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Entrevista

A ponte

O curitibano Claudio Matsuoka é o brasileiro que está por trás do desenvolvimento da nova versão do Conectiva Linux Enterprise Edition (CLEE) - Powered by UnitedLinux. Em suma, Matsuoka é quem faz a ligação dos desenvolvedores da Conectiva com os técnicos da SuSE, que gerenciam o desenvolvimento do UnitedLinux. Graduado em Engenharia Elétrica, com mestrado em Informática Industrial pelo CEFET-PR, ele teve seu primeiro contato com o Unix em meados da década de 90 , com o HP-UX nas máquinas HP9000/800 e depois com Solaris numa Sparc 10. ~SPassar a usar Linux em PCs foi o passo natural e meu primeiro kernel foi um 1.1.53. Comecei com Slackware, hoje uso Conectiva Linux e Debian, pois são mais confortáveis para instalar e atualizar pacotes~T. Matsuoka também já trabalhou com AIX em máquinas RS/6000, e uma frustração é não ter tido a oportunidade de conhecer o IRIX. Seu esporte preferido é a informática, já que nem time de futebol tem. Colocando mais lenha na fogueira na ~Sguerra santa~T do Linux, ele revela suas preferências. ~SMeus favoritos são vi (em vez do emacs), nvi (em vez do vim), ksh (em vez do bash ou csh) e perl (em vez de python ou ruby)~T. É com ele que conversamos nesta edição e o assunto principal, como não poderia deixar de ser, é o CLEE.

Revista Do Linux - Como foi a sua participação no processo do desenvolvimento do CLEE?

Cláudio Matsuoka - Eu fui o gerente do time de engenharia da Conectiva no projeto do UnitedLinux e do CLEE. Num projeto como esse, isso significa tornar-se a interface entre a equipe técnica da Conectiva e todas as outras equipes envolvidas no desenvolvimento do produto, e entre a equipe técnica da Conectiva e as equipes técnicas da SuSE, SCO e Turbolinux.

RdL - Quais as maiores dificuldades encontradas nesse processo de desenvolvimento?

CM - Durante o desenvolvimento, contamos com um time geograficamente disperso de engenheiros que estariam pela primeira vez trabalhando juntos, com prazos apertados e num produto ambicioso. Isto exigiu um grande esforço de coordenação e planejamento, além da manutenção de uma infra-estrutura de comunicação, testes e realimentação extremamente eficiente. Teleconferências em diversos níveis foram realizadas diariamente durante o período de desenvolvimento. O trabalho conjunto de equipes de engenharia, de produtos, marketing, relações empresariais, controle de qualidade e suporte precisou ser afinado e sincronizado. E o resultado desse trabalho surpreendeu a todos, superando expectativas e provando a capacidade de organização das empresas envolvidas.

RdL - De que maneira os custos do desenvolvimento do CLEE foram reduzidos com a iniciativa do UnitedLinux?

CM - Estabeleceu-se que cada empresa-membro no consórcio criaria uma distribuição sobre a plataforma do UnitedLinux, integrando-o à sua linha de produtos e adicionando novos elementos que o diferenciem dos demais, sem no entanto interferir na plataforma-base. Imagine quatro empresas diferentes que desenvolvem um automóvel; o mesmo carro, com mesmo motor e que usa o mesmo combustível será comercializado pelas quatro empresas, mas com cores, opcionais e acabamento diferentes. E mais: todos contam com a mesma rede de serviços no mundo todo. A redução de custos pela eliminação de trabalho redundante foi enorme, e todos se beneficiaram.

RdL - A SuSE gerenciou o processo de desenvolvimento do produto, e a Conectiva, a Turbolinux e a SCO também participaram do desenvolvimento dele. O que foi incorporado de cada distro no CLEE, em linhas gerais?

CM - A SuSE trabalhou como integradora do UnitedLinux, centralizando a base de rastreamento de defeitos (bug tracker) e efetivamente compilando a distribuição em cada uma das plataformas suportadas. A Conectiva cedeu engenheiros para desenvolvimento do kernel e subsistemas como Alta Disponibilidade e GNOME 2. A Turbolinux adequou o produto ao mercado asiático (Japão, Coréia, China), adicionando fontes e subsistemas de entrada, visualização e impressão. A SCO atuou junto a parceiros como HP e Oracle para testes do sistema e está agora oferecendo sua infra-estrutura para serviços de suporte aos produtos baseados no UnitedLinux. Tudo isso é incluído no CLEE através do UnitedLinux. A Conectiva adicionou ainda ao CLEE ferramentas como ACID, APT e Linuxconf, além de ambientes KDE e GNOME mais completos e um CD ~Sbônus~T contendo pacotes do CL8 construídos no ambiente do CLEE.

RdL - Uma das vantagens do CLEE para a indústria é que a implementação é mais estável e suporta um grande volume de memória. Como isso foi obtido?

