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Multitarefa!

Marcelo Malheiros é carioca, tem 28 anos e é formado em Engenharia da Computação pela Unicamp, além de ser Mestre em Engenharia elétrica pela mesma universidade, sendo usuário do Linux desde 1994, quando usava o Slackware 2.0 em um 386. Atualmente Marcelo trabalha como desenvolvedor Unix, programando em C, C++, Perl e PHP, mas com experiência em Java, Pascal, Lisp, Assembly 80x86 e Z80, entre outras linguagens. Entre seus interesses estão a computação gráfica (é colaborador do projeto GIMP, sendo autor de vários gradientes e alguns plug-ins) e a emulação. Ele é co-autor de um driver para o jogo Tokio, uma antiga ~Spaixão~T da adolescência, para o emulador de arcade MAME. Entre seus projetos atuais, estão o sistema de perguntas e respostas Rau-Tu e o sistema de catálogo de documentos Nou-Rau.

Revista do Linux: Você já ajudou a Comunidade Linux com documentação em Português. Como você classificaria a literatura de Linux que temos hoje no Brasil? Temos um nível satisfatório ou o linuxer ainda precisa importar livros?

Marcelo Malheiros: Eu estou bastante satisfeito com o nível atual, pois não só há uma grande quantidade de livros introdutórios sobre Linux disponíveis, como há muitos textos e manuais em português disponíveis livremente. Em particular, eu fico muito feliz que exista um movimento forte e contínuo de tradução de interfaces e documentação online dos ambientes gráficos (e também ferramentas em linha de comando) do Linux. Mesmo que seja motivado por distribuições em português do Linux (como é naturalmente o caso da Conectiva), isto é benéfico para toda a comunidade do Software Livre. Como essas traduções normalmente passam a fazer parte de cada pacote de software para o qual foram feitas, elas são propagadas para outras distribuições e outros sistemas. Por exemplo, alguém que esteja compilando o GNOME em um FreeBSD pode usar as traduções e ter um ambiente em português. Ou uma distribuição como a Debian pode passar a ter um suporte melhor ao nosso idioma, simplesmente usando pacotes atualizados com traduções para português. Voltando à questão da literatura, creio que sempre existirá uma lacuna de atualização. Ou seja, os livros e padrões mais recentes sempre estarão disponíveis primeiro em inglês. Contudo, a curva de aprendizado agora é bem menor, pois é possível se iniciar no Linux sem dominar o inglês. A necessidade de conhecer inglês só vai surgir à medida que o usuário se aprofunda no sistema. Isso é ótimo, pois mesmo pessoas que não sejam do meio podem, hoje, usar um editor de texto ou um browser no Linux sem maiores dificuldades.

RdL: Você é um profissional bem ativo no uso do Software Livre. Poderia citar alguns projetos dos quais já participou ou já disponibilizou para a comunidade?

MM: Eu montei a iniciativa LDP-BR (lpr-br.conectiva.com.br) de traduzir e disponibilizar documentação sobre Linux em português, que agora é tocada pelo pessoal da Conectiva. Cuidei também do antigo portal de Linux da Unicamp, o Linux Brasil, que hoje não existe mais. Também participei do desenvolvimento do GIMP (para edição de imagens). Colaborei mais em termos de teste e correção de bugs, mas cheguei a escrever um plug-in (chamado Solid Noise), auxiliar no desenvolvimento do editor de gradientes e de outro plug-in (GFlare) e criar boa parte dos gradientes que vêm com o programa (o “Tube_Red” é o meu favorito). Algum tempo atrás, eu me envolvi com emulação de sistemas, desenvolvendo um driver para o arcade “Tokio” da empresa japonesa Taito, em conjunto com um programador da Suécia. Esse driver faz parte do pacote MAME e pode ser jogado no porte para Linux, chamado XMAME (x.mame.net/). Acho que esse game traz boas lembranças ao pessoal da minha idade que freqüentava os fliperamas na adolescência. Aliás, eu escrevi esse driver justamente movido pela saudade que sentia do jogo; até então ele não tinha sido emulado. Atualmente, tenho mantido o sistema de perguntas e respostas Rau-Tu (www.rau-tu.unicamp.br/), resultado de uma parceria entre o Instituto Vale do Futuro e o Centro de Computação da Unicamp. No forno, está um novo sistema para arquivar e indexar documentos. Seguindo a tradição de trocadilhos infames com expressões em inglês, ele vai se chamar Nou-Rau.

