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O sonho do administrador de redes

Antes, sem recursos. Hoje, livre para voar e escrever um romance

Os profissionais de informática da Companhia de Distritos Industriais (CODIN), no Rio de Janeiro, têm como principal missão prover, administrar e fazer evoluir a estrutura de informática da empresa. No entanto, uma responsabilidade a mais se revela quando conhecemos a experiência da CODIN com o Software Livre. Seus profissionais dão suporte em Linux a outros órgãos do estado e do município do Rio de Janeiro. Uma enorme responsabilidade que vem sendo superada com muita dedicação de pessoas que, mesmo com a escassez de recursos, fazem soluções criativas e eficazes como a da CODIN, que, ao longo de dois anos, implantou diversas soluções baseadas no Linux, que resultaram em considerável ganho de produtividade de seus funcionários.

A falta de recursos financeiros atrapalhava e inviabilizava toda e qualquer tentativa de melhoria no setor de informática da CODIN. Para se ter uma dimensão do problema, a estrutura de informática da empresa, em 1996, se resumia a um 386 com quatro terminais de vídeo, seis impressoras matriciais, 4 XT´s, todos eles rodando XENIX e DOS com sistemas em MUPS. Com o passar dos anos, novos computadores foram adquiridos, sempre com muita dificuldade, e alguns serviços de rede foram implantados aos poucos. ~SMesmo assim, eles possuíam limitações e não poderiam ser implementados em qualquer tipo de computador. Teríamos que ter uma máquina que rodasse o Windows NT satisfatoriamente~T, salienta o administrador de redes da CODIN, Laudelino Lima.

O grande empecilho para a empresa foi a questão do licenciamento. O servidor de banco de dados era o SQL Server 7.0, e os aplicativos desenvolvidos não poderiam ser disponibilizados para todos os funcionários, pois os valores para a compra das licenças ~V algo estimado em torno de R$ 41 mil ~V eram altos demais para a empresa.

Peugeot recomendou Linux

A equipe de informática da CODIN, com base em notícias veiculadas na imprensa sobre os benefícios do Linux, começou a amadurecer a idéia de levar o sistema operacional do pingüim para a empresa. E contaram com o respaldo de usuários de peso para aderir de vez ao Linux. Nada menos que a diretoria da Peugeot francesa teceu elogios ao Linux. E o próprio Laudelino conta como foi isso. ~SNosso presidente na época, Maurício Elias Chacour, comentou sobre a questão do Linux em uma reunião com diretores da Peugeot e teve como resposta uns dez minutos de elogios ao sistema e à sua posição estratégica para o governo da França e as empresas daquele país~T, informa. A Conectiva foi convidada a mostrar os benefícios do Linux, e uma dos integrantes da equipe de informática da CODIN participou de um curso de administração de redes na filial da Conectiva, no Rio de Janeiro.

A adoção do Linux na CODIN contou com o apoio da diretoria da empresa, viabilizando parcerias e dando oportunidades de treinamento aos seus funcionários. ~SNossa superintendente de informática, Maria Fernanda Streva, acompanhava diariamente o laboratório de testes de sistemas, e o melhor de tudo é que a companhia decidiu fazer algo muito raro, até mais difícil do que conseguir dinheiro, que é dar carta branca para o setor de informática~T, diz Laudelino.

Com a limitação do parque de hardware da empresa, qualquer serviço que fosse implantado deveria funcionar com poucos recursos de hardware. A jornada da CODIN com o software livre começou com o Conectiva Linux, por ser uma distribuição nacional com farta documentação. ~SForam dois anos só com alegrias, pois nunca tivemos problemas com o sistema~T. Hoje, a CODIN usa vários ~Ssabores~T de Linux. São Conectiva (Servidor e Desktop), Red Hat (Lotus Notes) e Mandrake (Desktop-beta).

As aplicações livres que rodam na empresa vão desde Samba e Apache até PHP-Nuke e Nagios/NetSaint, mescladas com aplicações proprietárias como Lotus Notes (legado rodando no Red Hat devido à homologação) e o servidor de antivírus McAffee EPO (uma imposição do Estado do Rio de Janeiro para integrar a rede).

Solução menos dolorosa

A equipe de informática da CODIN iniciou a experiência com o Linux com a instalação de algo que fosse o ~Smenos dramático possível~T, segundo Laudelino, para o setor de informática e os funcionários da empresa. ~SOs usuários, em um primeiro instante, não ficaram sabendo o que era um proxy e quais eram as suas funcionalidades, e tentamos implementar o Linux da maneira menos dolorosa e mais silenciosa possível~T, afirma. Muitos sabiam de todo o movimento em torno do Linux, mas não ligavam a palavra proxy ao Linux. ~SFicamos aguardando o feed-back, perguntávamos nos corredores e no café o que eles estavam achando da Internet e eles respondiam que havia ficado mais rápida e que as mensagens personalizadas ajudavam a identificar alguns problemas~T.

Talvez, se todos os funcionários da empresa soubessem o que era um proxy, seriam contra a sua instalação. ~SComeçamos a gerar relatórios via SARG de utilização de Internet e descobrimos que uma parcela significativa de usuários andava navegando por sites tidos como impróprios~T. Via SQUID, estes sites foram barrados, downloads, chats e IRC foram impedidos e para se conectar à Internet, os usuários começaram a ser autenticados (NCSA) e, assim, a equipe da administração de redes passou a ver no log o que cada um estava fazendo, por nome de usuário.

