Filosofando em alemão
Vale a pena sacrificar a
performance de seus aplicativos
só para obter um efeito
estético melhor
A plataforma Xbase, mesmo depois desses anos da interface gráfica, ainda é a maior no desenvolvimento de aplicações aqui no Brasil. Num rápido passeio por pequenas empresas, videolocadoras, supermercados, escritórios de advocacia, de engenharia, lojas de todos os ramos, escolas, hospitais, estatais, prefeituras, bancos, restaurantes e mais uma lista interminável de locais, encontraremos uma infinidade de programas em modo texto desenvolvidos nessa linguagem.
Seus programadores, após a venda da Nantucket (Clipper), ficaram à espera de uma versão gráfica que nunca veio. A empresa que a comprou propôs para substituí-lo o Visual Objects, que foi um fracasso retumbante, pois surgia com uma linguagem totalmente diferente, com uma exigência grande de hardware, e que não conquistou simpatia alguma no meio. A grande maioria dessa comunidade se sentiu abandonada e ficou num limbo nostálgico diante desse estranho vaporware. Muitos se bandearam para outras linguagens como o Delphi, profundamente frustrados por terem investido tanto tempo e estudo em uma linguagem que simplesmente sumiu.
Outro problema sério para os que migraram é o das ferramentas que se sofisticaram e cresceram, e com isso seus preços também, exigindo o pagamento de licenças que oneram pesadamente os clientes. Como não existe solução de software sem o hardware adequado, via de regra também é necessária a troca de equipamentos, o que afugenta clientes que vivem sob uma economia em crise crônica, sem poder aquisitivo e confrontando-se com soluções cada vez mais caras.
Com o crescimento da plataforma Linux em todo o mundo, a discussão ressurge e o compilador FlagShip e suas ferramentas começam a ganhar bastante terreno, apresentando uma solução para a continuidade da cultura Xbase. A RdL conseguiu uma entrevista com Doerte
Balek, da empresa alemã que o desenvolve, e é ela quem nos fala um pouco sobre os seus planos para o mundo Linux.
Revista do Linux - Qual é a história da Multisoft?
Doerte Balek - A Multisoft GmbH foi fundada em maio de 1985 como um software house para desenvolvimento e distribuição de ferramentas para desenvolvedores Clipper e Xbase. Os fundadores são profissionais com mais de 20 anos de experiência e grande conhecimento em todas as áreas, de mainframes a PCs. Em 1989, a Multisoft concentrou-se no desenvolvimento de ferramentas multiplataforma para bancos de dados, com o intuito de adaptar as aplicações DOS para o ambiente UNIX. O resultado foi o compilador FlagShip e suas ferramentas adicionais, introduzidos no mercado alemão em 1992 e no internacional em 1993.
RdL - E quais são as novidades das próximas versões do
FlagShip?
DB - Atualmente nós estamos trabalhando para terminar o Visual FlagShip para sistemas GUI baseados em UNIX e também para plataformas MS-Windows (NT4/95/98/2000).
RdL - No Brasil se questiona muito a continuidade dos produtos no mercado. O que garante a continuidade do Flagship e das novas versões no mercado?
DB - Nós estamos no mercado há 15 anos. Nossos produtos são muito estáveis e bem planejados, e nossa companhia tem uma boa imagem. Faz parte dos nossos principais objetivos fornecer produtos de alto padrão e testados, num alto nível técnico e com um suporte rápido e bastante informativo (6 meses gratuitos após a compra). Nós acreditamos que isto é uma boa base para o futuro.
RdL - Por que a Multisoft resolveu desenvolver o VFS?
DB - Embora a interface texto seja ótima para aplicações de bancos de dados, e melhor para programas para Internet/Intranet e Web, muitos usuários finais pediam uma "boa interface gráfica". Além disso, uma versão 32 bits para
MS-Windows, que torna o
FlagShip um ambiente multiplataforma completo, precisa de uma interface gráfica.
RdL - A espera pela versão VFS é muito grande? Qual a previsão de liberação?
DB - Planejamos liberar o VFS neste ano de 2000, mas evitamos anunciar detalhes até que a data final esteja definida.
Do nosso ponto de vista profissional, preferimos liberar um produto "pronto para rodar", do que liberar uma versão beta cheia de bugs, como, infelizmente, muitos outros fazem
na última hora.
RdL - Quais são as características básicas da versão VFS?
DB - O VFS é o único sistema baseado em Xbase verdadeiramente multiplataforma disponível. Novamente ele será portado para mais de 20 Unix diferentes e adicionalmente para MS-Windows. O mesmo código fonte e dados para qualquer plataforma: desenvolva e dê manutenção uma vez, distribua ou use em vários sistemas. A mesma aplicação pode ser compilada para ambiente visual
ou caractere, ou hibridamente, determinando o ambiente em tempo de execução. Naturalmente, a compatibilidade com as versões anteriores do FlagShip permanece válida. O suporte para Clipper 5.3, FoxPro e VO será implementado posteriormente, embora até o momento já seja notável. Será o único compilador Xbase que transformará automaticamente aplicações procedurais e do tipo DOS para GUI, sem qualquer esforço adicional do programador.
RdL - E a distribuição no Brasil, como está?
DB - Esta parceria está sendo muito interessante, pois, depois da Alemanha, o Brasil é
a segunda maior comunidade Xbase do mundo. A INSO não tem medido esforços para divulgar o nosso produto através de seu site e de seminários mensais gratuitos, e agora está criando o Grupo de Usuários Flagship do Brasil. Além disso, mantém um corpo técnico altamente qualificado. Ampliou também seu período de suporte gratuito para 180 dias após a aquisição do produto. Criou o módulo FS-CGI, que é distribuído gratuitamente, e desenvolveu o FS-CONNECTION (RDD) para diversos bancos relacionais, o que tem despertado bastante interesse aí no Brasil e também aqui na Europa. Outro ponto importante é que formou uma parceria com o GAS, um gerador de aplicativos para diversas linguagens, para gerar aplicações para Flagship. Enfim, tem trabalhado bastante no produto, o que nos retorna uma confiança muito grande neste trabalho conjunto.
RdL - E o futuro do Xbase?
DB - Nós acreditamos no futuro da programação Xbase, mesmo que as companhias originais como Ashton Tate (dBase), Nantucket(Clipper) e Fox (FoxPro) tenham sido compradas por outras, e os produtos estejam disponíveis principalmente para ambientes Microsoft. Mas a linguagem está viva e é usada por milhões de programadores bem treinados, como também por não-programadores, em todo o mundo. O mercado de Unix e Linux cresce rapidamente, de tal forma que
a necessidade de ferramentas portáveis para todas essas plataformas torna-se mais e mais importante nos dias de hoje.