SuSE 8.1Professional
O lançamento do SuSE 8.1 marca o décimo aniversário da SuSE, e a caixa vem cheia de presentes: a versão Professional traz 7 CDs, um DVD (com o mesmo conteúdo dos CDs), dois livros em inglês (Guia do Usuário e Guia do Administrador), um poster/guia rápido de instalação, formulários de suporte e garantia, diversos folhetos de propaganda e uma cartela de adesivos.
Outras novidades importantes, mencionadas de passagem apenas para despertar o apetite dos experts: o seletor de boot deixou de ser o LILO, que foi substituído pelo mais moderno e flexível GRUB. A impressão agora é gerenciada pelo CUPS e o servidor de e-mail padrão passou a ser o Postfix, mantendo o Sendmail apenas como opção. Suporte a ACPI (gerenciamento de energia avançado). Suporte a ACLs (Access Control Lists) em sistemas de arquivos Ext2, Ext3, JFS e XFS.
Instalação
A instalação do SuSE 8.1 é primorosa, mantendo a principal característica da versão 8.0, que é colocar todas as opções de instalação (particionamento, seleção dos pacotes, idioma, etc.) antes de efetuar qualquer alteração física no seu sistema. Todas as opções de configuração têm valores default coerentes e sugeridos a partir de uma análise do computador no qual o sistema está sendo instalado, considerando o espaço livre, partições existentes, etc. O SuSE 8.1 é capaz inclusive de redimensionar partições do Windows (FAT), facilitando a vida de quem quer configurar um PC dual boot, com Windows e Linux.
A interface para seleção dos pacotes a instalar é uma das grandes novidades desta versão. Claro que você pode simplesmente fazer uma seleção de alto nível, do tipo ~Seu quero os pacotes de desenvolvimento em C++ e os de servidor de rede~T (usuários iniciantes são encorajados a isso), mas a SuSE atende com maestria também aqueles usuários avançados que não se importam de perder 2 horas selecionando cada um dos pacotes que deverão ser incluídos no seu sistema. Para estes, agora é possível ver não apenas o nome do pacote e sua descrição resumida, mas também a descrição completa, a data de empacotamento, o tamanho, os arquivos incluídos, as dependências e outras informações típicas de pacotes em formato RPM. Ao tentar selecionar um pacote que depende de outros que não tenham sido selecionados, o sistema avisa claramente e oferece várias opções de correção para essa situação. E, para completar, você pode optar entre escolher a partir da listagem de todos os pacotes dos 7 CDs, ou apenas dos pacotes pré-selecionados pela SuSE.
Outra novidade importante é o suporte ao idioma português brasileiro desde a instalação. Importante mais por sinalizar uma preocupação com os nossos usuários do que pelos seus efeitos práticos, já que ainda apresenta uma série de problemas. Para começar, no seletor de pacotes para instalação não aparecem as descrições (nem a resumida nem a completa) dos softwares. Os erros de digitação e ortografia são comuns e a mistura de textos em inglês e português (Ex.: ~Ssomente use letras minúsculas letters~T) estão em vários itens do instalador. Ocorre também de os textos de ajuda apontarem para itens de tela que não existem, por terem sido traduzidos de maneira diferente. Em algumas seções do instalador (como na que configura o suporte à placa gráfica e ao monitor), estão misturados também trechos em português continental, e aí o nosso monitor de vídeo vira ecrã (ou ~Sécran~T) e o mouse vira rato mesmo~E Após o término da instalação, o ambiente gráfico default (o popular KDE) também apareceu em português continental, o que me incomodou o suficiente para motivar uma mudança para o idioma inglês ~V estou mais acostumado a ver meus arquivos serem chamados de files do que de ficheiros. Felizmente, a mudança é simples, e em instalações futuras vou optar direto pelo inglês. Você pode escolher o que lhe for mais agradável e aguardar novidades nas próximas versões, já que o representante da SuSE no Brasil informa que em breve a própria comunidade terá a oportunidade de ajudar a corrigir e melhorar as traduções do sistema.
Mas a decepção com a qualidade do suporte ao nosso idioma foi superada em muito pela maneira com que o programa de instalação e configuração YaST2 oferece opções avançadas (geralmente opcionais, ~Sescondidas~T atrás de botões exclusivos para especialistas) sem tornar difícil a interação com o sistema. O particionador de discos, por exemplo, dá a opção de importar a configuração de volumes (arquivo /etc/fstab) de um sistema Linux pré-existente no mesmo computador. Também, ao criar um novo usuário, existe a opção de incluí-lo como receptor de cópias de todos os e-mails enviados para o usuário root (desestimulando um pouco mais a péssima prática de exigir que o usuário faça logon como root para realizar tarefas não administrativas). Por falar no root, ao selecionar a sua senha, pode-se escolher o método de criptografia do sistema ~V o tradicional e compatível DES, com seu limite de 8 letras por senha, ou os mais modernos MD5 e Blowfish, que podem trazer problemas de compatibilidade, mas não são tão limitados.
