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Trabalho em equipe e espírito comunitário

Escrevo esta coluna no mês em que o meu site de Linux (o br-linux.com) completa 7 anos de atividades. Neste período aprendi muitas lições, muitas das quais foram sintetizadas em um artigo preparado para o IV Fórum Internacional do Software Livre que aconteceu em Porto Alegre no início de junho.

Mas a mais importante destas lições merece atenção especial, e acabou encontrando espaço também nesta coluna impressa, que vai ser lida inclusive por muita gente que não tem interesse em sites de notícias sobre Linux. É uma lição difícil de aprender, pois geralmente as pessoas já a trazem consigo (ou não) no seu temperamento: o espírito comunitário.

Pelos comentários que vejo nos sites, fóruns e listas que leio, às vezes parece que muitos usuários pensam que os sites e projetos da comunidade Linux competem entre si, ou são rivais uns dos outros. Nada mais longe da verdade! Embora não exista uma "panelinha" de líderes de projetos, a maior parte se conhece (no mínimo por e-mail) e tem fácil acesso aos demais quando se trata de planejar alguma ação em conjunto, pedir dicas, compartilhar soluções e alavancar mutuamente a visibilidade de nossos projetos.

Infelizmente existe uma pequena minoria que prefere fazer carreira solo, e aí tem pouco escrúpulo em se apropriar do trabalho alheio sem a cortesia de citar a fonte, tentar usar como se fossem exclusivas as informações que deveriam ser públicas, e de modo geral tirar vantagem dos demais membros da comunidade sem oferecer a justa contrapartida. Mas isso existe em qualquer comunidade organizada...

Ao longo da minha experiência com a comunidade Linux brasileira, procurei tratar a todos os envolvidos de forma correta, o que ajuda a explicar as parcerias de longa duração e mútuo benefício que o site angariou e mantém. Se de alguma forma esse exemplo puder servir para nortear novos projetos que estejam surgindo ou amadurecendo agora, que a comunidade Linux brasileira começa a atingir sua maturidade inclusive sob o ponto de vistado mercado, creio que poderemos considerar o fato como uma bela comemoração de aniversário.

O lado bom: Desenvolvimento colaborativo é a própria alma do software livre
O lado ruim: Alguns líderes de projeto tendem a ver este processo como algo a ser evitado, ou uma via de mão única, com benefícios só para eles.

O ovo de Kolombo

Aproveitando o gancho do assunto anterior, quero mencionar mais uma vez nesta coluna o trabalho que o Carlos Morimoto com sua mini-distribuição Kurumin Linux (www.guiadohardware.net/linux/kurumin/). Além de saber dosar as implementações originais e o aproveitamento da contribuição de outros projetos paralelos ou antecessores (especialmente o Knoppix), ele aparentemente está conseguindo resolver um problema que costuma afetar boa parte (felizmente não a totalidade) dos projetos de desenvolvimento de software livre nacionais: a formação e manutenção de uma comunidade de desenvolvedores.

Talvez o ovo de Colombo neste caso seja a relativa simplicidade do projeto: em um sistema cujo público-alvo não são necessariamente os servidores ou desktops corporativos, e que pode inclusive rodar sem instalação no disco rígido, há espaço até para os programadores de fim de semana, os hobbystas, usuários domésticos, etc.

Na última semana li o relato de um usuário que aprendeu programação shell e construção de interfaces em Dialog especificamente para implementar um recurso simples e útil: um discador para provedores de Internet gratuitos. Ele nem se preocupou em lidar com os aspectos complicados da telefonia e do protocolo PPP - a discagem e conexão em si ficaram por conta do bem conhecido Wvdial, que já fazia parte do sistema. Ele apenas agregou valor incluindo o cadastro de configurações de provedores (incluindo a tabela de números telefônicos) e as necessárias interfaces para que o usuário final só precise selecionar a cidade em que se encontra, o provedor desejado, o login e a senha.

E claro que a oportunidade oferecida por um projeto como o Kurumin, que já inclui uma série de pequenos scripts baseados nas interfaces simples do Dialog para simplificar diversas tarefas e cujo mantenedor é tão aberto às propostas de alterações que se deu ao trabalho de escrever um manual para os interessados em modificar o seu trabalho, ajuda muito.

Talvez as idéias nascidas no ambiente do Kurumin achem o seu caminho até as distribuições "tradicionais", e esta nova safra de desenvolvedores cresça até poder se integrar aos projetos de software de maior complexidade do que os scripts shell, e talvez não. Mas devemos reconhecer a oportunidade, e estimular o surgimento de novos talentos, sem torcer o nariz para as idéias implementadas de forma simples como se a simplicidade lhes reduzisse o valor.


Augusto Campos - brain@matrix.com.br


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