Ameaça pingüim
Como um software originalmente acadêmico
se torna uma ameaça aos sistemas proprietários
Muito se tem especulado sobre o mercado Linux ultimamente. Talvez pelo destaque que esse sistema operacional alcançou na mídia especializada, talvez pela carência do próprio mercado por uma opção acessível. O que se percebe é que o meio corporativo vem buscando se assegurar de que o Linux não é mais uma aventura e de que seu desenvolvimento criará raízes profundas e sólidas, garantindo continuidade a todo o trabalho que está sendo gerado em torno dele. Sabe-se hoje que o Linux tem se fortalecido a passos largos, buscando atingir um número bastante razoável de empresas.
Com o objetivo de popularizar o software livre, principalmente em países que, como o Brasil, tentam competir numa economia dita globalizada e para isso precisam se automatizar, o Linux tende a se fortalecer como padrão de mercado. Isso porque a maioria das empresas desses países busca melhorar seu parque de máquinas e elevar o nível de segurança tecnológica, certificando-se de que o Linux é muito eficiente em termos de suporte e desenvolvimento técnico, oferecendo, ainda, um TCO (Total Cost of Operation) bem razoável.
Quanto a seu progresso, o Linux conta com mais desenvolvedores trabalhando constantemente em torno dele do que o total de profissionais do setor que qualquer companhia teria condições de contratar. Diversas empresas de software de grande porte mantêm técnicos trabalhando de forma efetiva em seu sistema operacional, pois desse modo elas conseguem viabilizar muito mais aplicações próprias que rodem em Linux. É como uma bola de neve, porque é justamente isso que garante ao Linux uma continuidade e um trabalho bem mais dinâmico de desenvolvimento e de atualização do software em relação aos sistemas operacionais proprietários.
Para demonstrar como esse processo vem ocorrendo de forma efetiva, podemos citar o crescente número de empresas que hoje vivem do Linux no mundo e, mais especificamente, no Brasil. Vamos começar pelo número de distribuições Linux. Hoje são mais de duas dúzias de distribuições voltadas para o desenvolvimento do sistema operacional e das aplicações específicas, numa busca constante para atender aos apelos dos usuários por maior facilidade de uso e manutenção. Entre as empresas que procuram melhorar a vida dos usuários estão algumas das maiores distribuições, que têm a maior abrangência de mercado de acordo com fatores como número de pacotes distribuídos anualmente, criação de softwares específicos, suporte ao usuário, preferência nos sites de download, etc.
A Red Hat, criadora do sistema de pacotes mais utilizado hoje no planeta, o RPM (Red Hat Package Manager), figura como a maior distribuição mundial na colocação do software empacotado no mercado. Ao todo foram aproximadamente 1.500.000 (isso mesmo, um milhão e meio!) de caixinhas distribuídas em 1999. A TurboLinux, uma das maiores distribuições na Ásia, pulverizou no ano passado aproximadamente 800.000 pacotes da sua versão do Linux.
Além dessas duas distribuições,
podemos mencionar outras. A Debian, por exemplo, é totalmente voltada para os puristas, ou seja, aqueles iniciados que desejam trabalhar com o sistema na sua forma mais autêntica, sem muito "fliperama". A SuSE, originalmente alemã, começa a ganhar o mundo. A Slackware fez a primeira versão empacotada do Linux. A maior característica da OpenLinux é mesclar softwares de livre distribuição com programas comerciais. A francesa Mandrake foi uma das maiores revelações do ano passado. Deu passos largos fora da Europa oferecendo ao usuário a possibilidade de instalar o sistema operacional em vários idiomas, pois carrega os arquivos de instalação e inicialização de outras distribuições nos seus idiomas originais. No Brasil,
a Conectiva ganha ares de multinacional a partir deste ano. Em 1999 distribuiu aproximadamente 450.000 caixinhas Linux para a América Latina, Europa e Ásia. Considerando que o espanhol e o português são idiomas oficiais em muitos países desses continentes, a empresa pretende ainda
este ano colocar 1.200.000 pacotes
no mercado. Isso a transformaria na quarta maior distribuição mundial.
Ainda no cenário nacional , a empresa paulistana Tech Informática lançou a pouco tempo a sua distribuição. Chamada de TechLinux 1.0, é fornecida em dois CDs sem os fontes (que estão disponíveis no site oficial www.techlinux.com.br). A nova distribuição possui um conjunto de programas atualizados e em português do Brasil, e é empacotada em RPM.
