É só escolher
Mais de 1.000 programas já disponíveis no mercado, código aberto
e qualidade fazem do Linux o produto mais quente do momento
Muito se fala sobre as diferenças entre o Windows e o Linux. E o que mais se
ouve dos que nunca pilotaram um Linux são frases do tipo `ah, isto é tão
fácil no Windows!', ou, `o Linux não faz isto', ou, pior ainda, `o Linux não
dispõe de softwares equivalentes ou de qualidade'. Vamos começar mostrando
as diferenças básicas quanto à parte gráfica dos dois sistemas, compreender
as razões por que o Linux é tão temido e a origem das campanhas para
combater sua proliferação.
O Windows é um sistema operacional gráfico. Sua filosofia é de que o usuário
é leigo e deve ser tratado desta forma. Ele deve ter acesso limitado aos
recursos da máquina, usando somente alguns cliques do mouse para obter o
resultado desejado. Tudo o que não seja banal deve estar fora do seu alcance
e a `parte chata' ficará sob a responsabilidade da engenhosidade do sistema.
O Linux é um sistema operacional desenvolvido para redes. Sua filosofia é de
que o usuário não é leigo e deve ter total controle sobre os recursos da
máquina. O responsável pela parte gráfica do Linux é o XFree, um shell gráfico
que não controla a máquina, somente solicita recursos dela quando
necessário. Ele é um servidor de janelas que trabalha com gerentes destas.
Gerentes de janelas são programas que controlam como elas devem ser
apresentadas, a forma como os botões funcionam e também as ações que se pode
ou não ter dentro de cada uma delas. Suas requisições são enviadas ao XFree
que retornará o resultado. Por isso o Linux dispõe de diversas interfaces
gráficas, ou gerentes de janelas, como WindowMaker, Gnome, AfterStep,
Lesstif, KDE e outras que são, em resumo, interfaces para o XFree.
O StarDraw, editor vetorial de desenhos, possui filtros sofisticados e efeitos modeladores em 3D
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Num sistema como o Windows, há vários softwares, todos com alguma restrição
de uso ou com preços proibitivos para muitos usuários e empresas. O mais
usado é o MS Office que permite editar um bom documento e oferece muitas
opções para bordas de tabelas, fontes e definições de parágrafo, macros e
../imagens, assistentes e vínculos, entre vários outros recursos. Pode também
interagir com dados de uma planilha ou de um gráfico e permite montar
facilmente uma seqüência para apresentações ou construir bancos de dados,
além de agenda, e-mail, edição html e Internet. Existe uma forte integração
entre os diversos aplicativos e pode-se facilmente ligar apresentações com
tabelas, planilhas, e-mails, agendas, gráficos e documentos. O único
problema aparente para o leigo é a necessidade de hardware potente, pois
essas facilidades consomem muito em recursos, principalmente ao manipular
grandes quantidades de dados. Outra agravante é que ele terá que conviver
com travamentos, erros de proteção de memória, fantasmas de vírus e depender
vitalmente dos
`especialistas'. Mas uma gama enorme de aplicativos, drivers, periféricos,
centros de treinamento, bibliografia, especialistas e uma gigantesca base de
usuários são o seu ponto forte.
No Linux, por sua vez, já há uma grande quantidade de softwares para o
segmento de escritório. O mais famoso é o StarOffice, uma suíte completa de
aplicativos. Inclui um editor de textos muito similar ao Word da Microsoft,
um editor de planilhas como o Excel, um editor de banco de dados como o
Access, um editor Web como o Front Page, um navegador de disco
e Web como o Explorer, um gerente de e-mails como o Outlook, um editor de
apresentações com recursos idênticos aos do Power Point, um editor de
../imagens vetoriais como o Corel Draw e com recursos de um Adobe Photoshop,
todos integrados e com suporte para todos os formatos de arquivos do MS
Office, além de vários outros.
Ele segue a filosofia do
tudo-em-um, e em sua interface pode-se dispor de todos estes softwares ao
mesmo tempo, num desktop propositalmente idêntico ao ambiente do Windows 9x.
O usuário do MS Office não tem o que aprender ao migrar para o StarOffice.
Ambos os produtos equivalem em desempenho e recursos, embora o segundo seja
uma suíte mais abrangente na área gráfica e muito mais integrado com a
Internet. A grande diferença entre os dois é que o StarOffice é gratuito,
pode ser baixado pela Internet ou adquirido praticamente pelo valor da
mídia, diretamente da Sun.
Também muito conhecido é o Koffice, suíte que está em desenvolvimento para o
KDE. Alguns de seus componentes já estão estáveis e disponíveis
gratuitamente para download. Embora não esteja terminado, é aguardado com
impaciência pelos linuxers que acompanham o seu desenvolvimento, pois
trata-se de um projeto open source que com certeza abalará profundamente o
segmento dos offices. Diferente do tudo-em-um, segue o conceito de programas
muito elaborados e com muito poder de fogo, que rodam separadamente.
