A linha de montagem e a tecnologia da informação
No dia 16 de junho passado, a Ford, gigante do setor automobilístico, completou 100 anos de existência. Se para uma pessoa comemorar seu centésimo aniversário já é um grande feito, imagine para uma empresa que congrega milhares de pessoas, processos burocráticos e as intempéries da economia mundial.
A Ford não inventou o automóvel (na época existiam mais de 200 fabricantes), mas foi a mais eficiente. O seu saudoso fundador, Henry Ford, foi quem primeiro introduziu o conceito de linha de montagem. Com isso, ele conseguiu ter escala para a produção e gerar produtos mais baratos e com mais qualidade. Nos anos seguintes, esta prática foi copiada pelo restante da indústria, e não é sem razão que hoje conhecemos as companhias que operam no setor pela alcunha de Montadoras.
A indústria de tecnologia de informação está passando por um processo semelhante. A tecnologia em si não é mais a peça fundamental, mas sim o valor agregado que ela pode trazer aos negócios de seus clientes. Anos atrás, era o fornecedor quem ditava que padrões tecnológicos o cliente deveria seguir. Hoje, é o cliente quem dita o que o fornecedor deve implementar em sua empresa. Uma grande parcela desta mudança se deve à adoção de padrões abertos pela indústria.
Assim como a Ford, as empresas de tecnologia da informação atendiam completamente aos seus clientes. Todo o software, e até mesmo o hardware, era desenvolvido internamente. Os tempos mudaram e a grande exigência do mercado faz com que as empresas tenham que, cada vez mais rápido, desenvolver novas soluções para seus clientes. O custo e o tempo para se prover soluções proprietárias estão inviabilizando este tipo de modelo de negócios. Hoje as empresas têm que trabalhar em conjunto, em um verdadeiro modelo de linha de produção, para poderem atingir o grau de qualidade e competitividade que o mercado exige.
A construção da linha de produção da tecnologia da informação está andando a passos largos e os padrões abertos são os grandes alicerces desta nova era. A Internet é a prova viva de que um padrão bem estruturado pode fornecer as ferramentas para que milhares de novos negócios - muitos nunca antes sonhados - possam florescer e crescer, pois o solo onde estão se desenvolvendo é forte e estável.
O surgimento de uma verdadeira cadeia de fornecimento também é a razão para o amadurecimento da indústria. O desenvolvimento de software está entrando finalmente na era da produção em massa. Ele continua complexo e seus custos de pesquisa e desenvolvimento não baixaram. O fato é que, com o código aberto, está se construindo a base para a diluição de custos. Agora não temos mais somente uma companhia para arcar com todas as despesas da construção de sistemas de informação. Milhares de empresas ao redor do globo estão, através do software livre, desenvolvendo a complexa cadeia de fornecimento para a nova era da tecnologia da informação. Uma era em que os custos serão mais justos e os lucros compartilhados pela contribuição de cada empresa.
Boa leitura,
Rodrigo Stulzer