este conjunto de requisitos, associado à realidade das configurações típicas dos computadores da RMI, resultou em três configurações para o LIBERTAS, cujas características e principais componentes podem ser vistos no quadro 1.

    Para conduzir o processo de implantação piloto, os técnicos das unidades de atendimento da empresa foram envolvidos no projeto piloto. Foi ainda especialmente desenvolvido, pelo Centro de Capacitação Profissional da PRODABEL, um programa que inclui, além do uso das ferramentas, uma introdução que busca sensibilizar os servidores públicos municipais para a mudança. Este programa, que vem sendo constantemente aprimorado, ganhará brevemente uma versão baseada em métodos e técnicas de Educação a Distância, projeto conduzido em parceria com o Serviço Federal de Processamento de Dados - SERPRO.

    Em síntese, têm-se aí a história de desenvolvimento do LIBERTAS, primeira distribuição GNU/LINUX em língua portuguesa para uso em desktops típicos da administração pública, disponível para download em www.libertas.pbh.gov.br, e que vem se configurando como um ambiente que potencializa à Prefeitura de Belo Horizonte, além da progressiva economia de recursos financeiros, aumento da confiabilidade e segurança das estações de trabalho de seu ambiente de informática. Sem grande estresse entre os servidores públicos usuários do produto.

    Uma história de trabalhos intensos que vem se juntar às boas práticas da comunidade de software livre brasileira. Uma história que certamente terá novos capítulos, afinal, as versões 3.0 e server já se encontram no forno...

    Conhecendo o Projeto LabFUST

    O projeto LabFUST iniciou-se em junho de 2001, após as publicações das consultas públicas 281 e 282 em janeiro de 2001, que orientavam quanto à possível forma de aplicação de recursos do FUST - Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações nas escolas públicas brasileiras de ensino médio e profissionalizante.

    Visto como mais um dos desafios para os governos municipais comprometidos com valores de uma cidadania de promover a utilização das tecnologias digitais, de forma a contribuir para o aprofundamento da participação popular, o controle social e a eficiência do poder local na prestação de serviços públicos, a Prefeitura de Belo Horizonte, por intermédio da PRODABEL juntamente com a Secretaria Municipal de Educação, e em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, desenvolveram o Projeto LabFUST. Um projeto experimental que inclui a montagem de laboratórios de acesso à Internet em escolas municipais de ensino médio e fundamental, com o objetivo de avaliar as questões envolvidas no provimento desse acesso à Internet, as quais vão desde o espaço físico disponível até a capacitação de professores e, em especial, a política pedagógica relacionada ao processo de incorporação das novas tecnologias de informação e comunicação na educação.

    Iniciativa pioneira no Brasil, a estruturação dos laboratórios experimentais é baseada na solução do Computador Popular, desenvolvido pelo Departamento de Ciência da Computação da UFMG, e no desenvolvimento de modelos alternativos orientados para o uso de Software Livre. O enfoque do projeto é a promoção de uma universalização do acesso aos serviços de telecomunicações nas escolas públicas, que esteja em sintonia com os projetos político-pedagógicos das escolas, tendo em vista, identificar novas possibilidades para a aprendizagem proporcionadas pelas tecnologias de informação e comunicação.

    Desenvolvido segundo modelo cliente-servidor e fortemente apoiado no conceito que valoriza a identidade do sujeito e dos grupos em que ele participa, o LabFUST apresenta as seguintes características: as estações cliente são máquinas sem disco rígido, cujo sistema operacional é carregado, via rede local de 100 megabits por segundo, a partir de um servidor Linux. Essas máquinas executam os aplicativos Linux localmente, o que reduz a demanda sobre a estação servidora, utilizando-a apenas como servidor de recursos. O sistema operacional é uma versão compacta do Linux carregada na memória das estações cliente(DHCP), de forma que todo o processamento é realizado localmente nestas estações.

