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Linux e Networking: a próxima revolução

Revolução pode ser definida como uma mudança fundamental e repentina. Nos últimos anos temos visto resultados de algumas delas, mas é sempre difícil prever o impacto da próxima. Elas normalmente trazem uma onda de mudanças e inovações.

Esse artigo examina o mercado de redes e explora as possíveis conseqüências do encontro de duas revoluções anteriores que hoje se cruzam e se amplificam na arena de networking.

Estamos particularmente interessados em saber como essas mudanças afetarão as soluções disponíveis ao usuário e na transferência de controle (e lucros) do provedor para o integrador de tecnologia e usuário final.

Essa revolução está permitindo o surgimento de uma nova geração de equipamentos, mais poderosa e funcional do que os roteadores tradicionais.

Um dos nossos argumentos é que o uso de Linux em networking terá impacto maior que o já percebido no mercado de servidores de uso geral.

Sim, a revolução está começando agora.

Host-Based Networking e Network Appliances

Durante as décadas de 70 e 80, redes de computadores eram quase sempre host-based (baseados em servidores), com mainframes ou sistemas de médio porte concentrando toda a capacidade de processamento. Usuários acessavam o sistema usando terminais burros.

No início dos anos 90, redes de computadores convergiram para um grupo mais restrito de protocolos padrão e passaram a englobar também os computadores pessoais. Redes locais se tornaram presença obrigatória em qualquer escritório.

Enquanto serviços de rede passaram a ser distribuídos nos servidores da rede, as funções de conectividade migraram dos servidores para equipamento especializado.

Hardware especializado permitiu que funções de rede fossem desempenhadas de forma mais barata, eficiente e confiável. Exemplos de hardware especializado em conectividade incluem roteadores, switches e servidores de acesso.

Conectividade (suportada pelos roteadores) e serviços de rede (suportados pelos servidores) são vistos como entidades separadas. É assim que a maioria das pessoas entende redes de computadores nos dias de hoje.

A revolução do PC e da Internet

O PC se tornou comum no final da década de 80, estendendo o acesso à computação a todos os ambientes de trabalho. Competição acirrada entre os fabricantes e a consolidação de padrões de hardware, software e protocolos de comunicação permitiram que o computador se tornasse mais acessível.

Alguns anos atrás, o uso da Internet se tornou popular e gerou demanda explosiva por computadores para uso doméstico. Os volumes gerados pelo mercado de consumo acentuaram ainda mais a queda de preço.

Em 1995, uma revista norte-americana observava: "Nessa primavera, o preço de mercado para um Pentium 75MHz com 8MB de memória é de 1.999 dólares, incluindo 700MB de espaço em disco e monitor de video".

Em janeiro de 1997, a mesma publicação notava: "o que se consegue comprar por 999 dólares? Provavelmente, um Pentium 120-MHz ou 133-MHz, incluindo o monitor de video".

Nesse inicio de década, os preços de PCs para o mercado de consumo caíram ainda mais. Pode-se comprar um computador completo, com processador de 600MHz, multimedia e 128MB de memória por 700 dólares. Isso é aproximadamente o mesmo que usuários pagam por um roteador de acesso com especificações de hardware muito mais modestas.

Como servidores e computadores de uso doméstico compartilham vários componentes, a queda acentuada no custo pôde também ser observada em servidores para aplicações profissionais.

A vantagem de custo que hardware especializado tinha em relação a servidores de uso geral está desaparecendo. Componentes e módulos de hardware padrão estão se tornando baratos a ponto de inviabilizar o projeto de hardware proprietário.

Essa tendência está chegando a um ponto em que, com outro catalisador, é capaz de gerar uma mudança de paradigma.

A Revolução do Software Livre

O software livre (ou Open Source Software) é distribuído sem restrições de instalação e uso e é sempre fornecido acompanhado do código fonte. Não é necessariamente gratuito, mas o usuário é livre para modificá-lo conforme suas necessidades específicas. Freqüentemente essas necessidades são compartilhadas com outros usuários e as modificações beneficiam a todos e retornam à comunidade. Esforços são direcionados à inovação, não à reinvenção da roda.

De acordo com pesquisa recente do IDC (Agosto/2000), Linux é o segundo sistema operacional para servidores em número de novas licenças, com 24% do mercado (todas as plataformas Windows reunidas têm 36%). Linux tem sido usado principalmente em aplicações relacionadas à Internet, mas o seu uso vem crescendo rapidamente também em aplicações corporativas.

Com raízes na Internet, o Linux desenvolveu suporte a networking muito forte e melhor que outros sistemas operacionais. Por ser software livre e por receber contribuições de uma base enorme de desenvolvedores ao redor do mundo, é mais flexível e está evoluindo muito rapidamente.

Não há dúvidas de que Linux está mudando o mercado de servidores (24% do mercado é um número significativo, independente de opinião). Ainda não sabemos a extensão do impacto de Linux no mercado de desktops, mas temos certeza de que Linux terá um impacto revolucionário no mercado de redes.

Quando duas revoluções se encontram

Nesse artigo, já examinamos o processo através do qual roteadores e outras formas de hardware especializado substituíram servidores de uso geral em aplicações de rede com vantagens em custo, eficiência e funcionalidade.

