Revista Do Linux  
EDIÇÃO DO MÊS
  A Catedral e o Bazar
  A nova técnica dos Hackers
  Conexão inteligente
  Desvendando o Flagship
  Doutores em Linux
  Firewalls a partir do IP Masquerade
  Internet grátis, uai!
  Intranet - Benefícios que você nem conhece
  Linux World Expo
  Linux para macho
  Nos bastidores do Linux brasileiro
  Por um Linux fácil
  Rendering: virtualmente real
  Rádio Linux
  Servidor Linuxcom estações Windows
  Viagem ao centro do kernel
  vi, vim e venci
Por um Linux fácil

Miguel de Icaza, o coordenador do Gnome, é sem dúvida uma das figuras mais respeitadas no circuito internacional de software. Firme defensor do software livre e grande cabeça, Icaza é natural da Cidade do México, cidade de 22 milhões de habitantes com um trânsito louco, onde sinal vermelho e faixa de segurança são coisas do futuro ou do passado. E onde, mais do que em qualquer outra região mexicana, subsiste no rosto da população, nos costumes gastronômicos e em rasgos de caráter, a mistura de culturas que desconhecemos. Povos como maias, astecas, toltecas e outros que erigiram cidades que chegaram a ter 250 mil habitantes e pirâmides monumentais de 70 metros de altura. É nesta interessante cidade que nos encontramos com o principal mentor do Gnome, um ambiente gráfico que adquire proporções e ambições muito maiores que belos botões e janelas falantes. Administrador da rede do Instituto de Ciências Nucleares do México, Icaza também é sócio da International Gnome Support, uma empresa em formação que tem o objetivo de desenvolver comercialmente componentes GPL para o Gnome, encomendados por empresas que tenham alguma necessidade específica.Jovem, elétrico, adepto fervoroso do software livre, Icaza comenta, nesta entrevista à Revista do Linux os rumos de seu projeto e os caminhos que o software livre tem tomado.

Revista do Linux - Como está neste momento o Projeto Gnome?

Miguel Icaza - O Projeto Gnome foi criado com o intuito de tornar o Linux fácil o suficiente para que ele possa ser utilizado por qualquer tipo de usuário. Para tanto, vários passos foram dados desde o início de sua criação. A cada dia temos novas melhorias e avanços. Estamos atuando firmemente no Gnobo, que consiste em criar uma base de objetos que possam ser reutilizados e interligados com as mais diversas aplicações. Ele é equivale a um ActiveX ou OLE2 da Microsoft. Permitirá,por exemplo, a criação de objetos compostos contendo textos de um editor e gráficos de uma planilha interligados dinamicamente. Pretendemos criar uma série de objetos como os disponíveis em Delphi, em que cada aplicação ou serviço, como por exemplo, exclusão de um usuário do sistema, tenha uma espécie de "conector" padrão, fazendo com que ele possa ser agregado a outras aplicações de forma muito simples, independente da linguagem. Esse conceito já é utilizado pela Microsoft, por exemplo, onde o Internet Explorer ativa mais de 72 objetos simultaneamente.

RdL - Quais os benefícios diretos que esse padrão pode disponibilizar?

Icaza - A reutilização de código é uma vantagem evidente. Pode-se simplesmente agregar uma série de objetos através de uma interface padrão e prontamente teremos um novo aplicativo, que depende somente de seu núcleo para estar desenvolvido. A outra vantagem tem relação com o modelo de desenvolvimento do software livre. Como temos gente por todo o planeta desenvolvendo de acordo com suas disponibilidades, fica muito mais fácil que cada um seja responsável por um pequeno objeto, do que por um programa imenso que levaria muito tempo para ser desenvolvido. Conseguimos assim mais agilidade no desenvolvimento. E esses módulos são conectados a outras aplicações através de interfaces conhecidas e padronizadas. Se um desses elementos precisa ser atualizado ou substituído, não haverá necessidade de substituir todo o conjunto de programas, o que pode ser um trabalho considerável, dependendo da aplicação.

RdL - O Gnome, em seu lançamento, ou seja, na versão 1.0, recebeu diversas críticas quanto à sua estabilidade. A que você atribui isso?

Icaza - Bem, na verdade precipitamos o lançamento, que aconteceu sem os devidos testes de estabilidade, sendo que o que foi liberado foi apenas 20% de tudo que já tínhamos desenvolvido, usando muitas bibliotecas externas, o que o tornou um pacote muito grande. Agora estamos preparando o lançamento da versão 1.050 ou October, onde mais de quinhentos problemas relatados por usuários corrigidos, e com que acreditamos ter efetivamente estabilizado a versão atual.

RdL - Você acredita que o movimento do software livre vai mudar a postura das empresas comerciais?

Icaza - Creio que, decididamente, as empresas de software comercial deverão mudar a sua postura quanto a preços, licenças, utilização e outros. Porém qualquer que seja o modelo que se aponte como o novo a ser adotado por essas empresas, sua especificação neste momento é especulação.

RdL - Como você vê a participação de grandes nomes do mercado no movimento open source?

Icaza - Esta é uma comunidade aberta, onde são bem-vindos todos os que desejem colaborar. Como os códigos estão muito bem guardados sob uma licença clara de não propriedade (copyleft) creio que eles somam, e bastante, ao movimento.

RdL - Como a comunidade, que escreve mais de 95% do código contido no Red Hat Linux, vê esta mesma empresa sendo avaliada em alguns bilhões de dólares?

Icaza - Muita gente recebeu a oportunidade de comprar as ações no seu lançamento. Mas aqueles fora dos Estados Unidos não tiveram esta chance. Na verdade, me parece que alguns ficaram um pouco ressentidos, mas o mais importante é que a Red Hat e outras empresas que sigam o mesmo caminho não percam o espírito do software livre, e não adotem práticas que cerceiem a liberdade de uso do software. Creio que com todo esse valor associado, e com a continuidade do movimento de software livre, todos só têm a ganhar.

RdL - Provavelmente no rastro desse sucesso, surgiram inúmeras outras distribuições dispostas a trilhar o mesmo caminho. Você acha que um grande número de distribuições é saudável para o software livre?

Icaza - Acho normal e creio que muitas desaparecerão do mesmo jeito que surgiram.Porém parece haver muito espaço para localizações e mesmo para edições especializadas. O órgão responsável pelas eleições no México, por exemplo, recentemente customizou uma versão para atender às suas necessidades específicas para as próximas eleições em 2000

RdL - Você acredita que com a liberação do StarOffice pela Sun, a questão de uma ferramenta office para Linux está resolvida?

Icaza - Certamente é um produto de grande qualidade, porém costumo classificar os softwares em quatro categorias, que são combinações de gratuitos ou pagos e de livre distribuição ou comerciais. O software ideal é aquele gratuito e de livre distribuição. O StarOffice, apesar da sua qualidade, e de ser gratuito, é comercial, assim como o Netscape. De forma que uma solução definitiva, sob o meu ponto de vista, ainda deverá ser disponibilizada. De nossa parte, temos trabalhado duramente no Gnumeric, uma planilha eletrônica, que em breve terá tantas funcionalidades quanto qualquer planilha comercial, com a vantagem de ser gratuita e de livre distribuição.

Miguel de - o Projeto Gnome foi criado com o objetivo de tornar o Linux amigável para qualquer tipo de usuário. Desde a sua criação muitas melhorias e avanços ocorreram. Entre eles a criação de uma base de objetos que possam ser reutilizados e interligados com as mais diversas aplicações

 

A Revista do Linux é editada pela Conectiva S/A
Todos os Direitos Reservados.

Política de Privacidade