Kurumin 1.0
Uma distribuição nacional que você pode usar sem instalar nada no computador
Tendo analisado recentemente para a RdL uma distribuição Linux baseada em CD originária da Rússia (o CoolLinuxCD, na edição 35), fiquei feliz de poucos meses depois poder realizar praticamente a mesma tarefa, mas agora sobre o trabalho de um brasileiro, o Carlos E. Morimoto (responsável por um dos sites mais ricos em conteúdo original sobre Linux na web brasileira, o guiadohardware.net): trata-se do Kurumin, trabalho derivado da distribuição alemã Knoppix.
As distribuições baseadas em CD formam uma categoria especial de sistemas Linux, capazes de funcionar dispensando (parcial ou totalmente) alterações no conteúdo dos discos rígidos. Em termos leigos, isto significa que você pode inserir o CD de Linux, ligar o micro e usar o sistema à vontade. Ao desligar a máquina e remover o CD, o computador permanece intacto, sem alterações nos dados ou no sistema operacional que já estavam previamente gravados nele. Ou você pode utilizar o Linux até mesmo em computadores que não disponham de disco rígido.
Algumas destas distribuições são especializadas, dedicadas a uma função específica: recuperação de sistemas, backups, segurança de rede, multimídia e outras. Outras, como o próprio Kurumin, servem como um ambiente desktop genérico, ou seja, você as usa para ter acesso a ferramentas de usuário final (como ler o seu e-mail, editar um texto, ouvir música, ver filmes ou navegar na Internet) no Linux, em qualquer lugar: em um laboratório da faculdade, em um computador público, na casa de amigos, etc., sem afetar nem alterar os dados e o sistema operacional originais destes computadores. Claro que essa facilidade de acesso tem um custo: como o sistema trabalha baseado em um CD, a flexibilidade (exemplo: upgrades e instalações de novos pacotes) fica limitada, e o desempenho sofre o impacto da velocidade do seu acionador de CD.
O Kurumin vai mais longe que a maioria das distribuições baseadas em CD, pois ele pode ser instalado no disco rígido, se você quiser. E aí ele vira algo próximo a uma distribuição tradicional, com ferramentas típicas do Debian GNU/Linux (inclusive o apt para gerenciamento de pacotes), e sem maiores restrições a alterações de configuração.
Características
O Kurumin Linux é baseado no Knoppix, que, por sua vez, é baseado no Debian. Nos 185MB do CD da versão 1.0 você vai encontrar muito software útil e atualizado, incluindo o Acrobat Reader, o editor HTML BlueFish, o visualizador multimídia MPlayer, o GAIM (cliente ICQ, MSN e AIM), o gFTP, o Kmail, os browsers Konqueror, Phoenix (com suporte a Flash) e links, o gravador de CDs k3B, o X-Chat, o XMMS e muito mais.
O ambiente gráfico padrão é o KDE 3, e você é levado a ele automaticamente (dispensando até mesmo login e senha) ao final do boot. Testei o sistema em dois computadores relativamente recentes, um montado por mim mesmo e outro de griffe, e ambos deram o boot corretamente, exibindo uma bela configuração default do KDE na resolução de 1024x768 pixels, sem necessidade de nenhuma configuração manual. A mesma automação foi encontrada no reconhecimento de todos os demais periféricos testados, incluindo placas de rede PCI, gravador de CD IDE, monitores LCD, discos rígidos, mouse, teclado ABNT e placas de som (inclusive onboard) - nenhum menu, nenhuma pergunta, o sistema simplesmente localizou tudo sozinho e disponibilizou para uso.
O KDE está todo em português do Brasil, assim como boa parte das mensagens da inicialização (em modo texto). Ao final da inicialização do KDE, o sistema exibe automaticamente no navegador um texto introdutório, com dicas de uso e informações básicas. O e-book Entendendo e Dominando o Linux, do mesmo autor do Kurumin, também vem gravado no CD e contém um capítulo dedicado ao Knoppix, cujas informações podem ser muito úteis para compreender os detalhes desta distribuição.
O visual é caprichado, com menus e terminais semitransparentes, português correto, imagens bonitas, poucos ícones no desktop e sem botões desnecessários no Kicker (a popular barra de tarefas). Além da Lixeira, os únicos ícones são os referentes aos dispositivos, tais como CD-ROM e outras unidades de disco. Os botões da barra de tarefas dão acesso ao diretório Home do usuário e ao centro de controle do KDE, além de ativar diversos aplicativos, incluindo o navegador web, o cliente de e-mail, o visualizador de documentos PDF, um utilitário de FTP e mais.
O que não está na barra de tarefas pode ser facilmente encontrado nos menus, bem organizados e fáceis de compreender. Além dos visualizadores de arquivos multimídia, clientes de rede, editores e outras ferramentas mais sérias, encontramos até alguns jogos simples, mas no interesse de satisfazer usuários migrando de outros sistemas operacionais, talvez seja interessante acrescentar duas de suas funcionalidades mais importantes: paciência e campo minado.
Configurar o sistema é bastante simples. Além do painel de controle do KDE, há um menu de configuração do sistema com opções que permitem acertar a sintonia fina de seu hardware e de sua rede, incluindo o acesso à Internet via ADSL (PPPoE), ISDN, Cable modem, Rede local, PPP e até Wireless. Não tive dificuldade em configurar o acesso a à Internet via rede local, e em poucos segundos estava navegando, checando meu e-mail, ouvindo MP3 e batendo papo no IRC enquanto tomava notas para este artigo. E a configuração (inclusive a de rede) pode ser gravada em um disquete para poder ser reutilizada nas próximas sessões.
Claro que há espaço para melhorias (sempre há), mas eles estão apenas nos detalhes menores - o essencial nesta distribuição já está muito bem feito. Os principais pontos negativos são a perda de desempenho devido ao acesso contínuo à unidade de CD, e a impossibilidade de utilizar esta unidade para outras finalidades durante o uso do Kurumin. Entretanto, ao contrário de outras distribuições do mesmo estilo, o Kurumin pode resolver ambos os problemas, pois oferece as possibilidades de instalação no disco rígido (exigindo uma partição exclusiva, mas permitindo alterações no sistema) e também de execução a partir de uma imagem do CD gravada em uma partição Windows (não exige particionamento, não altera a configuração do Windows, mas não permite alterações no sistema - é como um CD-ROM virtual). As instruções estão incluídas no próprio sistema, e podem ser vistas também no site oficial.
Essa facilidade tem muitos usos - poder finalmente usar o Linux naquele computador cujo administrador não permite a instalação de outros sistemas operacionais, ou num computador ao qual você terá acesso durante apenas 45 minutos. Configurar um laboratório para aulas ou demonstrações em instantes, pois o processo se resume a inserir os CDs e dar boot. Demonstrar o Linux para usuários temerosos de alterar seus micros. Testar equipamentos e periféricos. O limite passa a ser a sua imaginação, e você fica com menos desculpas para utilizar outros sistemas operacionais quando não estiver no seu próprio computador.
Para saber mais:
Site oficial: guiadohardware.net/linux/kurumin/
Augusto Campos - brain@matrix.com.br