    A estação servidora tem características e funcionalidades adicionais em relação às estações clientes, sendo responsável pelo armazenamento do sistema operacional, dos aplicativos básicos para funcionamento do ambiente, das aplicações de usuários e dos dados gerados em qualquer dos aplicativos, utilizados a partir das estações-cliente. Nesta estação estão também todos os homes de usuários, o servidor de Mail e páginas Web. Cada usuário do laboratório tem o seu login e senha (identificação individual do usuário), associadas à uma conta de e-mail com a mesma identificação. Ao acessar o ambiente, cada usuário tem acesso disponível à Internet pelo Netscape 7, Web-mail, pacote de escritório OpenOffice, entre outras ferramentas. Ele poderá se utilizar de uma área de trabalho de 10 MB individualmente e participar de espaços de outros grupos, como, por exemplo, de um projeto, da turma, da escola, etc., repeitando sempre as características de participação em grupos de trabalho e permissões de acordo com as regras do grupo.

    Uma das vantagens desta solução é o custo significativamente menor e a facilidade de manutenção e administração do ambiente, principalmente das estações-cliente que, por não possuírem componentes móveis, são pouco susceptíveis a danos, não necessitam configurações locais de software e são imunes a modificações pelos seus usuários. As configurações e ajustes para atender às necessidades e desejos do usuário são incorporadas ao seu perfil e carregadas dinamicamente quando este se identifica em alguma estação da rede. Com isto, cada usuário pode configurar seu ambiente como desejar, sem interferir ou prejudicar o trabalho de outros usuários. Cada um pode escolher sua interface, fundo de tela, seus ícones, seus programas, de acordo com o seu interesse pessoal.

    Colocado em produção nas escolas em agosto de 2001, portanto há 18 meses em funcionamento em caráter piloto, o projeto está instalado em duas escolas da rede municipal e já beneficiou mais de 3.000 alunos e cerca de 250 professores, que já se utilizaram do projeto. As escolas participantes do projeto atualmente são: EM Caio Líbano Soares e EM Arthur Versiane Velloso. O objetivo é atender a mais 50 escolas da Rede Municipal de Educação e, além disso, à Escola Fundamental do Centro Pedagógico da UFMG. Em fevereiro, deste ano inauguramos mais um laboratório baseado na utilização do Libertas, de forma que, são compartilhados recursos na rede entre computadores novos, Pentium de 1 Ghz com 128 de RAM, e computadores como Pentium 75 com 16 de RAM, na razão de 2 Pentium 75 hospedados por um computador de 1 GHz, utilizando o conceito do Terminal X dinamicamente. Para o usuário final, ele não percebe a diferença de performance. Acessa a Internet normalmente e utiliza o OpenOffice como se estivesse no computador novo. Esta solução está implantada no laboratório da Escola Municipal Mosenhor Arthur de Oliveira. O laboratório é composto por cinco estações novas, oito Pentium 75 e 100 e um servidor de homes.

    O objetivo final do projeto será beneficiar diretamente cerca de 50.000 estudantes e 2.700 profissionais da educação em Belo Horizonte. Adicionalmente, pelas suas características, poderá trazer benefícios também às comunidades do entorno das escolas. Será disponibilizado também na forma de licença GPL para qualquer escola pública ou outras instituições ou pessoas que se interessarem em compartilhar do desenvolvimento ou uso do produto.

    Dados Técnicos

    O projeto utiliza equipamentos de variados perfis e capacidade de processamento. Utilizamos como estações-cliente computadores que vão de Pentium III de 1 GHz a computadores remanejados de outros setores da Prefeitura de Belo Horizonte para uso no projeto, como Pentium 75 com 16 MB de RAM. É importante destacar que todos os componentes utilizados nos computadores são os mesmos utilizados pelo mercado, ou seja, podem ser adquiridos dos fornecedores tradicionais que já atendem ao mercado. A diferença é que estes equipamentos são configurados com um número menor de componentes. Não são, por exemplo, utilizados discos rígidos ou qualquer outro componente móvel, o que diminui significativamente os custos de aquisição e manutenção dos equipamentos.

