O Trabalho em Comunidade e a Simplicidade
O trabalho em comunidade, seguindo regras simples e objetivos claros, pode transformar uma sociedade. Dando-lhe tempo, rumo e incentivo, a comunidade é capaz de feitos impossíveis para uma iniciativa privada.
Muitos não entendem como o desenvolvimento do Linux e de outros sistemas baseados em software livre acontece. A primeira impressão é que não existe organização e a bagunça é generalizada. A verdade é exatamente outra, e o Linux está cada vez mais ganhando espaço e se firmando como um sistema robusto, confiável e de alto valor agregado.
Esta organização é derivada da força de milhares de indivíduos fazendo um trabalho em conjunto. De uma maneira orgânica, como a própria evolução, a melhor forma de trabalhar vai despontando. Através de mudanças sucessivas, os processos são reavaliados e melhorados, enquanto o trabalho está sendo feito.
Qual seria o grau de complexidade em organizar centenas de pessoas que nunca se viram antes para executar uma tarefa aleatória, com um tempo bem definido para começar e outro para acabar? Pois é isto que acontece em um teatro ou show quando o público aplaude. Centenas de pessoas trabalham em conjunto fazendo um agradecimento, sob a forma de aplausos, ao apresentador do espetáculo.
Em jogos de futebol é comum ver-se milhares de pessoas abanando uma espécie de pompom, feito de papel, quando da hora da comemoração de um gol. Você já chegou a pensar como pode se tornar complexo distribuir mais de 35.000 pompons, um para cada torcedor que entrar no estádio? É lógico pensar que uma estrutura de pelo menos uma dezena de pessoas seria necessária para distribuir e gerenciar este tipo de tarefa. Através da simplicidade e do trabalho em comunidade, uma maneira muito mais efetiva foi desenvolvida.
Dezenas de sacos plásticos contendo milhares de pompons são levados para o interior do estádio antes do jogo começar. Na hora apropriada, seja em um gol ou em um momento importante da partida, os sacos começam a ser jogados para várias direções. Estes são rasgados pelos torcedores liberando os pompons. Nessa hora, alguns torcedores já estão agitando os adereços na mão e outros começam a pegar os que caíram no chão e novamente os jogam para os lados. Enquanto uns são agitados, outros são jogados de um lado para outro e vão se espalhando pelo estádio, até termos um pompom na mão de cada torcedor. O resultado é um fantástico show visual proporcionado pelas milhares de pessoas no estádio trabalhando em conjunto. Uma tarefa que poderia ser difícil de gerenciar acabou se tornando simples e eficiente, usando a própria comunidade como motor da ação.
Grande parte do sucesso do desenvolvimento do Linux é gerado pela disponibilização de seu código-fonte. Qualquer pessoa que tenha um computador e um editor de textos pode ter acesso ao sistema e fazer-lhe alterações. Esta simplicidade, adicionada a dezenas de engenheiros que recebem melhorias e correções das mais remotas partes do planeta, forma uma estrutura forte e muito bem organizada, trazendo ao sistema inovações e melhorias, dia após dia.
A próxima vez que iniciar um projeto, pense em como fazê-lo da maneira mais simples possível e, de preferência, despertando o interesse da comunidade. Quem sabe o embrião de um novo Linux esteja nascendo.
Boa Leitura,
Rodrigo Stulzer