Linux invade o Nordeste

Em terras tão quentes como a Bahia, um bichinho simpático como o pingüim, mas que vem de climas gélidos, está se aclimatando muito bem e conquista os supermercados.

Foi durante uma viagem para Portugal, em junho de 99, que Júlio Perez constatou, com surpresa, que o Linux tinha entrado com força total no segmento em que ele atua, lá do outro lado do oceano. Júlio é dono de uma software-house chamada Gestão, em Salvador, BA, especializada em automação de supermercados e delicatessens, e ao retornar ao Brasil, procurou imediatamente seus clientes para propor uma mudança em seus servidores, alegando que por um custo irrisório obteriam uma solução bem mais estável e robusta. Isso era coisa para ser conversada com os próprios donos, pois envolvia uma mudança bem radical para quem só conhecia Windows NT e Novell como soluções. Ele sentia uma compulsão em relatar o que tinha visto em suas andanças, e acreditava que os clientes poderiam achar interessante uma mudança de plataforma.

O primeiro a aceitar a proposta foi o dono da rede de supermercados Rio Branco, com suas 14 filiais. Na matriz foi instalado um servidor com os módulos comercial e financeiro, e nas lojas, em PCs comuns, o sistema de consulta e aprovação de crédito. Todos os aplicativos foram portados usando-se o FlagShip, sob a supervisão da Inso, de São Paulo, com alterações mínimas nos códigos, como por exemplo, nas rotinas de impressão. Um pequeno treinamento foi ministrado aos usuários, e em seguida começaram a operar seus aplicativos portados sem sentirem dificuldade alguma pela troca do sistema operacional. Como resultado imediato obteve-se um ganho de performance e estabilidade notados por todos. Também se constatou um consumo menor de hardware, fato notório aos administradores da rede. Com exceção de um servidor Novell, que rodava os sistemas contábil e de pessoal e que não constam dos pacotes da Gestão, toda a rede virou Linux e a experiência foi bastante gratificante. Empolgado, Júlio partiu para evangelizar o segundo cliente.

Dessa vez, a escolhida foi a empresa Atakarejo, que é muito conhecida em Salvador por sua agressividade comercial. Eles, por coincidência, precisavam expandir sua rede e estavam assutados com o valor de um orçamento que tinham recebido de um de seus fornecedores para a empreitada, e imediatamente toparam a alternativa que "caía do céu" naquele exato instante. Qualquer coisa seria interessante para tentar escapar do pesadelo do "eterno upgrade", e tinham confiança na perícia profissional do Júlio. Além do mais, não custaria nada tentar, pois o preço do Linux era insignificante, e se fosse a maravilha que Júlio sustentava, o sistema com certeza seria aprovado.

Não deu outra: arquivos DBF gigantes com 3 milhões de registros e 4Gb de tamanho tiveram em 6 meses uma única corrupção de índices, causada por fator externo, um erro de configuração no sistema. Fora a estabilidade, os sistemas ficaram mais velozes, e o único porém ficou por conta da ausência de drivers para as impressoras de cheques. Sem se incomodar, Júlio arregaçou as mangas e lançou-se a escrever rotinas de baixo nível, e logo os drivers requeridos já estavam funcionais. Os diretores da Atakarejo adoraram a experiência e lamentam não poder substituir de imeditato seu outro servidor, que conta com 45 caixas penduradas rodando um sistema SCO, pois o aplicativo principal não tem ainda uma versão Linux. Mas começaram a exigir o porte junto ao fornecedor.

A rede Delicatessen Perini, de Salvador, reconhecida pela sua excelência em todo o Brasil, cujo fundador, Pepe Faro, abocanhou o prêmio "Empreendedor do Ano" da Ernest Young, sempre é requisitada para organizar palestras em eventos do ramo supermercadista/alimentos, pela qualidade de seu atendimento e diversidade de produtos. Ela é mais uma das empresas que está agora substituindo sua rede por Linux, integrando todas as suas lojas através de LPCD’s e protocolo TCP/IP com a nova versão Linux do sistema da Gestão. Júlio não pára mais de converter as redes de seus clientes e já decidiu que não fará mais versões de seus produtos para outras plataformas. Ele diz que "fora a superioridade técnica, os fatores de desequilíbrio que o Linux introduz frente à concorrência são o preço e o código aberto, permitindo uma adequação perfeita entre os recursos financeiros de sua clientela e as exigências técnicas de suas implantações. Um pacote de preço ínfimo sem limitação de cópias convence qualquer um".

Mudando de Estado, vamos para Pernambuco, onde a LBS, uma distribuidora de Linux traz mais dois de seus cases de sucesso: as empresas Cerpe e Admed. A Cerpe-Laboratório de Análises Clínicas de Pernambuco está implantando o sistema Linux nas suas 15 unidades, e em seis delas já está em pleno funcionamento. Completada a implantação, serão 15 servidores operando 150 máquinas 486, utilizadas diretamente na recepção de clientes. "Trocamos Novell por Linux por dois motivos. Primeiro porque queriamos que houvesse comunicação entre nossas unidades e segundo por causa do baixo custo do sistema", conta-nos Geraldo Lopes, analista de sistemas do Cerpe.

Já na Admed, uma das maiores empresas de administração de planos de saúde do Nordeste, foi contratada um consultoria que apresentou o Linux como a melhor alternativa para rodar seu sistema baseado em Oracle. "Diversas pesquisas já comprovaram que o banco de dados Oracle apresenta performance muito superior na plataforma Linux do que nos demais sistemas operacionais", explica Maruen Said, diretor comercial da LBS, responsável pela implantação.

O requisito fundamental para empresas que atuam na área médica é que elas devam possuir sistemas em alta disponibilidade. "Com o Linux, nunca tivemos uma parada em nosso banco de dados, e desde sua instalação, conseguimos mantê-lo ativo 24 horas por dia", diz Carlos Pires, gerente de informática da Admed.