Após uma versificação junto ao servidor de antivírus, a equipe de informática da CODIN apurou que o webmail era responsável pela maior parcela de tentativas de infecção. ~SPor determinação do nosso presidente, Gilberto Hage, inserimos no SQUID, a restrição por horários no serviço de webmail e, ao final de tudo, com tudo isso, conseguimos reduzir o consumo da banda de 8,3 gigabytes para 1,9 giga/mês~T, diz Laudelino.

Maior complexidade

Após a implementação bem-sucedida da solução para controle e aumento dos níveis de segurança na Internet, a CODIN partiu para serviços mais complexos de rede, como DNS fazendo cache, DHCP para todos os clientes da empresa, servidor de arquivos (SAMBA), firewall e IDS (laboratório), FTP, Intranet (Apache) e o banco de dados.

O banco de dados é um capítulo à parte, descrito minuciosa e entusiasticamente por Laudelino Lima, um apaixonado pelo trabalho que faz. Ele conta que, num belo dia, a presidência da empresa solicitou que o departamento de informática desenvolvesse um sistema para acompanhamento de tarefas, que deveria estar disponível a todos os usuários da CODIN. ~SFomos ao mercado e levantamos o valor de 100 usuários no SQL Server, algo em torno de R$ 41 mil. Onde falta até dinheiro para assinar a Revista do Linux, não podíamos sair por aí gastando essa fábula em licenças~T. Laudelino participou, então, de um curso de Interbase/Firebird no Clube Delphi e, pouco mais de um mês depois, a aplicação já estava disponível para todos os usuários da empresa. ~SComo o banco de dados tem a sua conexão via IP, o sistema poderia se acessado tranqüilamente até da residência, não necessitando de nenhuma instalação adicional, pois a aplicação se encarrega de toda a comunicação~T, afirma. O preço do curso? Ah, foi de R$ 600, parcelado em três vezes, e sem juros...

Com a solução, a CODIN não apenas economizou, como o potencial do seu corpo técnico foi expandido. ~SSomos verdadeiros administradores e não simplesmente reinstaladores de sistemas~T, diz Laudelino. Para ele, a maior vantagem obtida pela CODIN, fora a economia com licenças, foi a total disponibilidade de serviços, fazendo com que a informática deixasse de ser apenas um setor ~Sapagador de incêndios~T para ser o setor que ajuda a empresa em seu negócio. E a produtividade dos funcionários aumentou com o funcionamento pleno dos sistemas. Laudelino e sua equipe se deparam agora com comentários do tipo ~Svocês estão sumidos~T, ou ~Se a informática, o que tem feito de bom?~T. ~SCom os sistemas funcionando, os funcionários esquecem que o setor existe~T, finaliza. Assim, um dos maiores sonhos de um administrador de rede foi realizado.

Laudelino Lima, depois dessa experiência com software livre, passou a escrever um romance/ficção ~V talvez sem similar no mundo todo ~V com foco em GNU/Linux. O romance está disponível na Internet, com 90 páginas e crescendo. ~SDeverá ter mais de 500 no final, tem o Rio de Janeiro como cenário e todos os personagens são reais~T. É uma leitura interessante para os geeks e aqueles que querem conhecer o cotidiano de um administrador de redes.

Descrição da solução

Apesar de a empresa ter priorizado e investido no setor de informática, os recursos tecnológicos disponíveis eram limitados. Em dois anos, foram adquiridas 45 estações de trabalho, porém, a rede, com 55 pontos, não tinha segurança. Com o Linux, a CODIN ganhou liberdade para utilizar todo o potencial de seu corpo técnico e ficou independente de atualizações onerosas. A empresa, com a experiência adquirida, fomenta e presta auxílio em GNU/Linux para diversos órgãos do Estado do Rio de Janeiro, como por exemplo, a instalação de um firewall completo na Secretaria Estadual do Planejamento, Desenvolvimento Econômico e Turismo.

Plataforma usada: Intel
Servidor de banco de dados: Firebird
Tamanho do banco de dados: 50 Megabytes
Rede: Ethernet 100Mb/s certificada
Número de usuários concorrentes: 80
Treinamento: 4 pessoas envolvidas no processo que durou quatro meses e teve o custo de R$ 6 mil, aproximadamente
Desenvolvimento: 2 desenvolvedores, com tempo de desenvolvimento de três meses

Sobre a empresa

A Companhia de Distritos Industriais (CODIN) foi constituída em 1969 e é responsável por fomentar o desenvolvimento econômico no Estado do Rio de Janeiro, através de iniciativas que promovam o fortalecimento das cadeias produtivas. A CODIN assessora o empresariado interessado em expandir ou implantar projetos industriais no Rio de Janeiro e é proprietária da marca Rio Telecom (evento anual de telecomunicações). A empresa foi a articuladora para a instalação, ampliação e permanência no Estado de grandes corporações, como Alcoa, Brahma, Gerdau, Cisper, Schincariol, Lojas Americanas, Embratel, Telemar, ATL Vésper, Intelig, Quartzolit, Sadia, Peugeot/Citröen, entre outras, totalizando aproximadamente R$ 13 bilhões em investimentos (decididos e contratados) e 30 mil postos de trabalho, nos últimos quatro anos. (RA)

Onde falta até dinheiro para assinar a RdL, a CODIN não podia gastar ~Suma fábula~T em licenças

Hoje, a CODIN usa vários ~Ssabores~Tdo Linux (Conectiva, Red Hat e Mandrake)

Ferramentas como o Sarg ajudaram a CODIN a racionalizar o uso do acesso à Internet

Saiba mais:
CODIN - www.codin.rj.gov.br
Romance GNU/Linux - www.laudelino.hpg.com.br


Rodrigo Asturian - asturian@RevistaDoLinux.com.br

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