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A Sun e a era pós-PC

É muito estranho uma empresa anunciar que seus sistemas ficam menos tempo fora de serviço, como se o normal fosse que os sistemas operacionais mais usados no mercado funcionassem apenas às vezes. Infelizmente essa tem sido a realidade dos últimos anos e, por isso mesmo, as empresas que têm sistemas baseados em Unix estão em destaque.

O termo alta disponibilidade acompanha cada um desses Unix em suas campanhas de marketing, justamente porque todos sabem que o período das empresas amadoras está acabando, seja pela escalabilidade imposta pela Web, seja pela demanda por sistemas estáveis e de qualidade.

Sempre batendo no mesmo bordão de que o "computador é a rede", a Sun Microsystems é a empresa com a estratégia mais agressiva, responsável por tacadas geniais e sempre de olho na alternância da liderança industrial que está em curso. Ela nunca deixou de mostrar que é bastante influente nas principais tendências tecnológicas, antecipando fatos que outras empresas nem conseguem vislumbrar.

Primeiro quando lançou o Java e depois quando liberou o StarOffice para diversas plataformas, entre elas o Linux, a Sun contribuiu com dois fortes golpes para demolir o pilar principal do monopólio que tem impedido a adoção dos dialetos Unix como sistema padrão de mercado. A Internet e o Linux são os outros dois responsáveis pela profunda mudança de arquitetura de hardware, software e cultura dos usuários pela qual passamos hoje. É claro que a explosão da Internet é o agente de maior impacto, mas sem os outros três o panorama estaria bem distante do que vemos hoje.

Ao lançar o StarOffice como software gratuito ela deu a maior contribuição dos últimos anos para o Linux, que se ressentia por não ter uma suíte como essa para conseguir entrar no mercado corporativo, e todas as distribuições pingüins sabem que esse foi um marco inesquecível para elas, pois permitiu romper a clausura dos nichos e ganhar o grande mercado.

A Sun nunca escondeu o fato de que apóia integralmente o movimento Linux, aliás, nunca deixa de exibir sua simpatia pelo pingüim ou de dar sua contribuição, como fez recentemente, ao apoiar financeiramente o projeto Gnome. Para saber mais sobre as razões dessa política Linux da Sun a RdL foi conversar com André Echeverria, seu diretor de marketing no Brasil.

Momento de consolidação

Revista do Linux — A Sun tem o Solaris e apóia publicamente o Linux, teoricamente um concorrente, fato que causa a perplexidade em algumas cabeças. Fale-nos um pouco sobre isso.

André Echeverria — Vemos o Linux com muito bons olhos e entendemos que ele ajuda a fomentar a demanda por grandes servidores, que é o nosso segmento de atuação. As empresas Linux auxiliam-nos, por exemplo, a disseminar a base de usuários StarOffice, o que contribui bastante para sedimentar nossa política de mercado. É muito interessante essa proliferação de servidores Web usando Linux porque na outra ponta nossos servidores estarão usufruindo a homogeneidade de ambientes.

RdL — Quando vocês adquiriram a StarDivision e logo em seguida liberaram o StarOffice no mercado, muitos analistas disseram que o objetivo dessa estratégia era atingir a Microsoft. Verdade?

AE — O que mais nos causa surpresa nessa experiência é que dos mais de 4,8 milhões de downloads de StarOffice em nosso site até agora, a imensa maioria é para a plataforma Windows e não de usuários Linux, como esperávamos. Isso é bastante revelador, e o fato de grandes empresas como o Metrô de São Paulo, o Banrisul e muitas outras estarem adotando o StarOffice em massa mostra que havia uma carência muito grande por uma solução como essa. No entanto, a grande idéia dessa suíte é o StarPortal e que casa perfeitamente com nossa política de distribuir aplicações entre os grandes servidores de rede, o que nem todo mundo entendeu ainda. Um office stand alone tem uma amplitude de conceito muito menor, mas sabemos que essa cultura está sendo erradicada, principalmente diante do enorme crescimento da Internet e dos novos hábitos que ela está introduzindo.

