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Opinião

Os programadores e a sociedade

O tema responsabilidade social ganha mais repercussão na vida das pessoas e empresas. O termo, segundo a Fundação Nacional Para o Prêmio Nacional da Qualidade (FNPQ), pressupõe o reconhecimento da comunidade e da sociedade como partes interessadas da organização, com necessidades que precisam ser atendidas. Significa ainda, a responsabilidade pública, ou seja, o cumprimento e a superação das obrigações legais decorrentes das próprias atividades e produtos da organização.

Quanto mais estudo o tema, encontro mais pontos em comum com a dinâmica do desenvolvimento de softwares abertos. Uma das formas mais interessantes de se praticar a responsabilidade social é exercer atividades voluntárias. Tento imaginar a multidão de programadores voluntários que trabalham para o aprimoramento do sistema operacional GNU/Linux.

Até então, posso ter algum conhecimento de programação, vontade de trabalhar como voluntário em um projeto da comunidade de SL, mas e a minha responsabilidade social, como fica? Quanto mais percebo a dificuldade de superarmos a desigualdade social do país, mas me convenço que só sairemos desse carma incômodo - que nos coloca no mesmo nível de países africanos - se exercermos nossa cidadania, e dividirmos nosso conhecimento com aqueles que não tem a oportunidade que tivemos.

Sim, se você chegou até aqui e está lendo essas linhas, parabéns. Você é um privilegiado, lê uma publicação técnica, tem acesso à informática e possivelmente tem uma educação de bom nível. Mas voltemos à questão da igualdade. É comum confundirmos igualdade com pobreza. Igualdade pode ser definida no âmbito das oportunidades de condições de vida e a pobreza é uma conseqüência da falta de oportunidades.

Perceberam onde quero chegar? É interessante observarmos que muitos talentos do movimento de SL estão em países em desenvolvimento, como o Brasil e a Índia. Esses talentos foram moldados nas condições sociais adversas e desiguais. Claro que as nações do Norte vão querer esses talentos para elas, e muitas vezes elas conseguem. Mas os que ficam - seja quais forem os motivos - têm uma dívida com o seu país, pois se há alguém interessado na perpetuação da pobreza, não somos nós brasileiros.

Antes que me chamem de nacionalista, quero deixar claro que não sou contra o que vem de fora. Pelo contrário, pois muita coisa boa que se tem no movimento de SL veio dos países do Norte. Mas tudo é resultado de um trabalho coletivo para o aprimoramento do código-fonte. A natureza aberta desse trabalho é a condição para que o código seja permanentemente melhorado. Esse trabalho de engenharia humana iniciado por Linus Torvalds e bravamente defendido por Richard Stallman tem uma importância social. E é no Brasil que ela é mais visível.

Vejamos os telecentros de São Paulo e Porto Alegre. Ao darmos a oportunidade do acesso à tecnologia às populações mais carentes, é uma forma de combatermos a pobreza neste país. É por isso que acredito que o SL tem futuro, principalmente no Brasil. Ao desenvolvermos nossas próprias tecnologias, estaremos formando uma massa crítica de programadores e usuários que não estarão mandando suas mentes e dólares para as corporações dos neoliberais países do Norte. Espero que o presidente Lula se dê conta da oportunidade que recebeu e faça dela um exemplo de que o combate à pobreza só é eficaz quando damos uma oportunidade às pessoas. Oportunidade de aprender, ter acesso à tecnologia e mudar o mundo. Não soa familiar quando damos os primeiros passos no mundo do SL? Ou melhor, será que um novo Linus não virá das periferias gaúchas, paulistanas ou de onde for?


Rodrigo Asturian - asturian@RevistaDoLinux.com.br


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