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Turbinando Aplicações Clipper Com GNU/Linux
 
O risco de ser abandonado pelos fornecedores é nulo com a adoção de softwares livres por empresas que dependem do Clipper
 
Quase 10 anos depois da popularização dos ambientes gráficos nos PCs, e aproximadamente cinco anos depois do boom da Internet, e depois que as empresas dot-com deixaram de ser a coqueluche do mercado, podemos ver em empresas e instituições das mais diversas uma grande quantidade de sistemas escritos em Clipper, baseados na "velha" tecnologia do DOS.
 
Goste ou não, esses sistemas, sem o charme e o hype do cliente servidor, arquitetura em três camadas e etc, ainda são indispensáveis e insubstituíveis para a maioria dos seus usuários.
Uma grande quantidade de empresas e profissionais vive exclusivamente do suporte, manutenção e aperfeiçoamento desses sistemas, mas sem o apoio do "dono" da ferramenta, a Computer Associates. Ela tentou, timidamente, criar uma versão 32 bits e GUI do produto, chamada de Visual Objects, que, entretanto, não emplacou e foi logo descontinuada.
Muitas dessas empresas buscaram se atualizar migrando para o "clone" chamado FoxPro, depois modernizado no Visual FoxPro, mas também recebem do novo fornecedor um tratamento negligente, não recebendo os recursos disponibilizados em outros produtos do mesmo como o Visual Basic.
Entretanto, o software livre oferece novas oportunidades para empresas dependentes do Clipper de se atualizarem tecnologicamente, sem o risco de serem novamente abandonados pelos fornecedores e sem os custos e incertezas associadas à migração completa para novas tecnologias.
 
 
O xBase É Uma Tecnologia Obsoleta?
 
Quando falamos do Clipper e do FoxPro, estamos na verdade falando de uma série de ferramentas de desenvolvimento derivadas do dBase, que foi a primeira ferramenta a viabilizar o desenvolvimento rápido de sistemas de informação em plataformas de baixo custo. Essas ferramentas são chamadas coletivamente de xBase.
A grande maioria das limitações desta tecnologia são na verdade limitações da plataforma onde ela se tornou popular, o DOS. Lentidão de processamento (em 16-bits), utilização restrita de memória, limites sobre a quantidade de arquivos abertos, incapacidade de usar bancos relacionais, impossibilidade de utilizar recursos da rede, ou operação no modo texto, não são limitações inerentes à linguagem xBase ou às base de dados DBF.
Por outro lado, o Clipper e o Fox fornecem acesso SQL às bases DBF, aritmética exata decimal e recursos de Orientação a Objetos. Os dois últimos recursos estão ausentes ou são muito menos desenvolvidos em ferramentas populares hoje no mercado, como Visual Basic e PHP.
Portanto, a disponibilização desta tecnologia em outras plataformas mais capazes, como o GNU/Linux e o FreeBSD, tem o potencial de fornecer um toolbox de desenvolvimento extremamente capaz. Afinal, temos poucas tecnologias realmente mais novas em uso no mercado hoje, e algumas das mais populares, como o Delphi e o Visual Basic, são baseados em linguagens bem mais antigas do que o Clipper e o Fox.
 
 
Clipper de 32 Bits
 
Não são poucas as opções de implementações das tecnologias xBase em plataformas mais capazes. Existe por exemplo o venerável Recital, utilizado em servidores RISC de grandes empresas pelo Brasil, mas também disponível para o Linux. Temos participantes mais recentes como o FlagShip e o MaxBase, e até uma alternativa livre, o projeto Harbour.
A maioria destas ferramentas suporta não apenas sistemas Unix e Linux, mas também sistemas Windows de 32 bits. Portanto, você não está mais impossibilitado de utilizar Megabytes de memória RAM, estabelecer conexões de rede ou acessar bancos cliente/servidor. Nem é obrigado a mudar para um ambiente estranho. E temos até bibliotecas de componentes que fornecem acesso fácil a todos estes recursos, em vez de nos limitar às bibliotecas fornecidas com as implementações DOS da tecnologia.
Se você considerar o custo de reciclar desenvolvedores já experientes nos processos de negócios que seus sistemas devem suportar, além do risco e custo inerentes de se iniciar um novo projeto de desenvolvimento, pode ser uma opção bem mais segura adotar um dos produtos citados e então ir pouco-a-pouco aperfeiçoando seus sistemas para usufruir dos novos recursos.
Você pode até mesmo escrever front-ends GUI para seus sistemas. Não encontrei referências a recursos RAD GUI em nenhum dos produtos citados, mas seria fácil utilizar o Gtk+ com qualquer um deles, pois todos podem utilizar bibliotecas para linguagem C. E a programação em C com Gtk+ está em um nível bem mais elevado do que uma API de sistema operacional. Se você analisar a qualidade de outras aplicações desenvolvidas com este toolkit, comoo AbiWord, Gnumeric, Gphoto e o Gimp, e considerar que nenhum deles utilizou uma ferramenta RAD visual, não é nada do outro mundo. Mesmo assim, você pode experimentar o uso do Glade para desenhar visualmente a interface de sua aplicação "Gtk clipper".
 
