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O profissional

Sérgio Bruder, membro ativo da comunidade Linux, é o mantenedor do site de notícias pontobr.org, um dos mais tradicionais sites da comunidade de software livre brasileira. Consultor de informática há 13 anos e sócio-fundador da Haxent Consultoria (www.haxent.com.br), Bruder estudou na Universidade Federal do Rio de Janeiro e tem larga experiência em sistemas Unix, desenvolvimento para plataforma Linux e bancos de dados. Ele é usuário de informática por tradição familiar. Quando pequeno, ele literalmente desenhava em cartões perfurados. "Meu pai é analista de sistemas e viu a IBM parar de vender calculadoras eletromecânicas e passar a trabalhar com mainframes, começando a programar com um monte de fios em um painel que lembrava aquelas mesas telefônicas antigas até algo com a funcionalidade dos mainframes atuais, com terminais, fitas e discos rígidos", lembra. É com ele que conversamos nesta edição

Revista do Linux - Como começou seu interesse com a informática e, conseqüentemente, o Linux?

Sérgio Bruder - Quando cheguei à época de faculdade já tinha passado por linguagens como o Basic, Assembler e Pascal, sem passar pelos MSX comuns à época. Fui direto dos CP-300 / CP-400 para um PC-XT. Durante a faculdade, tive os primeiros contatos com Linux e, como quase todo mundo, comecei instalando um Slackware naquela típica pilha de disquetes.

RdL - O que dá mais prazer para você quando está trabalhando com Linux?

SB - Flexibilidade. Parafraseando o Perl, "há mais de uma maneira" de se fazer as coisas. Nada é mais irritante, depois que você se acostumou com a flexibilidade de trabalhar em Linux, do que pegar um sistema operacional que decide as coisas por você. A capacidade de scripting também é interessante e favorece em muito a automatização de tarefas.

RdL - Quais os principais projetos dos quais você já participou utilizando softwares livres?

SB - Participo do WildWEB (wildweb.sf.net), uma biblioteca PHP para aplicações WEB e estive envolvido com MySQL, PostgreSQL e PHP, no papel de "early-adopter", usando versões alfa/CVS, preenchendo bug-reports, etc. Em praticamente todos os projetos de que participei nos últimos anos utilizou-se software livre. É importante que, quando falamos de software livre, não estamos falando apenas de Linux. Como exemplo, posso citar vários projetos de que participei e que utilizaram softwares livres, como as ferramentas GNU, Apache, PHP e Python, entre outros, e não usaram Linux.

RdL - Você mantém um dos sites de notícias mais acessados da comunidade Linux brasileira (pontobr.org). Como ele surgiu?

SB - Os ingredientes da criação do pontobr começam com um hobbysta Linux nas horas vagas, somado ao fato de ser leitor assíduo de Slashdot desde os tempos em que não se chamava Slashdot (alguém se lembra do Tids&Bits?) e um interesse crescente por desenvolvimento web em PHP. Surgiu então a idéia: Por que não faço um "Slashdot brasileiro"? Na época, o código do slashdot ainda não tinha sido liberado, então resolvi fazer meu próprio engine em PHP. Duas semanas de noites praticamente não dormidas, e o pontobr era inaugurado como pontobr.br em setembro de 1999. Comentários apareceram uma semana depois. No início de 2000 o pontobr se transferiu para seu endereço atual, pontobr.org.

RdL - De que maneira você mantém o site Pontobr atualizado?

SB - Bem, a resposta sincera para essa pergunta é: "não mantenho atualizado". Atualmente eu compartilho a posição de editor no pontobr com outras pessoas que se voluntariaram, o que permite dividir um pouco a carga desse trabalho. Nesse ponto, o nome do Guilherme Manika (gwm) tem que ser citado, que é quem tem mantido com algumas notícias o pontobr, quando me falta tempo para mantê-lo.

RdL - Como é a participação da comunidade no envio de notícias e no debate de idéias?