    Muitas pessoas confundem a proposta de utilização do Computador Popular, que basicamente é um conceito fundamentado por software, que é aplicável a qualquer fabricante de hardware que queira montar seus equipamentos nas diferentes configurações propostas. Aqui nós instalamos equipamentos de vários fornecedores que se dispuseram a testar seus equipamentos no projeto, e ficou provado que este conceito funciona muito bem, e qualquer fabricante pode oferecer equipamentos para a implementação do FUST Educação. A diferença principal é que estes equipamentos têem que se desvincular dos fornecedores de software, que muitas vezes "obrigam" os fabricantes de hardware a vender seus softwares já instalados nos equipamentos com as licenças do tipo MOLP. No nosso modelo utilizamos somente software livre, e quem quiser fazer a instalação na forma que foi desenvolvida pelo projeto, poderá baixá-los em breve no site da Prefeitura ou da UFMG. ~SEstamos concluindo o empacotamento da solução para este fim~T, conclui Marconi Oliveira Campos, funcionário da Prodabel e Gerente do projeto LabFUST.

    Quadro 1 - Requisitos de Hardware
    Produto Requisitos de Hw(mínimo) Aplicação Principais Componentes
    Libertas
    Internet
    Cidadã
    Pentium, 32 MB RAM e
    disco rígido de 700 MB
    Pontos públicos de
    acesso à Internet
    Abiword
    Netscape
    Acrobat Reader
    GMC
    Blanes
    Libertas X Servidor: Pentium
    2,64 MB RAM
    Cliente: 486, 16 MB RAM
    e disco rígido de 500 MB
    Ambiente em que
    seja indicada
    reutilização de
    equipamentos
    obsoletos
    Abiword
    Mozilla
    OpenOffice
    Gftp
    Ark
    Acrobat Reader
    Konqueror
    Rdesktop
    Blanes
    Libertas
    Desktop
    Pentium 2,64 MB RAM
    e disco rígido de 800 MBb
    Ambientes
    de escritório
    Abiword
    Mozilla
    OpenOffice
    Gftp
    Ark
    Acrobat Reader
    Konqueror
    Rdesktop
    Blanes
    KDE

    Inovação que reduz gastos públicos

    RDL - Por que uma empresa pública de informática desenvolve software livre?
    Eugênia Bossi Fraga - A nossa decisão pelo desenvolvimento de software livre na Prodabel está fundada na convicção de que, como empresa pública de informática e informação, é nossa responsabilidade estarmos inseridos no contexto da discussão das tendências tecnológicas desse setor. Uma inserção, entretanto, na qual o nosso papel é o de agentes de mudança e transformação orientados por princípios que apontem para a busca de soluções próprias ao setor público, entre os quais, os princípios de eqüidade em relação às oportunidades e austeridade em relação ao uso dos recursos públicos.
    O software livre é uma inovação que permite reduzir gastos públicos com tecnologia de informação e possibilita a ampliação do seu uso, sendo, portanto, uma alternativa que atende aos princípios acima.
    Um outro ponto que consideramos importante destacar é o fato de que, ao longo dos últimos dez anos, a Prodabel vem consolidando uma cultura organizacional propensa a lidar com a inovação de forma absorvê-la criticamente: não se trata de correr atrás dos modismos e da inovação pela inovação e nem de recusá-la por não reconhecer, no seu potencial de transformação, uma contribuição positiva para a coisa pública.

