Navegando em modo texto
Mesmo usando micros obsoletos e com pouca memória,
acesse a internet e intranets com bom desempenho
Augusto Campos
augusto@tre-sc.gov.br
Como visitar seus sites favoritos sem depender do modo gráfico? Um
dos pontos fortes do sistema operacional Linux é a possibilidade que ele
tem de dar aplicações práticas a computadores considerados
obsoletos pela indústria de software comercial, que prioriza sempre o
hardware mais recente e poderoso. Quem já tentou utilizar o Netscape
Communicator 4.x em um 386, 486 ou até mesmo em um Pentium com pouca
memória sabe o quanto é difícil esta operação.
Mas o mundo do software livre se caracteriza por oferecer sempre múltiplas
alternativas, e no caso dos navegadores web não poderia ser diferente:
existem vários softwares que funcionam em modo texto puro, ocupando pouca
memória e exigindo recursos ao alcance até mesmo daquele 486 que
você abandonou em 1997. Assim, que tal transformar seus antigos 386
e 486 em terminais de entrada de dados (e consulta) para os modernos sistemas
baseados na web? Isso é perfeitamente possível, inclusive com suporte
a cookies, criptografia SSL e até visualização de tabelas e
cores. E a tecnologia para isto já está disponível: chama-se Linux.
Acessar a WWW a partir do modo texto pode ser útil em várias
circunstâncias. A primeira delas, já citada, é quando sua
máquina não dispõe de recursos suficientes para suportar
um ambiente gráfico e um navegador pesado. Mas há outras. Por
exemplo, quando você não quer utilizar recursos importantes de seu
servidor, como memória e tempo de processamento, mas mesmo assim precisa
acessar algum conteúdo da web a partir dele. Ou então, quando
você acessa o seu servidor via telnet ou tty, sem suporte a gráficos.
Ou mesmo, quando seu servidor não tem suporte a gráficos e ainda,
quando você não quer esperar o gigante Netscape carregar. Existem
vários browsers para utilização em modo texto. O mais tradicional
deles é o Lynx, que vem incluso na maior parte das distribuições
de Linux, e é conhecido por grande parte dos usuários.
O Lynx tem muitas características interessantes, e pode ser usado para
visitar grande parte dos sites da WWW, inclusive suportando cookies e criptografia
baseada em SSL. Mas há outras alternativas interessantes além do Lynx.
Neste artigo trataremos de duas delas, bastante práticas, e ainda pouco conhecidas
na comunidade Linux o Links e o W3m. E o primeiro browser Links, de modo texto,
tem recursos capazes de fazer a felicidade até mesmo do mais ferrenho admirador
do tradicional Lynx. O site oficial é extremamente econômico em sua
descrição, afirmando simplesmente: "o Links é um navegador web com
tabelas". Mas a primeira inspeção demonstra que muito mais poderia ser
dito sobre esse excelente software e veremos cada um destes pontos a seguir.
Após instalar, o primeiro impulso é testá-lo em um site conhecido.
E foi exatamente o que fiz, digitando: "links www.slashdot.org/". A primeira impressão
já foi muito boa: as três colunas que formam este conhecido site de notícias
foram dispostas lado a lado, ocupando inteiramente a tela do terminal, de maneira muito
semelhante ao que apareceria no Netscape se a opção de exibição
de ../imagens estivesse desabilitada. Ao contrário do que seria recomendável,
não procurei ler nenhuma documentação de uso do sistema antes de
começar a experimentar, por considerar que um navegador web deve ser inerentemente
fácil de compreender, devido à sua função. As primeiras
experiências foram muito bem sucedidas. As teclas de navegação
funcionam como no Lynx: a barra de espaços avança uma tela; Page Up e Page
Down avançam e retrocedem telas; a seta para a esquerda equivale ao botão
"Retornar" do Netscape; as teclas de setas para cima e para baixo selecionam os links do
texto e a tecla Enter segue um link. Mas ao tentar escolher outra URL, a primeira surpresa:
onde estaria a tão familiar barra de atalhos da base da tela, informando as
teclas básicas de comando? A resposta é simples: ela não existe,
já que o Links é baseado em menus suspensos, bastante semelhantes aos que
eram comuns nos ambientes de programação da Borland, como o Turbo Pascal e o
Turbo C na era DOS. Pressionando a tecla ESC, aparece um menu bastante prático.
