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Pingüim nas Minas Gerais

Com critérios técnicos e deixando o ideologismo de lado, a Companhia de Processamento de Dados de Minas Gerais - PRODEMGE está colhendo bons resultados com ferramentas Open Source

O apoio ao Software Livre promovido pelo estado de Minas Gerais é uma das melhores notícias que a comunidade Open Source poderia receber nos últimos tempos. A experiência com Software Livre não é nova na Companhia de Processamento de Dados de Minas Gerais - PRODEMGE (www.prodemge.mg.gov.br). A empresa, concebida em 1966 para implantar a reforma e modernização da administração pública estadual, utiliza a filosofia de software aberto desde a década de 80. Hoje, a empresa está realizando inclusive parcerias e convênios para disseminar o uso de Software Livre no estado de Minas Gerais. Recentemente, a PRODEMGE firmou convênio com a PRODABEL (Empresa de Informática do Município de Belo Horizonte, www.pbh.gov.br/prodabel) para o fomento, desenvolvimento, instalação e divulgação da solução aberta. De acordo com a PRODEMGE, a empresa economizou R$ 1,1 milhão com a utilização de software livre em 18 meses de experiência efetiva com sistemas open source.

O primeiro servidor a utilizar apenas soluções abertas foi instalado na PRODEMGE para atender a uma aplicação que utilizava um Banco de Dados Textual (Microisis), sendo que a configuração dessa máquina foi composta por um Linux Slackware com Apache e iBCS.

Em 1999, a PRODEMGE iniciou um processo de substituição de servidores Netware, SCO e Windows NT por Linux. O primeiro a ser substituído foi um servidor de e-mail que apresentava problemas de desempenho. A eficiência e estabilidade da solução livre adotada catalisaram o processo de implantação de software livre no estado de Minas Gerais e, no mesmo ano, já estavam instalados cerca de 20 servidores Linux.

A empresa desenvolveu alguns aplicativos que utilizam apenas softwares livres, como o SAGRE (Sistema de Apoio ao Controle e Gerenciamento de Roteadores da Rede WAN PRODEMGE (THE), Sistema Cooperativo de Notícias (baseado em PHP/MySQL), Controle de Projetos da Secretaria de Recursos Humanos e Administração, Controle de Patrimônio, Protocolo e Intranet da Fundação Ezequiel Dias (FUNED).

A experiência com software livre em Minas ultrapassa inclusive as fronteiras da PRODEMGE. A Escola de Saúde, da Secretaria de Saúde de Minas Gerais, não utiliza softwares proprietários, sendo até suas estações de trabalho totalmente baseadas em Linux, e os seus aplicativos foram todos escritos sob a licença GPL.

Hoje, o Estado de Minas conta com 65 servidores Linux, 47 deles instalados em 21 clientes. Somente na PRODEMGE, estão 19 servidores, entre eles um servidor específico para o desenvolvimento de soluções abertas. Nele estão instalados um Linux RedHat, MySQL, PHP, Java e outras ferramentas abertas.

A parceria da PRODEMGE com a PRODABEL já resulta em projetos cooperados como a prospecção e avaliação de soluções de agenda, correio e diretório. Estão sendo avaliados softwares como o PHP Groupware e o Direto (desenvolvido pela PROCERGS - Empresa de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul). Esse projeto cooperado visa a substituir soluções que hoje são utilizadas pelas duas instituições, e a intenção é desativar o antigo software de agenda e correio utilizado no Estado de Minas Gerais, instalado no mainframe da PRODEMGE.

Outro grande projeto em andamento na PRODEMGE é a instalação e utilização do ambiente aberto no mainframe. Recentemente, a empresa realizou parte de seu projeto de modernização tecnológica com a atualização de sua CPU mainframe IBM 9672. O equipamento atual, 9672-R56, foi adquirido com um processador específico para o ambiente Linux. Segundo a PRODEMGE, o objetivo desse processo é transferir alguns serviços TCP/IP que executem no ambiente Intel para o Linux do mainframe e também migrar software do OS/390 para o ambiente Linux e, assim, conseguir reduzir custos mensais de software do ambiente IBM.

As iniciativas com software livre na PRODEMGE não param por aí. A solução de gerenciamento de fontes CVS (Concurrent Version System), utilizada pela maioria da comunidade Open Source do mundo, já está sendo avaliada pelos técnicos da PRODEMGE, junto com as avaliações das ferramentas Case abertas. Outro projeto de relevância é o de Reaproveitamento de Equipamentos, que visa a colocar as estações ultrapassadas novamente em atividade. “Essa solução comporá parte dos centros de acesso gratuito à Internet em projetos sociais que desenvolvemos, como Internet Sênior”, afirma o presidente da PRODEMGE, Antonio Carlos Passos de Carvalho.

