LINUX: o concorrente
A Microsoft já encara o Sistema Operacional do Pingüim como seu forte adversário
Poucos dias atrás, precisei repentinamente acessar minha conta de e-mail, a única opção que tinha era usar um desses cyber-cafés já comuns nas grandes cidades brasileiras. Ao entrar, perguntei de imediato ao rapaz que me parecia ser o responsável, - e de fato o era: “Qual máquina aqui tem o navegador Netscape?”. De pronto ele me respondeu: “Uhmm... Netscape? Isto não existe mais não!”. Sendo tão taxativo, cheguei a ficar perplexo: o navegador Netscape, o pioneiro juntamente com o Mosaic, não estava mais em extinção - já era um animal extinto. Todavia, sei que é um software em plena maturidade, em pleno desenvolvimento, entrando agora em sua versão 6, e, sobretudo, consagrado como um projeto open source, que foi capaz de abrir o seu código para todo um Projeto.
Quando a opinião pública se posicionou contra a presença compulsória do Internet Explorer no sistema operacional de qualidade duvidosa da Microsoft, ela já sabia de antemão e com plena consciência - das conseqüências que tal fato traria. As práticas comerciais da Microsoft são sobejamente conhecidas: ela não deseja uma parte do mercado, ela não deseja se consorciar para trabalhar numa da parte do mercado. Não. Ela quer todo o mercado. Não há duvidas de que ela é uma empresa monopolista e de extrema agressividade.
É sabido que a Microsoft não tinha uma solução clara para a Internet quando a Grande Rede se tornou um fenômeno social: para seus executivos “Internet” era coisa de estudantes, hackers, Universidades, etc. Entretanto, Gates decretou a partir de maio de 1995 que a Internet passaria a ser prioridade. Entre 1997 e 1998 a empresa gastou milhões de dólares na compra de cerca de 50 empresas para poder levar a cabo o seu intento! Qualquer produto, ou tecnologia que se mostrasse promissora era cobiçada pela Microsoft, - você está perdido se a Microsoft tem interesse no seu produto, no seu mercado vale dizer. Jeffrey Katzenberg comentou esta virada na vida da empresa de Bill Gates, ao dizer:
"Não consigo imaginar uma única empresa que, após ter tido um sucesso dessa envergadura e, ao fim de vinte anos de existência, tenha repentinamente parado e decidido se reinventar integralmente"
Sim o conglomerado Microsoft tem esta capacidade como poucas empresas. E isto deve ser levado em consideração, hoje, sobretudo ao constatarmos a informatização radical das sociedades contemporâneas. A próxima geração da telefonia digital, a televisão de alta definição, os dispositivos portáteis, enfim, a Internet... Toda a Sociedade da Informação submetida ao gosto Microsoft, ao seu Império. A empresa investe hoje em todas as esferas que podem tangenciar à Grande Rede. Uma olhada rápida no “desenho” deste Império irá mostrar isso. Ela penetrou fortemente em todos setores da midia e das telecomunicações, assim como o lazer e a TV. Nos investimentos pessoais de Gates, encontramos projetos como o Teledesic, associado a outra gigante, a Boeing, da ordem de 9 milhões de dólares para tecnologia de satélites, ou a propriedade, os “direitos digitais” de 30 milhões de imagens!
Paul Allen, um dos sócios de Gates, em recente entrevista na TV Cultura, no programa “Roda Viva”, afirmou que no “ambiente de forte competição (?)” em que a Microsoft se encontra hoje, o sistema Linux, seus desktops são o concorrente por excelência de sua empresa. Ora, sabemos o que isso significou historicamente na trajetória da empresa de Seattle: o esfacelamento da concorrência. Mas o “negócio software livre” não é uma corporação assim como foram a Digital Research, ou a WordPerfect, empresas outrora devoradas, cada uma a seu tempo.
O quadro futuro mais delicado, é observar a hegemonia Microsoft na Internet configurada na dupla servidor IIS & a linguagem ASP. Se estes padrões se tornarem dominantes, e só os browsers IE manipularem as suas páginas, os SOs não terão acesso à Rede. A Netcraft Web Survey costuma fazer muitos e exaustivos levantamentos, e também confiáveis. Ao investigar cerca de 32 milhões de servidores on line de agosto de 2000 até setembro de 2001, ela ainda encontra um domínio do Apache (59.51%) como servidor web face ao IIS (27.46%). Mas houve uma leve queda do Apache em relação ao servidor da Microsoft... Apesar dos bugs e vulnerabilidades, assim como a desconfiança de importantes consultores, o que demonstra a força da empresa Microsoft. Já quando a Netcraft investiga os SOs rodando servidores públicos na web, o Linux mostra-se o concorrente “temido” por Allen:
É preciso notar, por fim, que o “fechamento” da Internet em padrões fechados e proprietários significará em médio prazo uma perda significativa de concorrência e inovação. E em longo prazo, a perda do significado mais próprio da Grande Rede e o aumento da exclusão digital.
Resultado da Netcraft |
Servidor | Setembro/2001 % | Outubro/2001 % |
Apache | 59,51 | 56,89 |
Microsoft ISS | 27,46 | 28,99 |
iPlanet | 4,07 | 3,86 |
Zeus | 2,42 | 2,34 |
Para saber mais
Investigação e estatísticas
da Netcraft: netcraft.com/survey
Renato Martini
rmartini@cipsga.org.br