Acompanhe um rápido tour pelas principais opções:
File contém várias opções úteis,
incluindo: ir para uma URL, recarregar a página, voltar para a página
anterior, salvar o conteúdo da página, e abrir uma shell temporária
sem fechar o links.
View tem as opções de procurar por textos dentro da
página corrente, exibir o fonte em HTML da página e exibir
informações sobre o documento.
Link opções sobre o link selecionado na página,
incluindo: seguir o link, fazer download do conteúdo do link, exibir ../imagens,
montar menu a partir de um USEMAP, ou enviar formulário.
Downloads exibe os downloads em execução - Setup -
permite configurar o suporte a cores, tabela de caracteres, proxies de http e ftp
(muito útil para usuários de intranets), parâmetros de conexões,
e associações de tipos de arquivos a determinadas aplicações.
Não é necessário muito esforço para chegar a
configurações interessantes. Habilitei o suporte a cores, e para minha
surpresa as familiares cores esverdeadas do Slashdot.org foram exibidas corretamente.
Com um pouco de pesquisa vim a descobrir que o links utiliza um método de
mapeamento entre as cores RGB padronizadas na Web e as dezesseis cores possíveis
no console do Linux. Outra configuração interessante, disponível
dentro das Network Options, é o "Async DNS Lookups", que impede que o links
"trave" enquanto tenta resolver os nomes de hosts, algo que certamente o Netscape
deveria imitar. Existem situações onde você realmente não
tem como habilitar a exibição de ../imagens por exemplo, quando roda
o Links em uma sessão telnet. Mas você sabia que pode exibir gráficos
tranqüilamente na maior parte dos consoles de Linux, mesmo sem usar o X?
Tudo depende de você configurar a libsvga e instalar um visualizador
gráfico para o console, como o zgv (disponível em
ftp://metalab.unc.edu/pub/Linux/apps/graphics/viewers/svga/)
. A configuração desses softwares vai além do escopo deste artigo,
e você sempre pode contar com a documentação dos pacotes. Mas se
você já dispõe desses pacotes, poderá configurar o links
para exibir ../imagens.
Siga o exemplo: pressione ESC para ativar o menu, e abra o menu Setup, selecionando
a opção Associations, e em seguida o item Add. Na janela "Association",
Preencha os campos da seguinte forma:
Label: GIF
Content-types: image/gif Program: zgv %
Repita a operação para as ../imagens em formato JPG, preenchendo os campos como segue:
Label: JPG
Content-types: image/jpeg Program: zgv %
Agora, para visualizar uma imagem, selecione-a na página, e em seguida
abra o menu, selecione a opção Link, e em seguida View image.
Complicado? Pode ser, mas a possibilidade de visualizar gráficos diretamente
no console pode compensar esta complexidade. Além do suporte a
exibição de ../imagens em modo texto, o links reserva mais uma surpresa
aos usuários do console: o suporte a mouse.
Se você estiver com o gpm (apps.freshmeat.net/download/918318312/)
instalado e ativo - o que é o comportamento default da maior parte das
distribuições de Linux poderá usar o mouse normalmente,
como em um browser gráfico: clique em um link com o botão esquerdo
para segui-lo, ou com o botão direito para abrir um menu de opções
relativas ao link.