    RDL - Quais as inovações que o projeto LIBERTAS trouxe para a PRODABEL?
    EBF - Sendo o LIBERTAS a primeira iniciativa da Empresa no desenvolvimento de produtos livres, ele apresentou para a nossa equipe técnica a condição inédita de projetar software basicamente a partir de componentes existentes. No que se refere à rede, tivemos o desafio de estruturar na camada cliente as condições de funcionamento de ambientes compartilhados multiplataforma, o que foi experimentado e solucionado por poucas instituições públicas ou privadas do país. Deve-se registrar ainda que a principal inovação do LIBERTAS é de ordem cultural: a partir de sua instalação, padrões de uso consolidados pelos servidores públicos municipais precisam ser desconstruídos e recontruídos, o que entendemos ser condição catalizadora da ampliação da capacidade dos usuários de usar os recursos computacionais disponíveis. Algo que exige muito da nossa área de capacitação, mas que tem trazido resultados compensadores.

    RDL - O que o cidadão comum ganha com a implantação do LIBERTAS na RMI?
    EBF - Em primeiro lugar, é essencial destacar que a definição institucional quanto ao cronograma de implantação do LIBERTAS é no sentido de que os avanços sejam feitos gradualmente, após a plena estabilização dos processos de instalação, capacitação e suporte ao uso do produto.
    Ou seja, nenhum passo é dado sem a garantia de que a qualidade dos serviços de informática realizados no ambiente do LIBERTAS seja superior à do ambiente atual, principalmente no que se refere a confiabilidade, disponibilidade e desempenho.
    Com isto, entendemos que a vida do cidadão de Belo Horizonte será facilitada pela redução de seu tempo de espera em filas e pela ampliação das políticas públicas da administração municipal, que tende a ocorrer a partir da reversão de recursos públicos utilizados para pagamento de licenças de uso de software.

    RDL - Para a realização do projeto foi feita uma parceria com o DCC/UFMG. Quais os ganhos dessa parceria?
    EBF -O relacionamento entre a PRODABEL e o meio acadêmico, tanto no caso do LIBERTAS como em outros projetos inovadores, expressa acima de tudo, o reconhecimento da contribuição direta que estes centros de conhecimento agregam às nossas decisões mais complexas.
    No caso do LIBERTAS, a PRODABEL obteve inegáveis diferenciais de qualidade no processo de desenvolvimento e no produto, pelo fato de poder contar com a competência e interesse da equipe destacada pelo DCC/UFMG.
    Por outro lado, entendemos que uma parceria como esta foi rica também para os pesquisadores do DCC, na medida em que tiveram uma condição ímpar de aplicar seus conhecimentos a um problema de interesse da Administração Municipal.

    RDL - O projeto LIBERTAS está sendo desenvolvido somente para a Prefeitura de Belo Horizonte? Como devem proceder os interessados em obter o produto?
    EBF - Os requisitos do LIBERTAS foram especificados com base na realidade da RMI. Sua aplicação, no entanto, pode ser facilmente estendida a outras instituições públicas e mesmo a organizações privadas ou não governamentais. Até mesmo o cidadão comum, que faça uso doméstico da informática, pode optar por esta aplicação.
    Isto porque o produto tem características de licenciamento GPL, estando toda a sua documentação disponível para download.

    Eugênia Bossi Fraga,
    Diretora Presidente da Prodabel

    Projetos da Prodabel a nível nacional

    Em Fevereiro de 2003, a Secretaria Municipal da Educação - SMED e a Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte - PRODABEL, receberam a visita de técnicos do CPqD - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações, para avaliar a forma de funcionamento do projeto Labfust e em Março último a visita do sr. Pedro Jaime Ziller, hoje Secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações .

    No dia 15 de abril, aconteceu uma terceira visita, da sra. Ana Teresa Ralston - que foi conhecer de perto os projetos já implantados na Prefeitura de Belo Horizonte , novamente por solicitação do Ministério das Comunicações.

    Esta última visita se deu em razão do envio pela Prodabel, de uma solicitação de inclusão de projetos da SMED/Prodabel no Programa de Governo Federal - GESAC - Governo Eletrônico, Serviço de Atendimento ao Cidadão, do Ministério das Comunicações. Este programa visa conectar em rede, locais já em funcionamento que trabalham com projetos com foco na informação, voltados à comunidade para que esta tenha acesso à Internet e aos serviços governamentais.

