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Linux em estado puro
A simplicidade do site do projeto Debian GNU/Linux (www.debian.org) não dá ao novo visitante a correta dimensão do que se passa por trás das cortinas de um dos maiores projetos de Software Livre da atualidade. Esta é apenas a primeira impressão, pois trata-se da maior distribuição de Software Livre, não apenas de GNU/Linux.

O projeto Debian GNU/Linux foi fundado em 1993 por Ian Murdock e foi patrocinado pela Free Software Foundation (a fundação criada por Richard Stallman para promover o desenvolvimento do sistema GNU e do Software Livre em geral) de 1994 até 1995. O nome Debian vem diretamente do nome de seu fundador Ian e de sua esposa Debra, e ao menos aqui no Brasil a pronúncia mais usual é "Débian".

O projeto Debian é formado por um grupo de voluntários espalhados ao redor do mundo que tem o objetivo de criar uma distribuição completa de software livre. Software com restrições de cópia, uso, modificação ou redistribuição não pode fazer parte da distribuição. Na versão mais utilizada do Debian temos um sistema completo baseado em software livre usando o kernel Linux. Como grande parte do software utilizado foi feito pelo projeto GNU e tendo o próprio Debian nascido sob o amparo da Free Software Foundation, o sistema é chamado Debian GNU/Linux.

Há no entanto desenvolvedores interessados em disponibilizar o sistema Debian GNU com outros kernels, como o Debian GNU/Hurd, este já disponível, ou mesmo o kernel do Free BSD.

A distribuição Debian GNU/Linux

A distribuição Debian é uma das maiores distribuições de software livre, com quase quatro mil pacotes de software comprovadamente livre. A versão atual (potato) é organizada em três CDs, sendo a distribuição básica tão abundante que um mecanismo de instalação multi-cd foi desenvolvido especialmente para ela.

Durante a organização do Debian foi realizado um "concurso de popularidade" de pacotes. Através de um pacote especial os usuários podiam optar por mandar para o projeto listagens de tudo o que tinham instalado em seus computadores. Esses relatórios foram sumarizados e por fim teve-se uma idéia bem precisa do que os usuários mais utilizavam. Os pacotes mais populares foram colocados no primeiro CD de forma que apenas ele é suficiente para instalar um sistema GNU/Linux completo e satisfatório para a maior parte dos usuários.

A distribuição Debian também é a que mais se preocupa com portabilidade, tendendo a reconhecer o maior número de plataformas possível. O Debian 2.2 está disponível para seis arquiteturas diferentes: Intel x86, PowerPC, Motorola 680x0, Sparc, Alpha e ARM. Nas próximas versões poderemos ter Debian GNU/Linux para PA/Risc (Estações HP), havendo também esforços para portá-lo e adequá-lo para o uso em computadores de mão diversos, inclusive aqueles que utilizam o chipset SuperH da Hitachi.

Em qualquer destas plataformas tudo é exatamente igual, o procedimento de instalação, os programas, os defaults, tudo. Você pode ter uma rede heterogênea de hardware, mas gerenciada da mesma forma em qualquer das arquiteturas aceitas.

E falando em gerenciamento, o Debian GNU/Linux foi pioneiro em usar a Internet para distribuição automatizada de software e de correções de bugs e segurança, através da poderosa ferramenta apt, acrônimo que significa "A Package Tool", ou simplesmente "um gerenciador de pacotes". Modéstia. O apt deveria, em minha opinião, se chamar "O Gerenciador de Pacotes", tamanho os benefícios que traz para o usuário. O mais invejado e copiado por outras distribuições é a capacidade de buscar um pacote via FTP, HTTP, em um disco local, ou mesmo em mídia removível transparentemente, para instalação automática no sistema, além da capacidade de interromper o download de um (ou mais) pacotes e continuar exatamente do ponto em que parou.

Esse sistema traz uma vantagem imediata: os updates de segurança. Assim que uma correção de segurança é liberada para a distribuição Debian, basta a seqüência de comandos: apt-get update; apt-get upgrade, para que elas venham diretamente do site do projeto para seu computador.

O suporte para dependências entre pacotes é excelente, praticamente eliminando problemas causados por instalação de pacotes com dependências quebradas. O gerenciamento de pacotes não admite que um pacote que depende de outro seja instalado sem a presença prévia de seu pré-requisito e muito menos que um pacote que é pré-requisito de outro seja removido, garantindo assim a consistência.

Os pacotes são extensivamente testados quanto às suas dependências durante o desenvolvimento do sistema, havendo um minucioso controle de qualidade por parte dos integrantes do time.

Não há a necessidade de se interromper o serviço da máquina para trocar a versão do sistema. Os usuários podem nem perceber e de uma hora para outra estarão usando uma nova versão de um programa ou serviço. Isso é garantido pela maneira como os gerenciadores apt e dpkg ordenam os pacotes na hora da instalação e pela capacidade dos pacotes de pararem a versão anterior que esteja porventura sendo executada (um servidor Web, por exemplo) instalar uma nova, mantendo a configuração anterior, e por fim iniciar a versão nova do serviço.

