Você já usa Linux e nem sabe...
Confira algumas dessas situações e fique atento. Será uma invasão.
Rosa Sporito
Ao navegar pelas páginas do provedor Zaz, ou
fazer compras na loja virtual da Tomorrow, o internauta está, sem
saber, usando o sistema operacional Linux. Da mesma forma, também
sem nunca terem ouvido falar em Linux, muitos usuários dos hospitais
e postos de saúde da rede do SUS (Sistema Único de Saúde) estão tendo
seu atendimento gerenciado por computadores equipados com esse sistema.
O caso do SUS, aliás, serve como um bom exemplo de
aplicação do Linux na área social. Empenhado em melhorar a qualidade do
serviço prestado à população, o Ministério da Saúde, por intermédio do
Datasus (que é responsável pelo desenvolvimento de sistemas para a
informatização de hospitais e postos públicos de saúde), adotou o free
software como base de sua política na área de informática.
Dois sistemas importantes, desenvolvidos para o sistema
operacional Linux, já são usados em várias unidades de saúde de todo o País,
ajudando a eliminar filas e a tornar o atendimento mais rápido e eficiente.
Um deles é o Hospub - Hospital Público, sistema modular e totalmente
integrado de informatização hospitalar.
Criado originalmente em plataforma Intel com ambiente SCO
Unix, o sistema começou a migrar para o Linux a partir de 1997 não só por
ser esse sistema operacional praticamente de graça, mas também por oferecer
estabilidade e confiabilidade. Hoje, é utilizado tanto em plataformas Intel
como Risc, em locais como as Unidades Mistas São Paulo de Olivença e Benjamim
Constant, ambas no Amazonas, o Centro de Saúde Solon Amaral, em Matrinchã (GO),
a Fundação de Saúde Amaury de Medeiros, em Palmares (PE), o Centro Integrado de
Atenção à Mulher, Criança e Adolescente, em Teresina (PI), a Unidade Mista de
Cacoal, em Rondônia, e ainda nos hospitais Eduardo Menezes, em Belo Horizonte
(MG), Modesto de Carvalho, em Itumbiara (GO), Geral de Jacarepaguá, no Rio (RJ),
Mário Gatti, em Campinas (SP), e Padre Bento, em Guarulhos (SP) só para citar
alguns exemplos.
Ao dar entrada no setor de emergência de uma dessas unidades,
por exemplo, o paciente tem seu cadastro e todo o acompanhamento médico registrados
no banco de dados do hospital, por intermédio do Hospub. O atendente digita os
dados do paciente direto no banco de dados do sistema, de modo a torná-los
disponíveis imediatamente, uma vez que tudo funciona on-line para os outros
setores envolvidos no atendimento. Com a eliminação das tarefas de transcrição de
dados, o atendimento fica mais rápido, além de ter os riscos de erros reduzidos.
O Hospub permite ainda registrar o histórico clínico dos
pacientes o que facilita a recuperação de diagnósticos anteriores , colocar os
resultados de exames à disposição dos interessados nos próprios locais em que
foram solicitados e, se for o caso, até marcar uma consulta médica. Para o
administrador do hospital, oferece ferramentas importantes, como o controle da
ocupação dos leitos (é possível saber quem está ocupando cada leito), dos serviços
ambulatoriais e, ainda, o preparo automático do faturamento, com demonstrativo do
valor a ser pago pelo SUS pelo atendimento do paciente.
Já o Sistema Central de Marcação de Consultas, também
desenvolvido pelo Datasus em ambiente Linux (com gerenciador de banco de dados
relacional OpenBase), vem contribuindo para a eliminação das filas nos postos
das redes municipais de saúde. Instalado em mais de 20 cidades brasileiras, o
sistema está sendo usado desde 1995 pela Secretaria de Saúde de Belo Horizonte
(primeiro município a implantá-lo), cuja rede atende pacientes de várias
localidades.
A idéia básica é evitar que os pacientes principalmente os
de outras cidades tenham de se deslocar até as unidades especializadas da rede
pública de saúde, só para marcar consulta. Em Teresina, no Piauí, antes da
implantação do sistema, as filas nas portas dessas unidades começavam à noite e
geravam até o comércio das senhas para marcação da consulta.
Internet
Os provedores de acesso e de conteúdo na Internet também são
grandes usuários Linux e, por tabela, os internautas que utilizam seus serviços.
A loja virtual da Tomorrow (www.tomorrow.com.br) foi toda criada em Linux, há cerca
de três anos a princípio para vender CD-ROMs.
Na época, o custo foi um fator decisivo na escolha: um servidor
de loja eletrônica, baseado em outro ambiente operacional, saía por aproximadamente
US$10 mil. Com o Linux, não chegou a US$1 mil. "Além do mais, o sistema é bastante
seguro, nunca deu problema ou ficou fora do ar", acrescenta Amira Negrão, diretora
da Tomorrow. Satisfeita, ela fez uma parceria com a Conectiva e, em junho, começou a
vender também produtos Linux em seu shopping virtual que hoje inclui acessórios e
periféricos de informática, além de vários tipos de softwares (aplicativos, utilitários,
educacionais, etc.).
Já o Zaz tem mais da metade de suas páginas hospedadas em servidores
Linux a outra parte está em Windows NT. O servidor de correio eletrônico também está,
praticamente, todo em Linux. "Não temos preconceito em relação a sistema operacional:
se for solução, usamos", ressalva Alexandre Goidanich, diretor de Tecnologia da Nutec,
empresa do grupo Telefônica Interativa que detém a marca Zaz.
Ele conta que a experiência com ambiente Unix vem desde o final de
1995, com a Nutecnet provedor de acesso que deu origem ao Zaz. Toda a estrutura de
serviços Web da empresa foi desenvolvida em servidores com SCO Unix. Quando lançou o
conteúdo do Zaz, um ano depois, a Nutecnet passou a utilizar os sistemas HP-UX e BSDI
(ambos também Unix) na criação das páginas. Na época, colocou uma máquina com Linux
como servidor de games basicamente com o jogo "Quake".
No início do ano passado, quando as marcas Nutecnet e Zaz se fundiram,
a equipe de Tecnologia começou a estudar a troca dos outros ambientes Unix pelo Linux.
Atualmente, pelo menos 75% dos servidores SCO Unix do Zaz já migraram para o Linux.
"Trata-se de um sistema vivo, que está crescendo e, além de tudo, está mais preparado
para resolver o problema do bug do ano 2000", observa Goidanich.