LaTeX nas alturas
Aprenda a fazer documentos profissionais e com alta qualidade, de uma maneira simples, rápida e que não requer alto poder computacional
Há cinco anos mantenho uma lista de
discussão sobre o vôo livre de Parapente.
Este equipamento é uma espécie de páraquedas, mas que voa como uma asa delta.
Desde o início, as mensagens que circularam pela lista continham um alto nível,
fosse ele técnico, discorrendo sobre o vôo
livre, equipamentos e meteorologia, fosse
pelos belos relatos do prazer de voar.
Foi nessa época que me surgiu a idéia
de fazer um livro com os melhores relatos
da lista, separados por áreas de interesse,
com sumário, índice remissivo e outras
coisas mais. Passaram-se os anos e, em torno de julho de 2001, resolvi encarar o projeto. Muitas mensagens eu já havia separado em uma pasta de meu leitor de e-mail,
outras acabei pesquisando no histórico da lista.
E chegou a hora da decisão. Que software eu usaria
para editorar o livro? A escolha ficou entre duas poderosas ferramentas disponíveis na maioria das distribuições
Linux: O LaTeX e o Docbook.
Optei pelo LaTeX pois seria mais fácil "marcar" o texto; o LaTeX não precisa de uma marcação específica para
mudanças de parágrafo, ao contrário do Docbook. Além
disso, o Docbook mostra todo o seu potencial quando
estamos editorando textos técnicos e queremos publicálos em diversos formatos. Como o meu objetivo era somente publicá-lo sob a forma de livro, com a alta qualidade do arquivo de saída do LaTeX, a escolha estava feita.
Meu objetivo com este artigo não é ensinar o uso
básico do LaTeX, isso você pode conseguir nos links no
final do texto. A idéia é mostrar como é fácil trabalhar
com este aplicativo e como resolver situações específicas,
usando os conceitos da ferramenta.
Então vamos lá. Um documento mínimo do LaTeX é
mostrado abaixo:
\documentclass{book}
\begin{document}
Texto de teste.
Isto é uma \emph{ênfase}.
\end{document}
Como você pode ver, o LaTeX utiliza uma linguagem simples de marcação de textos, com os comandos iniciando com uma barra invertida (\) e os
argumentos sendo normalmente passados dentro das chaves ({}). Desta maneira, pode-se utilizar qualquer editor
de textos para formatar e visualizar os
fontes do documento.
O problema é que este documento
mínimo não produzirá o livro da maneira que queremos. É aí que entra o
estilo. O estilo usado no meu projeto foi
baseado no estilo dos antigos manuais
da Conectiva (5.0 e anteriores). Ele já
configura o suporte à acentuação, ao
português do Brasil e também a outras
coisas, como tamanho da área texto. Para ver mais detalhes do estilo, consulte o próprio arquivo, localizado em
principal/livros.sty. Para baixar este e os outros arquivos de exemplos, acesse o site disponibilizado no box "Para saber mais", no fim da página.
Para gerar o livro, utilizei um arquivo Makefile, bastando para isso executar o comando make dentro do diretório principal. Veja na tabela abaixo os arquivos mais importantes envolvidos no projeto.
Arquivo |
Descrição |
Makefile |
controla a geração do arquivo final |
principal/projeto-livro.tex |
arquivo principal |
principal/livros.sty |
arquivo de estilo |
relatos/*.tex |
relatos da lista |
adendos/preludio.tex |
título, páginas iniciais, dedicatória.. |
adendos/prefacio.tex |
prefácio do livro |
adendos/*.tex |
introduções dos capítulos, apêndices, etc |
Como o livro foi formado por diversos relatos, criei duas
tags específicas para lidar com cada mensagem: \autor, para
identificar o autor do relato e \titulo, para o título da mesma. Ambas as tags são mostradas em fonte e tamanho diferenciados do resto do texto.