CM - Isso não requer nenhuma mágica: obtém-se esse resultado compilando o kernel com opções adequadas e planejando um ciclo mais longo para lançamento de novas versões. Esses e outros pedidos da indústria, que podem ser difíceis de atender em uma distribuição de propósito geral, foram considerados características essenciais no projeto do UnitedLinux.

RdL - Quais subsistemas proprietários foram incluídos na distribuição e por que motivos?

CM - O UnitedLinux conta com alguns subsistemas proprietários incorporados ao sistema para atender diferentes necessidades técnicas, comerciais ou corporativas. Por exemplo: um conjunto de fontes certificado para o padrão GB18030 é exigido por lei para que o produto possa ser vendido em território chinês, e não existe um similar livre que possua essa certificação. Outros exemplos são o Java Development Kit da IBM e a ferramenta administrativa YaST2 desenvolvida pela SuSE. É importante lembrar que componentes do CLEE que possuem outras licenças como GPL, BSD ou Artistic (que compõem grande parte da distribuição) podem ser redistribuídos livremente, de acordo com os termos de suas licenças.

RdL - Essa inclusão de sistemas proprietários e o fato de o CLEE não estar disponível gratuitamente não vai desagradar aos usuários Linux?

CM - O público do CLEE é bastante diferente do público que hoje utiliza uma distribuição como o Conectiva Linux 8. É um público que exige um sistema certificado para aplicações como o Oracle RAC ou SAP, ou para o hardware de grandes servidores, e que hoje utilizam um UNIX proprietário, RHAS ou servidores Microsoft. Para esses usuários, o UnitedLinux representa uma alternativa baseada em Linux, com uma rede de suporte e serviços em âmbito mundial, que possui o apoio de empresas líderes e que está se consolidando como um padrão de indústria. Outras distribuições existentes hoje e voltadas para esse público, incluindo o Red Hat Advanced Server ou o SuSE Linux Enterprise Server (cuja versão mais recente é ~Spowered by UnitedLinux~T) não estão disponíveis livremente porque contêm algum subsistema proprietário. É sempre bom lembrar que o modelo de distribuição do Conectiva Linux ~Sstandard~T não muda, continuará a ser disponibilizado gratuitamente (a próxima versão está prevista para o primeiro semestre de 2003). E aí está uma das grandes forças do Linux: a existência de uma grande diversidade de distribuições que permite que diferentes modelos de licenciamento sejam praticados sem que usuários com necessidades diferentes sejam prejudicados. Grandes corporações que precisam de certificações e serviços diferenciados podem ser atendidas sem que haja prejuízo para as empresas de pequeno e médio portes, pequenos escritórios, desenvolvedores ou usuários de desktops domésticos. Estes só têm a ganhar com a integração de tecnologias desenvolvidas para o CLEE nas próximas versões do Conectiva Linux (e também nos produtos oferecidos pela SuSE, SCO e Turbo).

RdL - De que maneira você vê que empresas públicas, que normalmente trabalham com um grande número de informações e processos, podem se beneficiar com o CLEE?

CM - O UnitedLinux foi criado para lidar com quantidades enormes de dados, processos, capacidade de armazenamento e memória, sendo escalável de um simples PC monoprocessado a máquinas de maior porte, com 8 ou mais processadores Pentium, Opteron ou Itanium, ou a máquinas realmente maiores, como um mainframe IBM zSeries. O CLEE herda toda a robustez e escalabilidade do UnitedLinux e lida com o mesmo volume de processamento e armazenamento, podendo ser usado em empresas de porte, independente de serem públicas ou privadas.

RdL - Uma das vantagens do CLEE para o mercado local é quanto à facilidade no desenvolvimento de projetos customizados. Que tipo de implementações a Conectiva oferecerá aos seus potenciais clientes?

CM - Serviços de suporte, treinamento e consultoria, que hoje existem para o Conectiva Linux, serão estendidos ao CLEE. O portfólio de serviços oferecido atualmente é, de um modo geral, independente do produto específico utilizado pelo cliente (o CLEE será necessário, é claro, quando houver a necessidade de trabalhar em um ambiente certificado para determinadas soluções de software ou hardware, ou com uma plataforma uniforme com suporte e serviços em âmbito mundial.

RdL - O que significa o apoio de empresas como a AMD, Borland, IBM, Intel, entre outras, ao UnitedLinux e, mais especificamente, ao CLEE?

CM - O apoio obtido pelo UnitedLinux e CLEE junto à industria mostra que a iniciativa de unificar o Linux é bem-vinda. É vantajosa para IHVs e ISVs, que contarão com uma plataforma uniforme para desenvolvimento e certificação, e também para os usuários, que podem contar com um Linux certificado para seu equipamento e para rodar a sua aplicação sem riscos.


Rodrigo Asturian - asturian@RevistaDoLinux.com.br


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