Existe ainda o Corel Word Perfect, um poderoso sistema que inclui um
excelente editor de textos, ao mesmo estilo do MS Word, com recursos Web e
cerca de 70 funções avançadas de planilha, mais um editor vetorial com
recursos bem sofisticados. O WordPerfect já é bem conhecido na plataforma
Windows, mas infelizmente sucumbiu às práticas monopolistas do concorrente e
perdeu pouco a pouco sua enorme base de usuários. Um divertido pacote
chamado Siag, também gratuito, conta com um editor de textos chamado
Pathetic Writer, além de planilha e editor de apresentações. Outro destaque
é o Applixware, bem completo e comercializado por um valor muito razoável,
com habilidades bem próximas às dos mais conhecidos pacotes Office.
A StarSchedule é a agenda sofisticada do StarOffice.
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Para substituir os softwares de edição gráfica como o Adobe Photoshop e o
Corel Draw, ou de editoração como o Quark Express e o Page Maker, existem
diversas opções. Há o GIMP, que é um software de manipulação de ../imagens com
todos os recursos que o Photoshop oferece. Além disso, com um simples 486
permite que se trabalhe em dezenas de ../imagens ao mesmo tempo, o que é um
trunfo para um hardware tão anêmico. Outro software interessante para
trabalhar com ../imagens vetoriais é o StarDraw da suíte StarOffice, um editor
de ../imagens vetoriais como o Corel Draw, mas com menos recursos. O Corel Draw
3 para Linux já existe há um bom tempo, embora se trate de uma versão antiga
e com várias limitações, mas a Corel já anunciou para breve o lançamento da
versão 9 e certamente vai transportar boa parte dos seus fiéis usuários para o
Linux.
Na área de editoração eletrônica, pode-se encontrar dezenas de softwares
para trabalhar com a linguagem TeX. Embora o LaTeX não seja um software
gráfico, ele possibilita a formatação de documentos da maneira que se
quiser, produzindo uma saída postscript incomparável. Teses internacionais,
patentes científicas e protocolos industriais têm por obrigatoriedade o
formato TeX. Durante
a edição, basta indicar que se deseja uma nota de rodapé, inserir um
hiperlink ou uma imagem ou, ainda, construir uma tabela e a qualquer momento
solicitar uma saída para visualizar no GhostScript ou Acrobat Reader.
Recursos avançadíssimos tais como a geração automática de índices dos mais
variados tipos, plug-ins para representação de cadeias químicas, para
manipulação de dados cartográficos, para representação estatística,
rastreamento dinâmico de dados, que são vitais para um cientista ou para um
documentador pleno, só são disponíveis no LaTeX. Nele, a formatação é
dinâmica no sentido de que o documento será portável independente do formato
original, pois as informações estruturadas manterão sempre uma integridade.
A independência do suporte para qual o documento foi montado é que confere
ao LaTeX o status de linguagem e, mesmo não sendo gráfico, trata-se de uma
ferramenta muito mais poderosa e avançada que o Page Maker ou o Quark
Express. Front-ends como o LyX e o KlyX apresentam uma interface gráfica
para se lidar com o LaTeX.
No Linux há vários softwares de compactação de arquivos. Um deles, muito
fácil e rápido de utilizar, é o Arquivador do KDE. No mesmo estilo do
Winzip, e com outras opções de compactação, é muito fácil trabalhar com este
software que, naturalmente, recupera arquivos compactados com o Winzip.
Existem também dezenas de softwares de agendas, e dois muito bons, o Kad e o
Gnomecard. O primeiro do KDE e o segundo do Gnome, que nada ficam devendo
aos que você já usa ou usou. Também há uma agenda excelente no StarOffice,
na linha do MS Outlook, o StarSchedule, que oferece dezenas de opções de
gerenciamento de horários e tarefas. Existe
ainda o Gnome Calendar, que segue o estilo do StarSchedule, acrescido de
opções e propriedades.
Na área de multimídia,
destacam-se o XMMS e o x11amp para diversos formatos de músicas, incluindo
mp3. Ambos, a exemplo do WinAmp, com suporte a skins ou temas de
apresentação. Para ouvir músicas de CD há no KDE o reprodutor de CDs, com
painel semelhante ao dos aparelhos normais. Para reprodução de vídeos
pode-se citar o aktion, que manipula arquivos mov, avi, mpeg, flc e fli.
Para captura de telas existe o ksnapshot, muito bom e prático. No Gnome
encontra-se
o GTCD, um excelente CD player que pode tanto aparecer como um programa ou
um applet, embutido na barra de tarefas. Existe também o mixer, para
controlar o volume das caixas de som e no Gnome usa-se o Medidor de Volume,
com uma apresentação ao estilo de um equalizador. Já o KDE dispõe do Kmixer,
que fica embutido no painel tal como o mixer do Windows.