Instalando o Links
Para instalar o Links é necessário recorrer ao método
tradicional obter os fontes (em links.sourceforge.net)
e compilá-los em sua máquina. O Links é fornecido em
um arquivo no formato tar.gz, que você pode descompactar com o comando
"tar -zxvf links-nnn.tar.gz". Após a descompactação,
o arquivo Install trará as dicas de compilação. De modo
geral, tudo que você terá de fazer é emitir os seguintes
comandos:
# ./configure
# make
# make install
sendo que o último deles necessariamente precisa ser dado pelo usuário
root. Se não for possível compilar os fontes na sua máquina,
recorra a um dos binários genéricos fornecidos pelo autor. Enquanto
este artigo é escrito, eles estão em
artax.karlin.mff.cuni.cz/~mikulas/links/download/binaries/ linux-glibc2/
. Neste caso, copie o binário escolhido para o seu diretório
/usr/local/bin, e em seguida atribua a ele permissões de execução,
com o comando "chmod a+x /usr/local/bin/links-versão".
w3m
O w3m foi construído para ser um pager (semelhante ao 'more' ou ao
'less' comuns à maior parte das distribuições de Linux),
mas com capacidade de exibir conteúdo HTML. Mas o autor acabou acrescentando
a possibilidade de navegar na web, e transformou o w3m em mais um dos browsers
úteis para navegação baseada na console. Ao contrário
do links, o w3m utiliza comandos baseados em teclas, e não em menus. A
versão testada utiliza as mesmas teclas do tradicional Lynx, o que pode
facilitar a vida de usuários antigos. Mas não se preocupe: a
documentação explica todas as teclas, caso você não
tenha tido contato prévio com outros navegadores semelhantes. E você
pode também habilitar o suporte a um menu popup com as funções
mais freqüentes do browser, acessível pressionando o botão
direito do mouse - basta ativar as opções de mouse e menu durante a
compilação do w3m. Mas se ele é menos amigável que
o links, por outro lado oferece alguns recursos interessantes: suporte a cookies,
frames, segurança baseada em criptografia SSL (se você compilá-lo
utilizando o OpenSSL www.openssl.org/).
Invocar o w3m na linha de comando é bastante simples, e para visualizar o
site do Yahoo!, digite simplesmente:
# w3m www.yahoo.com
Perceba mais uma diferença em relação ao links: enquanto
este vai exibindo o conteúdo da página conforme ela vai sendo
carregada, o w3m exibe apenas um contador indicando o percentual que já
foi carregado, montando a página na tela só ao final do processo.
Com a página na tela, começamos a notar os detalhes. As colunas
e tabelas foram montadas corretamente, mas não foi feita nenhuma tentativa
de mostrar as cores originais embora a documentação afirme
que há suporte a cores HTML. O w3m utiliza cores para identificar as
entidades HTML links aparecem de uma cor, ../imagens inline aparecem em
outra, texto comum em uma terceira, e assim por diante. A operação
com o mouse é bastante simples basta clicar em um link para
torná-lo ativo, e clicar duas vezes para segui-lo. Clicar com o
botão direito em qualquer ponto da tela ativa o menu popup com
opções diversas, incluindo a navegação básica,
downloads, exibir ../imagens, e outras. Um recurso muito útil e
nem um pouco evidente é a tela de opções, que eu
pude acessar pressionando a tecla "o". Lá você pode configurar
desde a aparência do w3m, até características importantes
como o suporte a proxy (de web, gopher e ftp), suporte a cookies, frames,
idioma e até mesmo programas externos de apoio. Tudo muito simples e
prático. O w3m também tem o recurso de permitir a
visualização de ../imagens através de programas externos, e
ele faz isto da maneira mais correta: consultando qual o seu visualizador
preferido no arquivo /etc/mailcap ou ~/.mailcap. Assim, se você quiser
ver suas ../imagens no console utilizando o zgv, acrescente a seguinte linha ao
seu mailcap: image/*; zgv %s Dica: Se você tiver dúvidas quanto
ao funcionamento do mailcap, use o manual online, digitando "man mailcap"
Instalando o w3m
Oficialmente segundo a documentação o w3m
é distribuído apenas como código fonte compilável,
compactado no formato .tar.gz. O site oficial, onde você encontra a
versão mais recente, fica em ei5nazha.yz.yamagata-u.ac.jp/~aito/w3m/eng/
Compilá-lo numa distribuição recente de Linux é
tarefa bastante simples, desde que você tenha instalado os pacotes de
desenvolvimento. Comece descompactando, com o comando # tar -zxvf
w3m-versão.tar.gz. Em seguida, entre no diretório do w3m, e
leia a documentação disponível. O de sempre: ./configure,
make, etc.