A experiência em São Paulo
"Decidimos constituir uma associação e não um
grupo de usuários, pois a visibilidade é maior"
Rodrigo Bernardo Pimentel
Grupos de usuários sempre estiveram fortemente ligados
ao desenvolvimento do Linux. Sem uma empresa ou entidade central a que recorrer,
uma das melhores maneiras de aprender sobre o Linux é trocar experiência com
quem está no mesmo barco.
Além disso, não é fácil achar quem entenda aquela conversa
toda de "kernel", "/dev/null" e "X". Muito menos quem não olhe estranho quando
alguém faz uma piada usando algum desses conceitos. Quem ache graça, então, é quase
impossível. Ou, pelo menos, fora de um grupo de usuários.
Alguns grupos de usuários são entidades formais(1), outros,
informais(2) e, em muitos casos, seus integrantes nem mesmo têm consciência de que
formam um grupo de usuários, simplesmente passaram a se reunir para conversar e
brincar com o Linux.
Em São Paulo, tentou-se dar um passo adiante e criar uma Associação
de Usuários de Linux, a LinuxSP(3).
A LinuxSP é, até onde sabemos, a primeira associação de usuários
de Linux no Brasil, que existe legalmente, como pessoa jurídica sem fins lucrativos,
sob o nome de Associação de Usuários de Linux de São Paulo.
Por que uma associação e não um grupo de usuários?
Em primeiro lugar, porque o trabalho extra de se registrar uma
associação pareceu justificado ante os benefícios decorrentes: podemos registrar
domínios; receber doações, dedutíveis do Imposto de Renda do doador; estabelecer um
ponto de referência para a imprensa e empresas, uma vez que a visibilidade de uma
associação é maior que a de um grupo de usuários e, finalmente, disponibilizar toda
essa infra-estrutura para outros grupos de usuários que, assim, não precisarão ter
todo o trabalho que tivemos.
Fora isso, a LinuxSP funciona exatamente como um grupo de usuários,
promovendo eventos, trabalhando para a divulgação e desenvolvimento do Linux e,
principalmente, promovendo integração entre linuxers.
Da concepção à fundação
A idéia original para o grupo de usuários em São Paulo surgiu em
1997, quando uma tentativa mal-sucedida de encontro resultou na formação de um grupo
informal com quatro integrantes, os quatro que tinham comparecido ao encontro citado.
A tentativa seguinte de encontro foi um sucesso, com a presença de mais de 100 pessoas.
O evento posterior, no entanto, uma install fest, somente deixou de saldo uma lição
sobre organização que teríamos de aprender, se quiséssemos levar adiante a idéia de
grupo de usuários. Além, é claro, de nos mostrar que aquela brincadeira não era tão
trivial assim.
Mas, pelo jeito, aprendemos a lição, porque os encontros subseqüentes
foram bem proveitosos. Os quatro integrantes iniciais agora eram cinco e decidimos que
era hora de tentar novamente criar um grande grupo de usuários de Linux em São Paulo.
Assim, marcamos outra reunião com o objetivo confesso de discutir a criação da LinuxSP,
que já era como chamávamos nosso pequeno grupo.
Os meses seguintes foram gastos em discussões sobre os aspectos legais
e práticos da criação da associação, e mesmo sobre a validade de criá-la. Fizemos um
estatuto(4), uma ata e fundamos a LinuxSP. Para celebrar a ocasião e já nos anunciarmos
para o mundo, organizamos o que chamamos de "Evento de Fundação da LinuxSP". Previmos
algo em torno de 500 presentes ao longo de todo o dia, mas estimamos que a participação
tenha ficado em torno de 850 pessoas. Ao que sabemos, o maior evento de Linux no Brasil
até então.
Como funciona
A LinuxSP se baseia em grupos de trabalho. Os grupos não são fechados
para membros, qualquer um pode se juntar a um grupo que lhe interesse. A idéia é deixar
os associados trabalhar no que gostam ou sabem mais e, assim, a associação caminha com
as próprias pernas, em vez de ter uma diretoria comandando tudo.
Ou, pelo menos, essa era a idéia. Mas, após o evento de fundação,
fomos confrontados com a dura realidade.
Aproximadamente 70 pessoas se inscreveram como membros no evento de
fundação. Segundo nossa idealização, todos se inscreveriam em grupos de trabalho e
começariam a discutir, desenvolver, organizar etc. No entanto, subestimamos o volume
de trabalho que teríamos com associação já em funcionamento.
Logo de início, levamos muito tempo para montar a página definitiva
da associação, o que ainda foi mais atrasado por causa de uma migração de servidores.
Nossa página ficou estática por tempo demais, o que naturalmente desestimulou muita gente
interessada na associação. Não só isso. Demoramos mais ainda para colocar no ar um cadastro
para inscrição on-line. Por muito tempo, os associados foram exclusivamente os que se
inscreveram no dia do encontro de fundação. Em conseqüência disso, começamos a receber
muitas mensagens perguntando sobre inscrição, sobre a associação e mesmo com perguntas
técnicas, pois a página possui uma seção de "suporte". Com o tempo, as mensagens sem resposta
foram se acumulando.
Além disso, não contamos com o tempo que os novos associados precisariam
para se acostumar com o esquema de grupos de trabalho. Muitos deles continuavam com a idéia
de que haveria um "comando central" que ditaria o que a associação deveria fazer ou seja,
exatamente o contrário do que propusemos.
Agora já conseguimos tomar pé da situação, mas todos esses problemas
deixaram claro, mais uma vez, que um grupo de usuários organizado requer mais do que somente
vontade, e, sim, bastante organização e preparação para situações não previstas.
Futuro
Apesar dos problemas, a LinuxSP foi bastante bem recebida em São Paulo
e no Brasil. E tudo parece estar se encaminhando bem. Ainda temos de resolver alguns
problemas burocráticos a respeito da fundação da associação, mas, passado o choque inicial,
já podemos dar início aos projetos que temos em mente e aos que forem surgindo. Continuamos
acreditando que grupos de usuários são uma das melhores formas de se aprender sobre o Linux
e esperamos que a infra-estrutura que desenvolvemos possa ser útil aos usuários de Linux
em todo o País.