A popularização do PC causou queda no custo de hardware padrão em níveis que não podem ser igualados por fabricantes de hardware proprietário.

O Linux tem funcionalidade e segurança comparável a sistemas operacionais específicos para internetworking.

Combinando hardware padrão com software livre, é possível se construir uma poderosa plataforma para networking. Mas uma "plataforma" não é suficiente. O usuário quer produtos que possam resolver problemas da vida real com custo baixo e confiabilidade.

Nesse estágio inicial da revolução, até que integradores de tecnologia apareçam, já vemos usuários mais técnicos fazendo a integração por si próprios. Eles instalam placas de comunicação em um servidor Linux e montam soluções de conectividade.

Um exemplo são provedores de Internet que, em vez de adquirir um servidor de acesso para oferecer acesso discado à Internet, instalam placas multisseriais em servidores Linux e conectam bancos de modems para implementar a mesma função.

Integradores de tecnologia são os agentes com a capacidade de combinar tecnologias e fornecer equipamento integrado para o mercado de uso geral. Com a arquitetura aberta, eles podem fazê-lo de forma competitiva sem precisar gerar grandes volumes para entrar no mercado.

Mas esse novo equipamento de rede não é simplesmente um substituto mais barato para o roteador tradicional. Ele pode expandir em funcionalidade. Da mesma forma que roteadores foram um dia, o novo network appliance é melhor adaptado para a realidade da rede do futuro.

Podemos notar o surgimento dos primeiros integradores de tecnologia nesse novo perfil. Um produto como o Cobalt Qube, que é um Internet gateway para pequenas e médias empresas, pode incluir uma placa roteadora como o Cyclades-PC300 para conexão com a WAN. A solução é completa, incluindo todos os serviços de Internet e conectividade, é fácil de instalar e gerenciar e tem custo similar ao do roteador de acesso que ela substitui.

O novo network appliance substitui roteadores ou servidores de acesso e, mais do que isso, adiciona novos serviços de rede. Ele pode ser facilmente modificado de acordo com cada aplicação. É uma nova classe de produtos.

Onde está o dinheiro?

Vamos olhar novamente a pesquisa do IDC (www.idc.com/itforecaster/itf20000808.stm).

O tamanho do mercado de sistemas operacionais em 1999 foi de aproximadamente 17 bilhões de dólares. O Windows gerou aproximadamente 8 bilhões de dólares em receitas, enquanto o Linux gerou menos de 100 milhões. Se considermos que Linux já detém uma parcela substancial do mercado, esses números são surpreendentes.

O valor de uma solução independe do sistema operacional que está sendo usado.

Então, deveriamos esperar receitas proporcionais à participação no mercado.

Se a Microsoft está gerando US$8B de receitas em Windows, onde está o dinheiro em Linux? Hoje essa diferença se traduz quase diretamente na redução do custo da solução para o usuário, que está assumindo o risco e dificuldade de integrar soluções com o novo sistema operacional. Esse dinheiro está procurando por alguém disposto a integrar as soluções e adicionar o valor que o mercado precisa.

A partir dos números acima podemos imaginar o impacto e a mudança na relação de poder e valor que Linux está causando. Mas nosso foco é networking, não servidores de uso geral.

De acordo com a última pesquisa da Data Communications, o tamanho do mercado de equipamento de redes foi de 120 bilhões de dólares em 1999. Note que o mercado é uma ordem de grandeza maior que o mercado de sistemas operacionais. Esse volume de dinheiro está nas mãos dos fabricantes de equipamento, donos da tecnologia de software e hardware em uso.

Quando uma arquitetura aberta substitui caixas proprietárias, muito dinheiro muda de mãos, pois não existe mais o ágio da exclusividade. No mercado de servidores isso aconteceu com hardware no passado e está acontecendo com software agora. No mercado de redes, isso está acontecendo em hardware e software ao mesmo tempo, o que amplia o impacto.

Agora temos uma idéia do tamanho da mudança e podemos entender por que dizemos que estamos diante de uma revolução.

O que isso significa para mim?

As mudanças que estamos descrevendo têm outras conseqüências importantes.

Hoje os provedores de tecnologia de rede (normalmente os grandes fabricantes de equipamento) têm mercado cativo. Nós dependemos da tecnologia de rede embutida nos produtos, somos forçados a separar conectividade e serviços de rede e nos acostumamos a usar soluções que, muitas vezes, são limitadas e difíceis de gerenciar.

Na nova realidade, integradores de tecnologia serão capazes de incorporar funcionalidade adicional ao equipamento de conectividade.

Incorporar novas tecnologias de hardware e software também fica mais fácil. Usuários e integradores não dependem mais de um único fornecedor. O controle muda de mãos e fica mais próximo do usuário final.

Como em toda mudança, não podemos perceber todas as vantagens e conseqüências inicialmente. Mas todos os ingredientes estão presentes e a revolução está em marcha. Só o tempo vai mostrar a profundidade das mudanças e, com certeza, redes de computadores mais funcionais e eficientes contribuindo para um mundo melhor.


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