SB - Todo o site é baseado no princípio cooperativo do Slashdot: os usuários mandam as notícias, os editores decidem o que entra ou não e a discussão a partir daí segue de maneira livre - exceto por um pouco usado esquema de moderação. Eventualmente os editores se preocupam em buscar alguma notícia para o site, mas isso não é normalmente necessário. O ponto principal do site não são as notícias em si, mas sim a discussão que se segue. Isso é uma coisa que as pessoas que apenas "dão uma olhada" no site ainda não entenderam. Normalmente, a melhor parte do site, as informações mais interessantes e as idéias mais originais são postadas como comentários às notícias. Claro que essa liberdade tem seus problemas. Alguns usuários, conhecidos como "trolls", postam mensagens inflamatórias e agressivas. A moderação nem sempre vence esses usuários, normalmente anônimos, mas quem se acostuma ao site logo começa a ignorar esses usuários. E, afinal, às vezes os "trolls" são até engraçados.

RdL - Em que áreas você acredita que o Linux tenha potencial para se expandir?

SB - A frente mais interessante de avanço do Linux nos últimos tempos é no governo. As iniciativas das empresas estatais de TI, como a Procergs ou o SERPRO, são exemplares. É interessante que, em alguns casos relatados, os próprios usuários estão pedindo para ter Linux em seu desktop. Isso é inédito. O KDE está seguindo o caminho de deixar de "correr atrás" dos outros ambientes de desktop estabelecidos para assumir personalidade e servir não só como ambiente de desktop, mas também como um ambiente para desenvolvimento de aplicações. Isto é um sinal muito importante de maturidade do software livre. Se alguns anos atrás o desenvolvimento era feito no sentido de o Linux ter um ambiente de desktop, um processador de textos, um browser, hoje o desenvolvimento é feito no sentido de prover uma infra-estrutura que torne desenvolvimentos futuros mais fáceis.

RdL - Qual a sua expectativa com relação ao uso do Linux no governo federal, agora que Lula é o presidente?

SB - Não há ainda uma configuração formal de uso em larga escala de software livre pelo governo Lula. Apesar disso, com base no histórico do governo petista do Rio Grande do Sul, as expectativas de crescimento são muito grandes.

RdL - Você abriu recentemente abriu uma empresa de consultoria em informática, e esse é um caminho seguido por muitos desenvolvedores. O mercado de trabalho é bom para o profissional com conhecimentos de Linux?

SB - O mercado Linux segue a lógica de qualquer mercado. Se por um lado as expectativas de crescimento do Linux são animadoras, por outro, é preciso lembrar que estamos operando em uma economia em crise. Terá bons resultados quem investir em descobrir o seu nicho. Por exemplo, a área de desenvolvimento é relativamente pouco explorada. Nós tivemos um primeiro momento de adoção do Linux, em que a palavra de ordem era trazer o desenvolvimento para a plataforma Linux o mais rápido possível. E isto foi feito principalmente usando ferramentas que mantinham a base de código legada. Num primeiro momento, isto é perfeito, mas não é a melhor maneira de usar os recursos da plataforma. Por isso, o desenvolvimento para plataforma Linux tem que se profissionalizar e começar a explorar melhor as novas possibilidades da plataforma. Veja uma linguagem como Python, por exemplo: ela é extremamente fácil de aprender, é orientada a objetos, integra-se ao sistema de maneira perfeita e de forma nativa, sem todas as camadas de compatibilidade de outras soluções que, no final das contas, só servem para dificultar o desenvolvimento. E tudo isso em um ambiente que permite desenvolvimento muito rápido. Python é a ferramenta de desenvolvimento rápido que muita gente procura, mas ainda não se criou uma cultura em torno dessa e de outras ferramentas.

RdL - O que você aconselha a quem quiser começar a trabalhar com o Linux?

SB - Há dois pontos de vista: o novato que nem mesmo conhece Linux e o usuário Linux avançado que quer transformar o hobby em profissão. O melhor para começar a trabalhar com Linux é aprender muito bem. E a melhor forma de aprender é tentando, fazendo, sem ter medo de errar (e você irá errar, com toda a certeza). Isto é exatamente o oposto do que se observa hoje em listas de discussão Linux brasileiras e canais IRC, onde os novatos aparecem com as questões mais banais, que deixam óbvio que a primeira opção dele foi procurar auxílio na lista antes mesmo de tentar resolver o problema por si próprio, normalmente exigindo o pronto atendimento de sua dúvida pela "comunidade". Já para quem conhece Linux a fundo, existem dois aspectos que podem ser exercidos: investir em certificações Linux e fazer parte da comunidade.


Rodrigo Asturian - asturian@RevistaDoLinux.com.br


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