Após selecionar os pacotes, a instalação demorou cerca de 20 minutos em um micro de 1.2GHz com um leitor de CD-ROM de 40x. Durante toda a cópia dos pacotes, o sistema mostra o tempo decorrido e a estimativa de espera, para cada um dos CDs e para o total da instalação. O suporte a hardware não decepcionou. O sistema reconheceu e configurou sozinho as duas placas de rede, a placa de vídeo, o monitor, o gravador de CD IDE, a impressora paralela, as duas interfaces USB, a webcam USB, o modem externo e a conexão DHCP, que estavam no micro do laboratório de testes.
O sistema instalado
Testei as características do ambiente gráfico default, que é o KDE 3.0.3. O primeiro ponto de contato com ele é o KDM, gerenciador de login gráfico que está um pouco diferente do usado na versão 8.0. Embora não chegue ao requinte dos ícones diferenciados do Mandrake e da Conectiva, ao menos os nomes completos dos usuários são exibidos no seletor de login.
Após resolver a questão do idioma através do configurador YaST2, passei a verificar o ambiente de trabalho. Os ícones padrão são úteis, em sua maioria, e nem senti urgência em alterá-los ~V usei o sistema durante vários dias com a configuração padrão. Os ícones iniciais são o da lixeira, da impressora, das várias partições dos discos rígidos, da unidade de disquete, do CD, além dos aplicativos Mozilla, OpenOffice, SuSE e Support. Sugiro começar pelo ícone SuSE, selecionar o SuSE Tour e ver a apresentação de tudo o que a distribuição considera importante que você saiba no seu primeiro contato.
A barra de ferramentas do KDE tem os botões e menus de costume, tudo organizado e funcional. Chama a atenção um botão que abre o diretório ~/Documents numa janela do Konqueror ou no terminal de texto. Toque de classe!
O configurador YaST2 tem várias novidades. Para começar, quem prefere (ou precisa) utilizá-lo em modo texto irá se beneficiar com a nova interface baseada no ncurses, sem comparação com a terrível interface de texto das versões anteriores. A interface gráfica mantém o mesmo visual que na versão anterior, mas com vários novos recursos, incluindo backup e restore melhorados, configuração de impressoras, discos, placas de sintonia de TV e até joysticks, administração de usuários, grupos, rede e segurança, gerenciador de boot, criação de disco de boot, configuração de proxy, firewall, cliente LDAP, NFS, NIS, gerenciamento de pacotes (o mesmo usado na instalação), atualização via Internet e muito mais.
Agora é possível até gravar a sua configuração na forma de um perfil de máquina e depois recuperar este perfil armazenado, permitindo que você possa alternar entre múltiplos perfis ou retornar rapidamente para um perfil estável depois de fazer suas experiências. Para completar, o ícone PowerTweak apresenta ao usuário comum dezenas de opções de configuração, que antes ficavam restritas aos administradores de sistemas conhecedores dos mistérios do sistema de arquivos /proc ~V todas com descrições bastante claras e explicativas.
As configurações do YaST2 não são superficiais. Veja, por exemplo, tudo o que se pode configurar com relação ao servidor de e-mail: tipo da conexão (permanente ou discada), habilitar antivírus (Amavis, instalado e configurado automaticamente), servidor SMTP externo (opcional), domínio para aparecer no campo ~SFrom~T, mascaramento de usuários (para domínios virtuais), contas POP e IMAP que devem ser checadas automaticamente pelo sistema, aliases e domínios virtuais.
Claro que há problemas também. Por exemplo, achei as fontes padrão muito pequenas. O mapa de teclado para o Brasil agora é o BR-ABNT2, excelente porque não dá um velho problema com algumas teclas (a barra invertida e os colchetes) do mapa ~Stradicional~T. Entretanto, aparentemente, ele vem sem suporte às onipresentes teclas ~SWindows~T e ~SPopup~T dos teclados fabricados após-1998. A solução não é difícil, mas o melhor seria que o mapa de teclado já viesse com essa atualização.
Ativar os softwares servidores incluídos na distribuição é bastante simples. De modo geral, basta usar o YaST2 para instalar os pacotes de softwares apropriados e, e depois, ativá-los no próprio YaST2 (via opção Runlevel Editor). Alguns deles (como o servidor de e-mail) contam com ferramentas de configuração integradas ao próprio YaST2; outros precisam ser configurados da maneira tradicional (arquivos de configuração ou ferramentas próprias), mas a maior parte já vem com configurações padrão bastante usáveis ~V e a documentação ajuda. O manual Administration Guide tem capítulos específicos sobre a configuração dos servidores de nomes, roteamento, NIS, NFS, DHCP, Samba, Netatalk, MARSNWE (Novell), Squid e SSH.