Para conhecer melhor a estratégia da PRODEMGE em torno do Software Livre, entrevistamos o presidente da empresa, Antonio Carlos Passos de Carvalho, que é também o presidente do Conselho de Informática do Estado de Minas Gerais. Ele demonstra não apenas conhecer bem o potencial do Linux, mas também ressalta a importância da adoção de sistemas abertos pelas entidades governamentais, sem ideologismos. Para Carvalho, o mais importante é obedecer a critérios técnicos que beneficiem o cidadão, maior usuário dos serviços públicos.

Revista do Linux - Como a PRODEMGE está trabalhando com o Software Livre?

Antonio Carlos - Antes de mais nada, é preciso dizer que na PRODEMGE, há vários anos, já existem iniciativas envolvendo o uso de programas abertos ou livres, e que estes não significam automaticamente softwares grátis, pois há diversas despesas envolvidas, como suporte, treinamento, customização, etc. Na verdade, há um novo mercado se desenvolvendo, baseado nos softwares livres, com diversas empresas se especializando nesse ramo. Observamos, contudo que, por vezes, o tema do software livre é tratado com abordagens ideológicas, e sabemos existirem até proposições em algumas Assembléias Legislativas visando tornar “o seu uso obrigatório, sempre que possível”, o que certamente não cremos ser o mais adequado, pois o tema merece tratamento técnico, não carecendo de legislação específica para tal. Na PRODEMGE e nos órgãos do Estado de Minas Gerais continuaremos a apoiar o Linux, mas sempre de forma serena e equilibrada, obedecendo a requisitos técnicos e sem exageros. Naturalmente que não cremos nem apoiamos nenhum monopólio, de qualquer empresa que seja.

RdL - Por que a PRODEMGE decidiu apoiar o Software Livre ?

Antonio Carlos -Como empresa pública responsável pela tecnologia da informação na administração estadual, a PRODEMGE tem como premissa pesquisar e identificar as soluções mais adequadas disponíveis no mercado, considerando, além de sua aplicabilidade à situação específica, questões como custos, eficiência, e desempenho. Dessa forma, temos trabalhado de forma harmônica tanto com o software aberto, que por vezes tem se mostrado a melhor opção, quanto com softwares proprietários, os quais respeitamos. Em muitos casos o software aberto tem se apresentado mais estável, seguro e com melhor performance. A opção pelas soluções adotadas, sejam elas livres ou proprietárias, está sempre vinculada a processos técnicos de avaliação.

RdL - De que maneiras os Estados da federação podem ser beneficiados com Software Livre ?

Antonio Carlos - São vários os benefícios que a solução livre propicia. Além das mais divulgadas, que são a aquisição sem ônus e o código aberto, que permitem a redução de custos de aquisição e o pleno conhecimento das funcionalidades e deficiências dos programas, existem outras, como:

  • Possibilidade de adaptação dos códigos às necessidades específicas de cada região, de cada estado ou mesmo de cada município, com a elaboração de novas funcionalidades e alterações no código fonte das soluções escolhidas.
  • Maior número de opções ou soluções.
  • Reaproveitamento de equipamentos considerados obsoletos ou ultrapassados.
  • Troca de experiências entre os vários usuários de software livre no Estado, envolvendo soluções, conhecimentos, treinamentos, etc. Um exemplo é o convênio de cooperação entre a PRODEMGE e a Prodabel, que exemplifica este benefício.
  • Maiores possibilidades para a democratização do acesso à informática e à informação.

RdL - Como os municípios mineiros podem se beneficiar de soluções baseadas em Software Livre, ofertadas pela PRODEMGE?

Antonio Carlos - Evidentemente os municípios podem ser beneficiados de várias maneiras. A própria cultura sobre software aberto pode ser repassada para os vários municípios do Estado. Recentemente, foi realizado um seminário, “Software Livre: Uma opção Pública”, que reuniu mais de 200 profissionais e estudantes do setor. Várias deles eram técnicos de diferentes prefeituras municipais. A Prefeitura de Juiz de Fora, por exemplo, apresentou seu depoimento sobre o uso de StarOffice nas estações. No evento foram apresentados os projetos já realizados e os que estão em andamento, utilizando software aberto. Após o evento, alguns órgãos da administração pública estadual e municipal nos procuraram para a troca de informações. A PRODEMGE está preocupada em disseminar a informática e a informação, beneficiando os cidadãos mineiros, estejam onde estiverem. Um exemplo interessante é o Contracheque Eletrônico, sistema que disponibiliza os contracheques de todos os funcionários públicos (aproximadamente 500.000) na Internet. Parte deste sistema foi desenvolvido utilizando ferramentas abertas e está beneficiando cidadãos mineiros espalhados pelos vários municípios do Estado. Ao prestar serviços para o Estado, a PRODEMGE está naturalmente trabalhando para os Municípios.


Rodrigo Asturian
Asturian@RevistaDoLinux.com.br


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