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O Manual do Linux

Hugo Cisneiros tem 16 anos, nasceu e vive até hoje em Aracaju, Sergipe, e é uma das figuras mais conhecidas na comunidade linuxer brasileira, principalmente por ser o autor do The Linux Manual. Em Aracaju sua praia preferida é a do Linux, cujas águas conhece bem, e é sobre elas que ele nos fala.

Revista do Linux — Como você conheceu o Linux?

Hugo Cisneiros — Eu e um amigo meu estávamos procurando alguns "desafios", e através de um vendedor local de CDs, conseguimos uma versão do Slackware, que na época era o Slackware 96. Só havíamos ouvido falar do Linux em conversas entre usuários de IRC. No Brasil não havia praticamente nada sobre o Linux, com exceção de um projeto que vai até hoje, o Linux Documentation Project BR (LDP-BR). Foi puro destino eu ter tropeçado no Linux.

RdL - O que o levou a escrever o The Linux Manual?

Hugo - Um dia depois de eu ter instalado o Linux em minha máquina, entrei na lista de discussão linux-br, que antigamente tinha sua página principal no endereço www.openline.com.br/linux-br. Fiquei muito impressionado com o pessoal de lá, foram muito generosos com um "pequeno" iniciante — eu na época tinha acabado de completar 13 anos. Destaco o Fernando M. Roxo, que é um dos meus "ídolos" da comunidade Linux brasileira, e que me ajudou demais. Como eu era leigo no sistema, ainda não conseguia acessar a Internet pelo Linux, então eu anotava todas as dicas que recebia da lista em um arquivo, para ler posteriormente. De repente percebi que aquele arquivo já estava com uma quantidade considerável de dicas, e que aquilo podia ser útil para iniciantes como eu. Então juntei todas as dicas, criei um índice e surgiu o chamado The Linux Manual. Na época não havia home page fixa, e eu distribuía para todos da linux-br, que por sua vez distribuíam para os outros. Me lembro de Marcelo Malheiros (da ldp-br) ter colocado o arquivo texto na página. Depois consegui um espaço fixo, em que até hoje o manual está disponível, em www.netdados.com.br/tlm/.

RdL - Quais projetos você tinha antes do TLM? Em quais projetos você trabalha atualmente?

Hugo - Como disse anteriormente, eu era completamente leigo no sistema, e o TLM simplesmente surgiu do nada, ou seja, eu não tinha nenhum projeto em mente. Existiu uma época em que o TLM se tornou uma obsessão minha, inclusive porque consegui muito apoio de todos na lista, destacando-se o Roxo e o Arnaldo da Conectiva. Ultimamente percebi que além de escrever textos para ajudar, eu gostaria muito de aprender programação. Atualmente estou estudando PHP, e por sinal estou obtendo ótimos resultados. Relacionado com o PHP, meu projeto atual é o Eitchdot. Outros projetos não estão confirmados, mas pretendo fazer livros e ajudar no desenvolvimento de sites relacionados com o Linux.

RdL - O que é o Eitchdot?

Hugo - Meu projeto atual escrito em PHP+MySQL. O Eitchdot foi um método que eu achei para me desenvolver na linguagem PHP e ajudar os outros. Fiz uma parte do código, explicando tudo, e o coloquei na minha página (www.eitch.cjb.net). O projeto consiste em fazer um site dinâmico de notícias, baseado no famoso Slashdot, e no brasileiro PontoBR.

RdL - Você foi uma das primeiras pessoas a produzir documentação em português para o Linux. Por que se interessou por isso?

Hugo - Ajudar as outras pessoas, como aquelas que me ajudaram. Além de ser prazeroso, você ganha muitos amigos, e ajuda a desenvolver a comunidade Linux.

RdL - Existe uma discussão muito grande e vários esforços para tornar o Linux um padrão para Desktops. Em contrapartida, o modo texto apresenta várias ferramentas sofisticadas e poderosas. O que você acha que vai acontecer? O modo gráfico será mais importante do que o modo texto?

Hugo - Realmente hoje em dia um dos principais escopos dos desenvolvedores é trazer aos usuários Linux um ambiente fácil e agradável (desktops), e isso é em parte muito bom. Eu acho que devemos mediar as coisas, não deixar nem muito para um lado, nem para o outro. O modo texto é muito bom porque possui inúmeras ferramentas que ajudam em tudo, mas por outro lado não são tão amigáveis quanto desktops, que por sua vez não têm todas as ferramentas que o modo texto pode oferecer. As coisas ficam muito divididas, e o que não pode acontecer é o usuário ficar mal acostumado, lidando apenas com o modo gráfico. Contudo, a tendência para o modo gráfico é maior, e eu não acho essa uma "boa idéia". Enquanto ensinava Linux para outras pessoas, eu dizia para elas: o ambiente gráfico do Linux pode ser muito útil, mas estudando o modo texto, você aprende muito mais.

