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Linux na China

Uma questão estratégica

Na edição de maio, vimos o desenvolvimento do Linux em sua terra natal, a Finlândia. Agora vamos falar um pouco sobre o Pingüim no país que é apontado por muitos como a grande potência do século 21, a China. O enorme crescimento econômico daquele país já dura mais de 20 anos e as perspectivas para o futuro são ainda melhores. Com um modelo econômico baseado na exportação de produtos manufaturados, a China conseguiu atrair centenas de empresas de países desenvolvidos que lá produzem suas mercadorias a um custo muito inferior ao praticado em suas matrizes. Nos últimos anos, o governo de Pequim tem investido bastante em produtos genuinamente locais, entre eles, softwares, e em especial, sistemas operacionais.

O desenvolvimento de produtos “genuinamente locais” faz parte de um plano para a preservação do mercado local, que conta com mais de 1,3 bilhão de potenciais consumidores, alvo cada vez maior das grandes empresas de todo o mundo, seja de fabricantes brasileiros de calçados ou de companhias de software que desejem ampliar seu market share em nível mundial. Hoje a China já é o segundo país do mundo em número de usuários de Internet, com 56,6 milhões de usuários, conforme pesquisa da Ac Nielsen. Com esses números a China ultrapassou o Japão, que conta com 51,3 milhões de usuários, apesar de apenas 5,5% de sua população acessar a Web. Imagine se essa proporção fosse a mesma do Canadá, em que 60,8% de seus habitantes acessam a rede mundial. Para a China, a produção de tecnologia de informação em nível local tende a trazer benefícios semelhantes aos buscados por países com modelos econômicos completamente diferentes, como segurança, custos inferiores e, principalmente, por ser uma alternativa à dependência econômica de países desenvolvidos.

Você deve estar se perguntando: “Mas onde entra o Linux nessa história?”. O Linux entra nessa história por ter uma estrutura de desenvolvimento perfeitamente moldada para atender esse tipo de interesse. Por ter código aberto, são evitadas possíveis dúvidas quanto à utilização do software para outros fins que não aqueles de seu usuário, o que proporciona maior segurança para dados estratégicos como os das forças armadas ou de uma agência espacial. A redução de custos é outro fator fundamental. Quando pensamos na economia chinesa, temos de lembrar do tamanho de seu mercado corporativo, que cresce a passos largos, mas principalmente de sua enorme estrutura estatal, que vem ampliando sua capacidade tecnológica para atender a uma população que ultrapassou há muito a casa dos bilhões. Além disso, são várias as cidades importantes que têm enormes estruturas de sistemas de informação sendo desenvolvidas. Em Pequim, por exemplo, foi finalizada no ano passado uma licitação para informatização da prefeitura municipal no valor de 1,8 milhões de dólares. A Microsoft foi derrotada por outras seis empresas, entre elas, a Red Flag www.redflag-linux.com/eindex.html, uma distribuição Linux chinesa. Tal fato reforça o já declarado apoio do governo chinês ao Linux.

Algumas distribuições Linux de porte mundial, como a Mandrake e a Turbolinux, tentam entrar no mercado chinês com a adoção de versões no idioma local. Entretanto, a mais bem sucedida empresa a difundir o Pingüim naquele país é local, a Red Flag, resultado de uma parceria entre o Instituto de Pesquisas de Software da Academia Chinesa de Ciências www.casbic.ac.cn/english.htm e a New Margin Venture Capital, um dos braços para investimentos de risco do governo chinês. Com essa iniciativa, a China consolidou seu apoio, não só ao desenvolvimento do Linux, mas também ao de outros programas de código aberto. A distro da Red Flag inclui não só o sistema operacional, mas também programas para bancos de dados e suítes office adaptadas ao idioma de seu país. A Red Flag faz parte ainda do esforço para a criação de uma versão em chinês do GNOME, sua interface gráfica padrão.

Nem só o governo e o setor corporativo fazem a pujança do Pingüim de olhos puxados. Os grupos de usuários se espalham pelo país e demonstram que o Linux tem ali um grande futuro, hoje eles já são 26. Pena que seus websites apresentam, em geral, informações apenas em chinês, o que dificulta a propagação de suas ações em outros países.

Segurança de informações e custos inferiores são argumentos bastante claros para a utilização do Linux na China. Mas a principal lição que devemos tirar da iniciativa chinesa é a busca pela independência tecnológica em relação aos países centrais. E no caso de programas para computador, a melhor alternativa é indiscutivelmente o GNU/Linux. Nenhum outro modelo de desenvolvimento é capaz de proporcionar tamanha autonomia tecnológica sem perder os benefícios da globalização, possibilitando que um país conte também com recursos criados em qualquer parte do mundo, seja a China, a Finlândia ou os Estados Unidos.

Falando sobre Linux

Com 28 anos de idade e um PhD em Ciência da Computação, Zhang Feng é um engenheiro da CAS-IC www.cas-ic.com, empresa chinesa especializada em sistemas embarcados, área onde o Linux é bastante popular. Conversamos brevemente com ele sobre o uso do Linux na China.

RdL: Qual o grau de desenvolvimento dos grupos de usuários Linux na China? Quais as suas principais atividades?

ZF: Sou responsável pelo conteúdo Linux dos sites www.lisoleg.org e www.lisoleg.net para o Source Learning Group. Como líder desse grupo, coleto e distribuo informações sobre Linux que surjam em outras partes do mundo. Também participo de atividades de programação da comunidade Linux em nível internacional.

RdL: Você sabe quantos são os usuários Linux na China?

ZF: Não exatamente, mas de acordo com as estatísticas do site www.linuxforum.net, nós somos cerca de 16.000.

RdL: Qual a utilização mais comum para o Linux na China? Servidor? Desktop?

ZF: Servidor, é claro. Mas sou um desenvolvedor de soluções embarcadas para Linux. Uso hardhat linux (ppc, arm), Lineo ucLinux, Cerfpad Linux for ARM, RTLinux/RTAI para desenvolvimento de controladores de sinais, PDAs, SOHO/Home router, VPN router, Filtros de Roteadores Gbps IP e máquinas de loteria.

RdL: Quem são os maiores usuários de Linux na China? Empresas? Governo?

ZF: A Redflag (governo) é a maior empresa de Linux e existem pequenas empresas que criam soluções embarcadas para Linux.

RdL: Como é a divulgação do Linux no meio acadêmico chinês?

ZF: O Linux faz parte do currículo de várias universidades e muitos estudantes utilizam Linux. Quando eu fizer meu curso de PhD, meu foco será clusters Linux. O sistema do Software DSM é baseado em Linux.


Guilherme Lemos - guilhermelemos@yahoo.com.br


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