 
Web Clipper
 
Por outro lado, o desenvolvimento GUI já é uma onda ultrapassada no mercado de informática. O quente é o desenvolvimento para a web, e esta tecnologia mais nova, na verdade, diminuiu consideravelmente a distância entre as tecnologias xBase e as alternativas consideradas mais "modernas".
Quem conhece o básico de programação CGI sabe que seria tão fácil utilizar ferramentas do tipo Clipper quanto utilizar Perl ou Delphi. O Flagship, por exemplo, traz uma série de componentes específicos para o desenvolvimento web.
O MaxBase vai além, fornecendo uma extensão de servidor que funciona como um processador de SSS, o MaxPages. Esta extensão tem a mesma facilidade de uso e o mesmo paradigma de desenvolvimento utilizado por ASP, PHP ou JSP, mas utilizando um mecanismo de pré-compilação automática das páginas, que assim pode gerar páginas dinâmicas mais rápidas do que seriam geradas pelos outros processadores de SSS citados.
Mas eBusinness hoje é cada vez mais baseado em XML. Tudo bem, as ferramentas estilo Clipper são capazes de utilizar qualquer dos processadores de XML escritos para C disponíveis na Internet, e são capazes de gerar documentos XML ou WML tão facilmente quanto qualquer outra ferramenta.
 
 
Reaproveitando as Bases de Dados DBF
 
Em vez de recompilar suas aplicações em 32 bits e ir progressivamente substituindo as interfaces texto por interfaces GUI ou web, ao mesmo tempo em que migra aos poucos para bancos cliente/servidor, sua empresa pode adotar outro caminho para resultados rápidos e satisfação dos usuários: manter as bases de dados DBF e adotar ferramentas que não seguem a linha xBase.
Não é novidade para muitos desenvolvedores que VB ou Delphi podem ler e atualizar arquivos DBF, mas pode ser uma surpresa para muitos saber que Perl, PHP, GCC e Java são capazes de manipular estes arquivos com a mesma facilidade.
Assim, você pode, de uma maneira rápida, fornecer um módulo de consulta ou atualização via web, sem ter que reciclar desenvolvedores xBase, ou então reciclando estes profissionais para outra tecnologia que eles podem considerar como sendo mais "modernas" ou estimulantes. Você pode ainda utilizar um pacote como o StarOffice (inclusive no Linux) para gerar formulários, consultas e relatórios sobre suas bases DBF.
As ferramentas xBase, como o Clipper e o FoxPro, estão longe de ser tecnologias obsoletas, mas são na verdade linguagens de programação das mais poderosas existentes hoje, que podem ser revitalizadas pela simples mudança para uma plataforma que não tenha os limites do antigo DOS, em especial plataformas livres.
Se juntarmos isso à grande quantidade de know-how e código pronto desenvolvido nessas linguagens, pode ser uma estratégia bem mais sensata reciclar os sistemas para atender às demandas dos atuais usuários de sistemas de informação, como interfaces GUI e acesso via web, do que recriar os sistemas com uma ferramenta RAD ou de SSS.
 
 
Para Saber Mais
 
Harbour - www.harbour-project.org
JDBF - www.svcon.com
XBase - linux-techass.com/projects/xdb e
www.startechkeller.tx.us/xbase.html
MaxBase e MaxPages - www.plugsys.com
XBase++ - www.alaska-software.com
Flagship - www.fship.com
REcital - www.recital.com
 
Fernando Lozano
fernando@lozano.eti.br
 
 
 
 
 

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