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Fórum Internacional Software Livre 2000

O I Fórum Internacional Software Livre 2000, realizado de 4 a 5 de maio, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, não deixou dúvidas sobre a importância que o software livre vem adquirindo como alternativa de informatização segura, barata e de alta qualidade, para empresas públicas e privadas. Mais de 2100 pessoas, entre técnicos, estudantes, acadêmicos, profissionais e empresários ligados às áreas de tecnologia e informática, oriundos de dezesseis estados brasileiros, estiveram presentes no evento, que teve, em paralelo, a realização do Workshop sobre Software Livre (WSL2000), promovido pela Sociedade Brasileira de Computação.

"A utilização de software livre significa a superação dos processos de dependência

tecnológica na área de informática", afirmou Olívio Dutra, governador do Rio Grande do Sul, na abertura do evento. O comprometimento de seu governo com investimento em tecnologias de ponta e de apropriação universal é uma alternativa para diminuir o abismo social, e tem motivado as ações voltadas à popularização de uso do software livre na administração pública e na sociedade em geral, explicou o governador.

Segundo Marcos Vinícius Mazoni, diretor-presidente da Procergs - Companhia de Processamento de Dados do RS, uma das patrocinadoras do encontro, o evento é uma forma de promover o desenvolvimento da informática no Estado, através de soluções próprias baseadas em software livre. "Do ponto de vista econômico", lembrou, "ele visa reduzir custos e estancar o fluxo de divisas que sai do País para compra de software. No aspecto ideológico, busca implementar o amplo conceito de liberdade que rege a filosofia do software livre, e que inclui, entre outras, a liberdade de decidirmos o caminho tecnológico que queremos trilhar e a velocidade com que o faremos".

Apesar de o governo do RS não estar investindo em software livre apenas por questão de preço, seus gastos com software poderão sofrer uma redução de até R$ 4 milhões, no próximo ano, usando softwares livres, afirma Mazoni. Essa questão econômica foi reforçada pelo deputado federal, Walter Pinheiro (PT-BA), no encerramento do evento, ao lançar a Campanha de Apoio aos Projetos de Lei que incentivam o uso de software livre em administrações públicas. Pinheiro disse que o governo federal gastou cerca de R$ 120 milhões, no ano passado, com a compra de softwares proprietários, e que poderia economizar R$ 80 milhões este ano com softwares, se adotasse agora a lei que dispõe sobre o uso preferencial de software livre pelas empresas públicas.

Para falar de informatização pública, o Banrisul - Banco do Estado do Rio Grande do Sul, apresentou um estudo de caso sobre Linux no mainframe. O banco, que já usa servidores com Linux e estações com StarOffice, está rodando Linux em plataforma S/390 da IBM, desde fevereiro passado, e pretende, em parceria com a Conectiva, implantar Linux nos caixas eletrônicos, para auto-atendimento, a partir de julho.

Soluções corporativas também foram apresentadas por grandes fabricantes e fornecedores de hardware e software, que participaram de painéis diversos para debater importantes questões relacionadas ao software livre e suas perspectivas de negócios. Temas como política das grandes marcas, segurança, suporte, novos produtos e serviços, foram abordados por empresas como IBM, Sun, Módulo, Conectiva, SGI, Intel, HP, entre outras.

Gratuito não é livre

Quase sete horas da noite, encerrada a cerimônia de abertura do evento, auditório superlotado, é hora de anunciar o convidado especial: Richard Stallman, idealizador e guru do movimento Software Livre no mundo, e fundador, em 1985, da Free Software Foundation. Aplaudido de pé por centenas de admiradores, Stallman começou sua palestra contando o que o levou a fazer software livre, e por mais de duas horas manteve o público totalmente absorvido por suas histórias e idéias.

Para desfazer qualquer mal-entendido sobre o conceito de software livre, Stallman é sempre enfático em destacar os quatro níveis de liberdade que o caracterizam. Primeiro, liberdade de usar o software. Segundo, liberdade de alterar o software conforme as necessidades pessoais. Terceiro, liberdade de aperfeiçoar o software e distribuir cópias para a comunidade. Quarto, liberdade de melhorar o software e publicá-lo com essas melhorias.

E para que isso aconteça, o software precisa ter o código aberto, única forma de o usuário/programador conseguir modificá-lo para uso próprio ou para compartilhar com outras pessoas. Isso é o que torna o software livre uma alternativa consistente e segura, pois é totalmente transparente para o usuário. Quem garante, pergunta Stallman, que no software proprietário, de código fonte fechado, não exista nenhum "backdoor" ou cavalo de Tróia, ou algum outro mecanismo secreto que permita o acesso do fabricante ou de terceiros no computador alheio? No software livre, existe uma comunidade de usuários verificando isso, e se achar algum problema pode corrigi-lo e acrescentar essa melhoria ao software.

Stallman fez também uma ressalva ao que hoje se chama Linux. De fato, o sistema operacional deve chamar-se GNU/Linux, pois ele nada mais é do que o software desenvolvido pela GNU com o kernel do Linux. E o kernel é uma parte de um conjunto de programas, como o Emacs, o GCC, o debuger, o X Window System, os gerenciadores de janelas, entre outros.

A história é a seguinte: após trabalhar treze anos no Laboratório de Inteligência Artificial do Massachussets Institute of Technology (MIT), Stallman deixou seu emprego, em 1984, para criar um sistema operacional livre. Optou por desenvolver um sistema portável, similar ao Unix, dando início ao projeto GNU, que estabelece a licença pública geral como premissa básica do software livre. Criou então várias ferramentas, entre elas o editor de textos Emacs. Mas foi somente a partir de 1991 que o GNU passou a utilizar o kernel criado por Linus Torvalds, chamado Linux. Por isso, diz Stallman, as pessoas utilizam o GNU/Linux e não o Linux.

Para ele, também é importante distinguir o movimento Software Livre do movimento Open Source (código aberto), pois este último não trata das questões éticas que garantem a liberdade de compartilhar o software com outros e de publicá-lo com melhorias. No Open Source o código fonte do software é protegido por direito autoral, o que é muito diferente do movimento Software Livre que é uma forma de consciência social, que encoraja a cooperação e o espírito comunitário de compartilhar conhecimentos.

Sobre o futuro do software livre, Stallman não cansa de repetir: "Nosso futuro depende daquilo que valorizamos". Ele cita várias maneiras de ajudar o movimento software livre, tais como: produzindo software se for um programador, deixando de comprar hardware fechado como forma de pressionar o mercado, evitando a aquisição de software gratuito que não é livre. "É preciso pensar na liberdade que o software livre proporciona e não que ele é barato", adverte Stallman, enfatizando: "Software livre não tem nada a ver com gratuito, e sim com liberdade".

Quase ao final da palestra, em momento de muita descontração, colocou um disco de computador na cabeça a título de auréola e transformou-se no Santo Ignucius. Estava aberta a sessão da igreja Emacs, cuja filosofia é o uso do Emacs, claro. Entre os risos da platéia, Stallman não resiste a um comentário sobre o Vi. Segundo a igreja do Emacs, "usar o Vi não é pecado, é penitência".

 

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