RdL - Muito provavelmente o próximo grande debate será entre o Código Aberto Corporativo e o Código Aberto GPL. O que você acha desta questão?

Hugo - Vai ser uma questão de gosto. Alguém pode muito bem adotar um aplicativo corporativo em uma empresa, e pode achar bom pagar por ele. Mas essa mesma pessoa pode também encontrar um software sob licença GPL que satisfaça seus interesses do mesmo jeito. Deve haver sempre essa concorrência entre os dois. O argumento usado em favor do programa corporativo é que a empresa precisa ganhar para viver, mas isso pode muito bem se obter com serviços que a produtora do programa pode prestar para os usuários de seus produtos. Mas sempre haverá uma disputa.

RdL - Diga a sua opinião sobre o Ucita.

Hugo - O Ucita foi mais um erro. Com o Ucita, os Estados Unidos se arriscam a sofrer transformações drásticas na economia do setor de informática, além do que o Ucita também inclui várias questões anti-éticas, e isso não é bom para os usuários. Dentre vários pontos negativos, posso citar a proibição da "engenharia-reversa", que é largamente usada por desenvolvedores de sistemas como o Linux. Muitos e muitos drivers de dispositivos são criados por meio dessa técnica, e a proibição, como disse Richard Stallman, não é nada bom para o Free Software. Só espero que essa idéia não se espalhe pelo mundo, e se espalhar, que haja gente suficiente para combatê-la.

RdL - Muitas pessoas acreditam que o Linux irá dominar o mercado de sistemas operacionais. Outras acreditam que o mercado vai se segmentar. O que você acha?

Hugo - Eu acredito que vai realmente dominar. Acompanhando o desenrolar do sistema Linux durante esses últimos anos, podemos ver um enorme crescimento, e isso está tendendo a crescer cada vez mais. Não será da noite para o dia, mas aos poucos se chega lá.

RdL - Muitos programas para Linux estão sendo portados de outras plataformas e também existe um trabalho muito forte para se criar substitutos livres para esses programas. Você acha que as pequenas equipes serão o modelo de desenvolvimento ou as grandes corporações continuarão a dominar o mercado?

Hugo - Sem esses pequenos desenvolvedores, o mundo não seria o mesmo. Vale lembrar que são iniciativas pequenas que geram as grandes, como é o caso do próprio Linux. Linus Torvalds começou o projeto, e com a ajuda de vários outros pequenos desenvolvedores, criou essa maravilha que é o Linux. As pequenas equipes já são um grande modelo, e continuarão. Uma comunidade unida pode ser muito mais forte do que uma empresa grande. Se você olhar em volta, o mundo está cheio disso.

RdL - Quais são seus programas preferidos? (para Windows e para Linux)

Hugo - Para o Windows, a ferramenta que eu uso desde o início dos tempos foi o HomeSite, que gera páginas HTML. Não consigo desenvolver boas páginas sem ele. Em relação ao Linux, eu aprecio muito o Apache, por ser um maravilhoso servidor; o KDE por ser completo e agradável; o WindowMaker por ser simples, prático e rápido; o XMMS (modo gráfico) e mpg123 (modo texto), por serem os melhores para MP3; o X-Chat que eu acho uma maravilha para acessar IRC, entre muitos outros, o que daria uma enorme lista.

RdL - Você prefere o modo texto (console) ou gerenciador de janelas (gráficos). Por quê?

Hugo - Texto. No texto você faz tudo rápido, sabe o que se passa por tudo. É só ter um pouquinho de prática que no console você consegue dominar todo o sistema, sem ter que dar uma tocadinha no mouse.

RdL - Você acha que toda e qualquer documentação deve ser livre também, ou a restrição a publicações relativas ao Linux e GNU não é algo tão grave?

Hugo - É preferível. Para mim toda documentação tem que ser como o Linux, você pode pegar livremente na Internet, mas se não quiser ter esse trabalho pode optar por comprá-la. No caso de livros, acho bem menos cansativo ler em papel do que no monitor. Acho que sem a documentação livre, os usuários do Linux não seriam os mesmos. É só ver, se você está com alguma dúvida, você tem milhares de sites com documentos que podem responder essa dúvida. Inclusive temos os HOWTOs, os guias, tutoriais independentes, e por aí vai. Imagine se isso tudo fosse restrito?

 

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