Existem muitos players de MP3, este é o X11Amp.
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Na área dos browsers, o
destaque é o Netscape, portado e igual ao das outras plataformas. Mas não se
pode esquecer dos navegadores do KDE e do Gnome. O KDE foi desenvolvido
desde o começo como um sistema em contato direto com a Internet. O controle
de seções ftp ou http no KDE é transparente e, caso se queira baixar um
arquivo de um site ftp ou http, basta clicar e arrastar, como se o arquivo
estivesse no micro, pois quem se preocupa em abrir a seção ftp/http e baixar
o arquivo é o KDE.
O Gnome segue a mesma linha. De qualquer janela de navegação é possível
entrar num site Internet. E, como no KDE, basta clicar no atalho e arrastar
para que o Gnome copie o arquivo, sem necessidade de se solicitar um
download ou recorrer a funções mais avançadas. No KDE ou no Gnome, a única
coisa que se precisa saber para trabalhar em rede ou ftp/http é um nome de
usuário e senha para acessar os sites. O resto é tão simples que a impressão
é de que se está trabalhando na própria máquina. Para `chats' devem existir
em torno de 30 clientes diferentes de IRC para Linux. Mas os que mais
interessam são os gráficos. Todos os clientes de IRC precisam seguir um
padrão de apresentação, pois eles devem ser compatíveis com os outros
clientes. Um exemplo de cliente IRC gráfico é o Ksirc do KDE. Além das
funcionalidades comuns a todos os clientes, este possui uma barra de tarefas
configurável, na qual é possível criar scripts para acelerar algumas funções
usuais. Outro é o X-Chat, que está no sistema Gnome. O X-Chat é para quem quer um cliente
poderoso e gráfico, mas com aquelas funcionalidades interessantes que os
clientes não gráficos mais antigos possuíam.
Existem muitos clientes
de ICQ no Linux, inclusive o ICQJava, feito pela Mirabilis. Além deste,
podemos citar o zICQ, o Center ICQ, o mICQ, o KICQ, o KxICQ, o GICQ e o
LICQ, entre outros. No Windows, ou usa-se o Mirabilis ICQ para Windows ou o
mICQ para DOS. Não há outros clientes de ICQ para plataforma Microsoft. Algo
que poucos devem saber é a quantidade de memória que um Mirabilis ICQ usa. O
cliente da Mirabilis abocanha 10 Mb de RAM, o que algumas vezes degrada bem
a performance do micro.
Quanto à configuração no Linux, não se pode dizer que seja algo baseado em
cliques do mouse como o Windows. Mas há diversas opções, gráficas ou não.
Pode-se utilizar o Gnome-Linuxconf, uma versão gráfica do Linuxconf que é o
configurador do Linux. Com ele configura-se não só um micro, mas toda uma
rede. Estando a 1.000 km de distância de seu micro, basta entrar por um
navegador como o Netscape em seu micro para se ter total controle sobre a
máquina. Na área de jogos já existem centenas de títulos para Linux,
incluindo o jurássico DOOM, o Quake, o Civilization, o Hopkins FBI, cartas,
cassino, ação, estratégia, RPG e xadrez, entre outros.
Diante de todos esses argumentos, não faz sentido pagar uma fortuna por um
sistema operacional e alguns poucos softwares. Claro que fazer uma troca
radical do Windows para o Linux não é assim fácil, como um clique do mouse.
Há a necessidade de uma reciclagem de conhecimentos, mas que é
insignificante quando se considera a economia em compra de softwares, a
independência que se conquista e a performance que se pode obter.
Seria necessário um artigo muito extenso para falar dos softwares correlatos
para fax, videoconferência, videowall, modeladores 3D, renderizadores, servidores
Proxy, e-mails, emuladores de
Windows e Mac, CAD-CAM, compiladores para todas as linguagens, bibliotecas
avançadas de objetos, suporte para diversos protocolos, drivers de
periféricos, câmeras, scanners, drives zip e jazz, documentação, banco de
dados e muitos outros. Para cada item a ser pesquisado certamente haverá pelo menos uma
resposta satisfatória, quando não superior.
Diante deste panorama, o leque de opções oferecidas pela conversão contínua
de títulos está transformando o Linux no produto mais quente nas prateleiras
do planeta. Será preciso muito mais que jogadas de marketing e práticas
infantis de difamação para estancar o seu crescimento.
O código aberto garante uma qualidade sem concorrência. Some-se a esse
argumento a escalabilidade dos diversos sabores Unix, que permitiu que a
Internet se transformasse na realidade que aí está.
Além do Netscape e do Lynx, há ainda o browser do KDE, que também é um gerenciador de arquivos.
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