Coluna do Augusto
Windows no Linux, Linux no Windows
Escrevo esta coluna na semana em que aconteceram dois anúncios relacionando o Linux à cadeia de va-rejo internacional Wal-Mart. O primei-ro, menos expressivo, na minha opi-nião, foi sobre o início das vendas de PCs equipados com o Lindows (lindows.com) nas prateleiras da ca-deia. O segundo, cuja importância é mais fácil de ser percebida pelos usuá-rios de Linux, é bastante parecido: o início das vendas de PCs com o Mandrake Linux (mandrake.com) nas mesmas prateleiras.
A diferença se explica pela repu-tação das duas distribuições: enquan-to a Mandrake evoluiu sempre em con-tato com os usuários e desenvol-vedores independentes, deixando de ser conhecida como uma versão de Red Hat com KDE, sempre criando e com-partilhando suas inovações com a co-munidade do software livre, o Lindows já nasceu controverso, com sua pro-posta de ser um ambiente Linux vol-tado para a execução de aplicativos do Windows, e a recusa inicial em disponibilizar o código fonte dos pro-gramas livres alterados pela empresa não ajudou a melhorar essa situação.
Os mais cínicos, ou mais pragmá-ticos (dependendo de quem está jul-gando), poderiam dizer que a ausên-cia de apoio da comunidade não sig-nifica muito, se o Lindows consegue atingir seu público alvo. Isso é questionável - os consultores e presta-dores de serviço que indicam e ajudam a escolher os produtos são, em grande parte, membros da comunidade Linux, para citar apenas um argumento.
Mas o pior acontece quando um produto com uma proposta des-se tipo se expõe à desagradável si-tuação de ter de modificar seu ma-terial publicitário, retirando a men-ção à possibilidade de executar pro-gramas do Windows. Não importa se as razões foram técnicas ou mercadológicas, ninguém na comu-nidade sente muita pena de uma empresa que dá "de brinde" a seus consumidores a oportunidade de fa-zer o download de 3 softwares li-vres (os mesmos que estão disponí- veis gratuitamente nos sites FTP de todas as distribuições tradicionais), e aí cobra 99 dólares para quem qui-ser acessar os outros 1300 progra-mas disponíveis em sua biblioteca.
Generalizações do tipo "o Linux pode rodar a maior parte dos programas do Windows", se não fo-rem verdadeiras, são um desserviço à difusão do sistema - quem experi-menta e se decepciona certamente vai fazer propaganda negativa con-vincente (porque será baseada na ex-periência própria) e demorará muito a dar uma nova chance ao Pingüim. Não que não seja possível rodar grande parte dos programas do Windows no Linux: através de sistemas como o Wine (winehq.com) e o CrossOver (codeweavers.com/products/crossover), ou emuladorescomo o VMware (vmware.com). Mas todos estes produtos têm algum tipo de limitação, e isto tem que ficarsempre claro.
Aliás, usar a capacidade de emularoutros sistemas operacionais como o principal argumento de venda de uma distribuição de Linux me parece um grande contra-senso: o Linux tem méritos próprios suficientes, e a carência de software aplicativo já não é mais tão séria como foi no passado.
É pouco provável que os PCs com Linux do Wal-Mart cheguem em bre-ve ao mercado brasileiro e, ainda que chegassem, é de se imaginar que as distribuições escolhidas seriam outras, mais adequadas às condições do mercado local. Mas torço para que quando isso vier a acontecer, os argumentos de venda sejam a estabilidade, a segurança, a confiabilidade ou os aplicativos nativos - não a capacidade de executar software proprietário projetado para outros ambientes.
O lado ruim:talvez ainda estejamos longe do momento em que será viável economicamente vender computadores com Linux nos grandes magazines brasileiros.
O lado bom:quando chegar a nossa vez, talvez tenhamos mais opções de distribuições pré-instaladas.
A união dos independentes
Quando houve a grande expansão comercial do Linux, há poucos anos, muitos sites anteriormente independentes foram absorvidos por grandes conglomerados de comunicação. O tempo foi passando, os retornos com a publicidade online foram menores que o esperado na maioria dos casos (esse problema não foi exclusivo do Linux), e muitos desses sites comerciais foram minguando, se fundindo ou desaparecendo, enquanto outros continuavam em plena atividade.
Ao mesmo tempo, sites nascidos da própria comunidade, independentes por natureza (embora muitas vezes também sustentados por publicidade e mantidos por um staff profissional, como os sites "comerciais") vicejavam. Entretanto, os custos de manter um site deste tipo são altos e o retorno financeiro pode ser muitas vezes menor que o obtido pelos sites comerciais.
Assim, a exemplo do que ocorreu com as distribuições que se uniram para formar o UnitedLinux, vimos, no início de junho, o nascimento do LinuxDailyNews.com, um portal reunindo as notícias de 5 sites independentes (que continuam existindo), especializados em Linux, visando a alavancar o alcance dos mesmos. A iniciativa foi bem recebida, e mostra o quanto a comunidade do software livre pode colaborar entre si, apesar de todas as disputas e concorrência existentes em algumas áreas específicas.
O lado bom: Notícias livres e inde-pendentes, atualizadas com freqüência e reunidas em um único en-dereço.
O lado ruim: Bookmarks cada vez mais lotados.
Augusto Campos - brain@matrix.com.br