    Cabe ao Ministério das Comunicações, conhecer e avaliar os projetos existentes , em âmbito nacional, com o objetivo de identificar soluções consistentes e em funcionamento , com vistas a receber recursos tecnológicos a serem utilizados na conexão destas localidades à Internet.

    Hoje são muitos os projetos convergentes à educação municipal, coordenados pela SMED, mas todos caminham seguindo o mesmo rumo, a mesma filosofia/conceito e sempre validados em parceria com a Prodabel. Belo Horizonte possui ao todo 182 (cento e oitenta e duas) Escolas Municipais, e destas 22 (vinte e duas) já se encontram conectadas em banda larga, já possuem infra-estrutura de informática e já atuam efetivamente no Projeto Internet nas Escolas. Três destas escolas estão totalmente estruturadas em Software Livre. Está previsto a conexão de mais 19 (dezenove) escolas em banda larga até junho/2003 e outras 30 (trinta) até dezembro/2003.

    Das assessorias

    Empresa mineira materializa conceito do computador popular

    Um ano e meio após o Lu@r-DCC-UFMG (Laboratório de Universalização de Acesso da Universidade Federal de Minas Gerais) ter apresentado o conceito do "computador popular", uma empresa mineira, a Neo Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico Ltda, com sede em Nova Serrana - MG, e escritório em Divinópolis - MG, desenvolveu um modelo de computador popular em parceria com empresas de Fremont - Califórnia e Taiwan.

    O Luar considera que essa é uma solução que atende a todos os requisitos em termos de ampla funcionalidade e baixo custo, como concebido originalmente para um computador popular. O laboratório está cooperando tecnicamente com a Neo na produção uma distribuição baseada em Linux.

    O computador desenvolvido pela Neo possui processador Via C3 de 533Mhz e 64MB de memória RAM. Seu mecanismo permanente de armazenamento é um chip de memória Flash de 16Mb, onde são armazenados o sistema operacional derivado de um sistema da família Unix, o QNX, editor de texto, navegador, recursos para visualização de arquivos multimídia (MPEG, Audio, Flash e VCD), e máquina virtual Java.

    Uma característica interessante da máquina da Neo é a possibilidade de utilizar a TV como monitor. Essa capacidade é resultado de pesquisas conjuntas com empresas associadas à fabricante de processadores Intel, que permitiu o desenvolvimento de um chipset que ofereca boa resolução de imagem em TVs comuns.

    Também cabe ressaltar que essa solução é expansível, embora já ofereça várias opções de conectividade, como acesso telefônico tradicional (POTS - Plain Old Telephony System), ISDN e ADSL. Possui também duas portas USB, uma porta paralela e possibilidade de utilização de Floppy Drives e unidades leitoras de CD-ROM e DVD.

    QNX - Sistema operacional Unix pequeno e eficiente

    Linux e a SMED

    Entrevista com Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva, secretária municipal de educação de Belo Horizonte.

    RDL - A Secretaria Municipal de Educação - SMED tem áreas administrativas e as escolas que compõem a Rede Municipal de Educação - RME. Onde e como está sendo utilizado o software livre e o Libertas? Quais são os principais objetivos a serem alcançados?
    Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva - O Projeto Libertas já está em andamento em alguns setores da educação municipal. no próprio prédio da Secretaria, temos três gerências estratégicas utilizando o Libertas. Além disso, em projetos distintos na rede municipal de ensino, o Libertas está sendo adotado como solução tecnológica.
    Vale destacar o projeto de revitalização das bibliotecas escolares, com cerca de 22 bibliotecas-pólo; o projeto Internet Cidadã, com três escolas no oferecimento do acesso à Internet para a comunidade do entorno das escolas; o projeto Tecnologias Digitais na Educação, uma escola para possibilitar a utilização otimizada dos equipamentos com baixo desempenho da sala de informática, através do compartilhamento de recursos com outros equipamentos novos adquiridos pela escola, e o projeto LabFUST (modelo de sala de informática para o FUST), em duas escolas como primeiras experiências, com cerca de 3.000 usuários, entre estudantes e profissionais da educação.

