Menino do Rio
Com menos de 18 anos, Allan "Spike" Denot idealizou sua própria distribuição e atualmente coordena o desenvolvimento do Console Linux, a mais nova distro Linux brasileira
Há um ano um jovem do Rio de Janeiro teve a idéia de criar sua própria distribuição Linux. Hoje, aquele sonho se tornou possível e desponta como mais uma distro brasileira disposta a conquistar o cada vez mais acirrado mercado de informática.
O que pode ser um sonho de milhares de linuxers agora é realidade para Allan "Spike" Denot, estudante de engenharia da PUC-Rio, de 18 anos, e criador da mais recente distribuição Linux brasileira, a Console Linux. Allan Denot é filho de Luiz Carlos Denot, proprietário de um dos primeiros centros de treinamento em Linux no Brasil, a Visual Book.
O primeiro contato que Allan teve com o computador foi por meio de um TK 3000 quando tinha 12 anos. Ele sempre usou a distribuição RedHat, a mesma adotada em treinamentos na empresa de seu pai. "Utilizo muito o KDE, o Konqueror para navegar e o XMMS para ouvir MP3", complementa.
Spike recebeu treinamento na Visual Book, se interessou pelo sistema operacional do pingüim e começou a participar de consultorias. Não demorou muito para que resolvesse criar uma distribuição quando constatou que havia condições técnicas e operacionais para isso. "Com toda a documentação e conhecimento de pessoas que o centro de treinamento me proporcionou, era possível criar uma distribuição própria", diz.
O processo de criação do Console Linux envolveu uma equipe de seis pessoas. As tarefas foram divididas entre pesquisa, desenvolvimento e documentação. Atualmente quatro membros da equipe trabalham em casa e o grupo se reúne de uma a duas vezes por semana para articular as ações mais imediatas para os projetos que estão em andamento.
O projeto do Console originou-se de um estudo detalhado da distribuição RedHat. "Fizemos um levantamento do que poderia ser modificado tanto para adaptá-la ao português do Brasil como para melhorá-la", salienta Spike. O projeto estava previsto para terminar em novembro de 2000, mas só foi concluído em fevereiro deste ano devido a problemas com a utilização do kernel 2.4 e pela desistência de algumas pessoas da equipe inicial. Espécie de "faz-tudo" na Console, Allan liderou a equipe no sentido de nacionalizá-la, traduzindo textos e recompilando alguns RPMs. Ele gosta de desenvolver aplicativos principalmente em ambientes gráficos e Web (PHP). E lembra que a maior dificuldade para quem trabalha com Linux é desenvolver novas soluções e mantê-lo atualizado.
Para popularizar o Linux no Brasil, Allan acredita que é preciso, primeiro, detectar os hardwares existentes no mercado e colocar o Linux 100% compatível com todos eles.
Em segundo, é necessário facilitar o uso aos usuários leigos: um desktop simples e estável permitiria que uma pessoa sem conhecimentos avançados de informática pudesse operar
o Linux, sem a necessidade
de freqüentar cursos ou ler manuais.
Quanto à origem do seu apelido (Spike), Allan explica que se originou da prática de capoeira nas horas vagas. "Como ali todos recebem um apelido, o meu era Espiga e no dia em que fui chamado assim, entrei no tradutor do Altavista (babelfish.altavista.com) para traduzir Espiga", explica.
Em futuro próximo, ele
pretende se formar em engenharia e dar a sua contribuição para a comunidade Linux. E defende a união entre todos os linuxers: "No lançamento do Console, muitos acharam errado eu ter baseado a distribuição em RedHat. Mas pergunto: como o Linux pode vencer os concorrentes, se não há união dentro da comunidade?".
Para Spike, o mais importante é que a comunidade se una para desenvolver e tornar o Linux mais acessível a qualquer usuário. "Todas as distribuições são boas, dependendo da tarefa a ser desempenhada", finaliza.