RdL: Qual o caminho que o Linux precisa tomar para entrar pela porta da frente nas empresas?

MM: Creio que ele já está entrando neste momento, mas ainda pode crescer muito mais. A maior barreira para a adoção do Linux nunca foi técnica, mas de cultura. A indústria sempre esteve acostumada com soluções que eram caixas pretas, empacotadas por empresas e vendidas junto com suporte técnico e documentação impressa. Valia a noção de que “se custa caro e todo mundo usa, deve ser bom”. Mudar a infraestrutura de uma empresa para um sistema que é gratuito e não é bancado por um único fabricante é uma decisão que, de início, pode parecer radical. Principalmente quando o Linux é assolado por uma série de mitos sobre “não ser seguro” ou “não ter suporte”. A propaganda boca-a-boca e os resultados concretos da utilização do Linux demoram mais para se propagar, mas acabam sendo, a meu ver, mais consistentes do que o marketing usual feito em TI. Daí, que a imagem do sistema vai cada vez mais se consolidando e, aos poucos, o sistema se firma no meio empresarial.

RdL: O desenvolvedor ou o técnico teria um papel decisivo nesse processo?

MM: Sim, pois normalmente parte do setor técnico a iniciativa de adotar o Linux. Para esse pessoal interessa principalmente a estabilidade e a segurança do sistema. Felizmente, o setor gerencial tem também boas razões para adotar o Linux, principalmente em função do baixo custo e necessidade de pouca manutenção. Acho ótimo, pois o Linux atende tanto as demandas do pessoal técnico como as preocupações do pessoal administrativo. Como bônus, vem o fato de ser um sistema livre e aberto, capaz de ser adaptado conforme a necessidade de cada empresa. Acaba sendo vantagem para as empresas ter uma equipe interna cuidando do sistema (ou eventualmente contratar uma equipe externa) do que depender das vontades de um grande fabricante de sistemas operacionais.

RdL: Quais são as ferramentas de desenvolvimento que você mais utiliza, e por que?

MM: Eu me considero um tradicionalista, e o meu ambiente de desenvolvimento é o mais espartano possível. Eu sempre trabalho com uma dúzia de terminais texto e algumas janelas do Emacs. Sempre uso ferramentas livres, como make, gcc e glade, e realmente estou satisfeito com elas. É claro que existem ótimos ambientes integrados de desenvolvimento para o Linux, tanto livres (KDevelop e Anjuta) como comerciais (Kylix, entre outros), mas ainda me acho mais produtivo com as ferramentas de linha de comando.

RdL: Na forma em que o Linux é desenvolvido hoje, você acha que ele pode ser o precursor para que a educação e o aprendizado como um todo se firmem na internet ou, ainda, o processo de ensino a distância se consolide como método didático?

MM: Creio que o estilo de desenvolvimento do Linux e de muitos softwares livres, o famoso “bazar”, tem muito a ensinar em termos de modelo de interação entre pessoas e de troca livre de idéias. O modelo do software livre é justamente a base para a democratização da informática, da mesma forma que a livre troca de idéias é a base para a construção de novos conhecimentos e para o progresso da humanidade. O Linux pode ser de grande auxílio, principalmente como plataforma de serviços. Infelizmente ainda existem poucos softwares educativos para o sistema, mas, aos poucos, creio que esta área irá se consolidar. Contudo, acho que ainda falta muito para que o ensino remoto possa ser utilizado em todo o seu potencial, vindo a competir no mesmo nível com o ensino tradicional, ou, melhor ainda, vindo a complementá-lo. Na minha visão, o principal fator que ainda segura a educação à distância não é o aspecto técnico, mas a dificuldade em se definir uma nova forma de interação entre professores e alunos que supere a interação que existe no ensino presencial. Além disso, ainda acho que faltam formas de capitalizar os recursos de multimídia disponíveis para estimular tanto o interesse quanto o aprendizado de alunos. Novamente, penso que isso é só uma questão de amadurecimento, pois o ensino tradicional é milhares de anos mais antigo do que o via Internet. O modelo do Software Livre é justamente a base para a democratização da informática


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