Quanto aos softwares desktop, boa parte deles são velhos conhecidos e estão facilmente acessíveis através dos menus. O KDE vem configurado com um menu padrão SuSE, compacto, simples e funcional. Mesmo assim, utilizei as opções do Centro de Controle para ativar o menu padrão, extenso, confuso e completo.
Outra opção interessante do Centro de Controle, que não tardei a ativar, foi a importação das fontes TrueType. Basta dizer em que diretórios do computador você tem fontes desse tipo, e ele as inclui para utilização pelo Linux automaticamente, sem nenhuma dificuldade.
Alguns softwares e recursos novos chamaram a atenção. O k3b é uma ferramenta gráfica para gravação de CDs impressionante. Pode-se acrescentar arquivos ao CD, simplesmente arrastando seus ícones, e pode-se gerar CDs de áudio a partir de arquivos WAV, MP3 e Ogg Vorbis, entre muitas outras opções. O OpenOffice traz qualidade profissional a documentos, planilhas e apresentações. Infelizmente, não vem com suporte ao nosso idioma, exigindo assim um download a mais ~V mas vamos torcer para a próxima edição da distribuição dar mais este passo.
Conclusão
Após uma semana utilizando uma estação de trabalho rodando o SuSE 8.1, posso dizer que a qualidade do sistema está à altura das versões anteriores, exceto no que diz respeito ao suporte ao idioma português. Os aplicativos funcionam como deveriam funcionar, o suporte a hardware demonstra a evolução do Linux, não exigindo nenhuma intervenção para configurar a máquina usada nos testes, o suporte a serviços de rede é extensivo, completo e seguro e as ferramentas administrativas são sólidas e flexíveis.
Os pacotes da distribuição estão disponíveis para download no site da SuSE, mas não em formato ISO. Há instruções, entretanto, para fazer a instalação via Internet ou Intranet (após baixar todos os pacotes). Você também pode fazer o download de uma imagem ISO de demonstração (versão live-eval), mas atenção: ela não instala nada no seu computador, só roda diretamente a partir do CD para que você possa experimentar o sistema.
Para maiores informações, inclusive a lista dos locais onde você pode adquirir o SuSE, visite www.suse-brasil.com.br/. Para fazer seu download, visite ftp://ftp.suse.com/.
Quadro 1 ~V Alguns softwares incluídos no pacote
Básico |
Kernel 2.4.19, glibc 2.2.5, GRUB, CUPS |
Rede |
Samba 2.2.5, Postfix, Apache 1.3.20 e 2.0.40 |
Desktop |
KDE 3.0.3, Gnome 2 |
Aplicativos |
OpenOffice 1.0.1, Koffice 1.2, OCR, Mozilla 1.0.1, Broadcast 2000, Opera, Flash, Real Player, Evolution, Gimp |
Desenvolvimento |
gcc 3.2, PHP 4.2.2, Perl 5.8 |
Jogos |
Descent, Flight Gear, Racer, Tux Racer, GNU Chess |
Quadro 2 ~V Pontos fortes e fracos
Destaques Positivos |
Destaques negativos |
Quantidade de pacotes. |
Indisponibilidade de imagens ISO para download. |
Robustez. |
Suporte incompleto ao português brasileiro |
Ferramenta de configuração fácil e completa. |
Pouca atenção à configuração do ambiente GNOME e seus aplicativos. |
Ambiente gráfico acessível e completo. |
YaST2 ainda não configura servidor web, ftp e samba. |
Instalação fácil e flexível. |
Documentação impressa ~V mais de 850 páginas com conteúdo de qualidade. |
Atualização via Internet simples e funcional. |
Configurando o teclado
Este procedimento serve para os usuários que querem habilitar as teclas adicionais do Windows para uso no ambiente gráfico do Linux.
Para poder habilitar as teclas ~SWindows~T e ~SPopup~T do teclado ABNT, precisei trocar o modelo de teclado no arquivo XF86Config localizado em /etc/X11. A alteração foi simples, bastou localizar a linha.
Option ~SXkbModel~T ~Sabnt2~T
e substituí-la por
Option ~SXkbModel~T ~Spc104~T
Aí, após reiniciar o X, pode-se usar as teclas adicionais. Infelizmente, em boa parte dos teclados, surgem problemas com as teclas da barra invertida e dos colchetes. Para isso também há solução: criar um arquivo chamado .xmodmap no diretório do seu usuário, contendo as três linhas a seguir:
keycode 94 = backslash bar
keycode 123 = slash question degree questiondown
keycode 51 = bracketright braceright masculine
Em seguida, em um terminal gráfico, digitar o comando:
xmodmap ~/.xmodmap
Augusto Campos - brain@matrix.com.br