O grau de sofisticação e de qualidade do empacotamento chega ao requinte de um pacote converter um arquivo de configuração para um novo formato durante a instalação, caso este tenha mudado na nova versão do programa. Este foi o caso com o servidor de DNS "bind" num passado relativamente próximo.

Upgrades de sistemas

Debian são feitos para resultarem no menor tempo de interrupção de serviço e com a maior confiabilidade possível. Quando uma nova versão da distribuição está disponível no site do Debian, os comandos apt-get update (atualiza a lista de pacotes disponíveis) e apt-get dist-upgrade (upgrade de distribuição) se encarregam de baixar todos os pacotes necessários. Ao final do processo, tudo, menos o kernel, terá sido atualizado.

O kernel é a única parte do sistema que não pode ser reiniciada, ele depende da reinicialização da máquina para que seja carregado e passe a controlar o sistema. Isso é uma característica de praticamente todos os kernels de sistemas operacionais, já que eles são carregados durante o boot. Existem estudos cujo objetivo é tornar possível que um kernel Linux possa ser trocado sem que haja o reboot, mas isso não cabe neste artigo.

A esta altura você deve estar pensando que eu não vá comentar sobre os pontos em que, acredita-se, a instalação Debian não atenda satisfatoriamente. É comum ouvirmos por exemplo: "Meu amigo me disse que ouviu o cunhado de sua prima dizer que o Debian é uma distribuição com instalação difícil e antiquada, nem é gráfica!" Bem, o cunhado da prima do seu amigo está muito enganado. A instalação do Debian não é difícil e muito menos antiquada, ela procura não tomar decisões pelo usuário (em certos pontos as decisões automáticas ou presunções limitam as possibilidades, potencialmente causando danos) e algumas dessas questões podem causar estranheza aos usuários leigos.

Realmente, ele ainda não vem com a opção de uma instalação gráfica, mas isso não é uma deficiência e sim uma característica de design.

A instalação em modo texto decorre do fato de que o Debian pretende ser uma distribuição universal, atendendo ao maior número possível de usuários e arquiteturas. Graças à grande diversidade de hardware, principalmente com arquiteturas não Intel, não é possível escrever um mesmo programa instalador gráfico que garanta rodar sem grandes alterações em todas as plataformas reconhecidas pelo Debian.

Tal instalador ainda não é prático, e existem alguns casos em que o computador não possui display gráfico, ou sequer possui display. Esse tipo de hardware é em geral montado em racks, e tem uma porta console serial que deve ser ligada a um dispositivo auxiliar, como um laptop ou emulador de terminal, para serem instalados. O Debian atende também a esta necessidade, e tem as mesmas características em qualquer arquitetura. Isso não seria possível com uma instalação puramente gráfica.

Um outro aspecto técnico das instalações gráficas é que em geral elas partem do pressuposto de que você tem uma unidade de CD-ROM no computador, pois os programas de instalação gráfica em geral não cabem em imagens de disquete comuns juntamente com todas as bibliotecas necessárias para seu funcionamento. Instalações gráficas normalmente inicializam-se por CD ou por um disquete, e em seguida carregam todos os dados necessários do CD. Para garantir a universalidade da instalação não se pode supor que todos os computadores que irão instalar o sistema possuam unidade de CD — de cara isso excluiria por exemplo, os computadores de mão.

A necessidade de memória RAM aumenta consideravelmente em sistemas que fazem uso da instalação gráfica. Apesar de agradáveis visualmente, as instalações gráficas fazem oposição a uma das grandes vantagens do GNU/Linux que é dar longevidade ao hardware que seria considerado obsoleto caso fosse utilizado com outros sistemas operacionais. Elas dificultam, ou mesmo tornam impossível, a instalação em um hardware mais antigo.

Isso tudo não significa que o projeto Debian seja contrário às instalações gráficas e que não haja estudos intensivos visando viabilizá-las, entretanto há um estudo consciente de suas implicações e a intenção de utilizá-las de maneira geral, sem o comprometimento da portabilidade.

Existem distribuições derivadas do Debian que implementam instalações gráficas para a arquitetura Intel. Se você é do tipo que acha a instalação gráfica indispensável, você tem algumas alternativas, como o Corel Linux e o Stormix. Infelizmente, nem tudo que acompanha esses sistemas é de fato software livre, como no Debian.

Uma distribuição, de seu nascimento ao lançamento

A distribuição Debian passa por quatro estágios antes de ser considerada pronta para o lançamento e uso do público.