Sobre isso de que alguns falaram que queríamos atingir a Microsoft devo dizer o seguinte: o fato que mais nos importa é ser uma empresa que mantém o foco. Disso depende o nosso sucesso. Quando uma organização quer tomar conta de micros, telefones, celulares, geladeiras, televisores, servidores, da Internet, automóveis, aviões, e de tudo que exista, ela mostra apenas que perdeu seu foco há muito tempo. De nada adianta atirar para todos os lados e não acertar nenhum alvo. Faça direito o que você sabe fazer e concentre-se nisso. Esse é o nosso pensamento em tempo integral.

RdL — Aproveitando o gancho sobre a decadência das empresas, você fala sobre o crescimento da Internet, mas o que vemos é a enorme lista de falências das pontocom, a perigosa bolha da Nasdaq e o futuro incerto dos grandes provedores. O que está errado?

AE — Estamos em um momento de consolidação e a tempestade está acabando. Logo mais veremos que o resultado será muito positivo. Havia muito amadorismo no mercado e quem quebrou ou está quebrando sustentava um modelo de negócios fraco. As empresas mais focadas estão muito bem e estão crescendo no mesmo ritmo de expansão da Internet. As distribuições Linux estão crescendo bastante, as empresas de telefonia também, porque são negócios com idéias bem claras.

RdL — Mas a falta de banda de comunicação tem matado muitas tecnologias e idéias interessantes também. Como atingir a proposta de total integração da Internet?

AE — Nosso presidente, Scott McNeally, sempre diz que vivemos hoje a era pós-PC e que em breve todos poderão ler seus e-mails num quarto de hotel usando apenas o controle remoto da TV. Isso é muito ilustrativo para entendermos que estamos entrando em uma fase em que todos os equipamentos terão total integração com a grande rede. Celulares, handhelds, automóveis, e tudo que possa ter um IP estará em contato permanente com os grandes servidores da Internet. Um de nossos cientistas, Bill Joy, vem aprimorando a tecnologia Jini, a qual permite que diversos equipamentos se apresentem um ao outro sem a necessidade de drivers para que se façam entender. O conceito do PC está completamente ultrapassado nos dias de hoje, muitas novas tecnologias estão surgindo ou sendo aperfeiçoadas para oferecer integração instantânea para qualquer hardware. Sem dúvida alguma a pobreza da banda de comunicação precisa ser resolvida, porém ela vai atender um parque de equipamentos bem diferente do que temos hoje. Pequenas máquinas, mais simples e projetadas principalmente para a comunicação são os equipamentos que precisamos para ter a chamada integração mundial.

RdL — E o Java? Qual seu papel nesse cenário?

AE — O ideal para os usuários é que, ao precisar de uma aplicação, entrem na rede usando uma máquina bem simples e encontrem um servidor que ofereça um ambiente segregado, uma caixa de areia com total proteção, em que eles executem suas tarefas sem se preocupar em ter uma máquina com uma quantidade enorme de aplicações instaladas e que os obrigue a carregar um monte de equipamentos sempre que precisarem se deslocar. Isso é o que chamamos de "o computador é a rede" e Java é nossa estratégia para servir essas aplicações. Onde você estiver, independente do hardware, você terá seu computador. Ou melhor, a rede.

RdL — Como a Sun encara o crescimento dessa onda de software livre?

AE — Total apoio. O Solaris é um sistema gratuito assim como o StarOffice. Recentemente abrimos o código do StarOffice, o que iniciou um novo projeto livre, o OpenOffice. Essa é uma tendência que está se alastrando e muitas empresas estão aderindo. Nosso papel é criar tecnologia para gerar soluções, e chamamos de solução algo que ofereça um ganho para as pessoas e nunca algo que as aprisione. Esse mesmo espírito é o que alimenta o software livre e o Linux, e é claro que concordamos. Precisamos ganhar dinheiro e para isso oferecemos soluções. Nossos clientes precisam gostar dessas soluções. Gostando delas o ciclo se realimenta. O Gnome é mais uma delas.

 

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