    RDL - Como foi o processo de inserção do software livre na SMED? Os usuários da SMED foram impactados com a mudança? Houve paralisação de atividades produtivas? Houve resistências com relação à mudança? Foi feito um plano de implantação e capacitação?
    MPLAS - O processo de migração para o libertas ainda está em curso. a migração teve início em setores nos quais as atividades críticas não dependiam exclusivamente de rotinas informatizadas, de forma que os usuários se apropriassem do novo modelo de forma gradativa. O tocante às dificuldades de utilização, é importante destacar que mudanças no modelo de trabalho gera, em princípio, insegurança e ansiedade.
    Além disso, é preciso destacar que existem diferenças entre o grau de utilização do computador entre os usuários. Neste sentido, o processo de formação dos profissionais/usuários envolvidos é fator fundamental para o sucesso do projeto. A secretaria trabalha com um modelo de formação personalizado, em que cada usuário recebe treinamento individualizado e assistência a partir das suas necessidades de trabalho. De um modo geral, aqueles que se utilizavam com mais freqüência do Windows não sentiram grandes modificações, pois os principais aplicativos que compõem a versão que utilizamos têm uma interface gráfica muito amigável, e os que ainda não utilizam o computador com muita freqüência também não tiveram dificuldades, e sim desafios inerentes ao processo.

    RDL - Qual é o papel da escola na construção da cidadania e por que a opção de utilizar software livre nas escolas?
    MPLAS - A escola é um espaço privilegiado de produção e sistematização de conhecimento, o que instrumentaliza o cidadão para a intervenção na vida cultural e política da sociedade. Sem o acesso ao conhecimento não é possível conceber qualquer idéia de cidadania. Os softwares livres permitem aos cidadãos a interação com um mundo inesgotável de informações importantes para o seu reconhecimento social. Vencer as barreiras do monopólio criado pelos grandes fabricantes de software do mundo é uma condição para a democratização da informação e inclusão das camadas populares ao mundo digital contemporâneo, bem como para a garantia da soberania das nações em relação à produção e utilização da tecnologia a serviço do bem social.

    RDL - Como o software Livre pode contribuir para uma participação efetiva da comunidade escolar e na valorização do sujeito como cidadão?
    MPLAS -Ter a condição de se comunicar com o mundo, de tomar consciência da diversidade de possibilidades de conhecimento, de usufruir os serviços e oportunidades que facilitam as suas vidas são elementos que podem transformar a vida das comunidades que freqüentam a escola.
    Estas pessoas, uma vez conectadas ao mundo do trabalho, da cultura, do cotidiano da cidade e do mundo, passam a opinar, a criar necessidades próprias, a se ver como cidadãos de direito. Desta forma, estes sujeitos se valorizam e buscam melhor qualidade de vida.

    RDL - Na sua opinião, este modelo de trabalho implantado nas escolas públicas municipais de Belo Horizonte poderia ser replicado para outras escolas públicas do Brasil, mesmo sabendo das diferentes orientações pedagógicas dadas por cada escola, região ou estado do Brasil?
    MPLAS - Tenho certeza que sim. As inovações tecnológicas são instrumentos valiosos na educação de crianças, adolescentes, jovens e adultos que freqüentam nossas escolas. Em todo o País, independentemente da filosofia pedagógica, é possível utilizar as ferramentas para melhorar a qualidade da educação nas escolas públicas. Afinal, poder interpretar o turbilhão de dados que navegam pela web e transformá-los em conhecimento deve ser o papel dos educadores em qualquer parte do país.

    Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva


    Adriana Duarte Nades - adriana@pbh.gov.br


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