A primeira fase chamamos de "unstable". O nome "unstable", ou instável, decorre do fato de que esta distribuição está sendo continuamente modificada, ou seja, sua forma está instável. Esta é a distribuição em que os desenvolvedores trabalham visando o próximo release. Os usuários mais empreendedores e ousados podem usar uma versão "unstable" da distribuição, mas por ela ainda estar sendo trabalhada, atualizações em bibliotecas básicas do sistema podem fazer com que alguns pacotes deixem de funcionar momentaneamente até serem atualizados. Enfim, não aconselhamos o uso de distribuições "unstable" em máquinas de produção, a não ser que você esteja trabalhando para o lançamento da próxima versão do sistema operacional Debian GNU/Linux.

Após algum tempo de desenvolvimento chega o momento em que a distribuição está em um estágio avançado e razoavelmente estável (em todos os sentidos). Nesse momento a distribuição passa para o segundo estágio, chamado freeze ou congelamento. A distribuição "congelada" (frozen) não pode mais receber novas características ou pacotes. Apenas bugfixes são permitidos. Nesta fase, os desenvolvedores se concentram em retirar todos os bugs de que se tem conhecimento através de nosso sistema de controle de bugs. Eventualmente uma data final para o período de "freeze" é estipulada, data na qual todos os pacotes com bugs devem ser consertados. Pacotes que não sejam importantes e que tenham bugs conhecidos e não reparados após este período serão retirados da distribuição oficial.

Finalmente terminado o período do "freeze", a distribuição passa por um período de testes, em que são gerados e testados os CDs oficiais.

Ao final dos períodos de teste uma nova versão da distribuição Debian GNU/Linux é lançada e se inicia o trabalho em uma nova distribuição "unstable". É interessante notar que a qualidade do sistema e de seus pacotes é o que norteia os lançamentos, e não pressões de mercado ou prazos estipulados, como ocorre dentro de empresas que comercializam suas distribuições. Isso, aliado ao intrincado processo de controle de bugs, garante e sustenta a merecida reputação de qualidade e segurança das distribuições Debian GNU/Linux.

Suporte

O sistema Debian GNU/Linux conta com um rico suporte via Internet em várias línguas; através das listas de discussão, problemas podem ser resolvidos pelos próprios usuários do Debian. Para o português, temos a lista debian-user-portuguese, a lista para os usuários de língua portuguesa. Além dela temos a lista para discussões em língua inglesa, debian-user, e diversas outras listas divididas por área específica, como arquiteturas... temos a debian-powerpc, a debian-alpha e outras. Todos os arquivos das listas estão disponíveis para consulta.

Além das listas de discussão temos o suporte por irc, na rede openprojects.net. Temos os canais #debian-br que conta com usuários brasileiros de Debian dispostos a bater um bom papo sobre sua distribuição preferida e ajudar a novos usuários com suas dúvidas de instalação, e, para os versados em inglês, o canal #debian, que está sempre abarrotado de usuários e desenvolvedores que poderão ajudá-lo on-line com suas dúvidas praticamente 24 horas por dia.

O Bug Tracking System é uma fonte de documentação de bugs importantíssima. Caso você ache que o seu problema é causado por um bug em um dos pacotes do Debian você pode consultá-lo para verificar se alguém já avisou ao projeto sobre a existência dele, e se o desenvolvedor já providenciou uma correção, ou ainda você pode ajudar na identificação e correção do problema contribuindo com uma notificação de bug.

O projeto de documentação em português (DDP-BR/Debian-br)

O projeto de documentação em português do Debian ou DDP-BR é um grupo de voluntários trabalhando para fornecer o máximo possível de documentação do sistema Debian GNU/Linux em português, traduzindo o site do projeto Debian, as mensagens das ferramentas de administração do Debian, seus manuais de instalação e criando dentro do Debian a estrutura necessária para a adaptação da distribuição ao português do Brasil.

O grupo conta atualmente com dois desenvolvedores oficiais do projeto Debian e outros três inscritos no processo de ingresso; esperamos aumentar ainda mais este número de forma a poder completar a tarefa de tornar o Debian um sistema completamente adequado à língua portuguesa.

Nosso site oficial fica em debian-br.sourceforge.net, e nós nos reunimos no canal #debian-br do irc.openprojects.net. Convidamos todos os interessados a ingressarem na lista de discussão debian-user-portuguese, em que discutimos os rumos do projeto e as tarefas a serem atacadas. Hoje já há uma grande variedade de informações em português sobre o Debian, mas ainda é pouco, e todos são bem-vindos em nosso projeto.

Para saber mais

Projeto Debian GNU/Linux: www.debian.org
Debian em diferentes arquiteturas:www.debian.org/ports/
Updates de segurança do Debian: www.debian.org/security/
Corel Linux OS: linux.corel.com/
Storm Linux OS: www.stormix.com/
Informações sobre suporte: www.debian.org/support
Listas de discussão debian: www.debian.org/MailingLists
O sistema de controle de bugs: bugs.debian.org
Projeto DDP-BR: debian-br.sourceforge.net
Dedicatória a Joel "Espy" Klecker: ftp://ftp.debian.org/debian/doc/dedication-2.2.txt

 

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