Os grandes fabricantes de hardware têm apoiado amplamente o Linux, já de olho no seu grande potencial de mercado e na necessidade de uma solução corporativa. Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas mostra que os servidores Web em Linux estão em 16% das empresas no Brasil. Isso confere ao país o segundo lugar na adoção desse sistema, o que demonstra o aumento da confiabilidade das empresas no uso do Linux.
Dentro dos desktops, soluções como as recentes versões do Linux, que tem como característica uma instalação totalmente gráfica e uma amigabilidade bastante grande, garante ao usuário uma facilidade de uso que destrói definitivamente o estigma de que o Linux é difícil de instalar e de configurar. Afinal, o usuário tem como
recurso a possibilidade de trabalhar exclusivamente em ambiente gráfico.
Segundo o instituto de pesquisas americano IDC, o Linux está em 20% de todos os computadores da rede mundial. Considere, portanto, que de cada cinco computadores existentes
na Web um deles é Linux! Ainda segundo o IDC, o Linux deve continuar crescendo na proporção de 24% ao ano, garantindo definitivamente o segundo lugar em sistemas operacionais na linha cliente/servidor.
Podemos tratar a segurança na escolha do Linux também de acordo com
o número de empresas prestadoras de serviços no país. Mas antes vamos esclarecer duas das grandes dúvidas do cliente na adoção do software. Primeira: "Quem me dará suporte e treinamento em Linux caso eu adote essa solução?" Segunda: "E a quem eu posso reclamar no caso de algum problema se o software é de livre distribuição?" Bem, para respondermos a essas perguntas, devemos dizer em primeiro lugar que o software é de livre distribuição e gratuito, mas a mão-de-obra que trabalha nele não! Por isso podemos citar outros números. As empresas de suporte no Brasil, se computarmos somente as certificadas pela Conectiva, somam hoje mais de cinqüenta. E existem 70 centros de treinamento Linux em todo o país. Some-se a isso as possíveis redes de suporte e treinamento que as empresas com projeto de se instalar no Brasil irão montar (entre elas, SuSE, Mandrake, Caldera e TurboLinux), e teremos uma idéia do quão lucrativo é o mercado
de serviços ligados a Linux, sejam
eles suporte ou treinamento. O importante aqui é deixar claro o novo paradigma de administração: em vez de comprar uma licença para ter o suporte atrelado, utiliza-se um produto
gratuito e adquire-se o suporte específico às suas necessidades, racionalizando processos e custos e evitando a aquisição de produtos ou serviços desnecessários.
Efetivamente, é melhor citar quem usa o Linux no Brasil do que falar das características desse sistema operacional. Continuando, então, nesse caminho, 56% dos provedores de acesso à Internet baseiam-se neste tipo de solução para prover seus usuários, 16% das empresas brasileiras utilizam o Linux em seus servidores (como você viu anteriormente), pelo menos quatro bancos têm seus softwares compilados e rodando em Linux e várias redes de lojas adotaram o Linux como solução. O sistema também vem ganhando força nos órgãos públicos devido a diversos fatores. O principal deles é a relação custo-benefício, o que garantiu ao
Linux até mesmo um projeto de lei
no Congresso Nacional.
Entrando na área de formação de profissionais, estima-se que os centros de treinamento certificados em Linux no Brasil formem aproximadamente 16.500 novos profissionais neste ano. Isso permite que as empresas adotem a solução e mantenham suas redes funcionando com seu próprio administrador. A operacionalidade do sistema, combinada com o apoio que grandes empresas como IBM, Compaq, Dell, HP, Intel, Oracle e Inprise, traz ao
Linux uma grande certeza. O sistema operacional vem possibilitando uma grande gama de soluções, que garante uma performance e uma segurança bastante interessantes para aqueles que não podem perder tempo com suporte a rede. Com o Linux não é preciso ficar parando para "rebootar" o sistema várias vezes ao dia.
O crescimento do Linux não é uma febre e, sim, uma opção sólida para um mercado que tem necessidade de competir com o de países mais fortes economicamente e que já estão usando o Linux como seu sistema padrão, a exemplo da Alemanha. Lá, desde 1998 o Linux vem sendo o SO mais utilizado. Concluindo, na aplicação do Linux o usuário terá uma solução freqüentemente adotada por empresas como a NASA em seus supercomputadores. Eis aí a ameaça pingüim!