ENTREVISTA - Software como serviço
Olga Regina Pereira Bellon é Professora Adjunta do Departamento de Informática da Universidade Federal do Paraná (UFPR) desde 1992. Concluiu doutorado em 1997 pela Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da UNICAMP. De setembro de 1997 a fevereiro de 2000, coordenou o Curso de Mestrado em Informática da UFPR e, desde março de 2000, coordena Cursos de Especialização em Informática da UFPR, inclusive o Curso de Especialização em Linux. É líder do Grupo IMAGO de Pesquisa em Visão Computacional e Processamento de Imagens (www.inf.ufpr.br/imago), criado em 1995, tendo já publicado dezenas de artigos na área. A professora da UFPR tem atuado no desenvolvimento de ferramentas de acessibilidade, baseadas em Software Livre, para pessoas com necessidades especiais.
Além disso tudo, ela ainda orienta diversos trabalhos de graduação, especialização, mestrado e doutorado. Olga Bellon é a atual Coordenadora Geral de Pesquisa da UFPR e demonstra muita confiança na formação de mão-de-obra qualificada nas universidades brasileiras. Quando questionada se o Brasil tem condições de formar programadores de renome dentro das universidades, ela respondeu sem hesitar: "Com certeza isso está acontecendo".
Revista Do Linux: O Departamento de Informática da UFPR tem uma relação muito consistente com o Software Livre. Usa o Linux em seus laboratórios e agora oferece um curso de especialização em Linux. Como começou essa relação?
Olga Bello: Isso começou no início da década de 90, quando um grupo de jovens professores recém-contratados implantou o Sistema Unix em HP-UX, Sun-OS e Free-BSD. A partir daí, a evolução natural foi a manutenção do Sistema Unix em plataformas de baixo custo. Em 1997, foi implantada a primeira rede baseada numa servidora Linux. Com isso, foi-se formando uma massa crítica altamente qualificada sobre estes sistemas no Departamento de Informática, culminando com a consolidação de uma ênfase do Curso de Especialização em Informática totalmente voltada ao Sistema Operacional Linux.
RDL: Como a professora avalia o interesse dos estudantes de informática pelo Software Livre?
Olga: A maioria dos estudantes chega aqui já com uma cultura no uso de sistemas proprietários, tanto doméstico quanto profissional. Isto diminui o interesse inicial, mas à medida que vão adquirindo conhecimentos conceituais em Informática, passando por uma fase de obtenção de independência com relação ao tipo de software usado, o interesse por Software Livre vai crescendo.
RDL: Como está o mercado de trabalho na área de informática?
Olga: O mercado está aquecido linearmente, ou seja, mantém uma oferta estável em número e qualidade. Observamos que mais de 90% de nossos alunos de graduação são absorvidos em, provavelmente, até 12 meses após a formatura, este número chega a 100%. Já para os alunos de pós-graduação (especialização e mestrado), que normalmente já estão inseridos no mercado, existe um interesse paralelo em adquirir conhecimentos sobre ambientes baseados em Software Livre. O que mostra o crescimento da demanda do mercado por esse tipo de ambiente.
RDL: De que forma o mercado absorve os profissionais capacitados para trabalhar com Software Livre?
Olga: Principalmente na administração de sistemas, banco de dados e redes. Há também um grande número que trabalha na área de desenvolvimento (análise e programação).
RDL: E quais as áreas de informática que têm uma demanda maior por profissionais atualmente?
Olga: Desenvolvimento, redes, banco de dados e administração de sistemas.
RDL: Qual o perfil do aluno de informática formado pela UFPR?
Olga: Em qualquer nível (graduação, especialização e mestrado), os cursos do Departamento de Informática da UFPR tem como objetivos principais fornecer uma base sólida em computação aos seus alunos, além de fomentar a visão crítica e a capacitação em pesquisa, de forma a auxiliar na elaboração de soluções para problemas de informática. A metodologia dos cursos está focada no desenvolvimento da capacidade dos alunos em aprender a aprender, sempre embasada por uma forte componente prática.
RDL: Quais parcerias com a iniciativa privada/órgãos públicos que o Departamento de Informática da UFPR está fazendo?
Olga: No momento, nossas parcerias envolvem três Instituições públicas, uma ONG e três multinacionais.
RDL: Que projetos com Software Livre estão sendo desenvolvidos atualmente pelo Departamento de Informática da UFPR?
Olga: Desenvolvimento de sistemas tolerantes a falhas, integração de sistemas operacionais, migração de sistemas, segurança de redes, centralização e otimização de recursos computacionais com o uso de redes de alta velocidade, processamento de alto desempenho (clusters), sistemas de apoio ao diagnóstico médico utilizando imagens e ferramentas de acessibilidade para pessoas com necessidades especiais.
RDL: Qual a sua opinião sobre o Software Livre? Que vantagens e desvantagens ele tem, em comparação com softwares proprietários?
Olga: O Software Livre valoriza serviços em vez de produtos. Enquanto que no caso do usuário de software proprietário a relação cliente fornecedor termina na aquisição, o usuário de software livre apenas inicia uma relação de prestação e serviços. Essa volta aos paradigmas iniciais da computação, que encaravam o software como serviço, valoriza a qualidade do profissional. O software não é mais uma caixa preta, de qualidade desconhecida, e sim o resultado de uma parceria entre o usuário e o desenvolvedor através do Software Livre.
RDL: De que forma as empresas públicas e privadas podem se beneficiar com o Software Livre?
Olga: Baixo custo, melhoria da qualidade, independência tecnológica, segurança e estabilidade de serviços.
RDL: Que vantagens, do ponto de vista pedagógico, o Software Livre oferece?
Olga: Esta questão tem sido discutida no Departamento de Informática da UFPR há anos. Acreditamos que o uso de Software Livre estimula uma série de aspectos positivos nos alunos, entre eles: a busca do conhecimento, uma associação mais íntima entre teoria e prática e maior responsabilidade profissional.
Rodrigo Asturian
asturian@RevistaDoLinux.com.br