O estilo padrão do LaTeX é voltado para documentações técnicas e, por isso, inclui a numeração de capítulos
e seções. No meu caso, esta numeração não era desejável,
pois o aspecto final do livro seria prejudicado. Isto foi resolvido modificando-se levemente as tags de definição de
capítulo e de seção (que no meu caso eram os títulos dos relatos). O efeito colateral desta modificação foi o fato de
que os capítulos não mais apareceriam no sumário do livro.
Para resolver isso, incluí comandos adicionais na redefinição,
para que os capítulos e relatos voltassem ao sumário.
O texto final resultou em um livro de 300 páginas,
com mais de 150 relatos de 50 autores diferentes. Eu queria uma maneira simples e fácil do leitor encontrar os relatos que mais lhe interessassem, bem como poder achar rapidamente os relatos de um único autor.
Encontrar os relatos pelo nome estava resolvido, pois
os mesmos estavam aparecendo no sumário, após a modificação das tags \capitulo e \titulo. O que faltava resolver era a identificação dos autores. Na primeira tentativa incluí um comando dentro da tag \autor para que fosse gerada automaticamente
uma entrada no índice geral (aquelas referências
que ficam no final do livro, mostrando as páginas
em que determinado assunto se encontra). Esta
opção funcionou, mas não gostei do resultado,
pois eu precisava de um índice específico somente para autores. Pesquisei um pouco e descobri um pacote que adicionava a capacidade de múltiplos índices (multind) no LaTeX. Assim, eu teria um índice remissivo geral e um outro específico para os autores. Automaticamente consegui gerar o que precisava: uma indicação
de quantos relatos cada autor escreveu e também em que
página cada um estava localizado.
As tags modificadas podem ser vistas abaixo.
% do arquivo principal/projeto-livro.tex
%
% nova definição de capítulo
%
\newcommand{\capitulo}[1]{\chapter*{\Huge \bf #1}
\addcontentsline{toc}{chapter}{\protect\numberline{}{#1}}
\markboth{Projeto Livro - #1}{Projeto Livro - #1}
}
%
% títulos dos relatos
%
\newcommand{\titulo}[1]{\section*{\LARGE #1}
\addcontentsline{toc}{section}{\protect\numberline{}{#1}}
\markright{#1}
}
%
% tratamento do autor do relato
%
\newcommand{\autor} [1] {{\large \bf \em #1}\index{B}{#1}}
Por último, mas não menos importante, faltava a escolha da fonte. Eu já estava enjoado da fonte padrão do
LaTeX, depois de vê-la em tantos manuais e documentos
na Internet. Eu precisava de uma fonte mais viva, com
boa leitura e que possuísse personalidade própria. Após
imprimir mais de sete modelos diferentes e de
fazer uma enquete com várias pessoas, optei pela
fonte bookman.
Você encontrará no site um livro-exemplo,
com versões em Postscript e PDF; todos os fontes para a geração do livro também se encontram por lá. Veja cada arquivo, começando pelo principal/projeto-livro.tex, e estude-os.
Copie esta estrutura para um diretório local da
sua máquina e vá modificando-a, incluindo
seus arquivos e adaptando-os às suas necessidades. Para compilar o livro, execute o comando make a
partir do diretório do livro. Certifique-se de que você
possui o LaTeX e o make instalados no seu computador.
Caso esteja utilizando o Conectiva Linux, basta executar apt-get install tetex-latex tetex-dvips make.
Deste modo, você estará aprendendo rapidamente a
trabalhar com o LaTeX da melhor forma possível, usando-o na prática! Isso me lembra uma das leis fundamentais da química: "Na natureza nada se cria, nada se perde;
tudo se transforma". Aproveite a natureza e crie seu próprio livro, trabalho ou relatório e edite-os através do
LaTeX, gerando um produto final com uma excelente
qualidade técnica e gráfica. Depois é só gerar a matriz e
mandar para a gráfica!
Para saber mais
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